quinta-feira, 16 de abril de 2020

O SUS sucateado e a pandemia

Matéria da DW Brasil trata do assunto que a imprensa brasileira não trata, a questão que está por trás da pandemia. Nisso, capitão e Globo são aliados, ambos querem destruir o SUS, querem que a saúde seja privada, apoiaram o congelamento de gastos com saúde por 20 anos, feito pelo governo Temer. A Globo elegeu o ministro da saúde como herói, para combater o capitão, e fica por isso. A imprensa, como sempre fica na superfície dos problemas, porque se aprofundar vai chegar ao conflito dos interesses públicos, coletivos, com os interesses do capital, os dos irmãos Marinhos inclusive, que ela defende. Simples assim. É preciso que uma agência de notícias estrangeira faça a matéria que Globo, Folha, Estadão, Band etc. não fazem. Aliás, apesar das dificuldades de trabalho para os jornalistas, a cobertura da pandemia é bem chinfrim, quer dizer, é o xou de sempre, na superfície dos assuntos. O leitor que quiser saber mais tem que pesquisar por conta própria. É um tal de repetir números e informações governamentais que dá dó. Por exemplo: o dinheiro que o governo diz que está distribuindo. É isso, o governo diz que está distribuindo, e a imprensa repete. Ninguém vai conferir, ninguém vai aos beneficiários, ninguém checa, aceita o discurso das autoridades, como sempre. Quando a revolta e os saques explodirem, a imprensa vai lá mostrar, mas foi incapaz de prever, de mostrar antes que a revolta vai acontecer. É que o governo diz que está distribuindo dinheiro, mas entre o dizer e o dinheiro chegar às pessoas vai uma distância imensa, a distância da necessidade, da fome, da revolta. Esse governo incompetente e que é contra dar dinheiro a pobres, que é contra serviços públicos, que é contra programas sociais, vai fazer o dinheiro chegar a quem precisa? Eu acho que não, que é só conversa fiada. As filas na porta da Caixa mostram isso, o dinheiro não está chegando, as pessoas sequer têm internet, sequer sabem acessar o aplicativo e não têm nem CPF. E os "pequenos empresários"? Para receberem o dinheiro, tem uma burocracia infinita. A mesma coisa com o SUS; o governo faz hospital de campanha, importa isso e aquilo, mas e o corte de verbas que sucateou o SUS? Ninguém fala. E a desindustrialização que obriga o Brasil a importar milhões de simples máscaras sanitárias? Também é assunto ignorado. Por que o Brasil não produz respiradores? O governo ideológico neoliberal dificulta tudo, porque não quer facilitar, porque não quer gastar. Ele diz que está distribuindo dinheiro, e dizer é só isso que lhe interessa, fazer propaganda, e a imprensa repete, como sempre fez, como imprensa oficial até mesmo do governo que ela supostamente critica.

Sucateado, SUS vive "caos" em meio à pandemia

Única opção para milhares de brasileiros, Sistema Público de Saúde vive disparo em atendimentos em hospitais que sofrem até com falta de sabão. Queda de investimento e aumento da demanda provocam "situação de guerra".

Em diversos hospitais públicos do país, a situação beira o caos. O aumento da procura pelos serviços provocado pela pandemia do novo coronavírus testa a já fragilizada capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS), relatam servidores da área das cinco regiões do Brasil.

"A situação é de guerra", afirma Cleonice Ribeiro, diretora do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (SindSaúdeSP), em entrevista à DW Brasil.

"Tem hospital que não tem sabão para lavar as mãos ou papel toalha para enxugar. Trabalhadores que atendem os pacientes não têm álcool em gel, óculos de proteção ou máscara", exemplifica.

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Para milhões de brasileiros, o SUS é a única alternativa para tratar a saúde. "Existem 40 milhões de pessoas sem carteira assinada, na informalidade, sem emprego. São pessoas totalmente desamparadas, vulneráveis que, se adoecerem, irão buscar o SUS", conclui Moacir Lopes, diretor da Federação Nacional de Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Fenasps), e servidor do INSS.

"A situação atual é traumática. É o caos total", resume a situação de hospitais públicos frente à pandemia. "Isso porque o SUS já vem sendo sucateado há algum tempo, agora isso fica bem visível", justifica.

Falta de dinheiro e combate na saúde básica

Em todo o país, 42 mil postos de saúde atendem gratuitamente a população. Segundo cálculos do Ministério da Saúde, essas unidades têm capacidade de atender 90% dos casos de coronavírus – se os sintomas apresentados pelos doentes forem os mais leves.

"Existem os postos, mas eles não estão estruturados nem pra atender questões corriqueiras da população em geral, imagina uma situação dessa", pondera Cleuza Faustino, auxiliar de enfermagem servidora do Ministério da Saúde e diretora do Fenasps.

Seis hospitais, todos no Rio de Janeiro, são federais. Há ainda mais de 40 hospitais universitários federais. Os demais da rede pública são geridos por governos estaduais e municipais. Segundo o ministério, 55.101 leitos de terapia intensiva são oferecidos no país, 27.445 são do SUS.

A preocupação é que, se muitas pessoas adoecem de uma vez, o sistema não tenha capacidade de tratar todos os pacientes simultaneamente. Especialistas alertam que os problemas respiratórios provocados pelo novo coronavírus exigem mais dias de tratamento com auxílio de aparelhos, como respiradores, do que outras doenças similares. Portanto, o período de ocupação dos leitos é maior.

Limitações do orçamento

Diante da disseminação da doença, o governo federal prometeu liberar 432 milhões de reais para reforçar o combate nos estados. A tentativa de melhorar as condições de atendimento, porém, esbarra na subida dos preços.

"O governo está tentando comprar, mas o aumento da demanda deixou tudo mais caro e há dificuldades de pagar", afirma a Ribeiro sobre iniciativas em discussão com o governo de São Paulo.

Entre os trabalhadores do SUS, o clima é de inquietação. No estado de São Paulo, que tem 47 mil servidores distribuídos por 45 hospitais, a maioria tem entre 50 e 60 anos.

"Ao longo dos anos, o governo deixou sucatear tanto os serviços e não contratou novos trabalhadores", pontua Ribeiro, do SindSaúdeSP. "Há praticamente 20 anos não há concurso público", complementa.

Um levantamento feito por pesquisadores da Fiocruz, intitulado "Monitoramento da assistência hospitalar no Brasil (2009-2017)", concluiu que o número de leitos no SUS está em queda.

"Houve um desinvestimento crônico no SUS, que comprometeu sua capacidade, com fechamento de leitos", resume Josué Laguardia, médico e pesquisador da Fiocruz.

Uma das conclusões da pesquisa é que a rede hospitalar disponível para o SUS reduziu 5,5% no período pesquisado. Em 2009, eram 4.783 hospitais entre públicos e privados, em 2017 foram 4.521 hospitais.

Para o Fenasps, a Emenda à Constituição (PEC) 55, que fixou um teto aos gastos públicos até 2036, votada no governo de Michel Temer, limita a resposta do SUS. "A rede pública, na situação que está, com corte de verbas, com a medida que congelou verbas por 20 anos, está mais debilitada que nunca", avalia Faustino.

No ano passado, o orçamento destinado à saúde foi de 147 bilhões. Em 2020, esse valor caiu para 136 bilhões, segundo os dados da Controladoria Geral da União. A estimativa da Fenasps é que o preparo adequado do SUS para responder à pandemia exige um investimento extra de 20 a 30 bilhões de reais.