terça-feira, 9 de setembro de 2025

Influenciadores "marxistas"

Acompanho muitos podcasts, há uma efervescência de discussões na internet, especialmente no YT. São os revolucionários de redes sociais. Me distraio, me informo, admiro muitos participantes, “influenciadores”, mas minha admiração é limitada. Quer dizer, minha admiração considera o que as pessoas fazem, não o que dizem. Um dos influenciadores mais destacados, por exemplo, é um brilhante artista, ator, escritor, mas será que ele quer mudar o mundo, acabar com o capitalismo, salvar o ambiente, criar o socialismo que só pode ser ambientalista? Acho que não, porque não age para isso, acho que o que ele quer é viajar, apresentar seus espetáculos, ser admirado e aplaudido, ganhar dinheiro para manter sua arte, enfim, continuar levando uma boa vida no sistema capitalista.

E assim vai, influenciador após influenciador; todos estão sobrevivendo, o que significa ganhando dinheiro e mantendo vivo o sistema capitalista, produzindo entretenimento na internet. O conhecimento que difundem e a consequente elevação da consciência do público, se é que acontece, corresponde à formação de uma ideologia, mas que ideologia é essa? A que ela leva? No caso do podcast citado, não é muito mais do que condenar a extrema direita e apoiar o Lula, ou rejeitar o sionismo e apoiar os palestinos.

O que eu quero dizer é que não existe um horizonte, uma estratégia, um projeto do que se chama de esquerda e reverencia o pensamento marxista. As críticas, as análises, as discussões que acontecem na internet, inúmeras, não levam a um plano para mudar a sociedade, extinguir o capitalismo e criar o socialismo, embora todos se digam revolucionários ou pelo menos reformistas, comunistas ou socialistas. Todos estão extremamente preocupados com a sociedade, mas cuidam só das suas vidas individuais, todos estão apavorados com o futuro, mas se ocupam de gozar o presente, todos, enfim, se dizem socialistas, mas vivem vidas capitalistas.

Ok, no capitalismo só se pode viver de forma capitalista, mas é preciso reconhecer então que nada fazemos para a acabar com o capitalismo, ao contrário, estamos contribuindo para sua continuação e para a barbárie à qual ele nos conduz. A internet é um interessante meio de difusão de conhecimentos, mas a transformação social é outra coisa, não será feita por multidões de seguidores lideradas por influenciadores. Ou será? Penso que a "revolução" precisa ser feita por pessoas reais, em relações sociais reais, em ambientes reais. Mais do que isso: é preciso ter instituições concretas, formas de organização de pessoas físicas, na sociedade real. E mais ainda: é preciso ter um plano, um projeto para a sociedade, um programa bem concreto contemplando tudo que se quer mudar, com soluções melhores do que o conforto destruidor da civilização capitalista. Quem tem esse plano?

Socialismo ambientalista

Todas as manhãs, quando ligo meu computador, vejo uma imagem deslumbrante, quase sempre uma imagem da Natureza em algum ponto remoto do planeta, raramente é uma imagem urbana. Isso aparenta que uma grande empresa capitalista mundial se preocupa com a Natureza e que nós, usuários, gostamos da Natureza também. No entanto, o que fazemos todos, multinacionais capitalistas e indivíduos da espécie humana, é destruir a Natureza incessante e crescentemente, a ponto de estarmos impossibilitando a continuidade da nossa própria existência.

A questão ambiental é, de longe, a mais importante da civilização. A questão climática não é a questão ambiental, é apenas parte dela: porque destruímos os ambientes, mudamos o clima. A questão ambiental é como conciliar a civilização com a conservação da Natureza. O Homo sapiens só vai sobreviver se resolver essa questão. A espécie humana não vê a Natureza de forma, digamos, global, mas apenas pontual. Sabe que tem de fazer coisas urgentes para conter as mudanças climáticas e não faz; as consequências das mudanças climáticas se agravam em catástrofes e mesmo assim não agimos. Ao contrário, os governos de extrema direita neoliberais agem para agravá-las. Ao mesmo tempo, os indivíduos, formados pelas máquinas de propaganda ideológica capitalistas, querem consumir mais e melhor.

A destruição ambiental acelerada é o capitalismo. O capital é um câncer que não para de crescer enquanto não mata o corpo que habita. O corpo que o capital habita é a Terra, que ele destrói para criar riquezas para a espécie humana, que se considera dona da Natureza e que ela é matéria-prima. O capital só vai parar quando a espécie humana não puder mais destruir a Natureza, isto é, quando se exterminar também.

Simples assim. Há pelo menos quase dois séculos, desde que Karl Marx escreveu seu livro O Capital, temos consciência do que é o capitalismo. Foi no século XIX, o século em que o capitalismo industrial se estabeleceu, mudando radicalmente a Europa e o restante do planeta que ela colonizou a partir do século XV. Foi também o século em que se desenvolveram inúmeras ciências. Temos hoje a pretensão de viver numa civilização que se guia pelas ciências, seja na saúde, seja na comunicação, seja ao enviar naves ao espaço, mas ignoramos o conhecimento científico sobre como organizamos a nossa própria sociedade, sobre o capital.

A obra científica de Marx, digamos assim, propiciou o surgimento de um movimento social com o objetivo de tomar o poder político, acabar com o capitalismo e implantar o socialismo, uma sociedade sem os horrores do capitalismo, que todos viam e Marx descreveu magistralmente, que só se tornaram maiores desde então. Aquele movimento existe ainda hoje, mas já teve momentos melhores: no começo do século passado foi bem-sucedido em comandar uma revolução na maior nação do planeta e reorganizar sua economia, mas depois de 74 anos ela ruiu e voltou a ser dominada pelo capital. Outra grande nação asiática, a mais populosa, também fez uma revolução guiada pelo pensamento marxista e promoveu nas últimas décadas um desenvolvimento econômico sem igual, mas, tal qual o capitalismo, contribui enormemente para a destruição ambiental, o que me faz pensar que, caso os marxistas tivessem tido sucesso na Europa e outras nações desenvolvidas, esse caminho que seguimos rumo ao fim da civilização não seria diferente.

Das duas uma: ou a China não é comunista, é uma nação capitalista governada por um partido que controla a estrutura do Estado e impõe planejamento para produção econômica capitalista, ou o comunismo marxista-leninista não é suficiente para evitar a barbárie a que o capitalismo conduz a espécie humana, depois de destruir os ambientes naturais e exterminar as demais espécies da Terra.

O sentido do comunismo defendido pela obra científica do Marx é salvar a espécie humana e o planeta, é proporcionar ao Homo sapiens uma vida boa e longa na Terra, uma vida racional, uma vida sábia, o que pressupõe igualdade, liberdade, fraternidade, democracia. Não tem outro sentido a ideia da sociedade socialista. Se é para destruir a Terra e extinguir a espécie humana, tanto faz capitalismo ou socialismo, não é preciso mudar o sistema econômico. O socialismo só pode ser ambientalista. Isso é óbvio, carece de explicação, é a essência da teoria marxista, da ciência que explica o capitalismo.

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Um filme revolucionário

Será que os marxistas-leninistas de rede social perceberam que Bacurau é um filme revolucionário?

sábado, 6 de setembro de 2025

Revolucionários de redes sociais

Há um crescente movimento de marxistas de internet no Brasil, não sei se em outros lugares também. São várias correntes representadas por verdadeiras estrelas do marxismo de redes sociais. É um movimento muito interessante e informativo, quando comecei a ver só tinha elogios para ele, apesar de olhar criticamente, porque tenho minha opinião sobre o assunto, mas os “influenciadores” marxistas são jovens com formação acadêmica, muita leitura e muito conhecimento. 

Minha admiração vem também do fato de serem destemidos, se proclamam revolucionários numa sociedade em que a extrema direita cresce e persegue comunistas, há décadas ataca ferozmente a esquerda que sequer é comunista, na verdade é reformista, menos que isso, de centro, e na prática neoliberal, numa palavra, petista. É uma posição corajosa, portanto se declarar marxista e revolucionário numa sociedade em que é a extrema direita (que muitos chamam de fascista e outros discordam, pois consideram que o fascismo foi um fenômeno específico da Itália nos anos 1920) é agressiva e violenta. 

Os marxistas de redes sociais cumprem um papel interessante, inclusive porque discutem entre si, democraticamente, frequentam inúmeros podcasts e promovem o conhecimento. 

Enfim, só vejo benefícios nesse movimento, inclusive para mim, que testo minhas posições e ganho conhecimentos, mas não posso deixar de pensar que importância tem isso para a “revolução”, isto é, para a transformação social. 

Talvez, de fato, não passe de mais uma onda de entretenimento. Não basta conhecer Marx e Lênin, é preciso agir politicamente. 

O PT está cheio de marxistas e leninistas, que eram mais ativos socialmente há quarenta anos do que os marxistas de redes sociais são hoje, isto é, estavam ligados a movimentos sociais, embora fossem igualmente acadêmicos. O PSOL foi um racha de esquerda do PT, mas toda a esquerda que entra na política burguesa real se rende a ela; alguns resistem bravamente e nesses raros casos, que eu admiro, é possível ver como é difícil conciliar a coerência ideológica com a ação efetiva. 

Esses novos marxistas de redes sociais, por enquanto, até onde sei, não passam de militantes de internet. De qualquer forma é bom, eu sempre fui e continua sendo a favor do novo, da renovação, do questionamento, da contestação. 

A questão que eu coloco é que influência real esse marxismo tem. Ou por outra: embora se digam revolucionários, eles não têm atuação revolucionária, porque, na concepção marxista, a revolução será feita pelo trabalhadores e eles não têm atuação concreta entre trabalhadores. 

Esta é a velha fraqueza da esquerda e foi a força do PT, diante da qual sucumbiram todos os marxistas-leninistas da minha geração, a de 77, e da geração de 68. A novidade histórica, em 2025, é que Lula está completando 80 anos, sua influência está prestes a acabar. 

A questão é saber como esses novos marxistas vão se ligar às massas. Será que sua pretensão é serem líderes virtuais? Será que pretendem fazer a revolução com seus “seguidores”? 

O grande lance da Revolução Russa de 1917 foi Lênin e Trotski terem conseguido liderar as massas, a partir do partido bolchevique e dos sovietes operários. Eles conseguiram unir a teoria marxista com a ação política e lideraram as massas para tomar o poder político e começarem a construção de uma nova sociedade. O fato único da revolução russa foi ter sido planejada a partir de uma teoria política. Embora vitoriosos, eles fracassaram, ao contrário do que pensa Breno Altman, mas já é impressionante seu feito, antes que a ditadura stalinista se impusesse. 

A questão sobre os marxistas de redes sociais, portanto é simples e clara, para mim: eles são excelentes, modernos e democráticos divulgadores do marxismo e suas variantes, e isso ajuda a formar cidadãos bem informados e críticos, mas sua influência não é revolucionária, porque a revolução depende de atuação política nas classes sociais, nos seus movimentos e organizações. 

