quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

O fim está próximo

Não é mensagem religiosa, ao contrário, os mensageiros da Bíblia contribuem decisivamaente, com a ideologia da prosperidade, para a aproximação acelerada do fim do mundo. É uma mensagem ecológica, transmitida pela Natureza aos humanos que sabem compreendê-la, como a cientista Luciana Gatti, renomada mundialmente. E inúmeros outros, inclusive quem não é cientista, feito eu, e as pessoas mais simples, mais "atrasadas", mais "ignorantes" e mais "pobres" deste mundo em que o critério de "progresso" é riqueza material. 

"Tenho uma frustração gigantesca de ser cientista e não fazer a menor diferença na sociedade", diz Luciana nesta entrevista. 

O chamado "agro", o agrotoxiconegócio, que nada mais é do que o velho latifúndio exportador, agora industrializado e tecnologizado, produz muita "riqueza" na Amazônia, ao mesmo tempo em que derruba a floresta e enche o solo, as águas e o ar de venenos. "Progresso", que o governo do bozo liberou, ao "abrir a porteira", e que os governos democráticos não contiveram, porque o modelo político brasileiro é expressão do domínio econômico do "agro", junto com a mineração e os banqueiros, esse "progresso" é a destruição da Natureza e da espécie humana que é parte dela mas finge ignorar, porque o que interessa a todo mundo é ganhar dinheiro. É o fim do mundo. A consciência disso já me angustiou muito, hoje penso que se livrar da espécie humana é o melhor que a Terra pode fazer para se recuperar e novamente, em milhares ou milhões de anos, voltar a ter a biodiversidade que nós extinguimos e a Natureza maravilhosa que nós destruímos. 

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Revolução ou reforma, o velho dilema dos socialistas

Sempre achei que, em vez de fundar um partido para disputar eleições burguesas, os revolucionários deviam fortalecer e unir os movimentos populares e sindicatos de forma independente do Estado burguês. Organizá-los para exigir o atendimento das suas reivindicações pelo Estado burguês. Nesse processo, os trabalhadores não apenas arrancariam conquistas com a luta, mas também se organizariam de forma independente e formariam a consciência da necessidade de substituir o Estado burguês capitalista por um Estado popular socialista, ou seja, construiriam sua consciência e as instituições do futuro Estado socialista. Formar um partido, disputar eleições burguesas, conquistar assentos nas Câmaras de Vereadores e Assembleias estaduais e no Congresso Nacional, eleger prefeitos, governadores e até presidente, governar municípios, estados e até o país na ordem burguesa, tudo isso é fazer a política burguesa e participar da sua lógica, fortalecer o sistema capitalista e o Estado burguês, explorador, opressor, injusto, desigual. Se a esquerda marxista quer fazer uma revolução, destruir o capitalismo e construir o socialismo, não deve fortalecer o Estado burguês, suas instituições e ideologia, entre as quais se incluem partidos, eleições, parlamentos, governos etc. Para fazer a revolução, o caminho é fortalecer a organização popular e a ideologia socialista, tratar sempre o Estado burguês e seus representantes como inimigos. Foi isso que o partido bolchevique fez na Rússia, foi esse o significado da palavra de ordem "Todo poder aos sovietes!" lançada por Lênin e Trotski em 1917, que deflagrou a revolução, transferiu o poder para o povo e começou a construção do Estado socialista. 

Coisa diferente é se os marxistas não pretendem fazer uma revolução, mas sim reformar o Estado burguês, transformá-lo gradualmente num Estado socialista e transferir também gradualmente o poder das mãos da burguesia para os trabalhadores, substituir o capitalismo pelo socialismo sem fazer revolução, de forma civilizada, consensual, pacífica, ainda que em conflitos, mas acreditando que a ordem burguesa é capaz de resolvê-los. Neste caso, formar um partido para disputar eleições burguesas e legitimar a política burguesa faz sentido. Trata-se de participar das instituições do Estado burguês, conquistar a maioria do eleitorado, chegar ao governo pelo voto e reformar o Estado burguês internamente, transformando-o num Estado socialista. O PT, liderado por Lula, evidentemente, não escolheu o caminho da revolução. Tampouco, porém escolheu o caminho da reforma. Na falta de definições claras e na confusão provocada pelo fim da URSS e pela ofensiva neoliberal, tornou-se um partido burguês comum, cujo governo é determinado pelos interesses dos setores burgueses mais fortes e mais influentes. 

Carlos Marighella, por Breno Altamn

Mais uma aula de história do Breno Altman. Desta vez, a aula inclui o PCB, o Partido Comunista Brasileiro, o partidão, sua trajetória sinuosa e contraditória e suas inúmeras defecções e dissidências, das quais Carlos Marighella é das mais famosas (antes de ser petista, B.A. foi do PCB; trocou o partidão pelo PT e Stalin por Lula). Estamos vivendo uma época rica em debates na esquerda. Podcasts, transmissões de programas, noticiários, debates, palestras etc. via YT. Espero que tudo isso seja também fértil em novas forças políticas de esquerda. É um fenômeno intelectual, reúne e atrai classe média, acadêmicos, estudantes, militantes diversos. As grandes forças sociais estão no trabalho, nos locais de trabalho, nos ambientes sociais, não nos virtuais, são os trabalhadores, e estes estão desorganizados, desmobilizados, e quando se mobilizam o fazem em torno de movimentos sociais conservadores, reacionários, de direita e extrema direita, isto é, das igrejas evangélicas e do bozoísmo. Isso acontece porque a esquerda, o PT e Lula se afastaram das suas bases sociais nas últimas décadas e se dedicaram a administrar o Estado capitalista, deixando o povo para a militância e as ideias da direita e da extrema direta. Esse fenômeno de discussões na esquerda expressa o fim de um ciclo, o ciclo protagonizado pela liderança do Lula e do PT, sendo que este foi sempre um instrumento daquele. Breno Altman é uma das principais estrelas do fenômeno e um dos principais expoentes do lulopetismo. Destaca-se por sua cultura ampla e por suas posições marxistas. É um marxista stalinista, o que é muito interessante, porque o stalinismo é o marxismo vitorioso, por assim dizer, e Altman mostra como funciona o pensamento de um stalinista, isto é, de um marxista vitorioso. É diferente do pensamento dos trotskistas, que são muito mais brilhantes, a exemplo do seu ídolo, Leon Trotski, o político revolucionário mais importante do século XX, porém foram e continuam sendo sempre derrotados, minoritários, oposição etc. (Trotski liderou a derrota dos inimigos externos da revolução russa, mas foi derrotado pelo inimigo interno, Stalin). O stalinista Altman é um marxista vitorioso mais uma vez, porque pode-se negar todas as qualidades ao PT, mas não se pode negar que, seguindo devotadamente o Lula (assim como os marxistas vitoriosos se curvaram ao Stalin), o PT é um partido vitorioso, mais do que foi o PTB e ao contrário dos demais partidos que pretenderam representar os trabalhadores brasileiros até hoje. É a vitória do Lula que legitima o discurso do Altman. A ponderada, culta, ilustrada e convincente retórica do Breno Altman é cheia de falácias, justificadas pelo cerne do pensamento stalinista, isto é, marxista vitorioso: se deu certo é porque é certo, é marxista, é materialista. Quem pensa diferente, como o Nildo Ouriques (com quem Altman debateu em alto nível, porque Ouriques é, como diz o Altman, "muito preparado", um dos marxistas mais qualificados do país, e de fato demonstra isso), é "idealista", porque não vê a realidade vitoriosa dos fatos que se resumem ao Lula, ao governo petista "de frente ampla", às vitórias eleitorais. Fora do Lula e do PT, não há salvação, diz a cartilha do Breno Altman, em resumo, assim como fora do Stalin e do Estado soviético não havia salvação para os comunistas, para os marxistas vitoriosos. 

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Nildo Ouriques x Breno Altman debatem os dilemas da esquerda brasileira

O melhor debate sobre os descaminhos da esquerda brasileira nos últimos cinquenta anos. São dois militantes da minha geração. Fico pensando que nosso legado para o país foi zero, porque nossa geração ficou agarrada no Lula, que é uma grande personagem da história e um político digno de figurar no Príncipe, do Maquiavel, mas muito pouco fez pelos brasileiros. Para ser exato: na chamada Era Lula o Brasil piorou muito, com o avanço destruidor do latifúndio exportador (também conhecido como agro, o agrotoxiconegócio) sobre o Cerrado, o Pantanal e a Amazônia e a desindustrialização. Nas últimas décadas, o Brasil andou aceleradamente para trás no desenvolvimento econômico, com a diferença que o atraso veio junto com o uso intensivo de capital e novas tecnologias, o que se traduz numa destruição ambiental também acelerada. Uma nova geração de esquerda vai ter de construir tudo, pois perdemos meio século seguindo o neoliberalismo. Isso na versão otimista, isto é, se o mundo não acabar em consequência das mudanças climáticas. 

