segunda-feira, 17 de junho de 2019

Um movimento pelos movimentos democratizantes

Todo super-herói tem uma identidade secreta. A do BatMoro apareceu agora, com os vazamentos da Lava Jato, revelando que BatMoro é de fato o Curinga.
O Brasil não precisa de um super-herói na justiça, precisa é de democratizar a justiça. A justiça brasileira só prende pobres, a justiça brasileira é feita para prender pobres. A polícia brasileira existe para reprimir trabalhadores, para prender e matar pobres. A segurança pública brasileira precisa ser democratizada, assim como a educação, a saúde, o transporte, a moradia, a terra, a previdência, o ambiente.
Democratizar é pôr a serviço da coletividade, em vez servir a uma minoria de ricos e de castas privilegiadas. Democratizar é distribuir riquezas e poder. A coletividade precisa decidir sobre o que a afeta.
Não basta ter eleição de quatro em quatro anos, não basta delegar o poder a eleitos sem compromisso com seus eleitores e que se submetem aos interesses dos ricos que têm acesso aos gabinetes. É preciso democratizar as decisões, é preciso democratizar as instituições.
Banqueiros, industriais associados ao grande capital internacional, latifundiários, castas de servidores públicos privilegiados a serviço dos ricos não democratizarão o poder que detêm.
A democracia é o poder da maioria e precisa ser conquistada pela maioria. Mais do que a maioria, porque se a gente for ver, os interesses coletivos são de 99,99% da população, só uma pequeníssima parte da população é formada pelas castas de servidores privilegiados e capitalistas. Democratizar é submeter essa ínfima minoria aos interesses da imensa maioria.
Precisamos de movimentos pela democracia, precisamos de movimentos que elevem a palavra democracia, que universalizem a palavra democracia, que democratizem a democracia.
Assim como há movimentos dos sem-terra e dos sem-casa, que são movimentos pela democratização da terra e da moradia, do campo e da cidade, precisamos também de movimentos pela democratização da educação, pela democratização da saúde, pela democratização dos meios de comunicação, pela democratização da segurança pública, pela democratização da justiça, pela democratização dos transportes, pela democratização do ambiente -- e esta última é a bandeira mais importante do século XXI, porque, se quisermos ter futuro, se quisermos para nossos descendentes um mundo como o que tivemos, teremos de mudar radicalmente nossa relação com o ambiente, para impedir que a destruição que causamos na Terra leva a espécie humana à extinção.
Precisamos de movimentos democratizantes em todas as áreas, que definam o que é, por exemplo, democratizar a segurança pública, ou democratizar a comunicação. Precisamos encher as ruas com movimentos pela democratização, precisamos construir a democracia.
Todas as bandeiras de democratização estavam presentes na Constituição de 1988 e estão em vigor, mas não foram colocadas em prática, porque os brasileiros não foram mobilizados para isso, porque não tomaram consciência dos direitos constitucionais democráticos que conquistaram, porque essas conquistas foram até certo ponto desejos dos legisladores, e permaneceram apenas no papel, sujeitos à vontade política dos governantes.
Os governos do PSDB e do PT, por exemplo, efetivaram direitos democráticos, mas pouco mobilizaram a população para defendê-los. O governo golpista e o governo atual, resultado direto do golpe, estão destruindo os direitos de forma autoritária, sem consulta popular, sem respeito à Constituição e sem que os brasileiros reajam, porque não foram educados politicamente para se mobilizar e defender seus direitos, para se reconhecerem neles.
No entanto, os direitos sociais são conquistas democráticas e precisam ser defendidas pelos brasileiros. Mais do que defendidos, precisam ser conquistados, para que sejam duradouros.
O direito à aposentadoria precisa ser conquistado por um movimento popular democrático. O SUS precisa ser conquistado por um movimento popular democrático. A educação pública gratuita de qualidade para todos precisa ser conquistada por um movimento popular democrático. A segurança pública precisa ser conquistada por um movimento popular democrático. A justiça precisa ser conquistada por um movimento popular democrático. O transporte de qualidade precisa ser conquistado por um movimento popular democrático.
Um Brasil democrático precisa ser conquistado por um movimento popular democrático.
Isso nada tem de comunista ou socialista, porque a questão não é comunismo nem socialismo, a questão é democracia, é a efetivação do que a humanidade consagrou como direitos no final do século XVIII, na Revolução Francesa, também chamada de revolução burguesa: igualdade, liberdade, fraternidade.
Para que existam igualdade, liberdade e fraternidade, é preciso existir democracia, é preciso que a coletividade participe e decida sua vida, é preciso que conquiste os direitos democráticos, é preciso que a minoria se submeta aos interesses coletivos.
Nenhum super-homem nos dará a democracia, a democracia é construída pelos homens comuns.