Eu duvido que uma revolução possa ser feita com “seguidores” e “laiques”. É claro que posso estar errado. Seja como for, é preciso esclarecer isso: marxistas de redes sociais pretendem ser líderes políticos revolucionários, a exemplo do Lênin, do Trotski e outros, ou apenas (o que não é pouco) divulgadores do marxismo e suas vertentes? 

Como seria essa revolução liderada por marxistas de redes sociais? Mobilizam-se os seguidores para manifestações, como das “primaveras”, e para o voto nas eleições burguesas? Mantêm-se os mecanismos burgueses de poder, o Congresso, os governos executivos, o Judiciário? Esses poderes continuarão como são? A mudança será só de ocupantes? Ou será reformados? Ou serão criados novos mecanismos de poder? Quais? O melhor disso, conforme disse, é colocar em pauta a discussão de uma revolução popular democrática.  

Música do dia (2): Serra da Boa Esperança, com Evandro do Bandolim e seu regional

Interpretação sublime da música magistral do Lamartine Babo, em versão instrumental. O diálogo entre o bandolim e a flauta é uma delícia de se ouvir. A letra também é linda, mas precisa de letra? É o que me pergunto enquanto escuto. O choro é a música brasileira superior.

Por que subir escadas faz bem ao cérebro

Música do dia: Ingênuo, com Márcia Mah

Dica do Guimba, "a música preferida do Pixinguinha". Parceria com Benedito Lacerda, letra do Paulo César Pinheiro.

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Lula, uma apologia

Morais faz questão de dizer – e é mesmo imprescindível esclarecer isso – que Lula não leu o livro antes de ser impresso. Não se trata de uma biografia encomendada. Todavia, é livro escrito por um amigo, um admirador, um companheiro, condição que fica evidente o tempo todo. Certamente Morais escreveu coisas que Lula preferiria não ver publicadas, mas não escreveu nada que comprometesse o ex-presidente. Ao contrário, escreveu um libelo em defesa da inocência e da honradez do ex-presidente, contra o ex-juiz Moro e os procuradores da chamada “operação lava jato”.

Me parece que o livro foi escrito para recuperar a imagem do Lula, mas isso era totalmente desnecessário. Talvez não seja um defeito de origem, já que a ideia inicial do livro era outra, que não vingou, como esclarece o autor. Até a ideia que vingou era diferente, pois, enquanto Morais entrevistava e acompanhava Lula para executar seu projeto literário, o juiz e os procuradores de Curitiba deram a partida no que seria o golpe de 2016, atingindo frontalmente o biografado, o que parece ter sido sempre objetivo da pseudo-operação anticorrupção.

Lula não precisa que sua imagem seja recuperada e não sei se o livro terá papel relevante nisso. A importância histórica de Lula ficará estabelecida com o passar do tempo. Já hoje, e antes da perseguição que sofreu, não pode haver dúvida do tamanho do primeiro brasileiro vindo do povo, um trabalhador, um dirigente sindical, um retirante nordestino que se tornou presidente da República, eleito e reeleito, eleitor duas vezes da sua sucessora – tirada do poder por um golpe – e que só não foi eleito para um novo mandato porque o ex-juiz e seus procuradores forjaram processos contra ele, o condenaram e o prenderam.

A figura histórica do Lula já estava estabelecida ao final do seu segundo mandato. O que veio depois – larva jato, golpe, prisão, impedimento político, soltura, anulação dos processos, recuperação dos direitos políticos – e o que ainda virá – prováveis candidatura e eleição mais vez, este ano – são adendos a uma trajetória que já fazia parte da história. Adendos merecedores de outra história, outro livro talvez.

Morais até faz isso, de certa forma, ao transformar o que seria um volume em dois. No entanto, minha humilde opinião é que ele não compreendeu bem a tarefa que tinha nas mãos, como biógrafo de uma personagem cuja trajetória ainda estava e está em curso. Sem querer ser pretensioso, afirmo que o autor de Chatô, o rei do Brasil não deu conta da empreitada, talvez por não ter distanciamento suficiente para compreender sua missão.

Associar as duas prisões de Lula, a do sindicalista, pela ditadura, em 1980, e a do dirigente político, pelo golpe da larva jato, em 2018, é o que de melhor o livro nos dá. Ele nos mostra a dimensão do homem que estava sendo preso pela segunda vez. Graças à proximidade entre autor e biografado, Morais reconstitui com detalhes a segunda prisão de Lula e alinhava os fatos dos últimos quatro anos, fatos que já conhecíamos da leitura dos jornais e revistas.

Morais gasta páginas e mais páginas para contextualizar o período em que seu biografado vive, narrando fatos que conhecemos e desnecessários à narrativa, uma vez que Lula não participa diretamente deles. Em vez da história de Lula, nos conta a história do Brasil. Ao mesmo tempo, nos nega detalhes da própria atuação do líder sindical e político.

O maior mérito do livro está em nos mostrar o que Lula foi um dia, antes de começar sua carreira política, e que o torna tão especial: um brasileiro como milhões de outros, um trabalhador de vida sofrida, repleta de adversidades e sonhos singelos tão difíceis de alcançar, porém nesse Brasil tão injusto, tão desigual e tão antidemocrático.

O que interessa nessa figura tão exponencial, porém, é entender como acontece a passagem do brasileiro comum para um brasileiro excepcional, o maior de todos na nossa época, um dos maiores do mundo, “o cara”. Nisso o livro falha e decepciona. Por que Lula conquista o Brasil e o mundo?

Pode ser que o segundo volume – que tratará, segundo o autor, da caminhada do líder petista rumo à presidência e dos seus governos – nos revele, afinal, quem é Lula e por que se tornou o que se tornou. No entanto o salto entre o brasileiro comum e o líder de massas, construtor de um partido de trabalhadores, já era extraordinário. Nele – ou seja, no período reservado ao primeiro tomo – Lula já tinha feito maravilhas. E isso não foi contado.

Ao fim da leitura de “Lula Biografia Volume 1”, eu continuo com as mesmas dúvidas que sempre tive: por que entre tantos “novos sindicalistas” dos anos 70 e 80 e tantos construtores do PT só um se tornou Lula? Por que e como Lula submeteu todos os outros líderes e trabalhadores daquele período sindical e social vigoroso, a ponto de o Partido dos Trabalhadores se transformar aos poucos no “partido do Lula”?

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Música do dia: Bahia com h. João Gilberto, Caetano Veloso e Gilberto Gil

Me incomoda vídeos no YT não incluírem crédito das músicas. Bahhia com h é uma canção exaltação de Denis Brean, pseudônimo do paulista Augusto Duarte Ribeiro (1917/1969), segundo a Wikipédia.

Nildo Ouriques analisa a política brasileira

Não o conhecia. Boa análise, com visão histórica ampla. Me fez pensar no óbvio: que todas as nações que se desenvolveram começaram com uma revolução. O Brasil ainda não fez a sua. Quer dizer, fez, em 1930, mas o povo não assumiu o controle e frações da burguesia terceirizaram o poder para os militares durante 21 anos e depois para a "esquerda" , que capitulou diante do neoliberalismo. O Brasil não tem mais um projeto nacional.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Capitalismo e eficiência tecnológica

É isso aí. Essa moça é boa para analisar. É impossível o capitalismo conter as mudanças climáticas e a destruição ambiental, simplesmente porque todo ganho tecnológico é revertido em mais produção, que consome mais energia e destrói mais. Porque o capital é isso, produzir cada vez mais, porque só assim há lucro, só assim é capital, capital é dinheiro com lucro, dinheiro sem lucro é só dinheiro. Simples assim. Dizendo de outra forma: conter as mudanças climáticas e a destruição ambiental da Terra só serão possíveis em outro tipo de civilização, não capitalista. As pessoas estão pensando e formando uma visão de superação do neoliberalismo que se tornou tão amplo e profundo que atingiu a própria esquerda.

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Capitalismo é crescimento permanente e destruição permanente

"Desacelerar" - Kohei Saito. El Manifiesto del Decrecimiento.

A obra-prima do Chico Buarque

A obra (quase) toda do Chico é primorosa, mas o seu melhor disco é Construção. Começa com essa Deus lhe pague, que é um soco do estômago, ainda hoje, e continua com pérola seguida de pérola. Naquela época, tudo era uma metáfora que nos levava a sublimar o ódio à ditadura militar, mas isso é um erro, de fato a razão dos nossos sofrimentos é o capital. Transcende a ditadura, mera forma transitória que a ideologia impôs para a dominação do capital.

domingo, 24 de agosto de 2025

Trotskismo ou stalinismo?

 

Nem um nem outro. Ainda sobre o debate muito informativo entre o trotskista Gustavo Machado e o stalinista Breno Altman, cujo vídeo compartilhei abaixo, quero dizer que não faz nenhum sentido ressuscitar Stalin em 2025, assim como os trotskistas precisam compreender que, passados 85 anos do assassinato de Trotski a mando do Stalin, o programa do grande revolucionário russo pertence à história. A revolução socialista no século XXI passa pela liderança do enfrentamento da destruição ambiental que ameaça as condições de vida na Terra e a sobrevivência da espécie humana. É o capitalismo que faz isso, como fazia em 1917. Os marxistas, sejam eles leninistas, trotskistas, stalinistas ou de qualquer outra corrente, precisam ser capazes de se unir e liderar movimentos revolucionários nacionais populares, começando pelos trabalhadores organizados, em qualquer categoria, juntando a eles os cada vez maiores exércitos de trabalhadores desorganizados, os "empreendedores" do próprio trabalho, em torno de um projeto ao mesmo tempo nacional e internacional que seja uma alternativa concreta ao avanço do neoliberalismo de extrema direita que representa a barbárie capitalista. Um socialismo que ofereça segurança social, emprego, salário, previdência, saúde e educação pública, moradia, transporte de qualidade, esportes, lazer e um programa urgente de contenção da destruição ambiental e do uso de combustíveis fósseis, de agrotóxicos e armas de destruição em massa. Tudo bancado pelo Estado controlado pelos trabalhadores, com o dinheiro que hoje vai para os bilionários, o "capital". E a união dessas forças nacionais para colaborarem entre si e enfrentarem a ameaça das mudanças climáticas e construírem o socialismo mundial. É disso que se trata. Ou o socialismo se torna um projeto dos trabalhadores em todo o mundo ou os bilionários capitalistas da extrema direita neoliberal vão levar a espécie humana à catástrofe ambiental, destruição nuclear e autoextinção. Em outras palavras, os trabalhadores do século XXI precisam se mostrar capazes de liderar a humanidade na luta contra sua autoextinção, apresentando um projeto próprio alternativo ao capitalismo neoliberal de extrema direita, e os marxistas precisam ser capazes de apontar esse caminho para os trabalhadores, organizá-los, liderá-los. Marxismo, hoje, é isso. 

