ONGs, governos, empresas e organizações diversas formam o novo e pulverizado mercado de trabalho do jornalista na internet
O novo paradigma da comunicação criado pela internet gera novas formas de trabalho para o jornalista. Uma delas é o jornal de jornalistas, sem patrão; mais frequentes, pelos menos por enquanto, são os blogs de jornalistas e as revistas eletrônicas, escritas por especialistas e que contêm mais artigos do que reportagens. Outras formas são os blogs e portais de organizações não governamentais, governos, empresas e organizações diversas. A seguir alguns exemplos desse espectro.
1- Quem quer se informar sobre trabalho escravo e exploração do trabalho no Brasil deve ler o portal Repórter Brasil, do cientista político e jornalista Leonardo Sakamoto, que tem também um blog; o blog é mais pessoal, o portal é noticioso, mas ambos são informativos. Repórter Brasil é produzido por uma ONG de mesmo nome, cujo objetivos é “fomentar a reflexão e ação sobre as diversas situações de injustiça presentes em nossa sociedade, tanto nos casos de flagrante desrespeito aos direitos humanos, como nas condições sociais e estruturais sub-humanas de vida”. A ONG, criada em 2001, tem quatro eixos de atuação: “jornalismo social, projetos de educação e comunicação, combate à escravidão e pesquisa sobre agrocombustíveis”. Ou seja, o jornalismo, que Repórter Brasil faz na internet, é uma das linhas de atuação da ONG, que, ao mesmo tempo, não se limita ao jornalismo. O jornalismo é um instrumento “social” para que a ONG cumpra suas funções de combate à escravidão, educação e pesquisa. Obviamente, para produzir seu portal Repórter Brasil precisa de repórteres, o que significa que faz parte desse novo e pulverizado mercado de trabalho para o jornalista.
http://www.reporterbrasil.org.br
2- Outra iniciativa é a Agência de Informação Frei Tito para América Latina (Adital), criada com apoio e participação do Frei Beto, com os objetivos de levar a agenda social latino-americana e caribenha à mídia internacional, estimular um jornalismo de cunho ético e social, favorecer a integração e a solidariedade entre os povos, entre outros. A Adital reconhece os atores sociais como fontes de informação e democratizadores da comunicação.
http://www.adital.org.br
3- O presidente da República fala diretamente com o público pela internet, no seu blog, o Blog do Planalto. Não se limita a programas semanais no rádio e aparições esporádicas na televisão, ele se comunica várias vezes por dia usando a internet. Pelo Blog do Planalto o leitor (eleitor, cidadão, brasileiro) ficada sabendo de todos os passos do presidente. O blog do Lula, porém, não é escrito por ele, e sim por jornalistas que o acompanham.
Também o ministro Patrus Ananias tem o seu blog, mais pessoal, menos frequente, mas também contendo informações de interesse público e escrito por ele.
http://blog.planalto.gov.br/
http://blogdopatrus.com.br/blog/
4- A Petrobras, maior estatal brasileira, produziu um terremoto ao criar o seu blog. A alegação da “grande” imprensa é que ela seria “furada” pela estatal, uma vez que esta passou a publicar no blog a íntegra das informações e entrevistas dadas à imprensa. Feito um reajuste nesse modelo, pelo qual a versão da empresa é publicada juntamente com a versão da imprensa, o blog segue firme, tendo inaugurado um novo canal de comunicação que está sendo copiado por outras organizações. Tal iniciativa é ao mesmo tempo simples e revolucionária, porque elimina o filtro da “grande” imprensa para as informações, ao mesmo tempo que permite que a estatal pratique a transparência, respondendo com agilidade a qualquer notícia divulgada nos veículos tradicionais. Mais uma vez a produção do blog exige o trabalho de jornalistas.
http://petrobrasfatosedados.wordpress.com/
5- O youtube do Planalto. O governo federal usa o youtube para divulgar as obras feitas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), programa que está transformando o país, ajudando o presidente Lula a manter seu altíssimo índice de popularidade e que, recentemente, foi decisivo para que o tsunami da crise capitalista mundial não passasse aqui de uma “marolinha”. São pequenos filmes de propaganda e divulgação, no formato do youtube, que seguem caminho descoberto por outras organizações, como o cinema brasileiro e artistas independentes.
http://www.youtube.com/watch?v=UVVElgGDAIs&feature=PlayList&p=E6123ABE04FB57AB&index=0
Como se vê, o novo jornalismo colaborativo se confunde em parte com esse universo também novo e próspero de organizações não governamentais. É nele, como meio de comunicação alternativo, que o novo paradigma da comunicação floresce mais rápida e fortemente. Talvez não seja exagero dizer que, tanto quanto o modelo antigo se sustentava na iniciativa privada, o novo paradigma depende de organizações da sociedade e de recursos diversos, inclusive internacionais, e de programas sociais do Estado, para se viabilizar. Assim é que o Repórter Brasil, por exemplo, sobrevive de colaborações públicas e privadas, legitimadas por sua importante atuação no combate ao trabalho escravo.
Por trás dos blogs do governo se pode identificar a necessidade (além da competência do ministro Franklin Martins): o governo Lula, bem como a Petrobrás estão sob bombardeio permanente da “grande” imprensa – o partido do capital – e usam os blogs para se defenderem.
Paralelamente se pode ver o atraso de outros governos, como a prefeitura de Belo Horizonte, que não dispõe sequer do canal “fale conosco” nas suas páginas na internet – quem quiser se dirigir à autoridade municipal deverá escrever para a Ouvidoria (por sinal, atenciosa), depois de gastar tempo procurando. O que se percebe é que os governos estão preocupados em manter a comunicação interativa apenas naqueles assuntos que lhes interessam, tais como pagamento de taxas, impostos etc.
Nessa comunicação pulverizada, o Twitter é uma ferramenta utilíssima, ao possibilitar ao leitor receber informação atualizada do que publicam aquelas pessoas ou instituições que lhe interessam. É uma nova forma de se manter atualizado sobre tudo, permanentemente.