domingo, 16 de junho de 2019

A destruição do Brasil pela larva jato

Desviar dinheiro público, receber propina, superfaturar obras e produtos são crimes gravíssimos que devem ser combatidos com rigor e punidos de forma exemplar. O que revolta na larva jato é que ela usou o combate à corrupção como bandeira política para derrubar um governo, perseguir um partido, prender um líder popular e fraudar uma eleição. Como combate à corrupção, não deixa saldo nenhum, deixa sim um passivo monstruoso de desmonte social, crise econômica profunda e destruição nacional. Cometeu um crime muitas vezes mais grave.
Os vazamentos do The Intercept Brasil confirmam o que qualquer um que pensa já sabia. Falta agora apenas mostrar a origem da larva jato: quem a inventou, como, onde, por que, para que. Isso também qualquer um que pensa sabe, o que falta são as provas.  

A Lava Jato usou o Judiciário para fins políticos

Por João Filho, The Intercept Brasil, em 16 de Junho de 2019, 9h09

Suspeitava-se que a Lava Jato era um grupo político articulado entre membros do Ministério Público e o judiciário. Os indícios apontavam um conluio entre procuradores e um juiz que atuava para influenciar o jogo político-partidário e manipular a opinião pública. Faltava o batom na cueca. Não falta mais.
Os diálogos revelados pelo Intercept mostram que a Lava Jato desfilava como uma deusa grega da ética na sociedade, mas atuava à margem da lei na alcova. Em nome do combate à corrupção, o conluio atropelou princípios jurídicos básicos e arrombou o estado de direito. As provas são tão explícitas que não há mais espaço para divergências.
A Lava Jato usou indevidamente o aparato jurídico para atender interesses políticos. O Código de Ética do Ministério Público, o estatuto da magistratura e a Constituição foram todos burlados. É um caso claro de corrupção.
Durante o processo que levou um ex-presidente para a cadeia, o juiz orientou, recomendou alterações de estratégias, antecipou uma decisão e até indicou uma testemunha para acusação. A defesa, que reiteradamente pediu a suspeição do juiz, fazia papel de trouxa enquanto ele e o procurador combinavam estratégias de acusação pelos seus celulares.

Clique AQUI para ler a íntegra.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

É preciso resgatar da extrema direita os símbolos nacionais

Só porque eu tenho escrito isso desde que o golpe começou.
Resgatar ou criar novos símbolos, porque os símbolos brasileiros são ridículos e impostos por elites delirantes, colonizadas e subservientes aos europeus: um hino imenso que ninguém sabe cantar, as cores da bandeira do império português e que não representam mais nada, sem falar no fato que a direita veste a camisa amarela da corrupta CBF. Precisamos de símbolos autênticos, que certamente não serão a bandeira vermelha, a foice e o martelo etc., que usadas por outras minorias.
Agora, deixar para a extrema direita entreguista que detesta o Brasil e seu povo a apropriação dos símbolos nacionais é o fim da picada. A não ser para desmoralizá-los de uma vez por todas, e mostrar que precisamos de símbolos autênticos, populares.

É preciso resgatar da extrema direita os símbolos nacionais

Em várias democracias ao redor do mundo, radicais têm se apropriado de bandeiras nacionais para poder chamar vozes discordantes de inimigos da pátria