sábado, 23 de agosto de 2025

Debate entre um stalinista e um trotskista

Interessante. As discussões sobre socialismo etc., que o lulopetismo eliminou nas últimas décadas, estão voltando. Breno Altman não me parecia um stalinista ardoroso como se revela aqui. É o segundo que vejo, o primeiro é do PCdoB, Elias Jabbour. Ressuscitar Stalin em 2025 é o fim da picada. Conhecer a história e debatê-la é fundamental, mas vamos partir do princípio de que os crimes do Stalin não têm justificativa, se não queremos repeti-los ou que se repitam. É impressionante, eu pensava, ingenuamente, que o stalinismo tinha acabado, pela evidência histórica do seu fracasso e dos seus crimes, que não foram erros, como quer Altman. O trotskista Gustavo Machado tem muitas informações, mas é fraco na retórica. Ele até toca nas questões, mas não é convincente, Altaman é muito mais, mas tergiversa o tempo todo e Machado não o aperta, por exemplo: a matança dos comunistas, a eliminação das lideranças dos trabalhadores e do partido bolchevique são toleráveis? Foram corretas? Altman diz: "Se Stalin foi um tirano..." Se? Não foi então? Machado não o obriga a afirmar isso. Na prática, Altman não tem muito o que ganhar num debate assim, exatamente porque o trotskismo é muito fraco e não convence. É perda de tempo, a não ser que seja para defender o stalinismo, mas ele afirma logo no começo que não existe stalinismo. O que seria então o stalinismo se não é stalinismo? A questão principal, para mim, é que o trotskismo joga no campo do stalinismo e nele não tem como ganhar, pode desgastar o adversário, mas não derrotá-lo. Obviamente, Stalin não chegou nem se manteve no poder sendo um idiota, como Trotski o pintou. Um assassino, um genocida, um antirrevolucionário, um antimarxista e antileninista, mas não um imbecil. Seja com o for, é um debate ideológico que não tem ganho para a esquerda, para os trabalhadores, para a espécie humana sobreviver, enfim. São os mesmos argumentos da década de 1970. No fim das contas, é um depoimento aterrorizador sobre a revolução bolchevique. Lá pelas tantas Altman compara Trotski a Ciro Gomes. Dá vontade de rir. Eu até pressentia que ia chegar nisso, porque os stalinistas defendem Lula com a mesma cara de pau. Considerando que nunca tinha visto um debate franco e civilizado entre um trotskista e um stalinista, foi importante e até provoca esperança, embora não haja convergência. A consideração final do Altman sobre Stalin é lamentável. Apesar do extenso conhecimento que ele tem, sua posição mantém vivo o pior do stalinismo. No fim, minha crítica ao trotskismo é a mesma do Altman: ele não foi capaz de conquistar a classe operária mundial, de formar uma IV Internacional dos trabalhadores forte e influente. A crítica ao stalinismo é maior: nada justifica os crimes do Stalin contra seus opositores internos (isto é, todas as lideranças bolcheviques) e contra as revoluções em outros países. A propósito, hoje é aniversário (76 anos) da assinatura do pacto de não agressão entre a URSS stalinista e a Alemanha hitlerista. 

 

Música do dia: No tabuleiro da baiana, João Gilberto

Ary Barroso foi genial. Essa gravação do JG, com Bethânia, Caetano e Gil é ótima. Aliás o disco Brasil, segunda parte do álbum Amoroso, é composto de pérolas. Disse alguém, uma daquelas versões primorosas do Haroldo Barbosa, é outra. A Aquarela, do AB também, idem. São cinco canções longuíssimas e mais uma curtinha. É um João diferente, que costumava gravar canções curtas, mas também gravou outras em que repetia sem parar, quase como um mantra, não sei se começou isso nesse disco. 

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Ciro Gomes e o "projeto nacional" do Elias Jabbour

É isso aí. Não conhecia Elias Jabbour, mas andei ouvindo-o em entrevistas e podcasts e fiquei desconfiado, apesar das suas posições conciliatórias e do seu grande conhecimento sobre a China. Meu faro para stalinistas é infalível. Agora ele faz esses ataques destemperados ao Ciro Gomes. Obviamente tem interesses. E fico sabendo que ele trabalha para o prefeito Eduardo Paes, do Rio. As críticas do Frederico Krepe são bem sensatas. E eu pensando que os "comunistas" estavam evoluindo. A vassalagem ao Lula é infinita. É por isso também que a esquerda brasileira não avança. Triste. 

 

domingo, 17 de agosto de 2025

A história de Frankenstein, de Mary Shelley

Muito bom. A forma como eu gosto de entender uma obra literária. Aplausos para essa interessantíssima Sofia Nestrovski. 

 

A história do livro Brasil nunca mais

Um podcast excelente com uma história sensacional e fundamental para a memória do Brasil.

Uma homenagem ao dia dos economistas

Veja as manchetes do começo do vídeo. Ingênuos pensam que são erros, outros acham que é só a desonestidade do capital. 

O problema da economia (uma pequena reflexão).

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Por que não há alternativas ao PT?

Esse vídeo complementa o debate do vídeo anterior.

Jones Manoel x Elias Jabbour: governo Lula é neoliberal?

Um debate urgente. A resposta é óbvia: sim. E não é de hoje, é desde 2003. O debate é urgente, mas já passou da hora também há vinte anos. Desde o primeiro governo Lula a esquerda deveria estar tentando formar uma alternativa ao PT e ao Lula, porque desde o primeiro governo ele mostrou que seu governo seria neoliberal. Aliás, há mais tempo, desde que divulgou a "Carta aos brasileiros", mais conhecida como "Carta aos banqueiros", na qual se comprometeu em continuar a política neoliberal de FHC. Mas desde a mesma época criticar o Lula é considerado ofensa, ser de direita, estar a serviço de não sei quem. Será que isso passou, agora que é mais do que evidente que o lulismo é neoliberal ou vai continuar? Não sou otimista, acho que só aparecerá uma alternativa à esquerda quando Lula morrer ou perder uma eleição. Dizer isso também pode ser considerado mau agouro, expressar um desejo, mas é o contrário, o que eu gostaria de ver desde 2010 é o Lula daquela octaetéride eternizado como o melhor presidente do Brasil, tendo dado passagem para novas lideranças, democraticamente, sabiamente. 

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Os desorganizados são a nova classe operária

"Os partidos de centro-esquerda e centro-direita estão em colapso. E por que não conseguiram resolver os problemas básicos das sociedades contemporâneas? A base histórica da social-democracia eram os trabalhadores da antiga vanguarda econômica, que era a indústria. Na teoria marxista, era essa a classe que falava pelos interesses universais da humanidade. Mas agora essa classe passou a ser vista como só mais um grupo falando pelos seus próprios interesses. A verdadeira minoria representativa dos interesses universais da humanidade é essa pequena burguesia subjetiva que eu descrevi. Essa maioria de pessoas pobres e desorganizadas. Então os partidos liberais (progressistas) não resolvem os problemas porque não entenderam que a única solução possível é organizar uma forma socialmente inclusiva desse novo paradigma produzir a economia de conhecimento, com as capacitações dessa periferia. A conversa no Brasil é uma variação desse drama universal. Então a grande maioria no Brasil elegeu o direitista (Bolsonaro) que nomeia para conduzir a economia o funcionário do mercado financeiro que não faz absolutamente nada para construir um capitalismo popular. Então a confusão persiste." 

Uma entrevista do Roberto Mangebeira Unger à BBC Brasil. Não é nova, tem mais de um ano, mas como o Brasil está parado, continua atual, como aquele livrinho que ele escreveu há trinta anos. Ele é um tipo esquisito e não faz questão de ser claro, mas quem se dá o trabalho de afastar o preconceito encontra ideias interessantes e até premonitórias, como o livrinho citado confirma. Na verdade, a afirmação do título é óbvia, mas ver o óbvio é o desafio da mente confundida pela ideologia. Para ler a íntegra, clique aqui

 


Trinta anos marcando passo

Há trinta anos, Ciro Gomes e Roberto Mangabeira Unger publicaram um livrinho, O próximo passo -- uma alternativa prática ao neoliberalismo. Muita água passou debaixo da ponte depois, água que parecia boa, água que parecia melhor ainda, água ruim, água pior ainda, água contaminada, água que, há trinta anos, nos ventos auspiciosos do Plano Real, não podíamos imaginar que viria, de forma que nossa vida tornou-se essa coisa horrorosa de nos acostumarmos a nos banhar em águas sujas sem ter esperança de que voltem a ficar limpas. Reler aquele livrinho (digo livrinho porque era mesmo um livrinho de bolso com menos de cem páginas), que eu li na época e tenho exemplar com autógrafos dos autores, proporciona uma viagem ao passado e, tendo vivido as ilusões e desgraças que vivemos nessas três décadas, pensar em como o Brasil poderia ter sido melhor, se aquelas ideias tivessem sido implantadas, em vez de sucumbirmos de forma lamentável ao neoliberalismo. Trinta anos foi o período em que a China tornou-se o que é hoje. O que teria acontecido com o Brasil se também tivesse começado um novo plano de desenvolvimento próprio? Lembremos, rapidamente, que o Brasil começou a existir como nação em 1930, com a revolução liderada por Getúlio Vargas; a partir de então, em diferentes ritmos, direções e governos, seguimos durante meio século um projeto nacional de desenvolvimento, até o colapso da ditadura militar. A democracia que a minha geração ajudou a restabelecer abandonou aquele projeto e adotou a cartilha neoliberal de submissão ao capital internacional liderado pelo imperialismo americano. Desde então nenhum outro plano foi apresentado aos brasileiros, exceto este, do Ciro Gomes e do Mangabeira Unger. A tragédia brasileira é tão grande que o prefácio me faz lembrar Nietzsche, que dizia falar do futuro como quem olha para o passado: o que está dito ali é absolutamente atual, é de certa forma a previsão do que aconteceu nessas três décadas. Quem quiser conferir o livrinho ou pelo menos ler o prefácio e fazer sua própria avaliação, clique aqui. Como contraponto, publico vídeo do podcast Calma urgente! em que Gregório Duvivier, de quem falei na postagem anterior, louva o presidente Lula, emocionado. As pessoas que formam o trio do programa estão entre as que mais admiro e me fazem pensar: a quem ponto chegamos. Para ser exato, não estamos marcando passo há trinta anos e sim andamos para trás, voltamos à condição de nação exportadora de matérias-primas; pior: a devastação ambiental para proporcionar ao mundo os produtos primários que ele compra é hoje infinitamente mais rápida, mais extensa, mais danosa, alcançou a Amazônia, contamina solo, águas e ar, muda o clima. 

