O jornalista é um animal em extinção, porque demora a se adaptar às novas e revolucionárias condições de exercício da profissão
O jornalismo está mudando e o jornalista será talvez um dos últimos a perceber isso. Nós, que já denunciamos tantas espécies ameaçadas de extinção, não percebemos que somos uma também. Não me refiro ao fim da exigência do diploma, decretada por Gilmar, O Supremo, embora essa decisão reforce a tendência. Também não estou me referindo à péssima qualidade do jornalismo praticado do país, que, eliminando a reportagem, elimina também o repórter. Estou me referindo à internet.
A internet está criando um novo paradigma de comunicação. Quando as pessoas trocam um sistema por outro, quando este outro perde adeptos enquanto o novo prospera, há uma mudança de paradigma. É o que está acontecendo na comunicação. Rapidamente a internet está substituindo jornais, revistas, televisões e rádios como principal meio de comunicação. O modelo antigo tinha três características principais: 1) a propriedade dos meios de comunicação concentrada em grandes empresas; 2) a produção da informação por jornalistas profissionais; 3) o consumo de informações pelo público.
A internet subverteu esse modelo. Hoje, para produzir e difundir informações não é preciso mais ser dono de um jornal ou revista, concessionário de emissoras de tevê e rádio, não é preciso contratar uma grande equipe de profissionais, não é preciso gastar com a distribuição da publicação ou com a transmissão de sons e imagens. Não dependemos mais dos empresários (pelo menos do empresário tradicional da comunicação) para escrever, publicar e chegar ao leitor. Qualquer jornalista pode ter seu blog – seu jornal.
Também não é preciso ser profissional para produzir informações. Não é só o jornalista que pode ter seu blog, é qualquer pessoa. Qualquer pessoa reproduz informações e as distribui por meio do correio eletrônico, qualquer pessoa escreve textos e os distribuem aos amigos e conhecidos, entra em blogs e portais, comenta, critica e interfere na informação. Qualquer pessoa com um celular pode fotografar ou filmar um fato jornalístico e colocá-lo na rede com enorme repercussão. Todo mundo pode escrever, todo mundo pode participar da produção da informação.
Jornalismo se tornou uma atitude.
É por isso que o jornalista está em extinção. O jornalista tradicional, é claro. Continua existindo espaço e função para o jornalista – em certa medida, a internet ampliou extraordinariamente o “mercado” para o jornalista profissional, uma vez que, agora, qualquer organização pode tem seu próprio veículo de comunicação e falar diretamente ao seu público, sem depender da intermediação dos jornais, revistas, televisões e rádios.
Esse novo profissional, porém, não é mais o autor solitário da informação, não é o dono da verdade, não é o sujeito que seleciona o que o leitor vai ler (os donos dos veículos tradicionais fazem ainda uma triagem da triagem, seja na edição, seja na pauta, seja na “linha editorial”, seja na “falta de espaço”, seja na censura mesmo). Ele precisa trabalhar em cooperação permanente com o leitor. O novo jornalismo é um jornalismo colaborativo, no qual, além de produzir informação, o jornalista atua como intermediário, em contato com os leitores e as fontes, que também se misturam.
Agilidade, competência e conhecimento para produzir a informação correta de forma colaborativa com o leitor é o lema deste novo jornalismo. Na ausência de jornalistas formados ou profissionais atualizados, o novo paradigma se impõe com leigos, no fenômeno dos blogs. O melhor exemplo disso é o blog do Luís Nassif, certamente o jornalista brasileiro que melhor compreendeu e põe em prática o novo modelo, cercado de uma comunidade de leitores qualificados que já ultrapassou 6 mil membros, no momento em que escrevo. Em contraposição, sindicatos e Fenaj, que não criam nem estimulam a criação de jornais de jornalistas na internet, se comportam como pássaros de gaiola, que veem a portinha aberta, mas não sabem mais voar. São sindicatos de um animal em extinção.