terça-feira, 21 de maio de 2019

A nova praga dos passeios públicos

A patinete é a nova praga dos passeios públicos.

Antes de tudo, é preciso dizer que patinete é um substantivo feminino, a patinete. Embora esse seja um defeito da língua portuguesa, porque patinete não tem sexo, e a língua deveria dar tratamento neutro para o que não é nem feminino nem masculino, o fato é que a patinete foi transformada em o patinete pela imprensa, assim como a personagem foi transformada em o personagem, e tantas outras palavras. Quando eu era menino e fazíamos, eu e todos os meus amigos, nossas próprias patinetes, elas eram chamadas assim. No português de Portugal, é a patineta, assim como vitrine é vitrina, ambas palavras de origem francesa. Agora, no Brasil, está virando o patinete. Machismo evidente, numa época de ascensão feminina. E ignorância.

Bem, a patinete é um veículo automotor e como tal deve estar sujeita às regras dos veículos automotores. Mais até do que bicicleta, que não tem motor. Além disso, é um negócio, explorada comercialmente. Isso é óbvio. Ao contrário da bicicleta, não traz benefício à saúde, como atividade física; de fato, vai é fazer as pessoas engordarem, porque está sendo usada por aqueles que são ou eram pedestres, que praticam ou praticavam o saudável exercício de caminhar. Tudo bem, no entanto, se circular no asfalto, substituindo carro e ônibus.

A praga surgiu de repente, no mundo inteiro; no Natal do ano passado, soube que tinha se espalhado em São Paulo. Vejo por uma notícia que em dezembro também estava no Rio. No começo do ano chegou a BH e proliferou mais do que rato e barata, primeiro a amarelinha, depois a verde.

Obviamente, é irregular, vai contra as regras em vigor, mas as autoridades não fazem nada. Ignoram, se omitem. Porque as autoridades, assim como os jornalistas, vivem dentro de escritórios, dentro de carros, e, agora, no mundo virtual, olhando telas de computadores e de celulares, não se conectam à realidade das ruas, portanto não veem o que está acontecendo, não percebem as novidades.

Provavelmente a patinete elétrica é uma (re)invenção chinesa (é curioso que nenhuma matéria que eu li fale de onde veio essa praga, como se fosse uma coisa natural; obviamente, alguém inventou isso e alguém está investindo muito dinheiro para espalhar a praga pelo mundo inteiro, mas a imprensa não se interessou em descobrir, ou contar ao leitor).

Pode ser um interessante meio de locomoção nas cidades. Como veículo, porém, o que significa que não pode ocupar passeios, faixas de pedestres, andar na contramão etc. Enfim, precisa seguir as leis dos veículos, talvez adaptadas para suas especificidades. E é negócio, paga, alugada, logo deve pagar impostos etc., como todos os veículos. Faz parte dessa nova modalidade de transporte tecnológico, via aplicativo, celular e cartão de crédito, que não passa pelo Estado, serviço direto contratado entre o dono do aplicativo e o usuário, embora, no caso do úber, explore um trabalhador informal, o dono do carro, ou até crie uma nova condição, em que o dono do carro também é intermediário e aluga seu carro para um motorista.

A tecnologia é uma maravilha, facilita, melhora, pode até diminuir a poluição, se substituir o carro (no caso do úber, é exatamente o contrário, aumentou o número de carros nas ruas), mas é preciso ver como as coisas funcionam e regulamentar, porque alguém está ganhando, só ganhando, e muito, enquanto outros estão perdendo (o pedestre está sempre perdendo, porque é o mais fraco), sendo explorados, numa relação desigual de competição com outros veículos e com o Estado, que é responsável por oferecer boas vias públicas, com que dinheiro?

No caso das patinetes, assim como das bicicletas, a ameaça é aos pedestres. No Rio, uma notícia informa que em quatro meses houve uma centena de acidentes. Uma das operadoras suspendeu o serviço. Patinetistas, assim como ciclistas, acham que continuam sendo pedestres, querem só benefícios, os dos pedestres e os dos motoristas, e andam nos passeios, embora estejam conduzindo veículos. E largam as patinetes no meio do passeio, em qualquer lugar.

Tenho dificuldade de entender isso. Não ando de patinete nem de bicicleta de aluguel na cidade, mas se andasse, não andaria no passeio, não furaria sinas, não andaria em faixas de pedestres, não andaria na contramão, não as largaria atravessadas no passeio, como vejo fazerem essas pessoas "modernas", "avançadas", "tecnológicas" e sem educação, sem respeito. Não consigo entender essas pessoas. Elas têm o mesmo comportamento dos donos de cachorrinhos que saem com eles para fazer cocô no passeio, nas portas dos vizinhos. São os mesmos que reclamam do Estado, dos impostos, mas que não sabem viver em coletividade, não respeitam os direitos dos outros, acho que nem notam que os outros existem.

A praga das patinetes chegou no mundo todo, mas cidades civilizadas estão regulamentando seu uso, não é como aqui, terra de ninguém. 

Alemanha se prepara para a febre dos patinetes
Eles já são populares em vários países. Na Alemanha, permissão para uso dos veículos nas ruas está em fase de regulamentação, e empresas especializadas no aluguel do equipamento se preparam para entrar no mercado.
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França vai proibir patinetes elétricos em calçadas
Governo francês anuncia que vai impedir circulação de patinetes elétricos nas calçadas do país a partir de setembro. Quem violar a regra estará sujeito a multa de 135 euros. No Brasil, ainda falta legislação específica.
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As regras para dirigir patinetes elétricos no Brasil
Embora não haja legislação específica para esse tipo de veículo, existem normas a serem seguidas, de acordo com o Conselho Nacional de Trânsito.
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Bicicletas de aluguel: incômodo ou solução?
Enquanto ativistas dizem que bicicletas públicas são melhores que carros nas ruas, cidades da Alemanha querem limitar número de bicicletas compartilháveis estacionadas de forma desordenada em parques e calçadas.
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