domingo, 10 de agosto de 2025

Ciro Gomes x Gregório Duvivier, em 2022

Rever esse debate três anos depois é bizarro. Os dois estão errados, como eu achei no dia, mas há coisas que o tempo esclarece. A questão mais importante está no finalzinho, e Ciro estava certo. Ele pergunta ao Gregório se ele acha que a vitória do Lula vai pacificar o Brasil e Gregório responde que sim. Hoje, vemos que Gregório estava errado, isso não aconteceu. Será que Gregório faz autocrítica? Pelo que acompanho, não. Tampouco Ciro faz autocrítica dos seus inúmeros erros, inclusive essse de debater com um humorista, que, como diz, não tem procuração do Lula para falaar em nome dele, portante o debate não tem o menor sentido nos termos em que se dá e mostra, como diz acertadamente o Gregório, que Ciro estava perdido, embora afirmasse que ia ganhar a eleição, que ia conquistar a parcela dos 45% que não queriam nem Lula nem o bozo, que ia tirar o bozo do segundo turno e vencer Lula. Foi um delírio, ou um erro, mais um dos tantos que Ciro cometeu desde o final do século passado nas suas decisões políticas. Saiu da eleição muito menor do que entrou, ficou magoado (aliás já estava magoado com o lulopetismo, com razão, pois foi difamado e perseguido, e diz várias vezes que é o Gregório que está magoado: Freud explica), disse que nunca mais se candidatava, ficou ainda mais feroz contra o lulopetismo e suas chances hoje de ser presidente parecem nulas. E assim perdemos o melhor político da nossa época, da minha geração. Por que isso aconteceu? Acho que pelos seus sucessivos erros de escolha e avaliação, mas que eu resumiria em dois, um erro e um defeito, exatamente o oposto do Lula. O defeito é que Ciro é arrogante, o que o torna antipático. Ele diria que é sincero, honesto, autêntico, intransigente em relação a princípios, e talvez esteja correto, mas o fato é que não aglutina as pessoas em torno dele, como faz o Lula, e isso nos leva ao erro, que foi o maior acerto político do Lula: passou sua carreira trocando de partidos. Agora mesmo, a notícia mais recente é que vai sair do PDT e se filiar ao PSDB e ser candidato ao governo do Ceará. Ora, ele é fundador do PSDB, por que não ficou lá esse tempo todo? Poderia ter sido o candidato do partido à sucessão do FHC, mas preferiu sair e disputar a presidência em 1998 por outro partido. Depois trocou novamente e foi para o PDT; e é verdade que ficou lá muito tempo, mas o partido tinha outro dono. Lula tem esse mérito, fundou um partido e se tornou dono dele. Sou crítico disso, acho que o erro do Lula foi não ter se afastado da sucessão em 2010 para deixar que o partido se renovasse, mas quis manter o controle do partido, talvez voltar mais adiante, como acabou acontecendo, e impôs um poste para sucedê-lo. Deu no que deu. Lula é gigante e surpreendeu com a superação da sua queda, superou a prisão e voltou. Graças a quê? Ao partido que construiu. Mas voltou menor, magoado também, fraco, seu governo atual não passa de sombra comparado ao que foram os seus primeiros mandatos, o que confirma minha opinião de que, se ele tivesse sabedoria, teria se afastado em 2010 e deixado o PT e o Brasil se renovarem. Seria melhor para todos nós e para ele também. A obsessão do Lula pelo poder é tão grande e a dependência que os petistas têm dele é do mesmo tamanho que nossa época política virou a Era Lula e só vai acabar quando ele morrer. O Brasil também se tornou dependente dele. É isso que Gregório manifesta no "debate", essa submissão de políticos, intelectuais e artistas à liderança do Lula, como se sem ele não tivesse salvação, preferimos continuar dependentes dele no curso prazo e adiar a tragédia que virá mais dia menos dia, que já veio com Dilma, golpe, Temer, bozo, pandemia, tentativa de golpe e tudo que sofremos nesses últimos quinze anos. Dependência cega que não vê que relação entre nossa tragédia e essa submissão patológica ao Lula. Ao contrário do que pensam lulólatras, Lula não é imortal nem onisciente e o Brasil vai ficar órfão quando ele morrer, a esquerda vai ter de renascer, porque Lula não deixou nenhuma liderança se projetar, exceto seu antagonista, o bozo. Lula é um brilhante político, o maior da história do Brasil, fez coisas que nem Getúlio fez, isto é, ressuscitar, mas é também um estadista medíocre, nunca teve um projeto para o Brasil e governou para o capital, distribuindo migalhas para os pobres. Seguiu o modelo neoliberal do FHC e os lulólatras fingem não ver isso. Essa é a tragédia brasileira. Eleger um presidente que tenha um projeto nacional e apoio político é o que precisamos desde o Plano Real, é só o começo do que precisamos fazer, porque reverter a devastação do ambiente e a destruição do país é uma tarefa hercúlea, para décadas. No entanto, nem isso está no horizonte. O que Ciro pretende? Tornar-se governador do Ceará e se apresentar como alternativa para o pós-lulismo daqui a quatro anos? Tomara, mas o fato é que fará isso com atraso de trinta anos, em condições muito piores, com problemas muito maiores, especialmente a devastação ambiental, o desmonte da sociedade, o poder do crime organizado. Triste e terrível. A tragédia brasileira. Minha esperança não está mais no Ciro, está em novos atores. Não os vejo, mas a história é surpreendente. Quem esperava 2013? Aquelas mobilizações foram fantásticas, mas a esquerda não as compreendeu e foi a direita que herdou sua energia, parte também da tragédia brasileira. Talvez um novo 2013 seja diferente, talvez leve o Brasil para uma situação melhor.  

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Os segredos da comunicação entre o cérebro e o coração

Os 7 sentidos

Interocepção e propricepção. Você já ouviu falar desses sentidos? Sabe o que são? São os dois sentidos mais importantes. Depois vêm os outros cinco que apredemos e identificamos facilamente: tato, visão, audição, olfato, paladar.

 

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Música do dia (2): These foolish things (remind me of you), Emmy Rossum

Música do dia: The trolley song, João Gilberto

Música de Irving Berlin, versão do Haroldo Barbosa. Haroldo Barbosa foi um craque das versões, letras precisas e preciosas, na medida certinha. Aplausos.Outro exemplo perfeito é Trevo de 4 folhas, versão de I'm looking over a four leaf clover, de Harry M. Woods e Mort Dixon.

O melhor pot-pourri da MPB

domingo, 3 de agosto de 2025

EUA é Hollywood

Em resumo: os EUA são Hollywood, uma indústria de ilusões. O povo americano domina o mundo há um século fingindo ser o máximo, que todos querem copiar, mas na verdade vivem no luxo graças ao trabalho alheio. Consomem muito mais do que produzem, compram do mundo inteiro e emitem dinheiro sem parar, acumulando uma dívida de 39 trilhões de dólares que nunca pagam, que é financiada pelo mundo inteiro que compra títulos do tesouro americano e mantém o dólar como moeda de troca internacional. Acontece que, com a emergência da China como maior potência mundial, isso está acabando e os EUA entraram no modo desespero que elevou Trump a presidente, o autocrata que está taxando todos os países. O que significa isso? Significa que ele está obrigando as outras nações a continuar financiando a dívida americana. Se ele é mais eficaz do que os democratas para fazer isso, com seu método de parecer um maluco na loja de cristais, vai permanecer no poder. O excelente José Kobori explica isso, não exatamente o que escrevi, mas as informações para essas conclusões, na primeira resposta a perguntas de leitores.  

Dívida USA, multiplicador keynesiano, austeridade fiscal, planejamento urbano.

sábado, 26 de julho de 2025

Governo de Israel está matando de fome crianças palestinas

Que espécie é essa que inventa tecnologias maravilhosas, gasta somas astronômicas e faz esforços hercúleos para salvar algumas vidas e deixa morrer de fome uma criança? 

A BBC News publicou as fotos e uma matéria, mas é pouco, é quase nada, é hipócrita se referir a isso como uma simples "crise humanitária" ou "guerra". É um genocídio perpetrado por um governo de extrema direita assassino e por seu povo cúmplice, com o apoio efetivo ou omisso dos governos e autoridades do mundo inteiro, salvo honrosas exceções. O Daily Express fez a coisa certa nessa edição: a foto deveria ser capa de todos os jornais e revistas do mundo inteiro, não em uma edição, mas todos os dias, e ser mostrada diariamente nas televisões e internet e mencionadas nas rádios.  

Crédito das fotos: Ahmed Jihad Ibrahim Al-arini/Anadolu via Getty Images. 

Muhammad Zakariya Ayyoub al-Matouq, de 1 ano, pesa 6 kg devido; população de Gaza vive em meio à destruição e fome 

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Quer saber o que precisa mudar no Brasil?

Uma aula sobre o modelo econômico brasileiro que já dura 30 anos, criado pelo FHC e mantido pelos governos do PT, e, é claro, pelo golpe de 2016. Com propostas claras de solução, coisa que até ontem só o Ciro Gomes apresentava. Excelente. Por José Kobori e Jones Manoel, no podcast 3 irmãos.

sábado, 19 de julho de 2025

Bons lugares em BH

Belo Horizonte é uma cidade medíocre, pelo que poderia ter sido: cidade planejada, nascida do nada, toda inventada pelos homens. Eu que nasci e passei toda a minha vida aqui tenho direito de dizer isso. Cidade capitalista na sua essência: prevaleceram sempre no seu crescimento os interesses do capital, que tudo destrói em busca do lucro, sem pensar no futuro, a não ser no futuro com mais riqueza individual, não coletiva. Bastava que o planejamento inicial fosse mantido pelos governos seguintes, ao longo deste século e quase meio, com revisões periódicas, decisões pensando nos interesses da população e das gerações futuras, e poderia ter se tornado uma metrópole fantástica, mas não foi nada disso que aconteceu. O que BH tinha de bom na origem foi destruído, o que foi feito depois também. O que restou são ruínas de um futuro do passado: a Pampulha, o Mercado Central, o Parque Municipal, a Praça da Liberdade, este adorável Parque das Mangabeiras, no sopé da Serra do Curral, não muito mais. Tudo funcionando em condições precárias, sempre ameaçado pelo avanço dos interesses do dinheiro privado e abandonado pela falta de dinheiro público. Medíocre e triste. 

Crédito da foto: Suziane Brugnara / PBH.

 

Noel Rosa, Meu luto é a saudade, documentário de Bel Castro

Muito bom.

Música do dia: Clube da Esquina, Milton Nascimento

Muita gente não sabe, mas essa é a música original. Não é nº 2, não é nº 1, é simplesmente Clube da Esquina. Deu nome ao grupo e movimento. Com uma letra bem belo-horizontina do Márcio Borges. A gravação ainda não tem a sonoridade esplêndida que Milton e sua turma criarão no álbum Clube da Esquina, de 1972, mas já anuncia o que virá. Aplausos.

quarta-feira, 16 de julho de 2025

A cidade data center que vai destruir ainda mais o ambiente no RS

Mais uma cena do fim do mundo. Nos últimos meses, várias notícias vêm mostrando as características estarrecedoras da nossa época; esta é mais uma delas. Essas características são: o capital está acabando aceleradamente com as condições de vida na Terra, com as mudanças climáticas e a destruição ambiental, e todos sabemos disso, então esperamos que as autoridades tomem medidas para reverter a situação e que as empresas destruidoras tomem consciência e mudem sua atuação, mas em vez disso, elas aumentam ainda mais a destruição com apoio das autoridades corrompidas, que só se interessam, empresários e políticos, em se locupletarem e gozarem da sua riqueza astronômica antes que o mundo acabe. É o Titanic global. 

