sexta-feira, 1 de julho de 2011

História de um massacre

Quem me mandou foi o Gerson Murilo. Da série "Maravilhas da internet": notícia velha que a gente não leu continua nova. Ainda mais essa, que é uma reportagem sobre um acontecimento histórico que não está nos livros. Repórter Brasil é uma das melhores coisas que tem de web no Brasil. Não nos iludamos: massacres continuam acontecendo, principalmente na Amazônia.

Igualdade e auto-suficiência
Desapropriação da comunidade do Caldeirão, onde sertanejos buscavam a liberdade em comunidade autônoma no semi-árido cearense, completa 70 anos.
Expulsão das famílias foi seguida por massacre em que morreram cerca de 700 pessoas
Texto e fotos de João Mauro Araujo, especial para a Repórter Brasil
Em 11 de maio de 1937, um ruído no céu da chapada do Araripe assustou os camponeses. Com medo, eles tentavam se esconder entre as árvores enquanto máquinas voadoras deslizavam pelos ares daquela região do Cariri, no sul do Ceará. Homens, mulheres e crianças fugiam de algo que, com certeza, viam pela primeira vez. O desespero foi ainda maior quando os aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) começaram a metralhar. Muitos ali devem ter sussurrado o derradeiro pai-nosso. Outros nem tiveram tempo para tanto.Chapada do Araripe, no Ceará, palco do massacre de 700 seguidores do beato José LourençoQuarenta anos após o massacre dos sertanejos liderados por Antônio Conselheiro, em Canudos, na Bahia, e 20 anos depois da Guerra do Contestado, episódio com desfecho semelhante ocorrido nos estados do Paraná e de Santa Catarina, as tropas de diferentes esferas do poder público novamente uniam forças para abater humildes agricultores brasileiros. Desta vez as vítimas pertenciam à comunidade do sítio Caldeirão, cujo líder era o beato José Lourenço.Naquele dia, a polícia militar do Ceará e os aviões enviados pelo Ministério da Guerra exterminaram nordestinos religiosos e pacíficos que por dez anos tinham buscado apenas uma forma de sobreviver às mazelas da vida sertaneja: seca, fome, coronelismo... Em 21 de março de 2005, o Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural do Ceará (Coepa) tombou uma área de 60 hectares pertencente ao núcleo do que um dia foi o sítio Caldeirão. Com isso, o governo estadual tenta corrigir um erro histórico, reconhecendo a importância do episódio em que migrantes, principalmente do Rio Grande do Norte, viveram uma utopia de igualdade e auto-suficiência baseada na fé cristã. A medida, porém, não pode reparar a morte dos 700 - 400, segundo dados oficiais - seguidores de José Lourenço, discípulo do padre Cícero.
A íntegra.