sábado, 25 de abril de 2020

O presidente pôs uma raposa para vigiar seu galinheiro?

O capitão faz um governo original porque não quer governar a nação, que destruir o Estado e tomar o Brasil com aqueles para quem governa, que são as milícias, os neopentecostais, as castas militares, os armamentistas, os machistas, os racistas, os destamatadores, os poluidores, os agrotoxicultores e todo os tipos de criminosos que não aceitam o Estado e afirmam a liberdade individual, que só o capitalismo pode dar. Por isso o filósofo Paulo Giraldeli o chama de anarcocapitalista.
O fato é que o presidente entregou todas as áreas de governo para os inimigos delas, ou seja, pôs raposas para vigiar o galinheiro -- exceto o Ministério da Economia, que entregou a um representante dos banqueiros (mas a lógica é a mesma: banqueiros são as raposas que vigiam a riqueza que a sociedade produz -- e se apropriam dela).
Também no Ministério da Justiça o presidente pôs uma raposa, só que dessa vez a raposa vigiou também o galinheiro do chefe. Ou seja, durante um ano e quatro meses o ex-ministro colecionou provas contra o presidente cujo governo ontem ele abandonou. Ao sair atirando, e dizer as coisas impressionantes que disse à imprensa ontem, Moro deu um recado ao seu ex-chefe.
O que Moro fez ontem provavelmente nunca aconteceu antes, nem aqui nem em parte nenhuma. A imprensa não frisou isso. Vejamos:
1) Moro era ainda ministro quando deu a coletiva. A imprensa inteira o chamou de ex-ministro, mas quando denunciou seu chefe, ele ainda era ministro; só depois foi providenciar sua carta de demissão, como disse no pronunciamento à imprensa.
2) Moro anunciou sua demissão primeiro à imprensa, o presidente ficou sabendo juntamente com toda a população que ele estava saindo. Muitos subordinados já tomaram conhecimento de sua demissão pela imprensa, mas é a primeira vez, que eu saiba, que um chefe fica sabendo da demissão de um subordinado assim.
3) Mais tarde, o Jornal Nacional, com exclusividade, mostrou que o ex-ministro guardou provas dos crimes do presidente. Que mais ele terá? O presidente vai pagar pra ver? Duvido. Mas também duvido que a vida de Moro seja longa, ou pelo menos que possa ser uma vida normal, como ele sugeriu que seria, ao dizer que vai procurar emprego. O juiz que prendeu um presidente, muitos políticos e empresários agora mexeu com o crime organizado violento, para quem nenhuma vida vale nada, como mostra o assassinato da Mariele.

Em print, Moro mostra que Bolsonaro quis demitir Valeixo por investigar aliados

Carta Capital

Presidente enviou ao então ministro uma reportagem sobre investigação da PF contra bolsonaristas: ‘Mais um motivo para a troca’.

O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro apresentou imagens que mostram que o presidente Jair Bolsonaro se incomodou com investigações da Polícia Federal sobre deputados da base aliada do governo federal.

Em diálogo por um aplicativo de mensagens, revelado pela emissora Globo, Bolsonaro enviou a Moro um link de uma matéria do saite O Antagonista, que diz: “PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas”. A conversa teria ocorrido na quarta-feira 22/4.

Embaixo, o presidente da República afirmou: “Mais um motivo para a troca”, referindo-se ao diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo.

Em resposta, Moro afirmou que não era Valeixo quem conduzia as investigações em questão.

“Este inquérito é conduzido pelo ministro Alexandre [de Moraes] no STF, diligências por ele determinadas, quebras por ele determinadas, buscas por ele determinadas. Conversamos em seguida, às 9h”, disse o então ministro, mencionando o encontro que teriam na manhã da quinta-feira 23.
A TV Globo também revelou um diálogo que Moro apresentou para comprovar que não partiu dele o pedido de que ele ganhe um cargo no Supremo Tribunal Federal (STF). Em pronunciamento oficial, Bolsonaro acusou Moro de ter pedido indicação à Corte, em troca da demissão de Valeixo.

Em uma conversa com a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), a parlamentar pede para que ele aceite a substituição de Valeixo por Alexandre Ramagem, diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Segundo a emissora, parte da deputada a oferta do cargo no STF.

“Por favor, ministro, aceite o Ramagem. E vá em setembro ao STF”, escreveu a deputada. “Eu me comprometo a ajudar. A fazer o Jair Bolsonaro prometer.”

Moro, então, rechaçou a proposta, afirmando: “Prezada, não estou à venda”.

Carla prossegue: “Ministro, por favor, milhões vão se desfazer…” disse. “Eu sei. Por Deus, eu sei. Se existe alguém no Brasil que não está à venda é o senhor.”

O então ministro respondeu: “Vamos aguardar. Já há pessoas conversando lá”.