Música do dia: Volver a los 17, Violeta Parra

Esses versos da chilena estão entre os mais belos que eu já ouvi. Cada estrofe é bela e precisa, como são os poemas de Vinicius de Morais, e o conjunto transmite uma ideia verdadeira, como deve ser tudo que se escreve. O refrão é poderoso e outras estrofes me tocaram separadamente cada vez que ouvi, mas levou muito tempo para admirar o conjunto inteiro.  

 

terça-feira, 15 de julho de 2025

Como os EUA articularam e financiaram o neoliberalismo no Brasil

Esta reportagem do Bob Fernandes e o vídeo anterior, uma entrevista da cineasta mineira Petra Costa, mostram como os EUA exportaram de forma planejada o neoliberalismo e a religião evangélica para dominar o Brasil após a ditadura militar. O governo do Bozo e o controle do Congresso são expressões disso. Vale a pena ver a reportagem, baseada em documentos inéditos descobertos numa biblioteca americana por pesquisadores brasileiros.

Apocalipse nos Trópicos

Petra Costa fala ao Brasil de Fato sobre novo documentário. Este e o vídeo seguinte, uma reportagem do Bob Fernanedes, mostram como os EUA exportaram de forma planejada a religião evangélica e o neoliberalismo para dominar o Brasil após a ditadura militar. O governo do Bozo e o controle do Congresso são expressões disso. Vale a pena ver o documentário da Petra, que está no Belas Artes e no Netflix. 

terça-feira, 8 de julho de 2025

Planeta em crise: a verdade sobre o caos climático

Aqui uma exposição científica sobre o que está acontecendo e vai acontecer nos próximos anos e décadas até a autoextinção da espécie humana. 

Crise climática: até quando vamos aguentar?

As reportagens sobre as mudanças climágiticas estão cada vez mais realistas. Isso quer dizer que a imprensa não consegue mais ignorar que caminhamos para o fim da civilização. Os responsáveis por isso são os bilionários que fecham Veneza para fazer sua festa de casamaento e outras excentricidades. São tão poucos que podem ser listados, mas possuem riqueza equivalente a 99,99% da população. Os bilionários movimentam o capital, que só existe crescendo e só vai parar quando destruir a Natureza. As mudanças climáticas são uma reação da Terra e vão extinguir a espécie que já extinguiu milhares de espécies, continua extinguindo e só vai parar quando for extinta também. A alternativa a isso é os indivíduos comuns tomarem consciência e mudarem esse modelo de civilização.

domingo, 6 de julho de 2025

Música do dia: Triste, com Sant Andreu Jazz Band

As interpretações que os grupos formados por Joan Chamorro fazem das canções do Tom Jobim são obras-primas.

sábado, 5 de julho de 2025

Música do dia: Meditação, com Andrea Motis & Joan Chamorro Quinteto

Quando a gente pensa que já ouviu tudo de lindo, vem o trompete da Andrea Motis. E depois mais e mais. Gravação maravilhosa. Até o sotaque dela é charmoso. A letra do Newton Mendonça é uma daquelas obras-primas da Bossa Nova que casam perfeitamente com a música. 

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Bastidores de (Um) Ensaio sobre a cegueira, Grupo Galpão

O Galpão brilha mais uma vez.

Quanto o Brasil arrecadaria com um novo imposto sobre os super-ricos

O Congresso que representa os ricos defende a desigualdade absurda do pagamento de impostos no Brasil.

 

Política internacional, participação do Brasil e atuação antinacional do Itamarati

Pepe Escobar, Elias Jabbour, Paulo Nogueira e Glenn Greenwald debatem o futuro do Brics. 

 

O impacto das bets na população brasileira

Excelente exposição do economista Eduardo Moreira em audiência pública sobre o crime legalizado da jogatina virtual promovida no Brasil por empresas estrangeiras que corrompem personalidades, clubes de futebol, veículos de comunicação e políticos. 

quarta-feira, 2 de julho de 2025

O necessário, o contingente e o possível

"O possível não é isso, não é o que dá pra fazer", diz Marilena Chauí. "O possível é aquilo que podemos fazer, o que temos o poder de fazer." Palmas. A esquerda está se mexendo. Eu diria que Lula está se mexendo porque percebeu que está perdendo até a esquerda, que foi quem lhe deu status para ser líder popular. Porque a esquerda brasileira pode não ser competente para tomar o poder, mas é muito competente para destruir reputações, Ciro Gomes que o diga. Não é só a esquerda que nunca deixou de ser esquerda, feito Vladimir Safatle, é também a esquerda que nunca deixou de apoiar Lula, feito Marilena Chauí, E se perder seu apoio, Lula vai perder o que a esta altura é o que provavelmente mais preza: sua reputação na história do Brasil. 

"Imposto no Brasil volta sim para a população: para a população rica"

Mas a população rica não paga imposto. A população pobre paga muito imposto sobre consumo. O que o ex-banqueiro Eduardo Moreira fala nesse vídeo é o que o governo Lula deveria estar falando. E o Ciro Gomes fala desde o final do século passado. Procura vídeos antigos e confere. 

Ex-banqueiro fala sobre o escândalo dos juros e defende estatização dos bancos

Desde o governo FHC os bancos mandam no Brasil, por isso os juros são absurdos. São apenas três bancos privados: Itaú, Bradesco e Santander. E os dois bancos públicos, BB e Caixa, os acompanham, quando deveria ser o contrário, ou pelo menos diferente, os bancos públicos influenciando os privados. A chamada "responsabilidade fiscal" significa que todos os gastos do governo podem ser cortados, exceto os juros absurdos. Desde a eleição de 1998 eu escuto o Ciro Gomes falar que isso tem que mudar para o Brasil melhorar, mas os lulopetistas o acusavam, no mínimo, de maluco. Agora, até um ex-banqueiro está concordando. 

  

Jonas Manoel e Eduardo Moreira falam sobre a relação do governo com os bancos

Algumas coisa está acontecendo na esquerda brasileira, cada vez tem mais gente falando o que Ciro Gomes fala há décadas. 

Mano Brown entrevista Lula

A tarefa da esquerda brasileira é muito difícil: tem que convencer, organizar, mobilizar, lutar, mas por enquanto não sabe nem em torno de que ideias e propostas. A tarefa da extrema direita é muito mais fácil, ela tem todo o sistema a seu favor: a imprensa tradicional, as redes sociais, as polícias, a justiça, as empresas, o poder econômico e político, enfim. A esquerda brasileira se agarrou no Lula há quase cinquenta anos, esperando que esse líder extraordinário a liderasse para o socialismo, mas Lula não é nem nunca foi socialista, é só um político habilidosíssimo sem ideias nem programa nem estratégia. Basta ouvir essa conversinha fiada que ele continua desfiando para confirmar isso. Ele ainda convence muita gente, não tanta mais, desconfio que não a maioria, o que significa que não será reeleito no ano que vem e, sem outro candidato forte, a esquerda perderá a eleição e a extrema direita voltará com seu programa de destruição do país que os trabalhadores agora acreditam atender seus interesses, pois acham que são empresários de si mesmos, embora trabalhem como escravos sem ter direitos trabalhistas que o Temer e o Bozo tiraram e o governo do Lula não devolveu. O povo não é de esquerda nem de direita, vota em que faz sua cabeça, mas a esquerda não tem um programa para o Brasil, seu programa foi sempre eleger Lula e confiar nele, mas quando ele chega no governo não faz o que prometeu, faz o que os banqueiros, agrotoxiconegociantes e mineradoras querem e não faz o que o povo quer. A direita, ao contrário, chega ao poder e faz o que prometeu: destruir os direitos dos trabalhadores e o meio ambiente e dar tudo aos banqueiros, agrotoxiconegociantes e mineradoras. 

 

terça-feira, 1 de julho de 2025

Viagem de Inverno (Winterreise), de Franz Schubert

Calma urgente! Bezos e a luta da falta de classe

Os acontecimentos internacionais mais importantes da semana foram outros, aos milhares, a começar pelo genocídio interminável em Gaza e ao ataque ao Irã por Israel e EUA, mas sem dúvida esse é o que mostra melhor as contradições da nossa época, o fim do mundo. Alessandra Orofino, Bruno Torturra e Gregório Duvivier têm informações e inteligência para enriquecer o entendimento do significado do casamento que faz lembrar as vésperas das revoluções francesa e russa, por isso tocam em inúmeros pontos relevantes da nossa época, inclusive sobre o Brasil e o discurso velho do Lula, embora, como toda a esquerda, não apontem a relação da coerência histórica do Lula com o caos brasileiro. 

segunda-feira, 30 de junho de 2025

Israel's Secret Weapons, documentário da BBC

Israel começou a produzir sua bomba atômica ao mesmo tempo em que começou a exterminar os palestinos, logo depois da sua criação, em 1948, com ajuda da França e cumplicidade dos EUA. Em 1985 sequestrou no exterior e condenou a 18 anos de prisão o cientista do programa nuclear israelense que fotografou e denunciou o programa. Até hoje ele é proibido de sair de Israel. Esse documentário da BBC é de uma época em que Israel não controlava a imprensa mundial como controla hoje. 

"A Arma Secreta de Israel foi transmitida pela BBC Two na segunda-feira, 17 de março de 2003, às 23h20 GMT. As capacidades nucleares, biológicas e químicas de Israel permanecem sem inspeção. Enquanto isso, Mordechai Vanunu está preso há 16 anos por expor ao mundo a fábrica secreta de bombas nucleares de Israel. Vanunu é visto como um traidor em seu próprio país. Ele foi abandonado pela maior parte de sua família e passou 11 anos em confinamento solitário. Hoje, apenas um casal americano, que o adotou legalmente, está entre os poucos visitantes a quem ele tem permissão. Este filme conta a história da bomba, de Vanunu e do muro de silêncio de Israel.

 

José Paulo Netto, Leda Paulani, Virgínia Fontes discutem o essencial de Marx

Debate no aniversário de 30 anos da Editora Boitempo. 

Não vou comentar o que os intelectuais marxistas do debate dizem do pensamento do Marx e Engels, nada tenho a acrescentar e acho que já seu tornou senso comum quase duzentos anos depois. Vou comentar o que eles não dizem. 

A esquerda brasileira está atrasada cinquenta anos porque se atrelou ao PT, que por sua vez se atrelou ao Lula. Simples assim. 

O PT foi o primeiro e único partido brasileiros construído de baixo para cima, a partir do povo, de comunidades de base organizadas, sindicatos de trabalhadores e movimentos sociais diversos. Foi uma coisa extraordinária e tinha um potencial transformador imenso, caso a esquerda – os marxistas, leninistas e trotskistas à frente, com teorias e experiências revolucionárias – não tivesse se curvado à liderança de um político populista. Lula é uma personagem histórica única, um político habilíssimo, um líder carismático, um indivíduo com uma trajetória admirável, mas não foi, em meio século, o que se pode chamar de um líder dos trabalhadores, embora seja esse o nome do partido que construiu. Lula foi um líder da burguesia. 

Lula tem uma oratória impressionante, é um encantador de serpentes, como disse alguém, mas a gente deve avaliar as pessoas pelo que fazem, não pelo que dizem. O que Lula fez nesse meio século foi controlar as massas, desorganizar os trabalhadores e administrar o capitalismo para a burguesia. Foi, portanto um excelente político da burguesia, não dos trabalhadores. 