Stedile também quer plano nacional de desenvolvimento

É curioso ver toda a esquerda, um expoente após outro, pregar agora a necessidade de um plano ou projeto nacional de desenvolvimento. Eu fico pensando onde eles estavam nos últimos trinta anos. Ciro Gomes fala isso pelo menos desde 1996, escreveu livros, elaborou seu projeto, pregou-o nas duas últimas eleições presidenciais, e todos o ignoraram, fingiram não escutar, continuaram dizendo que Lula era a salvação. Breno Altman, um desses expoentes mais brilhantes, ainda acusa Ciro de ter ido para a direita, ao se afastar do petismo, como se o petismo não tivesse ele próprio ido para a direita. Agora, todos concordam também, em graus diferentes, que o governo Lula é um governo neoliberal, liberal, social-liberal etc., que sua política econômica é a mesma do governo bozo, mas ainda assim é melhor Lula do que bozo, e vamos de Lula novamente em 26, bla-bla-bla. Eu não discordo: Lula é melhor que bozo, já votei nele no segundo turno várias vezes e votarei novamente, contra candidato mais à direita, embora tenha dúvidas se ele será reeleito. No entanto, Lula já deixou de ser um líder operário há muitos e muitos anos, hoje é um político burguês, assim como o PT deixou de ser o partido dos trabalhadores brasileiros para se tornar mais um partido que representa interesses do capital. O lulopetismo não faz autocrítica dos seus erros, o principal deles se tornar lulólatra e ter jogado fora o grande fato histórico para o Brasil que foi a construção de um partido dos trabalhadores, deixando que ele se transformasse no partido do Lula. O PT é o partido mais importante do Brasil porque foi o único na nossa história que nasceu do povo, mas vem perdendo importância porque trocou as bases pelo lulismo e vai se tornar igual aos outros quando não tiver mais o Lula para guiá-lo. No ano que vem ou quatro anos depois, o ciclo Lula terminará finalmente e a esquerda brasileira não terá nada para pôr no lugar do lulismo, nem mesmo o tal projeto nacional, tendo perdido meio século para isso. Construir um novo partido popular é a tarefa da esquerda, mas será muito mais difícil do que foi criar o PT. Na onda de discussões atual eu não vejo as estrelas da esquerda nem de longe pensando nisso, ou seja, em como construir um novo partido a partir das bases e plural, como foi o PT, sem sucumbir a um dono, a um messias, mantendo-se democrático, plural e intimamente ligado ao povo, aos trabalhadores, às massas trabalhadoras e populares. Nos idos de 1970 e 1980, quando se começou a discutir a fundação de um novo partido de esquerda (na ditadura militar havia apenas dois partidos, a Arena, do governo, e o MDB, pretensamente de oposição) e quando esse movimento resultou no PT, eu tinha uma visão particular do assunto, mas fiquei nela completamente solitário, "idealista", como poderia definir Breno Altman. Eu era contra a fundação de um partido, pensava que os movimentos populares que estavam surgindo e crescendo deviam manter sua independência, se manter reivindicatórios, de massa e unidos entre si, em oposição ao Estado burguês. Hoje penso que estava imaginando a formação dos futuros sovietes brasileiros, uma base de organizações populares sobre as quais se assentariam a revolução e o Estado socialista. Em vez de formar um partido próprio, o que os trabalhadores deviam fazer, portanto, era organizar seus instrumentos de luta, independentes do Estado, para atuar sempre em conflito com o Estado e negociar com os partidos burgueses, todos eles, também de forma independente, sem compromisso. Com independência, qualquer político burguês e qualquer partido burguês serviam igualmente para atuar a favor dos trabalhadores nos governos do capital. Continuo considerando esse pensamento razoável: se os trabalhadores querem construir outro Estado, seu, com sua ideologia, devem fazê-lo gradativamente, organizando-se na oposição ao Estado burguês e preparando a nova ordem com a sua experiência de organização e com a ideologia que vai formando nesse processo. A trajetória do PT e do Lula é inegavelmente uma trajetória de um operário e um partido que vieram do povo e se transformaram em defensores da ordem burguesa. 

domingo, 30 de novembro de 2025

Música do dia: Dedicated to the one I love, The Mamas & the Papas

E pergunta do dia: por que, a despeito de tantas canções lindas a exaltá-lo, o amor não predomina na espécie humana?

terça-feira, 25 de novembro de 2025

Neoliberalismo: morto, vivo ou zumbi?, por Juliane Furno

Mais Juliane Furno, que tem um canal no YT. Aqui ela faz resumidamente uma análise que me parece cada vez mais consensual, com a qual concordo, mesmo porque óbvia, as variações ficam por conta das consequências que cada um tira, e nesse ponto a esquerda atual (Juliane é do Levante Popular da Juventude, que já vi em manifestações, se não me engano esteve na linha de frente das jornadas de 2013 e até entrevistei alguns militantes para o Cometa Itabirano, na época, mas pouco sei sobre ele), que é mais avançada do que a da minha geração, é igualmente dividida. Por que não existe uma convergência socialista (epa!), quero dizer, uma união de esforços por um projeto de esquerda de fato? Outra militante que ouvi hoje também no Breno Altman (muitas mulheres protagonistas), Mandi Coelho, é do PSTU, o partido mais esquerdista do país, trotskista, feminista que diz que a luta de classes está acima do feminismo, igualmente é daquela geração de 2013. Tomara que consigam se unir, mesmo porque o desafio é muito maior do que isso, esse seria só o começo, o desafio é liderar os trabalhadores, as massas populares que foram capturadas pela extrema direita no vazio deixado pela esquerda, leia-se PT, que escolheu administrar o Estado burguês e passou da esquerda para o centro, abandonando as organizações populares das quais se originou. 

'Governo Lula não é neoliberal, tem contradições'

Excelente entrevista dessa bela economista (?) que eu não conhecia. Fala de tudo com simplicidade, clareza e boas posições, inclusive essa do título, da qual eu discordo, porque acho que as decisões neoliberais predominam, mas compreendo o ponto de vista dela. Faz críticas importantes (e poderia ser diferente?), mas é tranquila, otimista. E tem senso de humor: "não vimos a Seleção jogar bola", diz ao listar as frustrações da sua geração, a primeira, segundo ela, a viver pior do que seus pais, o que gera problemas sociais e mentais. "Tudo está pior para nós." 

Música do dia: Quando eu me chamar saudade, Nélson Cavaquinho

Com parceria do Guilherme de Brito.

domingo, 23 de novembro de 2025

Música do dia (2): Also sprach Zarathustra, Abertura, Richard Strauss

Para começar o dia ouvindo. Tem abertura de sinfonia mais bonita? Igual talvez.  

Música do dia: Sândalo de dândi, Metrô

Mais uma da minha lista de preferidas. Uma das mais belas poesias do rock brasileiro dos anos 80, quiçá da MPB. Uma melodia envolvente que me lembra "My pledge of love" (tente ficar parado) e cheia de belos efeitos, letra de uma beleza sonora espantosa, encaixadinha na melodia, sem passar uma sílaba, um verso genial ("tudo que é mutante muda amando alguém") e Virginie, a voz mais gostosa daquela geração, uma graça no palco, com uma história pessoal peculiar. Não gosto de música eletrônica, mas nada é absoluto: neste caso, com acuidade e bom gosto, ela está a serviço da arte. E que canção termina com um verso só, sem precisar de mais? Não conheço outra. Obra-prima. Aplausos. E bis. Quem quiser ver o ambiente da época, a apresentação do Metrô no insuperável Perdidos na Noite, clique aqui

sábado, 22 de novembro de 2025

25 horas por dia

Minha lista de músicas prediletas chegou a 101 recentemente e aquela da qual eu mais gosto talvez seja esta gravação de I say a little prayer da Aretha Franklin. São todas músicas maravilhosas e o gosto depende do momento: como não dizer que Saudade do Brasil é a música mais bonita que eu conheço? Ou o Largo de Bach, a primeira da lista? Ou a Melodia Sentimental, do Villa-Lobos? Ou God, do John Lennon? Ou Dear old Stockholm? Ou O morro não tem vez? Ou Clube da esquina? Ou a Marcha fúnebre do Chopin? Ou o Prelúdio da Bachina nº 7? Ou a Abertura de Also Sprach Zarathustra, a mais recente na lista. Ou... Todas foram escolhidas segundo o critério explicado, que coloca cada uma como predileta. Por que então a predição por esta? Porque talvez seja a canção que eu mais canto espontaneamente (e nem sei a letra), sempre ouvindo a voz da Aretha. Bacharach e David fizeram uma obra-prima, mas nesse caso minha escolha vem com a interpretação, é essa versão que me comove (a gravação original é da Dionne Warwick, mas essa tem história). A voz da Aretha é deliciosa até quando se cala para que o coro cante. Eu não a ouviria só duas vezes, ouviria 25 horas por dia, pensando na mulher que mais amei, com quem eu ficaria 25 horas por dia também. Talvez minha predileção tenha outra razão, porque é uma obra de arte e arte é a verdade expressa na beleza. Isso me ocorre quando penso no significado da canção: ela é a prece da mulher de um soldado americano enviado para o Vietnã. A relação trágica entre arte e sofrimento. O que o indivíduo humano pode fazer contra as forças sociais tão superiores a ele? Rezar. Desejar ardentemente. Se colocar na frente de um tanque de guerra. Incendiar o próprio corpo. Criar beleza. Arte é revolta contra uma força superior. 

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Miguel Nicolelis entrevistado por Breno Altman

Ótima entrevista. Nada a acrescentar às opiniões do Miguel Nicolelis, inclusive sobre a ideia que tinha pensado em adotar e ele reforçou de voltar a escrever à mão, além de todas as reflexões sobre a estupidez da espécie humana e nossa iminente extinção. 