Oliver Stuenkel, El País, 12/6/19

Em um fim de semana recente, ao sair de casa para correr no Parque Ibirapuera, em São Paulo, minha mulher questionou a escolha da minha camisa – da seleção brasileira. "Vão achar que você é bolsominion", alertou e me lembrou das manifestações pró-governo previstas para o dia seguinte na Avenida Paulista.
De fato, verifica-se hoje uma tendência crescente de apropriação de símbolos nacionais por movimentos de extrema direita tanto no Brasil quanto em outros países. Isso faz parte de uma estratégia sofisticada, pois permite uma suposta divisão da população entre patriotas de um lado e inimigos da pátria de outro.
Na Finlândia, por exemplo, usar uma camisa estampada com o símbolo nacional – o leão e a cruz – era comum no passado, mas seu uso hoje está fortemente associado a grupos xenófobos. Incomodada com o controle da extrema direita sobre o símbolo, uma agência finlandesa de design chegou a pedir, poucos anos atrás, sugestões para criar símbolos alternativos, que cidadãos moderados poderiam usar sem ser confundidos com radicais da direita. "Grupos extremistas sequestraram símbolos nacionais, fizeram do nacionalismo uma palavra suja e basicamente roubaram o direito de todos nós nos orgulharmos de nosso país", explicou Karri Knuuttila, um dos principais membros da iniciativa, à época.
Nos Estados Unidos, o presidente Trump tem sistematicamente tentado se apropriar da bandeira nacional, alegando (incorretamente) que seus adversários evitavam usá-la em eventos – e que, portanto, não seriam patriotas.

Clique AQUI para ler a íntegra no El País.

A lucidez emerge

O Brasil vem sendo varrido há quatro anos por um vendaval de insanidade, mas a lucidez não foi eliminada e vai emergindo aqui e ali, e há de se tornar uma força poderosa, majoritária, agora que chegamos ao máximo da autodestruição, com um governo absolutamente incapaz, e que o fogo que incendiou tudo, a tal operação larva jato e seus executores (quem foi seu idealizador? Como ela se originou? Por quê? Para quê? O jornalismo investigativo --  uma redundância, porque todo jornalismo deve ser investigativo, mas o jornalismo brasileiro se tornou tão oficial, tão parcial, tão porta-voz do capital que foi preciso reforçar o jornalismo com o adjetivo investigativo para diferenciá-lo do restante -- ainda terá de responder a estas perguntas) são desmascarados (a operação não foi resultado espontâneo da seca nem de um fósforo imprevidente, foi uma queimada proposital). Com a serenidade da sabedoria.

Da imparcialidade do magistrado 

Sílvio Luís Ferreira da Rocha, juiz federal, no Justificando, em 13/6/19.

O Juiz, como agente estatal, que exerce a jurisdição, atua em caráter impessoal e apenas por facilidade de linguagem fala-se nele como sujeito do processo. A impessoalidade é uma das notas características mais importantes da jurisdição e dela decorre desdobramentos sistemáticos como a imparcialidade.[1] De acordo com Alexandre de Moraes, “o direito a um juiz imparcial constitui garantia fundamental na administração da Justiça em um Estado de Direito e serve de substrato para a previsão ordinária de hipóteses de impedimento e suspeição do órgão julgador”.[2]

A imparcialidade é uma das características da jurisdição. A jurisdição é atividade estatal imparcial por que o Estado-Juiz está acima das relações que julga e não tem interesse no litígio submetido a julgamento e por essa razão permite-se à parte requerer o afastamento da lide de juiz considerado impedido ou suspeito pela forma prevista na lei.

A imparcialidade é uma garantia processual de que o processo será justo. A imparcialidade judicial reclama a neutralidade do órgão julgador; ela significa desinteresse e neutralidade; consiste em colocar entre parênteses as considerações subjetivas do julgador. É a ausência de preconceitos.

Clique AQUI para ler a íntegra no saite Justificando.

sábado, 8 de junho de 2019

O fim do mundo está a caminho, de verdade

Mais uma vez a lucidez da Eliane Brum.

A potência da primeira geração sem esperança

Os adolescentes que lideram a greve climática encarnam a mais importante adaptação ao planeta em colapso e demonstram ser mais próximos dos povos da floresta do que de seus avós de tradição europeia.