Fico pensando quanto tempo vai levar ainda até que os intelectuais marxistas digam isso. A impressão que eu tenho é que eles viveram em outro planeta no último meio século. Saúdam a luta contra a escala 6x1 (que não partiu do PT, assim como as jornadas de 2013, as últimas manifestações de massa de esquerda do país, foram hostilizadas pelo governo lulista) e não mencionam que Lula está no seu terceiro mandato presidencial, o quinto do PT, e nesse período a redução da jornada de trabalho dos brasileiros não foi sequer cogitada. Ao contrário, Temer, o vice da Dilma, ambos escolhidos por Lula, acabou com direitos trabalhistas que vinham dos governos de Getúlio e Jango. 

O que os trabalhadores deveriam ter feito durante os governos lulistas era justamente isso que fazem agora, se organizarem e lutarem de forma independente, aproveitando o ambiente de um governo pretensamente de esquerda, para conquistar direitos e avançar para uma revolução socialista. Ao invés disso, o que o PT fez, sob a liderança do Lula, foi controlar as massas para não reivindicarem nada, enquanto o governo lulopetista dava tudo aos banqueiros, ao agrotoxiconegócio, à indústria e aos demais setores capitalistas. 

Os trabalhadores brasileiros estão mais desorganizados, menos mobilizados e menos educados politicamente do que estavam há cinquenta anos, apesar de quatro décadas de democracia e quase vinte anos de governos lulopetistas. Pior: foram conquistados pela extrema direita. Santa contradição marxista! Como isso é possível? As peças não encaixam, mas se a gente considera que, em vez de governar para os trabalhadores, o lulopetismo governou para os capitalistas, fazendo o papel de desorganizar os trabalhadores e desmobilizar as massas, aí sim o quebra-cabeça está montado.  

Governo lança campanha por taxação de super-ricos

Walter Moreira Salles Júnior, o cineasta banqueiro bilionário progressista, poderia se manifestar a favor da taxação dos super-ricos. Seria mais útil para o país do que o seu admirável Oscar. Seria bom também se o Infomoney cumprisse a lei ortográfica e escrevesse a palavra super-rico corretamente, e que o Poder360 corrigisse uma informação incorreta: não é o PT que opõe pobres a ricos, é o capitalismo.  

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Manifesto pela revolução ecossocialista: romper com o crescimento capitalista

Com mais de um século de atraso, os marxistas-leninistas-trotskistas compreendem que "progresso" e capitalismo são sinônimos, que uma mudança revolucionária na vida humana passa pelo decrescimento econômico e pela convivência harmônica entre a espécie humana e a Natureza. Salvar a humanidade da autodestruição e recuperar a biodiversidade e os ambientes naturais da Terra passam pelo fim do capitalismo. Capitalismo significa crescimento econômico permanente, destruição permanente, catástrofes cada vez mais frequentes e graves, e guerras com uso de armas e tecnologias com capacidade de destruição como nunca houve antes, como se vê hoje em Gaza e no Irã. O manifesto, cujos primeiros parágrafos reproduzo abaixo, foi aprovado no 18º Congresso Mundial da IV Internacional em fevereiro passado e publicado na Revista Movimento. 

Manifesto por uma revolução ecossocialista – Romper com o crescimento capitalista

Manifesto ecossocialista da IV Internacional aprovado no 18º Congresso Mundial realizado em fevereiro de 2025 

Introdução

Este manifesto é um documento da IV Internacional, aprovado em seu 18º Congresso Mundial, em fevereiro de 2025. A IV foi fundada em 1938 por Leon Trotsky e seus companheiros com o objetivo de salvar o legado da Revolução russa de outubro (1917) do desastre stalinista. Rejeitando o dogmatismo estéril, a IV Internacional integrou os desafios dos movimentos sociais e a crise ecológica em seu pensamento e em sua prática. Suas forças são limitadas, mas estão presentes em todos os continentes e contribuíram ativamente para a resistência ao nazismo, para o maio de 68 na França, para a solidariedade com as lutas anticoloniais (como as da Argélia, Vietnã e Cuba), para o crescimento do movimento antiglobalização e o para o desenvolvimento do ecossocialismo.

A IV Internacional não se vê como a única vanguarda. Suas organizações e militantes participam, na medida de suas forças, de formações anticapitalistas amplas. Seu objetivo é contribuir para a formação de uma nova Internacional, de caráter de massa, da qual ela seria um dos componentes.

Nossa época é de uma dupla crise histórica: a crise da alternativa socialista em face da crise multifacetada da “civilização” capitalista. A IV Internacional está publicando este manifesto agora, porque estamos convencidos de que o processo de revolução ecossocialista, em diferentes níveis territoriais, mas com uma dimensão planetária, é mais necessário do que nunca. Trata–se não apenas de pôr fim às regressões sociais e democráticas que acompanham a expansão capitalista global, mas também de salvar a humanidade de uma catástrofe ecológica sem precedentes. Esses dois objetivos estão intrinsecamente ligados.

No entanto, o projeto socialista que baseia nossas propostas exige uma ampla recomposição de forças. Uma refundação a ser alimentada por uma avaliação pluralista das experiências e pelas contribuições dos principais movimentos que lutam contra todas as formas de dominação e opressão (classe, gênero, comunidades nacionais oprimidas etc.). O socialismo pelo qual lutamos é radicalmente diferente dos modelos que dominaram o século passado e de qualquer regime estatista ou ditatorial: é um projeto revolucionário, radicalmente democrático, para o qual contribuem as lutas feministas, ecológicas, antirracistas, anticolonialistas, antimilitaristas e LGBTQI+.

Temos usado o termo ecossocialismo há algumas décadas porque estamos convencidos de que as ameaças e os desafios globais impostos pela crise ecológica devem permear todas as lutas dentro/contra a ordem globalizada existente. O relacionamento com nosso planeta, a superação da “ruptura metabólica”1 (Marx) entre as sociedades humanas e seu ambiente de vida, e o respeito pelo equilíbrio ecológico do planeta não são apenas capítulos de nosso programa e estratégia, mas seu fio condutor.

A necessidade de atualizar as análises do marxismo revolucionário sempre inspirou a ação e o pensamento da IV Internacional. Ao escrever este Manifesto Ecossocialista, continuamos naquela abordagem: queremos ajudar a formular uma perspectiva revolucionária capaz de enfrentar os desafios do século XXI. Uma perspectiva que se inspire nas lutas sociais e ecológicas e nas reflexões críticas genuinamente anticapitalistas que estão se desenvolvendo em todo o mundo. 

Clique aqui para ler a íntegra. 

'Estou questionando o progresso em qualquer termo', afirma Aílton Krenak

Me representa. Basicamente, é isso. O que o Hs precisa fazer para impedir sua autodestruição é superar a ideia de progresso. 

 

STF discute a manipulação de informações pelas 'big techs'

Voto pertinente da ministra Cármen Lúcia, assim como a intervenção do ministro Alexandre de Moraes, que se tornou uma referência no assunto. "A neutralidade das redes não existe", afirma Moraes. 

A complexidade do assunto, a tal liberdade de expressão nas redes sociais, na verdade é muito simples. Quando a internet apareceu, ela quebrou o monopólio das grandes empresas de comunicação que intermediavam e continuam intermediando a produção e difusão de informações. Na internet, todos os cidadãos, todos os trabalhadores, todas as pessoas simples, todos os "do povo" podiam se expressar livremente e era excelente que fosse assim, a internet foi a democratização radical da informação. Acontece que logo algumas empresas se apoderaram da internet e, usando tecnologias avançadas, controlaram as informações produzidas por todos gratuitamente. Elas fazem isso para ganhar dinheiro e poder, com o comércio de publicidade (em tempo recorde, se tornaram as empresas mais ricas do planeta) e de controle do poder (elas interferem em eleições e tentam decidir os votos dos eleitores nas democracias; nos EUA chegaram ao poder apoiando o atual presidente). A internet tornou-se assim um negócio capitalista como todos os outros e o mais poderoso de todos. Para exercer seus poder ilimitado, as "big techs" não aceitam se submeter a leis e governos nacionais, pretendem de fato ser o novo poder internacional, acima de todos os outros, apoiando a eleição, os governos e as guerras dos políticos aos quais se aliam. Simples assim.  

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Palestino faz três gols e protesta em jogo da Copa de Clubes da Fifa

Consta que o gesto do palestino Wessam Abou Ali comemorando o segundo dos três gols que marcou no jogo do seu time, o egípcio Al Ahly, contra o português Porto foi um protesto pelo genocídio do seu povo em Gaza. O UOL Esporte publicou um perfil do jogador, que pode ser lido clicando aqui, no qual ficamos sabendo que a Palestina, essa nação que Israel está exterminando, também foi boicotada no futebol: ia se classificar para a Copa do Mundo do ano que vem, mas um pênalti "polêmico" marcado no último minuto eliminou sua seleção. Na situação em que se encontra, seria um feito fantástico com repercussão política mundial. Abou Ali é um jogador importante e tem uma história de superação impressionante. 

segunda-feira, 23 de junho de 2025

A pergunta do jornalista ao embaixador de Israel que a Globo censurou

Paredes de Vidro, vídeo narrado por Paul McCartney

O YT impede a cópia para reprodução, sob alegação de violência, e realmente é violência contra animais, das quais somos cúmplices, mas não faz sentido, já que pode ser visto na plataforma; na prática, funciona como uma forma de censura.

Ecossocialismo ou extinção

Enfim, uma discussão política pertinente. Debate com João Pedro Stédile, Luciana Genro, Thiago Torres e José Eduardo Bernardes. A gente devia estar discutindo só isso. O jovem Torres expõe praticamente um programa político para a esquerda, essa posição que deixou de existir no Brasil quando Lula se apropriou do PT e o dirigiu para ser o partido do capital, em vez de ser o partido dos trabalhadores. O mediador puxa para a discussão acadêmica, como o jornalismo em geral, mas os debatedores o encaminham para a realidade atual. Luciana expõe um começo de organização política de base: mobilizar os atingidos pelas catástrofes climáticas para ações de prevenção, que atingem em cheio o capital. E informa que a IV Internacional, que pensava ter sido extinta antes do Hs, assumiu um programa ecossocialista. Aplausos. Torres diz uma coisa básica: "Não é a população que tem que vir para as lutas da esquerda, é a esquerda que tem que ir para as lutas que a população está travando". Aplausos mais uma vez. Em resumo: o PT, que foi criado pela minha geração para ser o partido de esquerda brasileiro, tornou-se o partido da ordem, ou seja, do centro e da direita. 