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Música do dia: Exagerado, Cazuza (versão especial 40 anos)

Belém é muito quente 7

Belém é muito quente 6

Há mais de cinquenta anos, Chico europeu Buarque de Holanda já tinha dito o mesmo, ao contrário, sobre a Europa que disse o chanceler alemão sobre o Brasil.  

Belém é muito quente 5

Tanto ou mais que Fitzcarraldo, Aguirre expressa o que significou a descoberta da Amazônia pelos europeus.

Belém é muito quente 4

O alemão Werner Herzog expressou em filmes há meio século o que significou para a espécie humana (sob o olhar dos europeus, porque antepassados dos indígenas atuais já viviam neste paraíso há milênios) chegar ao "novo continente", que já tinha nome e habitantes, mas os europeus se apossaram dele e o colonizaram, exterminaram suas populações humanas e de outras espécies, propiciando, em cinco séculos, a destruição da Natureza exuberante, porque tudo que o capital toca é destruído para virar riqueza comercial.  

Belém é muito quente 3

Belém é muito quente 2

Giannetti questiona o famoso "complexo de vira-lata", expressão cunhada pelo dramaturgo Nélson Rodrigues. Eu não sei que caminho o Brasil deve seguir, sei que só teve um projeto nacional a partir da Revolução de 1930 até o fim da ditadura militar e que depois abraçou o neoliberalismo, que nos trouxe de volta à condição de nação exportadora de grãos, carnes e minérios. Sei também que, seja o projeto nacionalista seja o agroexportador, ambos são capitalistas europeus e que, quando os portugueses chegaram aqui, os povos indígenas já conviviam de forma muito mais sábia com a Natureza, que é o que o século XXI está exigindo que os europeus e seus colonizados mundo afora aprendam enfim. O Brasil precisa inventar um projeto nacional próprio, não capitalista, mas para isso precisa antes inventar o brasileiro não capitalista que seguirá esse rumo. 

Belém é muito quente 1

O sujeito evidentemente é um imbecil, e nem é da extrema direita europeia que está insurgindo, é só a estupidez usual, a mesma que os trouxe para este continente há quinhentos e poucos anos, mas até hoje, apesar de ajudas e aquecimento global, afora Hitler e duas guerras mundiais, não têm consciência do mal que causaram à Terra e à própria espécie Homo sapiens. De fato, penso que todo europeu é um pouco fascinazista, a questão é só o que prevalece, assim como todo brasileiro (todo latianoamericano? Talvez não) é um pouco europeu, e portanto fascisnazista também, uma vez que adoram viajar para aquela porção "civilizada" do planeta, e alguns na verdade só se sentem em casa lá, estas terras são só o lugar onde ganham dinheiro. Estes geralmente são de extrema direita, mas não só, podem ser banqueiros, cineastas e atores que vão arrebatar prêmios em festivais, funcionários públicos que promovem seminários anuais por lá e toda uma gama de brasileiros cuja mentalidade é europeia. E o que é ser europeu? É essencialmente ser capitalista. A esquerda marxista, europeia, é capitalista, quem diria. Mas isso é sabido há muito, até quando seguia as orientações de Moscou stalinista a esquerda marxista brasileira era capitalista e europeia, por isso não deu certo, no fim das contas, e o império totalitário desmoronou, ao contrário da China, que encontrou com sabedoria seu caminho e está aí hoje assumindo protagonismo nos destinos humanos. Precisa antes, porém reconhecer que o capitalismo, mesmo sob comando do Estado, que é o socialismo real, também nos levará para a autodestruição. De fato, mesmo que a China queira evitar, EUA e Europa já fazem o suficiente para continuar elevando a temperatura da Terra e deixar de herança para as próximas gerações uma vida miserável, um inferno, mas não foram os europeus que inventaram essa ideia de inferno como um lugar em chamas? Pois é, estão realizando o que imaginaram. Tudo isso está na Cop30. Só os indígenas do Pindorama (?), da Amazônia e outras paragens entendem na verdade do que se trata destruir a Floresta e extinguir espécies, eles inclusive, que são Homo sapiens como os europeus, mas até hoje os alemães, pelo menos os que vieram a Belém, não compreendem isso. 

 

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

No Chile, comunista e ultradireitista disputarão segundo turno

Não é uma boa notícia, mas é um exemplo. A eleição do presidente Gabriel Boric foi comemorada há quatro anos como a chegada ao poder de uma geração jovem que tinha ido às ruas com a intenção de enterrar o passado da ditadura militar sanguinolenta, mas seu governo não conseguiu mudar a Constituição. O que aconteceu? Não sei. Nesse sentido, a esquerda chilena repete a situação brasileira em que, ao não conseguir oferecer um projeto à maioria da população, abre espaço para o crescimento da direita; as previsões são favoráveis ao candidato da extrema direita, lá e, temo, também aqui em 2026. Entretanto, o fato de Boric não se candidatar à reeleição, ou isso não ser possível lá, é um exemplo, pois deixa o caminho livre para uma nova liderança de esquerda, o que ainda não aconteceu no Brasil neste século. A esquerda chilena se uniu em torno da candidatura de Jeannette Jara, informa a BBC News Brasil. O crescimento da violência ao qual foi atribuída a votação do candidato de extrema direita é uma taxa de homicídio de 6 por 100 mil habitantes. No Brasil, em 2023, último dado disponível, a taxa foi de 22 e comemorada, porque diminuiu... 

Candidata de esquerda e ultradireitista se enfrentarão no 2º turno no Chile
Nova eleição no País deve acontecer em 14 de dezembro
Por AFP 16.11.2025 21h03 | Atualizado há 11 horas
A candidata de esquerda Jeannette Jara e o de ultradireita José Antonio Kast vão disputar o segundo turno para definir o próximo presidente do Chile, após as eleições deste domingo 16, cuja campanha esteve dominada pelo medo e a insegurança, que uma maioria associa à imigração irregular. Com quase 53% dos votos apurados, Jara, una comunista que representa uma ampla coalizão de centro-esquerda, supera por menos de 3% dos votos seu rival do Partido Republicano. Na terceira posição está um surpreendente Franco Parisi, um economista do Partido de la Gente, considerado um populista que supera o ultraliberal Johannes Kaiser, que as pesquisas situavam nessa posição. 

Clique aqui para ler a íntegra na CartaCapital. 

Brasil, colônia chinesa

Tenho pra mim que a melhor solução para o Brasil seria se tornar uma colônia da China. A gente assina uma parceria público-privada, PPP, como os governos neoliberais brasileiros gostam, inclusive o atual (é, o atual, é só procurar que a gente acha essa prática grassando no governo Lula 3, assim como descobre que a polícia militar mais letal do país é a da Bahia, estado governado há 20 anos pelo PT), pode chamar de PPPI, Parceria Público-Privada Internacional, para inovar na nomenclatura da mesma merda, outra coisa que nossos governantes e ricos gostam de fazer, em vez de chamar de colônia, termo antigo que pega mal; uma PPPI de governo pra governo, com aval do STF, que no fim das contas é quem manda hoje, e aprovação do Congresso, que é quem controla o dinheiro, e entrega o Brasil para a administração chinesa por, digamos, cinquenta anos. Nossos descendentes nos agradecerão eternamente. Já demonstramos que não temos mesmo aptidão, ou vocação, ou apetite, ou seja lá o que for, para cuidar de território tão rico, que o destruímos sem dó, e pior, sem sequer tirar vantagem disso, deixando que estrangeiros e seus amigos banqueiros e latifundiários fiquem com tudo. Fomos colônia portuguesa, fomos colônia britânica, francesa, estadunidense, e somos ainda, disfarçadamente, de quem quiser nos colonizar, nossas classes ricas adoram ser colonizadas, de fato pensam que aqui é uma grande fazenda e um imenso balneário, mas sua vida mesmo é em Miami, Londres, Noviorque, Paris, Roma, Madri, Israel e Emirados Árabes, dependendo do gosto, por que não agora nos tornarmos colônia chinesa? A gente fica na nossa, trabalhando como mão de obra escrava, como sempre fomos, e entregamos o Brasil para administração dos comunistas chineses. Aposto que eles vão cuidar muito melhor do que nós. A Lagoa da Pampulha, por exemplo, aposto que em um ano eles saneiam ela e transformam o lugar num recanto maravilhoso, como começou a ser no passado, quando seu entorno foi construído por JK, que aliás tinha olhos puxados, olha só que coisa premonitória, ele, o presidente futurista, que fez cinquenta anos em cinco! Aposto também que os chineses, administrando o Brasil, não iam deixar o agrotoxiconegócio acabar de destruir a Amazônia e provavelmente a recuperariam, assim como o Cerrado e o Pantanal, o que não dizer da Caatinga e da Mata Atlântica, como estão fazendo com desertos na China. Enfim, para a Terra seria um negócio de valor ambiental extraordinário e para nós não pioraria nada, quer dizer, melhoraria, porque eles não iam tolerar o crime organizado tomando conta das favelas e do Planalto, como acontece hoje -- dizem que na China a polícia não usa arma e que ninguém teme andar na rua de madrugada. Dizem também que os chineses trabalham demais, mas e os brasileiros? Os jovens trabalhadores de hoje não têm mais jornada de oito horas nem descanso semanal nem férias remuneradas nem previdência social. Os direitos trabalhistas acabaram todos sob os governos de temer, o minúsculo, e bozo, o bobalhão genocida, e o grande líder dos trabalhadores que veio depois não os restaurou. Teve uma época que eu achava que a saída era transformar o Brasil num estacionamento para os carros americanos, mas hoje me parece que virar colônia da China é um futuro muito mais auspicioso. A PPPI já tem até slogan pronto: Brasil colônia, um negócio da China.  