Eliane Brum, El País, 5/6/19

Em maio, encerrei uma palestra sobre a Amazônia e a criação de futuro, na universidade de Harvard, nos Estados Unidos, afirmando que a esperança, assim como o desespero, é um luxo que não temos. Com um planeta superaquecendo, não há tempo para lamentações e para melancolias. Precisamos nos mover, mesmo sem esperança. Assim que terminei, um grande empresário brasileiro fez uma manifestação apaixonada em defesa da esperança e foi aplaudido entusiasticamente por parte da plateia. A esperança, e não a destruição acelerada da Amazônia ou a emergência climática global, foi o assunto do debate que veio a seguir. Alguns entenderam que eu era uma espécie de inimiga da esperança e, portanto, uma inimiga do futuro (deles). A reação é reveladora de um momento em que a novíssima geração, a das crianças e adolescentes, tem enfiado o dedo na cara dos adultos e mandado eles crescerem.
(...)
A questão da esperança apareceu, para mim, enquanto acompanhava a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e a destruição do rio Xingu, na floresta amazônica. Uma – a construção – resultando na outra – a destruição. Vi pessoas que lutaram contra a morte e que viram seus companheiros tombarem a tiros nas lutas do passado pela floresta, mas que só naquele momento sentiam como se houvessem chegado ao fim da história. Belo Monte se erguia violando todas as leis e violando também os corpos dos mais frágeis – o que faz ainda hoje –, num governo do partido que haviam ajudado a fundar. As casas eram destruídas e incendiadas, a floresta queimava, os bichos morriam afogados, em convulsão. O mundo amazônico se transfigurava.
(...)
Lembro que um ano antes, na Festa Literária Internacional de Paraty, a FLIP de 2014, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro disse: “Os índios entendem de fim de mundo porque o mundo deles acabou em 1500”. Sua provocação referia-se ao fato de que, talvez, se tiverem esse desejo, os indígenas possam nos ensinar a viver depois do fim do mundo representado pela emergência climática, porque entendem de fim de mundo, já que o deles acabou com a invasão europeia.
Ao mergulhar no rio de pensamentos outros, entendi que a catástrofe não é o fim, está no meio
A frase impactou a mim e a tantos que lá estavam, mas só fui compreendê-la por completo quando passei a viver na Amazônia e a me expor a outros modos de vida. E outros modos de vida são também outros modos de pensamento. Ao mergulhar nesse rio de pensamentos outros, entendi que a catástrofe não é o fim, está no meio. Entendi isso com o meu corpo, o que faz toda a diferença, ao conviver com pessoas que tinham vivido várias catástrofes, pessoas para as quais o mundo havia se transfigurado várias vezes, e a vida se inventava pela resistência. Mas uma resistência com uma dimensão diferente da que conhecemos a partir da experiência ocidental branca. Uma resistência que não é a do fardo ou a da cruz, a da resignação martirizada, nem a da vingança e a da espada. O riso de desaforo era parte dessa resistência, que Viveiros de Castro chama de “rexistência”: “Os povos indígenas não podem não resistir sob pena de não existir como tais. Seu existir é imanentemente um resistir, o que condenso no neologismo rexistir”.
(...)
Escrevi, meses atrás, na minha coluna no jornal El País de Madri, que hoje a disputa se dá sobre os passados. Do Brexit ao trumpismo e ao bolsonarismo, o debate do presente abandonou o horizonte do futuro para se dedicar a passados que nunca existiram. Caricaturas como Donald Trump e Jair Bolsonaro conseguem tanta adesão (também) porque a dificuldade de imaginar um futuro em que se possa viver alcançou níveis inéditos: pela primeira vez, o amanhã se anuncia como catástrofe. Não como catástrofe possível, como no período da Guerra Fria e da destruição pela bomba atômica. Mas como catástrofe dificilmente evitável, já que o aquecimento de no mínimo 2 graus Celsius da temperatura da Terra é quase certo. Mas isso num modo otimista. Os fatos indicam que estamos nos dirigindo para 3 ou 4 graus, o que terá um impacto absolutamente tremendo.

Clique AQUI para ler a íntegra no El País.