 

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Como a leitura molda o cérebro humano

Estamos desaprendendo a ler? É possível; ler é, da mesma forma que tudo que existe no mundo, uma coisa criada pelo Homo sapiens e desenvolvida em milhares de anos de evolução, que está se tornando obsoleta pelas novas tecnologias. Estamos de fato nos transformando em novos bichos, que vivem e funcionam de forma diferente da forma como viveram nossos ancestrais. O celular tornou-se a coisa mais importante da nossa vida e nossa relação com ele é total, ele já mudou nossa visão, nossa capacidade de enxergar, basta observar a quantidade de gente hoje que usa óculos. A I.A., que chamam de "inteligência artificial", denominação equivocada, porque de fato é "ideologia artificial", muda nossa relação com o conhecimento e a leitura. Talvez não seja exagero dizer que, se a espécie humana sobreviver ao capitalismo terminal, daqui a algumas décadas os indivíduos se distinguirão entre aqueles que leem e aqueles que não leem, formando os primeiros uma pequena elite. 

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Música do dia (3): Adagio de Albinoni

Non so dove trovarti
Non so come cercarti
Ma sento una voce che
Nel vento parla di te
Quest'anima senza cuore
Aspetta te
Adagio
Le notti senza pelle
I sogni senza stelle
Immagini del tuo viso
Che passano all'improvviso
Mi fanno sperare ancora
Che ti troverò
Adagio
Chiudo gli occhi e vedo te
Trovo il cammino che
Mi porta via
Dall'agonia
Sento battere in me
Questa musica che
Ho inventato per te
Se sai come trovarmi
Se sai dove certami
Abbracciami con la mente
Il sole mi sembra spento
Accendi il tuo nome in cielo
Dimmi che ci sei
Quello che vorrei
Vivere in te
Il sole come sembra spento
Abbracciami con la mente
Smarrita senza di te
Dimmi chi sei e ci crederò
Musica sei
Adagio

Natália Pasternak: psicanálise é pseudociência

"Freud fraudou resultados." 

 

Música do dia (2): Marina, Caymmi

Música do dia: Peito Vazio, Cartola

terça-feira, 17 de junho de 2025

História do Brasil de 1500 a 2025, resumida

Os europeus chegaram neste continente, trouxeram com eles os primórdios do capitalismo, começaram a destruir a Natureza e dizimar os indígenas, cujos sobreviventes fugiram para a Amazônia, os descendentes dos europeus foram atrás, destruindo tudo que encontraram pelo caminho, para produzir minério, madeira, criar gado, plantar cana-de-açúcar, café e soja para exportação, o que chamam de agronegócio, que é um negócio criminoso financiado com dinheiro público e apoiado pelas polícias e justiça, que ganha ou toma à força as terras dos seus habitantes originais e terras públicas, derruba a vegetação, contamina e seca os rios, envenena a terra e as plantações, massacra populações, escraviza trabalhadores e ganha bilhões, se apropria junto com os banqueiros de toda a riqueza produzida no país pelo trabalho dos brasileiros que vivem na miséria e destrói a biodiversidade extraordinária destas terras. 

Como isso foi e é possível? 

Primeiro, a partir de 1500, pela força das armas, da tecnologia e da religião cujos missionários acompanharam a ocupação portuguesa; lá pelas tantas, em 1808, o rei português colonizador e sua corte vieram para o Brasil, fugindo da invasão da sua nação por Napoleão, ficaram treze anos e quando voltaram deixaram aqui o herdeiro do trono, Pedro, que se tornou imperador do Brasil, sucedido depois por seu filho Pedro II; lá pelas tantas também, em 1889, quando o Império aboliu a escravidão dos africanos e seus descendentes, os militares do Exército recém-criado para lutar contra o Paraguai (uma guerra cruel e a mais longa do continente, mais longa que a Guerra de Secessão americana, e que fez 400 mil mortos, 70% deles paraguaios, toda a população masculina adulta e juvenil), em associação com os fazendeiros, dos quais os atuais agrotoxiconegociantes são descendentes, derrubaram e exilaram o imperador, sua família e seu séquito e começaram a República; lá pelas tantas, em 1930, quando o capitalismo mundial entrou na sua maior crise, em meio a revoluções socialistas e fascistas, e as exportações brasileiras entraram em colapso, setores dos fazendeiros e do Exército derrubaram o governo republicano, implantaram uma ditadura e começaram a construção do “Estado Novo”, baseado no nacionalismo, na modernização, na industrialização, na urbanização; lá pelas tantas, quando a II Guerra Mundial acabou com a derrota da Alemanha, da Itália e do Japão e a divisão do mundo em dois blocos de influência, um capitalista, liderado pelos EUA, e outro socialista, liderado pela URSS, um novo golpe derrubou a ditadura que tinha durado 15 anos e começou a “república populista”, com eleições diretas do presidente, governadores, prefeitos, senadores, deputados federais e estaduais e vereadores, organização de novos partidos e organizações de trabalhadores, além da disputa da continuação do projeto nacionalista entre o modelo original e um modelo sob influência dos EUA; lá pelas tantas, os militares do projeto sob influência dos EUA, que perdia todas as eleições presidenciais para o projeto nacionalista, deram um novo golpe e implantaram uma ditadura que durou 21 anos; lá pelas tantas, desgastados por crises econômicas, impopulares e perdendo apoio dos ricos, setores militares resolveram devolver o poder para os civis, foram diminuindo a ditadura aos poucos e finalmente, em 1985, perderam a eleição no colégio eleitoral que referendava os presidentes militares (foram cinco, além de uma junta militar provisória) e um presidente civil foi eleito, mas morreu antes de tomar posse, de forma que assumiu o seu vice, que tinha sido um civil colaborador da ditadura, o qual governou durante cinco anos e depois aconteceu a primeira eleição direta para presidente desde o golpe militar de 1964, inaugurando uma nova Constituição cheia de direitos e liberdades que representavam os anseios do movimento de redemocratização que ajudou a derrubar a ditadura e promoveu as maiores manifestações populares da história do Brasil, na chamada campanha da Diretas já!; começa então, em 1989, uma nova fase política que já dura 35 anos, caracterizada pela vigência da nova Constituição, da eleição direta do presidente, primeiro com mandato de cinco anos, depois com mandato de quatro anos com reeleição, copiando o modelo americano, e adoção da cartilha do capitalismo neoliberal na qual o Brasil abandona o nacionalismo e a industrialização e se torna exportador de minérios, carnes, soja, café e outros produtos agrícolas, comandado por banqueiros e latifundiários associados ao capital internacional, ao qual se submetem os partidos e líderes políticos emergentes após a ditadura, a saber: PRN, PSDB, PT, PL, Collor, FHC, Lula, Dilma, Bolsonaro, período no qual não faltam golpes, agora dados pelo Congresso e legitimados pelo STF, com maior ou menor participação dos militares e aos quais aderem os principais partidos e políticos no momento que lhes convém, nas formas de impeachment, processos judiciais, prisões, mudança no mandato presidencial, em 1992, 1997, 2016, 2018, 2025; a fase atual do Brasil é de deterioração política, econômica, ambiental, social e institucional, que caracteriza o fim do modelo citado acima, no qual políticos corruptos e corrompidos pelo sistema ajustam permanentemente as leis e as instituições para permanecerem no poder e servirem ao capital hegemônico, isto é, banqueiros e agrotoxiconegociantes, equilibrando-se entre os poderes do capital (“mercado”, “bolsas”, “investidores” etc.), do Congresso, da justiça, especialmente do STF, pesquisas de opinião, redes sociais, veículos de comunicação, interesses das suas bases eleitores, além dos seus interesses particulares, do interesse nacional e do voto popular expresso de quatro em quatro anos, sendo que dois últimos, os mais importantes, são os menos considerados, na verdade são incômodos que, se fosse possível, eles aboliriam e sempre que podem abandonam – o interesse nacional submetendo-o aos interesses dos lobbies e o voto popular logo depois da eleição (agora mesmo o Congresso está em vias de aprovar uma nova mudança nas regras eleitorais que aumenta os mandatos para cinco anos, proíbe a reeleição nos cargos do Executivo e faz coincidir as eleições, ou seja, o incômodo da manifestação popular só acontecerá de cinco em cinco anos; os deputados, senadores e vereadores continuarão com o direito à reeleição eterna. É curioso observar que, quando o interesse da reeleição era manter FHC no cargo, a mudança valeu para o presidente em exercício, mas agora o fim da reeleição não vai valer para os atuais prefeitos, governadores e presidente; além disso, os mandatos dos futuros prefeitos serão aumentados para seis anos, para possibilitar a coincidência das eleições, ou seja, teremos prefeitos com mandatos de dez anos! – os políticos só legislam em causa própria, o que é uma característica do corporativismo dominante no país, que longe de ser uma nação é formado por castas, que nunca pensam no interesse nacional ou do povo). 

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Cenas do fim do mundo: vida individual e ação política

Há alguns dias notei que o ator Lázaro Ramos anda sumido, mas eu não tenho televisão e não acompanho noticiário de celebridades, podia estar enganado. Hoje vi essa notícia abaixo, que não pode ser compartilhada, mas pode ser lida no link. Reproduzo aqui porque é uma questão importante do mundo globalizado: a relação entre a vida individual e a situação geral da espécie humana e da Terra. O que aconteceu com o ator é o que acontece silenciosamente com todos nós que acompanhamos as notícias do mundo e do Brasil e olhamos a nossa cidade quando andamos nas ruas.

Os idiotas não sofrem com o que está acontecendo e até justificam e promovem as atrocidades, os conscientes sofrem. É comum que aqueles que protestam por causas gerais ajam na vida pessoal de forma contrária ao que dizem defender. O genocídio dos palestinos por um povo que sofreu genocídio é um terror que mobiliza ativistas, o genocídio dos pretos no Brasil pelas polícias não mobiliza. O que indivíduos podem fazer para melhorar o mundo? Eis a questão. Quando a ação se dá em torno de instituições, como partidos e outras, torna-se política e política é negociação, é falsidade, aparência, dinheiro, corrupção, interesses e coisas assim. O controle dos judeus sionistas sobre a comunicação mundial é impressionante, o controle dos banqueiros sobre a comunicação brasileira, também. O filme de um banqueiro que denuncia a ditadura militar ganhou Oscar, mas o cineasta não fala do Brasil contemporâneo, dos 99,99% dos brasileiros que os juros bancários mantêm na pobreza e na miséria. Sofrer pelo mundo e fazer o quê? E as vidas dos pobres e miseráveis que já são tão sofridas? E as vidas individuais de luxos dos ricos e célebres hipócritas que protestam? Coerência entre vida individual e vida social, ação política consequente e radical: acho difícil salvar o Homo sapiens (por sinal, o grande escritor e judeu sionista israelense Yuval Harari se cala criminosamente sobre o genocídios dos palestinos) e a Terra de outra forma que não esta. Tudo nesse cenário do fim do mundo é muito contraditório.