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Clima e justiça intergeracional

"Justiça intergeracional." É justo o termo, sem trocadilho, e óbvio: a geração que manda no mundo hoje está condenando seus filhos e netos a viver num mundo em que não terão o que ela teve, porque estamos destruindo a Terra. O que me chama atenção, porém, mas uma vez, é a nossa capacidade de conversar fiado enquanto o mundo pega fogo. O que eu acrescentaria à explicação abaixo é: inclusive essa. Quer dizer: essa escolha de produzir textos acadêmicos em vez de agir. "Agir", para mim, é uma coisa muito simples que partidos, movimentos sociais, instituições científicas e de comunicação etc. e seus integrantes não fazem: se unirem num movimento mundial e forte para pôr fim ao capitalismo destruidor e começar uma nova civilização baseada na igualdade entre os humanos e no convívio em equilíbrio com a Natureza. Não será fácil, mas não é esse o problema, o problema é que não existe sequer a iniciativa determinada de fazer isso. A academia pretensiosa e a imprensa cínica brincam de formar a consciência do caos. 

Esta publicação de certa forma se soma à anterior. Tudo é entretenimento no mundo absurdo do capitalismo medieval. Milhares de intelectuais e cientistas se dedicam a "trabalhar" e ganhar dinheiro público para produzir textos e pesquisas sobre o sexo dos anjos, o que significa narrar o que todos sabemos que está acontecendo e não fazer nada para mudar. Um comunista famoso do século XIX escreveu uma vez alguma coisa parecia com "os filósofos até hoje se dedicaram a interpretar o mundo, mas o que importa é transformá-lo", posição correta, embora pretensiosa, como a obra em geral daquele filósofo alemão, porque, de fato, filósofos foram também, digamos, "ativistas" e essa coisa de mudar o mundo é uma coisa dos séculos XIX e XX, fruto dessa ideologia comunista europeia, ao passo que civilizações antigas de outras partes do planeta viveram com muito mais sabedoria e muito menos pretensão, inclusive aqui neste continente denominado externamente pelo colonizador de "América". 

Do Nexo. Clique aqui para ler a íntegra. 

Clima e justiça intergeracional
Fillipi Nascimento 28 de Agosto de 2025 (atualizado 28/8/2025 às 17h52)
Parceiro Neri/Insper

A justiça intergeracional implica reconhecer que as escolhas feitas hoje podem impor custos desproporcionais a quem ainda não nasceu, tanto no acesso a recursos como na capacidade de enfrentar crises ambientais. Entenda noções centrais deste debate

Justiça intergeracional

A obrigação das gerações atuais de agir de forma a preservar as condições ambientais, sociais e econômicas necessárias para que as futuras tenham oportunidades equivalentes ou melhores de desenvolvimento e bem-estar. No campo climático, significa tomar decisões que limitem impactos irreversíveis, reduzam riscos e mantenham a integridade dos ecossistemas. Esse princípio exige políticas de longo prazo, que ultrapassem ciclos eleitorais e interesses imediatos, integrando ciência, planejamento e participação social. 

A justiça intergeracional também implica reconhecer que as escolhas feitas hoje podem impor custos desproporcionais a quem ainda não nasceu, tanto no acesso a recursos como na capacidade de enfrentar crises ambientais. Trata-se, portanto, de um compromisso ético e político com a continuidade da vida em condições dignas, sustentado por princípios de equidade e responsabilidade compartilhada no tempo.

As discussões medievais dos economistas

Uma civilização em que militares e economistas são importantes não pode ser levada a sério. Economistas são pensadores medievais, ficam discutindo seriamente, em detalhes e correntes divergentes os assuntos mais idiotas possíveis, todos eles remunerados com dinheiro público das universidades, ao mesmo tempo que, por fora, fundam bancos ou trabalham para capitalistas, sempre ganhando muito dinheiro. Dá para levar a sério? E no entanto, gozam de alto prestígio, mandam nos governos e os políticos os obedecem, os jornalistas reproduzem (tentando compreender -- e aí surgiu outra categoria correlata igualmente inútil, os analistas de economia) tudo que dizem. E tudo que dizem ou é estúpido ou é óbvio. Não sabem nem escrever, cometem erros elementares de português, como se vê no título original do vídeo, um exemplo desse tipo de discussão prestigiosa, que, por ser de difícil compreensão, assim como eram as discussões sobre o sexo dos anjos na Idade Média, a plateia acha que é científica e inteligente. Inúteis. A vida é outra coisa. Assim como os banqueiros, provavelmente nenhum deles jamais trabalhou: como podem entender o que é "economia"? Quando dizem alguma coisa importante, qualquer dona de casa já sabe e explica melhor. 

domingo, 9 de novembro de 2025

Música do dia: Eu sou como você é, Lô Borges

Homenagem póstuma tardia ao Lô Borges. Não publiquei nada sobre ele nesses sete dias desde sua morte porque não cultuo Lô nem o Clube da Esquina. Clube da Esquina, pra mim, é o álbum, uma obra-prima como o Abbey Road, uma conjunção perfeita de astros, em que tudo deu certo, começando pela criatividade potencial de cada um e pelo encontro que cria outra coisa maior ainda. Imagina um disco que, além de tudo, tem arranjos de Eumir Also sprach Zarathustra Deodato. Um dos melhores de todos os tempos. Depois do Clube da Esquina, Milton foi cada vez mais um músico do topo e gravou coisas muito boas, mas nada se equipara àquele álbum, assim como os demais integrantes, dos quais, para mim, o talento mais brilhante e constante foi (é) Toninho Horta. Hoje, porém comecei a cantar "Meu irmão eu sou como você é" e lembrei do Lô, que, para continuar nas comparações, é, para mim, uma espécie de Rimbaud belo-horizontino, brilhou intensamente muito jovem e eclipsou. Não precisava fazer mais nada para entrar para a história além das canções do Clube e desse álbum estranho, irregular, gravado às pressas para atender a gravadora, sem nome, famoso como "o disco do tênis", uma obra de arte já na capa, assim como o Clube da Esquina, fotos do Cafi, ambos lançados no ano emblemático de 1972, marcantes na minha vida, ano e discos. Naquele ano, as canções do "disco do tênis", assim como o Clube da Esquina, tocavam direto na alma. Gosto do disco como um todo, de algumas canções em especial: Como o machado, Faça seu jogo, O caçador, Homem da rua, Aos barões, e continuo achando esta a melhor de todas. 

sábado, 8 de novembro de 2025

Música do dia (3): Borzeguim, Tom Jobim

E na sequência vem ainda essa. "Deixa o índio vivo na floresta... Dizem que o sertão vai virar mar, dizem que o mar vai virar sertão..." Parece que o computador também lê o ambiente.

Música do dia (2): Saudade da Bahia, Caymmi e Tom

A propósito. Sinto saudade da chuva em Itacaré, há um ano, e toca essa música na minha lista aleatória de maravilhas do Tom...

Música do dia: Agua de beber, Tom Jobim

Com a letra soberba do Vinicius.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Entretenimento, é disso que o capitalismo vive

Entretenimento é um dos nomes do capitalismo. Youtube não é outra coisa, inclusive em podcasts sérios, políticos, de informação. Informação é entretenimento. No YT e nas demais redes sociais. Depois de muito ver influenciadores políticos, gente bem informada, com posições respeitáveis, fico me perguntando se de fato são influenciadores políticos ou o que antigamente, na televisão, era chamado de showman. Cito Jones Manoel, que é talvez o mais consequente de todos, militante do PCBR, com participação em protestos e manifestações, posicionamento claro nas questões nacionais e internacionais, que demonstra boa formação e muita leitura. Que papel pode ele desempenhar numa revolução brasileira? Será mesmo capaz de liderar? A revolução não será feita por trabalhadores organizados, a partir dos locais de trabalho e espaços públicos? Será que a influência via redes sociais substitui as organizações reais dos trabalhadores, do povo ou será só mais uma forma de entretenimento? A quantidade de gente que tem ocupada em entretenimento deve ser maior do que trabalhando em atividades produtivas. Todo mundo quer se distrair da realidade e grande parte quer ganhar dinheiro distraindo os outros. Entretenimento não é trabalho, trabalho é atividade produtiva, que atende uma necessidade, entretenimento é feito para ganhar dinheiro, é parte da dinâmica capitalista. Trabalhadores que se mobilizam e organizam para reivindicar, protestar ou, quem sabe, mudar a ordem social o fazem por necessidade, não para serem "monetizados". Influenciadores são parte do espetáculo capitalista. Tudo gira em torno do dinheiro, é claro, nisso e em qualquer coisa. Porta dos Fundos diversifica e tem o seu programa de auditório. 