sexta-feira, 31 de maio de 2019

O novo sempre vem

Como diria Belchior.
Assim como faliram as instituições que fizeram o golpe, aderiram a ele, foram cúmplices dele ou se omitiram, também faliram os partidos de esquerda e centrais e sindicatos que foram incapazes de resistir, o PT e a CUT à frente. O PT morreu em 2016, como o PTB morreu em 1964, e a CUT como a CGT. O PT não foi capaz de entender o golpe, resistir a ele e assumir a liderança de um novo momento político. Lula está preso, e tentou ser presidente assim mesmo, compreende-se, porque era a única alternativa do PT. O PT é menor do que Lula, o PT depende de Lula, o PT é Lula.
O PT pode renascer, Lula pode renascer, como Perón renasceu. Vai depender do que vier. O peronismo renasceu, sobreviveu, existe até hoje. O PTB morreu -- e o PT ajudou a matá-lo, recusando unir-se a Brizola, a submeter-se a Brizola, a reverenciar Getúlio Vargas. A esquerda brasileira tem essas rupturas, ao contrário da esquerda argentina.
Neste momento, porém, o PT, as centrais e, em menor medida, os sindicatos, porque mais próximos dos trabalhadores, estão mortos. E Lula está preso. Uma resistência verdadeira ao golpe, que continua nesse governo espúrio, passa por compreender isso. E formular novas bandeiras e forjar novas lideranças. A juventude entende isso melhor que os velhos.

Presença de partidos, sindicatos e 'Lula Livre' causa divergências em ato pela educação em SP

João Fellet, da BBC News Brasil em São Paulo

Enquanto sindicalistas discursavam no maior carro de som durante a manifestação contra o bloqueio de verbas para a educação nesta quinta-feira (30/5), em São Paulo, um grupo de seis estudantes do primeiro ano do ensino médio acompanhava as falas à distância.

Pareciam desconfortáveis com a presença de bandeiras de partidos e a defesa de outras causas por parte dos manifestantes, entre as quais a rejeição à reforma da Previdência e a liberdade para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Estou aqui porque critico o Bolsonaro, que faz um governo horrível e tira verba da educação. Mas não sou a favor do PT, que também prejudicou o país, e nem de Lula", disse Eric Freire, de 15 de anos, que participava pela primeira vez de um protesto contra a política educacional do governo.

"Aqui tem muitos sindicatos que, quando convém, apoiam os estudantes, mas que também apoiam políticos envolvidos em corrupção", afirmou a colega Ísis Cavalcante.

Autoridades não estimaram o número de pessoas presentes; para organizadores, foram "mais de 200 mil", muitos dos quais professores e estudantes. As manifestações ocorreram em várias cidades do país e sucederam protestos ocorridos em 15 de maio, confrontados por atos pró-Bolsonaro no último domingo.

Clique AQUI para ler a íntegra no saite da BBC Brasil.

Clique AQUI para ler uma análise da situação brasileira no jornalaico wordpress. 

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Por que precisamos de uma Constituinte

Democrática, popular e soberana.
Porque a ordem brasileira desmoronou. Todas as instituições fundadas em 1988 foram se desmanchando ao longo da Nova República e naufragaram no golpe de 2016. Agora entramos no "buraco negro", mas não só da economia, como diz Delfim Neto, principalmente no buraco negro da ordem social e política.
A notícia abaixo é mais um exemplo. Militares não podem ser julgados por seus pares, a não ser em questões internas. Militares são subordinados aos civis, à sociedade, como tudo mais. A Constituição de 1988 manteve essa aberração, assim como manteve a organização policial da ditadura. Corporações protegem seus membros, é para isso que existem. Assim como o Judiciário protege juízes e desembargadores e o Legislativo protege seus políticos. Ao longo da Nova República as corporações foram tomando conta do país, criando e aprofundando privilégios, de forma que hoje vivemos numa sociedade de castas. Todas as instituições brasileiras precisam ser revistas democraticamente, para que possamos reconstruir a democracia e sair do buraco negro que nos leva para a anarquia ou para a ditadura.
A PM, por exemplo, que deveria ter sido extinta, se tornou herdeira da ditadura como força de repressão do povo, se corrompeu e se misturou com o crime organizado. O golpe aprofundou isso, o governo atual é o próprio governo do crime organizado. E as instituições que deveriam impedir isso -- juízes, tribunais, STF, Congresso, imprensa -- se omitiram ou aderiram ao golpe, corrompidos também.
Só uma Constituinte nos tira disso, porque o caos é tamanho que precisamos reorganizar tudo. Com uma Constituinte, com mobilização da sociedade, com discussão franca e profunda dos nossos problemas, organização de novas forças políticas, decisões da maioria formada pelo esclarecimento e pela responsabilidade, pela participação, pelo estabelecimento de princípios claros, democráticos.
Que Brasil queremos?
A maioria não quer, ou pelo menos a ela não interessa, o Brasil que os banqueiros e o capital estrangeiro, além dos interesses americanos, estão nos impondo, com o corte dos direitos e o aprofundamento das desigualdades e injustiças, com a reforma da Previdência, a reforma trabalhista, a entrega do pré-sal, a entrega da Amazônia, os rompimentos das barragens, a liberação dos agrotóxicos, a matança dos pobres, a destruição do SUS, a privatização das universidades públicas, a entrega da Embraer, a destruição do ensino público, o desemprego, a miséria.
Precisamos discutir o Brasil que queremos e começar a construí-lo, não sob a liderança de um messias, mas com a força da nossa vontade e com a nossa responsabilidade. 