'Meu corpo parou e eu me vi adoecido': o desabafo de Lázaro Ramos na Bienal 

Filipe Pavão De Splash, no Rio 15/6/2025 22h52 

Lázaro Ramos, 46, relembrou o episódio de burnout que teve em 2024 e fez um desabafo hoje, durante a Bienal do Livro, no Rio. Compartilhou uma confissão particular sobre adoecimento emocional recente, causado por um período intenso de trabalho, como revelou anteriormente, e por absorver as "dores do mundo" – em especial, as que atingem as pessoas negras. "Uma das coisas que me fez adoecer no ano passado foi porque estava ouvindo os problemas das pessoas, do mundo e eu processava como se fosse comigo. Eu tinha sensações físicas, mentais, pensamento… Não conseguia distinguir um pensamento do outro. Eram quatro coisas ao mesmo tempo."

https://www.uol.com.br/splash/noticias/2025/06/15/meu-corpo-parou-e-eu-me-vi-adoecido-o-desabafo-de-lazaro-ramos-na-bienal.htm

 

Cenas do fim do mundo: troca de CPF em mandado de prisão atinge jornalista

Sakamoto é parado pela PM, CPF e placa de carro em mandado de prisão foram adulterados.

Cientista judeu especialista em genocídio afirma que Israel pratica genocídio dos palestinos

É óbvio. O fato de a imprensa não tratar o assunto dessa forma e o mundo não se revoltar mostra como Israel e Estados Unidos controlam a informação mundial. Timidamente, a BBC toca no assunto. É significativo que a entrevista não esteja assinada: é para proteger o autor ou a autora da perseguição de Israel. Nessa cena do fim do mundo, o mundo acompanha um genocídio como nunca aconteceu antes e não nos revoltamos, as autoridades nacionais e mundiais não o impedem. Escolas, hospitais, igrejas, áreas residenciais são bombardeados, crianças, mulheres, médicos, enfermeiros, jornalistas, funcionários de instituições de ajuda internacional são mortos. Tudo acontece há dois anos diariamente e assistimos  pela televisão e pela internet. O mundo vai acabar assim, sem reação da espécie humana para defender a vida, a vida individual e a vida de todos. 

'O que Israel faz em Gaza não tem precedentes no século 21', diz historiador israelense especialista em holocausto  

BBC News Mundo  

"O que está acontecendo em Gaza se encaixa na definição de genocídio, uma tentativa de destruir um grupo como tal", afirmou Omer Bartov à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.

Bartov é professor de estudos sobre Holocausto e genocídio na Universidade Brown, nos Estados Unidos. Ele é um dos maiores especialistas em genocídio mundialmente, de acordo com o site do Museu Memorial do Holocausto dos EUA.

O historiador é cidadão israelense e americano e, na década de 1970, foi soldado do Exército israelense.

Inicialmente, Bartov não classificou como genocídio as ações militares de Israel em Gaza após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023. Agora, ele não hesita em fazer isso, e afirma que há um consenso neste sentido entre especialistas em genocídio.

Bartov explicou à BBC News Mundo por que mudou de posição e por que a ação israelense em Gaza "não tem equivalente" na história recente. Ele também refletiu sobre algo que descreve como "perturbador": a indiferença de muitos israelenses ao sofrimento dos palestinos. 

Israel enfrenta uma acusação de genocídio na Corte Internacional de Justiça (CIJ), e o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, tem um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional por supostos crimes de guerra.

O parlamentar israelense Boaz Bismuth, leal a Netanyahu e suas políticas, argumenta: "Como podem nos acusar de genocídio quando a população palestina cresceu não sei quantas vezes? Como podem nos acusar de limpeza étnica quando estou deslocando a população dentro de Gaza para protegê-la? Como podem nos acusar quando estamos perdendo soldados para proteger nossos inimigos?"

Israel lançou uma campanha militar em Gaza em resposta ao ataque pela fronteira do Hamas em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e outras 251 foram feitas reféns.

Desde então, os ataques israelenses mataram pelo menos 54.470 pessoas em Gaza, incluindo mais de 17 mil crianças, de acordo com o Ministério da Saúde do território, administrado pelo Hamas.

A seguir, está a entrevista que a BBC News Mundo fez com Omer Bartov.

BBC News Mundo - Nos primeiros meses após o ataque do Hamas, você não usou a palavra genocídio para se referir às ações de Israel em Gaza. Quando e por que você mudou de posição?

Omer Bartov - Mudei de opinião e passei a acreditar que Gaza é inegavelmente um caso de genocídio no início de maio de 2024.

Em novembro de 2023, escrevi que havia evidências de crimes de guerra, possivelmente crimes contra a humanidade.

Eu ainda não tinha certeza de que havia provas suficientes de genocídio. Mas havia indícios de que poderia chegar a isso, porque havia declarações com conteúdo genocida.

Em maio de 2024, quando as Forças de Defesa de Israel (FDI) entraram em Rafah e desalojaram cerca de um milhão de pessoas para a região de Al-Mawasi, uma área sem infraestrutura à beira-mar, isso parecia indicar que se tratava de uma operação com intenções genocidas, intenções que já haviam sido manifestadas em outubro de 2023.

Leia a íntegra clicando aqui. 

 

Cenas do fim do mundo: o genocídio dos palestinos pelos judeus

"Fracasso moral e ético total": O judeu estudioso do Holocausto Omer Bartov fala sobre o genocídio de Israel em Gaza.

Cenas do fim do mundo: a comida envenenada

"Pessoas preferem não saber o que tem no tomate, alface ou morango. Se soubessem, não comeriam."

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Música do dia: Chora coração, Tom Jobim

Celebridades, jornalistas e as duas questões fundamentais do nosso tempo

Nos últimos dias vi três entrevistas muito boas no canal Rivo Talks no Youtube com Alexandre Frota, Ciro Gomes e Lobão. São entrevistas longas e não são recentes, o YT tem essa vantagem, a gente pode ver quando quiser. Cada vez mais a exibição é interrompida por anúncios e eu tenho de clicar no “pular”; alguns anunciantes põem uma opção de aparência idêntica mas escrito “comprar”, uma armadilha. É um saco ficar “pulando” toda hora; depois de algumas vezes, o YT oferece a opção de assinatura, sem anúncios, que é o que ele quer, que a gente assine, mas eu me nego a pagar assinaturas de serviços na internet, não pelos produtores de conteúdo, mas porque as “big techs” pegam a maior fatia; prefiro continuar “pulando”, e está cada vez mais chato. Esse é um problema que pouco se discute, todo mundo foi se adaptando ao modelo que tomou conta da internet e que é controlado por meia dúzia de empresas americanas de alcance mundial que se tornaram bilionárias e superpoderosas. Pouco se discute os assuntos mais importantes do mundo contemporâneo e era sobre isso que eu queria escrever ao falar das entrevistas citadas no começo, mas o tema volta também aqui. 

O controle da inteligência pelas empresas de tecnologia é um dos dois fenômenos mais importantes da nossa época e pouco falamos dele. Como disse, todo mundo se adaptou à condição de “produtor de conteúdo”, que de fato foi um avanço impressionante, porque a divulgação de informações (conhecimentos) multiplicou-se infinitamente ao mesmo tempo que saiu do controle de meia dúzia de empresas como acontecia antes, na era da televisão, do rádio e da imprensa impressa. Eu sou um consumidor ávido do YT, como disse, a única “rede social” que me parece interessante, além do zap, que, para mim, funciona para telefonemas e mensagens individuais; não uso outras redes. O YT, porém é um veículo fantástico de informação, especialmente de informações não imediatas; para noticiários ainda é insuficiente, mas para conteúdos diversos, ele cumpre o que se esperava da internet: que todo mundo pudesse transmitir seus conhecimentos diretamente para todo mundo, sem depender das grandes empresas “de mídia” tradicional, como se dizia. 

Qual é o problema? O problema é o controle dessa “nova mídia” por meia dúzia de empresas gigantes multinacionais de origem americana. Não é um controle com o da velha mídia, mas na essência é o mesmo: dominação econômica e manipulação da informação. Do ponto de vista da informação, as empresas direcionam os conteúdos que o público vê, por meio dos famosos algoritmos. Do ponto de vista econômico, o controle é muito maior do que antes, porque meia dúzia de empresas americanas detêm a comunicação mundial, o que as levou a se tornarem as empresas mais ricas do mundo neste século. E o que elas produzem? Nada. Elas desenvolvem tecnologias para a população em geral consumir conteúdos que alguns profissionais produzem. 

O que significa isso? 

Em primeiro lugar, os profissionais que desenvolvem tecnologias, isto é, os trabalhadores dessas empresas, são poucos e estão sendo substituídos por uma tecnologia que eles mesmos desenvolveram, a chamada “inteligência artificial”. Em segundo lugar, os produtores de conteúdos não são empregados das “bich tchs”, produzem gratuitamente para elas e ainda repassam a elas a maior parte dos seus ganhos gerados pelo consumo de toda a população. Ou seja, o modelo de negócio desenvolvimento pelas “big tchs” que dominam a internet transformou um enorme contingente de trabalhadores em produtores não remunerados de conteúdos que elas vendem; quem paga é o público que consome e a maior fatia fica com as empresas, não com os produtores. E quase ninguém discute isso, ninguém se revolta, ninguém se insurge, ninguém se organiza contras as empresas. As “big techs” inventaram o modelo de negócios capitalista perfeito. E está tudo bem, não há “conflitos de classe” como há no capitalismo industrial, não há sindicatos, não há regulamentação do trabalho, não há direitos trabalhistas, não há greves, nada. Não é à toa que nesse ambiente a ideologia da “teologia da prosperidade” das igrejas protestantes prospera. 

O segundo fenômeno fundamental da nossa época é a origem deste texto: a destruição das condições de vida na Terra pela espécie humana. Vendo as três entrevistas citadas pensei nisso: são três indivíduos muito importantes no Brasil contemporâneo, inteligentes, famosos, ricos, cultos, integrantes das elites nacionais nas últimas cinco décadas e principalmente brasileiros que tiveram vidas admiráveis, o que não significa concordar com eles e com suas ações, mas reconhecer que são indivíduos que experimentaram vidas muito mais, digamos, ricas do que as pessoas comuns. E as entrevistas refletem isso, são muito interessantes. No entanto em nenhum momento se falou do assunto mais importante do nosso tempo. Isso expressa como a consciência das catástrofes que já acontecem e nos aguardam nos próximos anos inexoravelmente e que nos levarão para o “fim do mundo”, não no sentido religioso, mas no sentido ambiental, essa consciência não faz parte do nosso dia a dia, todo mundo continua vivendo suas vidas individuais que, em síntese, significam fazer o capitalismo funcionar (e destruir cada vez mais), produzindo, ganhando dinheiro, trabalhando, se divertindo, consumindo etc. O mundo contemporâneo é um mundo de entretenimento – a internet tornou-se parte da indústria de entretenimento, a parte mais dinâmica dela, e falar da catástrofe ambiental não diverte, não entretém. Talvez as pessoas mais conscientes e verdadeiramente comprometidas com “a pauta ambiental”, como se diz hoje, ainda não saibam como fazer isso: constatam, se preocupam, mas não sabem o que fazer. 

O fato é que a questão mais importante da nossa época não entrou nas três excelentes entrevistas. Os três entrevistados célebres e os dois entrevistadores muito bons falaram de feitos e ideias notáveis, mas a catástrofe ambiental não faz parte das suas vidas aparentemente. 

PS: O Rivo News, só descobri hoje, 16/6, é um canal que se cala diante do genocídio dos palestinos pelos judeus e faz comentários simpáticos a Israel, o que é decepcionante.