Aldo Rebelo no podcast 3 Irmãos

Aldo Rebelo é um político de opiniões próprias, fortes e corajosas. Foi num programa da extrema direita, que queria seu apoio para o impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes e outras bandeiras antidemocráticas, golpistas e pró-intervenção americana no Brasil, discordou, e criticou os que ficam atacando o Brasil protegidos nos EUA, defendeu a soberania nacional, argumentou que para melhorar o STF há caminhos constitucionais. O apresentador, que disse ser daqui de Lagoa Santa (MG), ficou abobalhando, se perdeu e perdeu a compostura com seu convidado, ofendeu-o e recebeu resposta à altura. Vale a pena ver, quem quiser constatar a coerência do Aldo Rebelo, que no podcast abaixo defende a curiosa tese de que o principal problema do Brasil são as ongs, o Ibama, o Ministério Público e os ambientalistas. Ataca até mesmo a plataforma Sumaúma, exemplo de jornalismo contemporâneo. Discordo radicalmente do Aldo Rebelo, porque vejo nele uma mentalidade do século XX, ele defende o modelo desenvolvimentista que o Brasil abandonou há cinquenta anos e ignora o colapso ambiental da Terra, mas admiro seu conhecimento amplo do país, sua coerência e sua coragem. O podcast é fraco para apertar o entrevistado, mas é bom para conhecer suas ideias. Será Aldo Rebelo um negacionista do colapso do clima? Não dá pra saber.  

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Meio século de dilemas da esquerda democratista dita revolucionária

As discussões da esquerda de meio século atrás continuam na ordem do dia, ou voltaram a ela. Em meados dos anos 1970, depois que a luta armada foi derrotada pela ditadura militar, o que restou da esquerda revolucionária, isto é, aqueles que não foram assassinados, presos ou exilados, passaaram a avaliar seus erros e discutir com atuar dali pra frente. Havia muitas divergências, a esquerda autoproclamada marxista-leninista se dividia em inúmeras organizações clandestinas, mas todas concordavam em duas coisas: a afirmação da revolução socialista e a avaliação de que a luta armada tinha sido um erro. O que fazer numa conjuntura em que a esquerda, que até 1968 demonstrara força impressionante, apesar da ditadura, a ponto de tentar derrubar o governo, estava agora muito enfraquecida, tinha sido golpeada quase mortalmente? Esta era a questão. 

Lembremos: as lideranças trabalhistas, que estavam no poder até 1º de abril de 1964, e seus apoiadores comunistas, do PCB, o "partidão", ou seja, a esquerda reformista, tinham foram mortos, presos ou exilados na primeira hora, portanto uma década antes; a esquerda revolucionária, que foi a parte que radicalizou entre 1964 e 1968, rompendo com os reformistas, e que liderou um movimento de massas principalmente estudantil, que fez greves e manifestações de massa nas ruas, também foi dizimada após o AI-5, pela ditadura total. 

Enquanto isso, a ditadura militar dominava o país com censura à imprensa e às artes, controle dos sindicatos e da política convencional, na qual só dois partidos eram tolerados, a Arena, partido do governo, e o MDB, partido pretensamente da oposição. A máquina repressiva do governo funcionava a todo vapor, também clandestinamente, fora do controle até mesmo do general presidente, perseguindo, prendendo, torturando, matando, desaparecendo com corpos e o que mais fosse necessário para eliminar fisicamente toda e qualquer oposição. 

Era nessas condições extremamente adversas, traumáticas, obscurantistas que a esquerda revolucionária sobrevivente e clandestina atuava, isto é, pensava, discutia, fazia autocrítica da atuação anterior e elaborava suas novas formas de atuação. Sob risco permanente de ser descoberta, presa, torturada, morta e desaparecer, como continuava acontecendo. De tempos em tempos, a repressão da ditadura fazia novas prisões e eliminava "comunistas" -- o caso mais lembrado é o da emboscada que fuzilou o célebre Carlos Marighela, mas há inúmeros outros. 

O fato que eu quero ressaltar é que, nessas condições extremamente frágeis, a esquerda revolucionária brasileira optou majoritariamente por um programa político, sintetizado no lema "Pelas liberdades democráticas", que defendeu a aliança com todos os setores burgueses que se opunham à ditadura militar com o objetivo de alcançar a volta da democracia burguesa. E foi o que veio. 

Desse ponto de vista, a esquerda revolucionária foi bem-sucedida; até mesmo uma ala dos militares, liderada pelo general presidente Geisel, pelo general Golberi e pelo general presidente Figueiredo, hegemônica, passou a defender a volta da democracia e tomou uma série de medidas nesse rumo: suspensão da censura à imprensa, anistia, liberdade partidária, eleição direta de governadores e outras, de forma que ainda sob o último governo militar parecia que o Brasil era novamente uma democracia burguesa, condição que ele proclamava. 

Faltava só eleger o presidente pelo voto direto. E nisso a ditadura militar não transigiu, apesar da campanha popular Diretas Já!, a maior da história do país, e impediu a aprovação pelo Congresso da emenda constitucional com esse teor, de forma que tivemos de esperar mais um governo não eleito pelo povo depois do último presidente militar. Certamente, a ditadura não queria correr o risco de ver eleito Brizola ou outro líder de esquerda e a volta do reformismo, com um acerto de contas com os militares. 

Se a gente pode dizer que foi vitoriosa a bandeira das liberdades democráticas levantada pelo esquerda revolucionária nos anos 70 para unir todos os setores oposicionistas e derrubar a ditadura, com mais certeza se pode afirmar que o projeto dos militares de devolverem o poder aos civis foi plenamente exitoso. A eleição direta do primeiro presidente adiada para 1989, portanto 25 anos depois do começo da ditadura militar (incluídas aí a presidência do Sarney e a eleição do Collor, dois filhotes da ditadura), foi só o êxito final, mas não foi o único nem o principal. Com a anistia, os militares garantiram que seus crimes não seriam punidos; com a entrega da legenda do PTB para uma aliada, garantiram que Brizola não reacendesse a chama do trabalhismo forte e ascendente entre 1945 e 1964; com a liberdade partidária, dividiram o MDB, que vinha se tornando de fato oposicionista. 

Política é isso mesmo, um jogo de xadrez, um jogo de movimentação de peças e ocupação de espaços, de vitórias e derrotas. O que eu quero ressaltar é o significado do aparente sucesso da bandeira das liberdades democráticas levantada pela esquerda revolucionária. Dos militares redemocratizantes às organizações marxistas-leninistas, todos estavam disputando espaço, ou, como se diz, a hegemonia no que viria a ser novo regime civil pós-ditadura. E a esquerda dita revolucionária renunciou ao horizonte revolucionário. 

Em nenhum momento desde então, e já se vão quase cinquenta anos, a esquerda revolucionária brasileira sobrevivente da ditadura militar, cuja obra mais expressiva foi o PT, colocou a conquista do socialismo como objetivo posterior e superior à conquista da democracia burguesa. A revolução, o socialismo, a superação do capitalismo e da democracia burguesa foram completamente abandonados. Com o passar do tempo -- e das eleições burguesas -- o objetivo da esquerda marxista-leninista foi se transformando na eleição do Lula presidente, e depois que esse objetivo foi alcançado, na sua reeleição, na eleição e reeleição da sua escolhida, na sua nova eleição, e novamente e mais uma vez, no ano que vem. 

A esquerda marxista-leninista foi fagocitada pelo PT, que se transformou no partido da ordem burguesa, partido no poder em praticamente todo o século XXI, de tal forma que o partido e os políticos que contestam a ordem são da extrema direita. Era isso mesmo que ela pretendia? Ser o partido da ordem burguesa? Ou as "liberdades democráticas" eram só uma bandeira tática para unir a oposição e derrubar a ditadura? 

O fato é que, depois de derrubada a ditadura e alcançada a democracia burguesa, o Brasil não deu nem um passo além para a esquerda. O ápice foi a Constituição de 1988, cuja regulamentação ficou pendente, incapaz de afirmar importantes avanços sociais, permanentemente dependente das decisões do STF, um tribunal claramente político, marcado por decisões questionáveis, por avanços e retrocessos e que hoje se posiciona à esquerda do governo, tanto este se encaminhou para a direita. A conquista das "liberdades democráticas" não foi, definitivamente, um meio para se alcançar a revolução e o socialismo, objetivo da esquerda marxista-leninista completamente abandonado. 

O vídeo abaixo suscita a mesma questão de outra forma: em nome da revolução, deve-se abandonar então a luta por objetivos imediatos? É evidente que não, mas, como disse, a esquerda só tem objetivos imediatos, não tem um objetivo final, abandonou o socialismo e a revolução. O governo petista -- melhor dizendo lulista, ou lulopetista -- sequer é reformista, nem o atual nem os anteriores. Os governos lulupetistas estão muito à direita do que foram os governos trabalhistas pré-64. 

Em resumo, falta à esquerda marxista-leninista ser marxista-leninista, falta à esquerda revolucionária almejar a revolução, falta à esquerda brasileira ser de fato esquerda. Falta ao Brasil um partido com um programa de esquerda, com militância, propaganda e ações de esquerda, que participe da vida política burguesa afirmando sempre que seu objetivo é o socialismo e apontando as bandeiras concretas que defende para atingir esse objetivo. Mais ou menos um partido que diga assim ao povo: nós vamos fazer isso e isso e isso, se chegarmos ao poder, vamos implantar o socialismo, vamos fazer uma revolução, é só você me dar a chance. Não existe isso no Brasil. Os grupos de esquerda ditos revolucionários que ainda existem são inexpressivos, sectários e incompetentes, seus projetos não são factíveis e sequer chegam aos trabalhadores ou são compreendidos por eles. A impressão que eu tenho é que a esquerda brasileira dita revolucionária não tem a menor ideia do que fazer realmente para conquistar o poder e transformar o Brasil numa nação socialista. 