Tribunal manda soltar 9 militares que mataram músico e catador no Rio
Decisão foi do Superior Tribunal Militar. Agentes já são réus pelos crimes que serão julgados pela Justiça Militar, sob crítica de especialistas.
O Superior Tribunal Militar (STM) decidiu nesta quinta-feira (23/5/19), por 12 votos a 2, soltar nove militares do Exército que estavam presos preventivamente desde 8 de abril por terem disparado mais de 240 tiros de fuzil e pistola, 62 deles contra o carro em que estava o músico Evaldo Rosa dos Santos, em Guadalupe, na zona oeste do Rio de Janeiro. Santos, que viajava com a família para um chá de bebê, e o catador Luciano Macedo, que tentou socorrê-lo, morreram em decorrência do ataque. Os militares, que já são réus pelo crime, dizem ter confundido o veículo com o de traficantes.

Clique AQUI para ler a íntegra da matéria no El País.


quarta-feira, 22 de maio de 2019

Para que foi o golpe

Para pôr em prática os interesses de uma ínfima parcela de privilegiados que vão contra os interesses da coletividade. O governo atual é continuação do governo Temer.

Governo Bolsonaro libera uso de mais 31 agrotóxicos; já são 169 apenas neste ano
Três dos produtos registrados nesta terça-feira (21/5) são compostos pelo glifosato, substância considerada cancerígena.
Clique AQUI para ler a íntegra da matéria do Brasil de Fato.

Clique AQUI para ler a matéria do G1.

Aprovações de agrotóxicos no governo Bolsonaro beneficiam empresas estrangeiras 
Por Pedro Grigori, Agência Pública / Repórter Brasil, 14/5/19
Dos 166 registros de pesticidas liberados neste ano, apenas 5% são totalmente produzidos em solo nacional. Brasil é o maior importador de agrotóxico do mundo, segundo especialista.
Clique AQUI para ler a íntegra da matéria no Repórter Brasil.

Meninada, o que a gente vai fazer hoje?

Ou: educação infantil é a solução.

Sempre. É óbvio. É sabido. Inúmeras vezes foi tentado com sucesso. O projeto desta matéria da BBC que reproduzo abaixo é uma delas. Por que não se realiza de forma universal? Por que o problema da humanidade não é só conhecimento, é principalmente política.
E aí vêm as elites reacionárias e dizem que a política é corrupta, que precisamos acabar com os políticos etc. e tal. Essas elites estão no poder no governo federal e domingo pretendem fazer manifestações ao presidente "que não é político" (mas é: desde que foi expulso do Exército, há trinta anos; é o político que representa as milícias e outras organizações criminosas armadas).
Acontece que tudo é política, inclusive desmoralizar a política e os políticos.
A política que melhora a vida é a política democrática, na qual todos participam em igualdade.
Ou, dito de outra forma: quanto mais participamos, mais a política melhora; quanto mais participamos, menos corrupta é a política.
Porque a questão da política se resume a isso: fazer o que é melhor para a coletividade. E é no exercício da democracia, na participação, que aprendemos isso, experimentando, praticando, observando, pensando, testando, conhecendo. É um processo lento, longo, árduo, difícil, por isso muitos desistem, e os oportunistas que defendem interesses pessoais e de minorias, mas não têm coragem de dizer isso abertamente, que se escondem atrás de interesses ditos do povo, ditos patrióticos, ditos interesses do bem, da vontade divina e coisas assim, aparecem para defender soluções fáceis, autoritárias.
Somos nós que temos de resolver nossos problemas, porque eles só deixarão de ser problemas se nós os resolvermos. Qualquer solução que vier de outros, como presentes, não resolverão nada. Simples assim. A reforma da previdência, por exemplo, é ruim porque não atende os interesses da maioria, é a proposta de uma minoria ideológica, exaltada, que se considera iluminada, mas na verdade defende interesses particulares, de grupos, de banqueiros, de empresários que vão ganhar dinheiro com ela.
A solução efetiva dos problemas, a construção de uma sociedade melhor, começa pela educação infantil. O Clic! sabe disso há muito tempo, e as crianças que passaram por lá e seus pais sabem disso muito bem. Assim como aqueles que passaram pelo projeto americano da matéria da BBC. São os interesses de quem quer manter seus privilégios e o mundo ruim para a maioria que impedem que a solução seja universalizada. E somos nós, a maioria, que temos de conquistar a solução. Os privilegiados não farão por nós.

