O campeonato brasileiro 2010 chega ao final, de forma aparentemente emocionante, com três clubes embolados nos três primeiros lugares: Fluminense, Corinthians e Cruzeiro, 65, 64 e 63 pontos. A julgar pelas duas últimas rodadas, as posições podem mudar, mas ouso dizer que esta 36ª rodada foi decisiva. Mais que o futebol, os destaques da competição são as participações dos árbitros, com seus critérios contraditórios, e dos clubes que perderam interesse na competição.
O pênalti marcado contra o Corinthians mostrou que o Cruzeiro jogou a toalha antes da hora, mas o pior para o "timão" foi perder Ronaldo, sem o qual torna-se quase um "timinho". O Flu recuperou a liderança e na próxima rodada joga contra o Palmeiras "de olho nas finais da Copa Sul-Americana", enquanto o clube paulista enfrenta o Vasco "em busca de uma vaga na Sul-Americana" e o mineiro pega o Flamengo "em luta contra o rebaixamento".
Dos 20 participantes do campeonato, nove (Grêmio, Atlético PR, Botafogo, Santos, Internacional, São Paulo, Palmeiras, Goiás e Grêmio Prudente) já não têm interesse na competição. Além de Corinthians X Vasco e Flamengo X Cruzeiro, na 37ª rodada, só dois jogos apresentam motivação equilibrada: Vitória X Atlético GO e Vasco X Ceará, na última rodada.
Também para grande parte dos torcedores o campeonato não tem mais nenhuma motivação. Sempre fui favorável à fórmula dos pontos corridos, inegavelmente mais justa – por ela, o Galo, um dos clubes mais regulares até o começo dos aos 2000, teria conquistado o bicampeonato em 1977 e provavelmente outros títulos mais. Reconheço, porém, que a emoção foi varrida pela justiça.
Entre os defeitos da fórmula atual está o rebaixamento de quatro clubes. A série B não qualifica um time para subir para a série A, ela funciona muito mais como punição. Ao mesmo tempo, ainda que não exista grande diferença entre os quatro últimos e outros times da série A, quatro estão condenados a cair. O Brasil tem alguns clubes que estão à frente dos outros (e mesmo estes costumam tropeçar), mas a imensa maioria se compara. Não é justo que um caia e outro não. Menos justo ainda é que seu lugar seja ocupado por um time pior. Tudo isso se pôde ver este ano.
Mais grave do que isso é que o campeonato está muito mais para um "brasileirinho". Como chamar de nacional uma competição com 20 clubes num país que tem 26 estados e um Distrito Federal? Esta fórmula deixa de fora necessariamente muitas unidades da Federação.
Nós, do Sul Maravilha, ignoramos o que acontece no Nordeste, no Norte e no interior do país, mas nesses lugares também se joga futebol. Com muito mais emoção e mais torcedores nos estádios. Se os clubes dessas regiões não têm projeção nacional é porque estão fora das tevês – também concentradas aqui, e mais precisamente em São Paulo e Rio – e não têm grandes patrocionadores. Tal situação só mudará quando eles fizerem parte do campeonato nacional, o que jamais acontecerá numa competição restrita a 20 agremiações.
Está na hora de o futebol brasileiro criar uma nova fórmula de campeonato nacional, que seja campeonato, mas também seja nacional – uma competição que integre a nação. Uma mistura de Copa do Brasil com Brasileirão, com duas fases distintas e participação de clubes de todos os estados.
Na primeira fase, todos se enfrentariam, em turno único: o primeiro colocado seria o campeão brasileiro; em vez de 4, cairiam 2. Na segunda fase, disputariam os 16 melhores, na fórmula de copa: o campeão seria o campeão da Copa do Brasil.
Teríamos assim a mistura da justiça com a emoção, e poderíamos chamar a competição realmente de Campeonato Brasileiro.
Para contemplar todos os estados, a primeira fase teria 43 clubes, 42 rodadas. A segunda fase, teria quatro chaves de quatro clubes (três rodadas), seguidas de semifinais e final (mais duas rodadas). No total, as duas fases teriam 47 rodadas, 47 datas.
O ano tem 52 semanas, sendo que um mês é reservado a férias coletivas e outro à pré-temporada. Sobram 10 meses, ou 43 semanas. 47 datas são um número bem razoável, quase um jogo por semana, sendo que para a maioria, seriam 42 datas, números compatíveis com outras competições, como Libertadores, Sul-Americana e estaduais.