Qual o programa da revolução brasileira? Programa 20 minutos, com Breno Altman e Nildo Ouriques. 

domingo, 2 de novembro de 2025

Uma aula de história da Venezuela, da colônia até hoje

O brilhante jornalista Breno Altman, que já nos deus aulas sobre a história do sionismo, do Estado de Israel e do genocídio dos palestinos (sempre é importante lembrar que ele é judeu), nos dá agora uma aula detalhada da história da Venezuela, chegando ao chavismo e à situação atual, que acompanha de perto desde 1984. Vale a pena ouvir. Conhecer história muda a ideologia. 

Breno Altaman - A história da Venezuela - podcast 3 Irmãos #857

sábado, 1 de novembro de 2025

Além de data centers, Lula negocia entregar terras raras

Mais entreguismo e mais destruição ambiental. A simpatia do presidente americano pelo presidente brasileiro não é à toa. Com um governo "de esquerda" bom assim, pra que extrema direita? Conforme lembra Jones Manoel, o governo FHC equiparou empresas estrangeiras a empresas nacionais e em cinco governos o PT ainda não quis mudar isso. Assim como manteve a política econômica do tucano e não revogou a desregulamentação do trabalho feita por temer e bozo. 

Trump, Lula e o interesse nas terras raras

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Esquerda socialista em Nova York e exploração de petróleo no Amazonas

Eles não são burros nem ignorantes, ao contrário. Além de ricos e membros da elite econômica e cultural do país (uma, mais uma vez, está nos EUA, o outro está sempre viajando para Portugal e pelo Brasil afora), estão a par de tudo, leem e falam em vários idiomas, conhecem a fundo assuntos que eu não domino. É por isso mesmo que fico admirado da limitação da sua percepção da realidade. Desconfio que é porque, para a elite, ainda está bom, porque desfrutam do fim do mundo. Fico pensando quanto tempo vai levar para que compreendam que o governo lulopetista é e sempre foi um governo neoliberal que engana o povo para governar para o capital. Eles mesmos, há uma semana, revelaram que o acordo entre Lula e Trump passa por instalar no Brasil, com grandes incentivos fiscais e prejuízos ambientais terríveis, data centers americanos. Realizar os desejos de, digamos, um Brasil melhor, para não dizer um mundo melhor, exige políticos e partidos muito melhores, uma nova força política, que eles poderiam ajudar a construir, se não ficassem no seu míope lulopetismo. 

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Música do dia: I just called to say I love you, Stevie Wonder

Já fui assim, já fiz isso, inclusive escrevi versos, claro que não tão bonitos. Nenhum motivo especial, apesar dizer que te amo, impulso, amor. Uma vez presenteei com uma orquídea, outra capturei o perfume da jabuticabeira em flor. Quando jovem, liguei, não disse nada, pus uma música para tocar. Por que o mundo não pode ser assim, movido a amor? Não é, comigo não deu certo. E no entanto é capaz de produzir coisas belas assim, que o dinheiro e o poder não fazem. 

sábado, 25 de outubro de 2025

Música do dia: Desalento, Chico e Vinicius

Vinicius de Moraes era o rei do piropo, segundo Chico, um poeta genial, para o meu gosto o melhor. E poesia encaixada na música, transformando em grande arte palavras banais, como neste sublime Desalento: "Sim, vai e diz, diz assim, que eu chorei, que eu morri... de arrependimento". Sugerir uma coisa e dizer outra é uma capacidade de mestres. E repete a manha: "diz que eu estive por pouco, diz a ela que estou louco... pra perdoar". O mais bonito, porém vem em seguida: "que seja lá como for, por amor, por favor... é pra ela voltar". E vai assim, com ideias preciosas e rimas precisas, até o fim. Vinicius era mesmo o rei do piropo. 

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

ONU: Brasil é responsável por 71% da destruição de florestas do mundo

Curiosa a forma da Revista Fórum dar essa notícia: o país do título é o Brasil. Talvez seja por que a revista é lulista, estamos às vésperas da COP30, em Belém, e a barra do governo brasileiro já está muito suja, com a licença para pesquisa de petróleo na foz do Amazonas, que tira qualquer moral do país para ser liderança mundial na defesa do ambiente, como pretende e proclama o presidente Lula. Obviamente, se o Brasil vai produzir mais petróleo, não vai reduzir o consumo e as emissões, assim como, se é líder em desmatamento, este não está sendo contido. Há uma terceira péssima notícia nesse quadro que mostra como Brasil se tornou um imenso latifúndio exportador de produtos primários às custas da devastação ambiental: Lula negocia a instalação de data centers americanos com incentivos fiscais e gigantescos consumos de água e energia. Com um governo assim, pra que o capital precisa do bozo? 

Revista Fórum 

Um único país é responsável por 70% da destruição de florestas no mundo, de acordo com a ONU

O país que concentra boa parte da maior floresta tropical do planeta também é responsável pela maior taxa de destruição líquida de florestas, diz relatório da FAO
Por Anne Silva 
Meio ambiente e sustentabilidade 22/10/2025 · 10:21

Dados divulgados pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) nesta segunda-feira (20/10/25), combinados com plataformas de monitoramento terrestre, mostram que, entre 2015 e 2025, o Brasil foi responsável pela maior parte da perda líquida de florestas do planeta.

Foram cerca de 2,94 milhões de hectares de florestas perdidos por ano, enquanto o número global é de 4,12 milhões de hectares anuais. A parcela brasileira do desmatamento corresponde, portanto, a mais de 70% da perda total.

De acordo com o relatório Global Forest Resources Assessment (FRA 2025), a taxa anual da perda líquida de florestas caiu no mundo inteiro em relação às décadas anteriores — passou de cerca de 10,7 milhões de hectares/ano nos anos 1990 para 4,12 milhões de hectares/ano no período 2015 a 2025.

“As florestas plantadas representam cerca de 8% da área florestal total, cobrindo cerca de 312 milhões de hectares”, informa a FAO. “Sua área aumentou em todas as regiões desde 1990, mas globalmente a um ritmo mais lento na última década.” 

Clique aqui para ler a íntegra. 

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Olho para a China e penso no Brasil

Quanto mais me informo sobre a China, mais me convenço de que é um exemplo de racionalidade, planejamento e estabilidade para o mundo que caminha para seu fim. Ciro Gomes, ao contrário, é o retrato da falta de rumo do Brasil. De longe, ele é o melhor político brasileiro em meio século, isto é, desde que os civis assumiram o poder, com liberdades, eleições periódicas, Constituição etc., enfim a tal democracia pela qual lutamos contra a ditadura militar (1964-1985). Não vou entrar em detalhes sobre ele: acompanho-o desde que li seu primeiro livro, publicado em 1996, e já escrevi diversas vezes a respeito dele. No entanto, sua trajetória foi totalmente equivocada. Ele agora volta ao PSDB, partido do qual talvez nunca devesse ter saído. Saiu por quê? Porque divergiu da linha neoliberal adotada a partir do governo FHC. E ficou trocando de partidos, por fim se fixou no PDT, do qual saiu agora, para voltar ao PSDB e provavelmente se candidatar ao governo do Ceará, ou seja, ao ponto culminante da sua meteórica trajetória, cujo passo seguinte deveria ser a Presidência da República. Os partidos brasileiros não são democráticos, eles têm donos. Por que Ciro não foi presidente? Porque no meio do caminho tinha Lula, o eterno. Se a política brasileira fosse como era a americana antes do Trump, Lula iria embora em 2010 e o caminho do Ciro e dos demais políticos ficaria livre, não teríamos Dilma, incapaz de ser eleita por conta própria, haveria alternância no poder, mas o Brasil não é os EUA antes do Trump e agora se tornou até melhor, mas também está longe de ser uma democracia como desejávamos há meio século. Não só pelo modelo político corrupto e antipopular que se instalou, mas principalmente pelos indicadores sociais. A China mostra o que a democracia e os civis poderiam ter feito pelos brasileiros nesse período. Em vez da realização dos sonhos, o que tivemos foi uma volta acelerada à condição de exportadores de matérias-primas à custa da devastação ambiental e agora prestes a destruir a Amazônia, com todas as consequências para o clima da Terra que isso significa. Agora mesmo estamos prestes a ceder terra, água e energia de graça para instalação de uma das maiores pragas modernas, os data centers. A desigualdade social se aprofundou, com violência, miséria, desregulamentação das relações de trabalho. Tudo patrocinado por quem? Pelo partido que nasceu para representar os trabalhadores, pelos governos do ex-operário que seria a redenção dos trabalhadores, mas infelizmente seguiu a cartilha neoliberal, governou e governa ainda para o sistema financeiro, para o agrotoxiconegócio, para os industriais, para os grandes comerciantes, para o capital e para as castas. Ciro poderia ter sido uma alternativa à política do FHC e do Lula, mas ficou pulando de galho em galho, em vez de fazer a única coisa certa que Lula fez: construir um partido para dar sustentação ao seu projeto de poder. Sou defensor da alternância no poder como característica de afirmação democrática, não gostaria que Ciro se tornasse outro Lula, mas certamente seria melhor experimentar seu projeto de desenvolvimento nacional e, no mínimo, que ele revezasse com o petista no poder. Teríamos alguma comparação. Cada vez tenho mais convicção, assim como tenho sobre a China, que o maior político brasileiro de todos os tempos, por sua incrível e única trajetória e por sua capacidade maquiavélica, no sentido exato do termo, de se manter no poder, foi a arma mais eficiente que o capital poderia usar para manter a dominação sobre o povo: um legítimo operário apoiado por um partido dos trabalhadores. Nenhuma força política de esquerda floresceu sob Lula, todas que tentaram foram liquidadas, Ciro inclusive. O poder do Lula só vai acabar quando ele morrer ou perder uma eleição -- a segunda alternativa é duvidosa no ano que vem, se isso acontecer, certamente será para um candidato à sua direita, e a primeira eu espero sinceramente que ainda demore, que ele viva tanto quanto FHC e Sarney. O fato é que, depois de todo o desgaste provocado pelos governos peseudoesquerdistas da Era Lula, a esquerda brasileira provavelmente vai levar muito tempo para se recuperar e voltar ao poder. Certamente não será com o Ciro, que está próximo dos setenta anos e já teve dias melhores.  

