sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O nó no trânsito

Diz uma história muito citada na web que se jogarmos uma rã na água fervente, ela salta fora, mas se a jogarmos na água fria e esquentarmos a água devagar até a fervura, a rã não reage, fica lá até morrer. Hoje foi um ensaio da água fervente. Durante todo o dia, o trânsito ficou engarrafado em Belo Horizonte. Um dia vai acontecer, é inevitável; quando todos os carros saírem das garagens, vão fazer um congestionamento monstro, que não vai mais se desfazer. As montadoras fabricam mais e mais carros, as pessoas compram e querem rodar com eles, em cada carro tem uma pessoa só, duas no máximo. Simplesmente não cabem tantos carros nas ruas. No nó dos carros, fica mais evidente a incompetência de um sistema de transporte coletivo que não tem nenhum privilégio sobre os carros e para também, embora um ônibus transporte 100 pessoas, enquanto cada leva apena uma. Um sistema que joga na mesma avenida dezenas de linhas diferentes, cada ônibus transportando menos da metade da sua lotação. O ensaio de hoje foi assim: nos cruzamentos, os carros paravam em cima das faixas de pedestres, quando o sinal fechava. Os carros que saíam das garagens e não conseguiam chegar à rua, paravam em cima do passeio. Sinais abriam e fechavam ridiculamente, sem que os veículos pudessem arrancar, pois outros bloqueavam a passagem. Ambulâncias abriam a sirena inutilmente, porque os carros à sua frente não conseguiam se mover. Carros de polícia, oportunistas, abusavam da autoridade, sem sucesso. Motocicletas cortavam caminho subindo nos passeios. Guardas de trânsito, nas esquinas, olhavam a cena impassíveis, impotentes. Motoristas estacionavam em alguma bendita vaga inesperada e seguiam a pé. Mas também havia aqueles que desfrutavam das maravilhas do seu veículo: ar condicionado, som estereofônico, vidros negros. Enquanto estes predominarem, enquanto todos insistirem em andar de carro, enquanto as autoridades continuarem incompetentes para administrar o trânsito, enquanto o sistema privilegiar o automóvel, a situação tende a piorar, a temperatura da água vai aumentar.