Investir em educação para a primeira infância é melhor 'estratégia anticrime', diz Nobel de Economia
Por Luiza Franco, da BBC News Brasil, em São Paulo.
James Heckman já era vencedor do Nobel de Economia quando começou a se dedicar ao assunto pelo qual passaria a ser realmente conhecido: a primeira infância (até 5 anos de idade), sua relação com a desigualdade social e o potencial que há nessa fase da vida para mudanças que possam tirar pessoas da pobreza.
BBC News Brasil - Acha que os governos têm dado mais atenção nas últimas décadas à primeira infância? Quais são os desafios nesse sentido?
Heckman - O desafio é mudar a forma de pensar. A forma errada é pensar que a educação formal é o caminho para a criação de habilidades e que o modelo de professor em pé na frente da turma lecionando para crianças é o jeito certo de gerar vidas bem sucedidas. Esse raciocínio é promovido inclusive por cursos superiores de educação e por pessoas bem intencionadas. Mas o que importa é pensar na família e na formação da criança. 
Clique AQUI para ler a matéria no saite da BBC Brasil.

Meninada, o que a gente vai fazer hoje? conta a história do Centro Lúdico de Interação e Cultura – Clic!, que funciona desde 1996 em Belo Horizonte, numa casa com quintal, árvores e muito espaço, oferecendo a crianças de um a seis anos esse bem cada vez mais raro nas cidades grandes: viver a infância no seu próprio ritmo. Escrito por um pai de alunas, é um trabalho jornalístico apaixonado, baseado em entrevistas e observações, e revela como este projeto, tão vivo e tão rico, evoluiu e se transformou, mantendo-se fiel à sua ideia original de valorizar a cultura da criança.
Clique AQUI para conhecer a história do Clic!.

terça-feira, 21 de maio de 2019

A nova praga dos passeios públicos

A patinete é a nova praga dos passeios públicos.

Antes de tudo, é preciso dizer que patinete é um substantivo feminino, a patinete. Embora esse seja um defeito da língua portuguesa, porque patinete não tem sexo, e a língua deveria dar tratamento neutro para o que não é nem feminino nem masculino, o fato é que a patinete foi transformada em o patinete pela imprensa, assim como a personagem foi transformada em o personagem, e tantas outras palavras. Quando eu era menino e fazíamos, eu e todos os meus amigos, nossas próprias patinetes, elas eram chamadas assim. No português de Portugal, é a patineta, assim como vitrine é vitrina, ambas palavras de origem francesa. Agora, no Brasil, está virando o patinete. Machismo evidente, numa época de ascensão feminina. E ignorância.

Bem, a patinete é um veículo automotor e como tal deve estar sujeita às regras dos veículos automotores. Mais até do que bicicleta, que não tem motor. Além disso, é um negócio, explorada comercialmente. Isso é óbvio. Ao contrário da bicicleta, não traz benefício à saúde, como atividade física; de fato, vai é fazer as pessoas engordarem, porque está sendo usada por aqueles que são ou eram pedestres, que praticam ou praticavam o saudável exercício de caminhar. Tudo bem, no entanto, se circular no asfalto, substituindo carro e ônibus.

A praga surgiu de repente, no mundo inteiro; no Natal do ano passado, soube que tinha se espalhado em São Paulo. Vejo por uma notícia que em dezembro também estava no Rio. No começo do ano chegou a BH e proliferou mais do que rato e barata, primeiro a amarelinha, depois a verde.

