sábado, 3 de abril de 2010

A catástrofe na Avenida Francisco Deslandes é o retrato da cidade


Construção do shopping Plaza Anchieta abala edifício e põe em risco outros quatro.
É da essência do capitalismo particularizar as questões e isolar os acontecimentos. Quando uma obra de construção civil põe em risco outros prédios e leva à evacuação dos apartamentos e ao isolamento da área, o sistema se mobiliza para condenar a construtora pelo seu crime particular. A imprensa age da sua forma característica, parte do mesmo movimento: cobrindo o espetáculo sensacional, que será esquecido amanhã, substituído por um novo. Tudo não passa de um caso isolado. Não é verdade. A ação frenética da indústria da construção espalha seus efeitos deletérios por toda a cidade, derrubando casas, bares, clubes, escolas, substituindo construções horizontais por arranha-céus, perturbando os vizinhos, mudando a paisagem urbana, destruindo a memória, deteriorando a qualidade de vida da população. Faz isso com a cumplicidade criminosa das autoridades, que estão a serviço do imediatismo do lucro e dos empresários, descompromissados com a coletividade e com as próximas gerações. Os exemplos estão aí: o Bar Brasil, a ACM, casas e mais casas, o Colégio Módulo, a Coopen-BH, para citar casos atuais. A selva de arranha-céus no Bairro Belvedere mudou o clima de Belo Horizonte. A cidade desaparece e dá lugar a nefastos empreendimentos imobiliários. A castástrofe da Avenida Francisco Deslandes é apenas a face mais dramática de uma implosão sorrateira da nossa cidade e da nossa memória. (Na foto, a obra do shopping, na frente, e os prédios interditados, no fundo.)
A notícia:
http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/minas/desabamento-de-muro-provoca-interdic-o-de-cinco-predios-no-bairro-anchieta-1.99118