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

A China no topo

Mais um a enaltecer a ascensão da China, dessa vez baseando-se na teoria do economista e cientista político austríaco Joseph Schumpeter. Me parece que a China é daqueles casos de realidades que a gente não vê porque não quer, porque é evidente. O que significa? Uma alternativa de rumo para a humanidade, socialista, um socialismo muito diferente do que os idealistas imaginam e do que foi a URSS. Seu planejamento não é só econômico, a China preparou-se inclusive para a volta do Trump e enfrentar as sanções comerciais que estão em curso.  

Xi Jinping e o fim do capitalismo liberal: o socialismo schumpeteriano da China.  

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Data center: a negociação secreta do Lula com Trump

O grande líder neoliberal brasileiro está entregando terras, água e energia e renúncia fiscal para big techs americanas se instalarem no Brasil, em troca da revogação do tarifaço. Já está no Congresso. Por isso Trump disse que "pintou um clima (com Lula)". Poderia dizer que pintou um agravamento das mudanças climáticas, que as populações locais vão sofrer ainda mais com falta de água, secas etc. 

PS: o podcast toca no assunto sobre o qual publiquei esta manhã, sobre o vício do celular, e cita uma fala interessante do Lula sobre isso. Lula fala contra o celular e, secretamente, negocia a instalação de data center com incentivos fiscais, oferecendo terra, água e energia abundantes de graça.  

Calma Urgente! O sonho do colonialismo digital

Neonazistas ameaçam de morte Jones Manoel, governo ignora

Autoridades vão esperar um novo caso Marielle

Declaração pública sobre as ameaças de m0rt#

Roda Viva entrevista Carlos Nobre, 13/10/2025

Que o fim está próximo, os cientistas não se cansam de nos avisar, mas quem liga?

A esquerda é de elite

De fato, reconhecer isso é um ponto de partida para a esquerda. 

 

Testemunha do fim do mundo

Sinto que tenho o privilégio de fazer parte das gerações humanas que vão presenciar o fim do mundo. Testemunhei em sete décadas tantos acontecimentos tão graves e tantas mudanças tão grandes que parecem inacreditáveis. As pessoas vivem como se não vissem o que está acontecendo. São incapazes de tomar atitudes para evitar o que está acontecendo. São incapazes de reagir e mudar as suas próprias vidas.

A mudança mais impressionante na contemporaneidade é o celular. Crianças e jovens não conseguem imaginar um mundo sem celular. No entanto, há pouco mais de três décadas nós vivíamos sem celular, sem internet, sem computador. Apareceu o computador, apareceu a internet, apareceu o celular, ficamos todos deslumbrados, mas nós, pessoas comuns, consumidores, gente pobre, simples e ignorante de um país da periferia do capitalismo terráqueo, não podíamos imaginar que as três invenções se juntariam numa só, que todos nós teríamos acesso a essa riqueza prodigiosa, muito menos imaginar o principal: que nos tornaríamos todos dependentes dela, adoradores dela, que nossa vida se tornaria impossível sem ela. (É claro que havia sim uma pequena elite com conhecimentos científicos e tecnológicos e capital abundante pensando e preparando o que estava por vir, uma elite que hoje domina o mundo.)

Olho à minha volta em todos os lugares e o que vejo são pessoas olhando para seu celular, segurando seu celular, digitando no seu celular, falando no seu celular, escutando seu celular. Raramente encontro, em qualquer lugar, alguém que não tenha um celular na mão ou no bolso, que não esteja lhe dando mais atenção do que dá ao que está à sua volta. As relações entre os indivíduos hoje são intermediadas pelo celular. Tudo que fazemos passa por ele, não ficamos uma hora sem olhar para ele, sem pegá-lo, sem usá-lo. Todas as nossas atividades e todas as nossas relações sociais agora passam pelo celular. Sem ele, o mundo para.

Nem todo mundo tem casa – o fenômeno dos moradores de rua é espantosamente crescente e não se limita às miseráveis cidades brasileiras, atinge as nações mais ricas. Nem todo mundo carro – embora existam muito mais do que é razoável e, aparentemente, pela quantidade no trânsito, todo mundo tem moto, embora transportes coletivos de qualidade sejam a solução lógica para o deslocamento moderno; nisso também a China é um exemplo para o mundo. Nem todo mundo tem esgoto, luz, água encanada, emprego, comida, família, mas todo mundo tem celular. Um bem que há algumas décadas apenas sequer existia tornou-se mais necessário do que uma boa roupa ou um bom sapato. Sim, porque às vezes o indivíduo veste-se e se calça mal, mas o celular é de última geração. Ao contrário de tudo mais que os seres humanos consomem e que os diferencia entre ricos, pobres e riquíssimos, entre miseráveis e milionários, o celular precisa ser novo, moderníssimo, para funcionar adequadamente e oferecer os benefícios que as pessoas buscam nele, de forma que, como num passe de mágica, todos conseguem ter um celular de último modelo ou, no máximo, de penúltimo, herdado de quem comprou um mais moderno. Além do que, eles logo se tornam obsoletos, são programados para durar pouco e nenhum vai durar tanto quanto, digamos, um antigo telefone fixo, que era o mesmo durante décadas…

Há apenas três décadas, num tempo que costumamos contar em três milênios ou até bem mais, sete, dez, considerando as civilizações antigas do Oriente, o celular inexistia e hoje ninguém vive sem ele, todos dependemos dele e cada vez mais, ele é a coisa mais importante da nossa vida. Mais importante que uma filha, um filho, uma mãe, um pai, um irmão, uma irmã, um avô, uma avó, um neto, uma neta, um primo, uma prima, um amigo, uma amiga um vizinho, uma vizinha, um empregado, uma empregada, um colega, uma colega, considerando o critério da atenção que dispensamos diariamente a qualquer um desses seres humanos e ao celular. O nosso celular é o ente mais querido das nossas vidas, pelo critério do tempo e da atenção que dedicamos.

Acho que isso é horrível para o que de melhor ainda existe em nós, humanos, Homo sapiens, nesses tempos terríveis em que vivemos, nesse fim do mundo, como disse no começo, mas, também como disse no começo, penso que não vai mudar, porque as pessoas não reagem diante dos acontecimentos que parecem estar muito além das suas forças, acham que é assim mesmo, que está certo, que aqueles que detêm o poder vão agir, se for preciso, que existem pessoas que detêm o poder, que existe Deus e que ele é onipotente, governa tudo, se for para mudar, ele vai dar um jeito, e se for o fim do mundo, é porque tem que ser.

A adesão das pessoas à ideologia dominante é uma coisa que me impressiona muito. Não tanto pela nossa incapacidade de agir coletivamente, coisa que se tornou comum nesse tempo de “empreendedores”, de destruição dos sindicatos, de aparelhamento dos partidos políticos por grupos religiosos, associações criminosas e espertalhões, de indivíduos conectados a celulares, mas pela incapacidade dos indivíduos de mudarem a sua própria vida particular.

Nesse nosso mundo em que todos buscam o sucesso individual, poucos são aqueles que conseguem distinguir seus próprios interesses pessoais dos interesses da manada, dos interesses que a ideologia dominante dissemina via celulares, redes sociais, aplicativos etc., pouquíssimos são aqueles que estão pensando com sua própria cabeça e conduzindo sua vida para um futuro possível melhor.

Não um futuro imediato, de bens, luxos e prazeres perecíveis, que precisam ser sempre superados e trocados por outros melhores, não esse futuro imediatíssimo de realizações ilusórias, que desmorona diante de uma crise econômica, de uma pandemia, de uma catástrofe climática, mas um futuro sólido, baseado em relações humanas amorosas e na vida na Natureza da qual temos de cuidar.

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

A cruzada de Haddad contra a saúde e a educação

Militares fora do teto de gastos, povo dentro, é claro.  