Obviamente, é irregular, vai contra as regras em vigor, mas as autoridades não fazem nada. Ignoram, se omitem. Porque as autoridades, assim como os jornalistas, vivem dentro de escritórios, dentro de carros, e, agora, no mundo virtual, olhando telas de computadores e de celulares, não se conectam à realidade das ruas, portanto não veem o que está acontecendo, não percebem as novidades.

Provavelmente a patinete elétrica é uma (re)invenção chinesa (é curioso que nenhuma matéria que eu li fale de onde veio essa praga, como se fosse uma coisa natural; obviamente, alguém inventou isso e alguém está investindo muito dinheiro para espalhar a praga pelo mundo inteiro, mas a imprensa não se interessou em descobrir, ou contar ao leitor).

Pode ser um interessante meio de locomoção nas cidades. Como veículo, porém, o que significa que não pode ocupar passeios, faixas de pedestres, andar na contramão etc. Enfim, precisa seguir as leis dos veículos, talvez adaptadas para suas especificidades. E é negócio, paga, alugada, logo deve pagar impostos etc., como todos os veículos. Faz parte dessa nova modalidade de transporte tecnológico, via aplicativo, celular e cartão de crédito, que não passa pelo Estado, serviço direto contratado entre o dono do aplicativo e o usuário, embora, no caso do úber, explore um trabalhador informal, o dono do carro, ou até crie uma nova condição, em que o dono do carro também é intermediário e aluga seu carro para um motorista.

A tecnologia é uma maravilha, facilita, melhora, pode até diminuir a poluição, se substituir o carro (no caso do úber, é exatamente o contrário, aumentou o número de carros nas ruas), mas é preciso ver como as coisas funcionam e regulamentar, porque alguém está ganhando, só ganhando, e muito, enquanto outros estão perdendo (o pedestre está sempre perdendo, porque é o mais fraco), sendo explorados, numa relação desigual de competição com outros veículos e com o Estado, que é responsável por oferecer boas vias públicas, com que dinheiro?

No caso das patinetes, assim como das bicicletas, a ameaça é aos pedestres. No Rio, uma notícia informa que em quatro meses houve uma centena de acidentes. Uma das operadoras suspendeu o serviço. Patinetistas, assim como ciclistas, acham que continuam sendo pedestres, querem só benefícios, os dos pedestres e os dos motoristas, e andam nos passeios, embora estejam conduzindo veículos. E largam as patinetes no meio do passeio, em qualquer lugar.

Tenho dificuldade de entender isso. Não ando de patinete nem de bicicleta de aluguel na cidade, mas se andasse, não andaria no passeio, não furaria sinas, não andaria em faixas de pedestres, não andaria na contramão, não as largaria atravessadas no passeio, como vejo fazerem essas pessoas "modernas", "avançadas", "tecnológicas" e sem educação, sem respeito. Não consigo entender essas pessoas. Elas têm o mesmo comportamento dos donos de cachorrinhos que saem com eles para fazer cocô no passeio, nas portas dos vizinhos. São os mesmos que reclamam do Estado, dos impostos, mas que não sabem viver em coletividade, não respeitam os direitos dos outros, acho que nem notam que os outros existem.

A praga das patinetes chegou no mundo todo, mas cidades civilizadas estão regulamentando seu uso, não é como aqui, terra de ninguém. 

Alemanha se prepara para a febre dos patinetes
Eles já são populares em vários países. Na Alemanha, permissão para uso dos veículos nas ruas está em fase de regulamentação, e empresas especializadas no aluguel do equipamento se preparam para entrar no mercado.
Clique AQUI para ler a matéria da DW.

França vai proibir patinetes elétricos em calçadas
Governo francês anuncia que vai impedir circulação de patinetes elétricos nas calçadas do país a partir de setembro. Quem violar a regra estará sujeito a multa de 135 euros. No Brasil, ainda falta legislação específica.
Clique AQUI para ler a matéria da DW.

As regras para dirigir patinetes elétricos no Brasil
Embora não haja legislação específica para esse tipo de veículo, existem normas a serem seguidas, de acordo com o Conselho Nacional de Trânsito.
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Bicicletas de aluguel: incômodo ou solução?
Enquanto ativistas dizem que bicicletas públicas são melhores que carros nas ruas, cidades da Alemanha querem limitar número de bicicletas compartilháveis estacionadas de forma desordenada em parques e calçadas.
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