A cruzada de Haddad contra a Saúde e Educação

Dispositivos do Arcabouço Fiscal do ministro estão produzindo caos no Orçamento público. Ele teima em mantê-los – e quer alterar a Constituição, removendo conquistas históricas da sociedade. Pode estar em jogo a sorte do governo Lula 
OutrasPalavras, Crise Brasileira

Por Antonio Martins

Publicado em 10/4/2024 às 19:21 - Atualizado 11/6/2024 às 18:31 

I.

O investimento público do Brasil em Saúde precisa crescer muito, mostrou na semana passada um vasto estudo coordenado pelo IBGE com base no Sistema de Contas Nacionais. Esta necessidade salta aos olhos em dois gráficos. Embora o país conte com um sistema público de saúde de acesso universal – o SUS –, o percentual do PIB investido pelo Estado na atividade é raquítico: 4%, contra 11,1% na Alemanha, 10,4% na França, 10,3% no Reino Unido, 7,1% na Colômbia e 5,9% no Chile. Em consequência, abre-se espaço para uma medicina de negócios desmesurada e custosíssima. Os gastos das famílias com Saúde equivalem a 5,7% do PIB – o triplo do percentual na França, por exemplo. Esta fatia não pára de crescer, como se vê abaixo. Agora, de cada R$ 1.000 em despesas com Saúde no Brasil, o poder público participa com apenas R$ 410; a população é obrigada a arcar com os R$ 590 restantes. Na Alemanha, ela limita-se a pagar R$ 150. Cálculos do economista Francisco Funcia vão além, e mostram que o Estado gasta com o SUS apenas R$ 4 por dia, por habitante. 

Os benefícios sociais e políticos que podem advir de um investimento público mais amplo em Saúde são evidentes e múltiplos. A grande maioria dos brasileiros, que recorre exclusivamente ao SUS, teria acesso rápido a consultas especializadas e exames – um dos gargalos do sistema. As Equipes de Saúde da Família, hoje sobrecarregadas, seriam estendidas a 100% da população. Crises sanitárias graves, como a que atinge os Yanomami, poderiam ser evitadas. Os hospitais públicos superariam dramas como os do Rio de Janeiro. E ao menos parte dos que se utilizam dos planos de saúde privados (51 milhões de pessoas, ou 25% da população), poderia deixá-los para trás, recuperando a fatia considerável do orçamento familiar que eles abocanham. Sucessivas pesquisas de opinião têm demonstrado que a Saúde é uma das preocupações centrais da opinião pública. Se o Estado oferecer serviços excelentes e gratuitos, neste aspecto crucial da vida, poderá começar a dissipar o (justo) ressentimento que leva parte da população a desejar o colapso da democracia. 

Leia a íntegra clicando aqui. 

Governo prepara prêmio para militares golpistas: vão ficar fora do teto de gastos

Não é o Congresso nem é o governo do bozo, é o governo Lula, muito mais eficiente em implantar o neoliberalismo, porque contra ele a esquerda não protesta e os sindicatos e movimentos sociais não vão às ruas. Teto de gastos só vale para gastos sociais, dinheiro para ricos e castas não tem limite. Todos sabemos, mas é preciso repetir, porque o discurso do governo e a "grande" imprensa escondem isso o tempo todo. A "responsabilidade fiscal" é só para despesas com o povo: saúde, educação, moradia, transporte, segurança, estradas etc. e, claro, meio ambiente. Dinheiro para banqueiros, industriais, agrotoxiconegociantes, castas do funcionalismo público e militares, isso sempre tem, fica de fora do teto, pode gastar quanto precisar. Tirando de onde? Do dinheiro do SUS, das escolas, do meio ambiente etc. É assim o Brasil há mais de vinte anos, em todo o século XXI. Entra governo e sai governo, FHC, Lula, Dilma, temer, bozo, Lula de novo. Todos seguem a mesma cartilha neoliberal, todos têm horror ao "déficit fiscal". Como também não se cansa de repetir o Kobori: as nações que mais crescem têm déficit fiscal. 

Militares ganham 30 bilhões por fora do novo teto de gastos. Jones Manoel.

Polícia paulista invade associação e destrói matéria-prima de medicamaentos

Da Mídia Ninja. 

domingo, 19 de outubro de 2025

Como o Estado brasileiro pratica o genocídio do povo Guarani Kaiowá

O Brasil tem sua própria Faixa de Gaza: o Estado fazendeiro latifundiário de exportação, o agrotoxiconegócio, extermina o povo Guarani Kaioiwá há décadas, sistematicamente, usando seu exército, amplo e bem armado, com apoio da polícia, da justiça e dos governos e cumplicidade da sociedade brasileira. É um genocídio contra o qual a esquerda que protesta -- justamente -- contra o genocídio do povo palestino pode agir também, mas não age, e o presidente Lula tem poder e obrigação legal de interromper, mas não interrompe. A imprensa pouco fala do assunto. Quem procura se informar, fica estarrecido com a miséria em que vivem os guaranis kaiowás e a violência praticada diariamente contra os ocupantes originários da terra grilada pelos latifundiários que recebem todos os incentivos do Estado brasileiro. 

Reportagem da Agência Pública, 19/8/24 https://apublica.org/

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Guarani-Kaiowá: Políticos desinformam e incitam a população contra indígenas em MS 

Por Leandro Barbosa 

Falsas acusações de crimes tentam descredibilizar Guarani-Kaiowá em processo de retomada marcado por tensão e violência  

Um indígena assistia indignado a um vídeo, enquanto dizia algumas palavras em guarani. Ao me ver, disse, em português: “Como pode falar tanto absurdo?”. Ele ouvia o deputado federal Marcos Pollon (PL-MS) mentir ao afirmar que Mato Grosso do Sul vive “uma onda de invasão de propriedade privada, especialmente propriedades rurais, onde supostos indígenas estão atacando proprietários rurais, invadindo fazendas e destruindo, pondo fogo, atirando, ameaçando, estuprando mulheres, matando crianças e cometendo uma série de crimes”, enquanto comentava sobre a recente retomada protagonizada desde 13 de julho pelos Guarani-Kaiowá, em Douradina, a 192 km de Campo Grande. 

Acusações falsas como essas contra os indígenas da Terra Indígena (TI) Panambi-Lagoa Rica têm sido recorrentes e os colocam em risco. Os vídeos incitam a população a reagir contra as comunidades, mesmo sem apresentar provas dos supostos crimes. A desinformação alimenta movimentos ideológicos que têm atuado para promover despejos ilegais, como o movimento Invasão Zero, citado com recorrência por produtores rurais e políticos do estado. Fundado por produtores rurais da Bahia, o Invasão Zero é acusado por indígenas de atuar como uma organização criminosa e incitar crimes, e já está sendo investigado pela Polícia Federal.

Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), os ataques ocorridos nos dias 3 e 4 de agosto na TI Panambi-Lagoa Rica, que deixaram 11 Guarani-Kaiowá feridos, foram motivados por desinformação. Na ocasião, corria a informação de que os indígenas haviam retomado mais áreas, além das sete que já existem dentro do limite dos 12.196 hectares delimitados pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Apesar de uma representante do órgão federal afirmar, após ir ao local, que a informação era falsa, de nada adiantou. A mentira já tinha se espalhado.

“Autorreintegrações” forçadas não são episódios isolados ou aleatórios no estado, mas constituem um quadro mais amplo no qual milícias armadas rurais têm sido organizadas pelos proprietários rurais e efetivamente empregadas para promover ataques a grupos indígenas. É o que indica o documento “Crimes contra a humanidade no Mato Grosso do Sul: ataques armados, assassinatos e atos desumanos contra os Guarani e Kaiowá”, do Ministério Público Federal (MPF), ao qual a Agência Pública teve acesso. 

O documento, elaborado em 2021, se baseia em evidências de ataques armados contra as comunidades Guarani e Kaiowá ocorridos entre 2000 e 2016. Ele conclui que os crimes não são isolados, mas interligados, configurando um ataque generalizado e sistemático conduzido por grupos que seguem uma política organizacional discriminatória. 

As investigações revelam que, em muitos casos, os mandantes dos ataques são os donos de fazendas locais que se associam. Esses fazendeiros frequentemente contam com o apoio do poder político e contratam terceiros para formar milícias rurais com o objetivo de expulsar os indígenas. Na maioria dos casos, verifica-se a existência de uma rede de proteção que opera localmente por meio de federações e sindicatos rurais de fazendeiros. Esses espaços são utilizados para discutir e planejar ataques.

Cliqui aqui para ler a íntegra.  

sábado, 18 de outubro de 2025

A Faixa de Gaza brasileira: o genocídio dos guaranis kaiowás

Existe também há décadas, no Mato Grosso do Sul. Como no Oriente Médio, uma nação riquíssima, a dos latifundiários de exportação, o agrotoxiconegócio, forte e ricamente armado com milícias e apoio das autoridades, inclusive dos governos federais ditos de esquerda, ocupou o território dos indígenas guaranis kaiowás e os extermina diariamente, segundo testemunhos. Quem pesquisar, vai ficar estarrecido com o que vai encontrar. Por que isso não faz parte do noticiário? Por que os brasileiros que se mobilizam, justamente, em defesa dos palestinos, ignoram o genocídio bem mais perto, em território nacional?

A melhor entrevistra do Chico Pinheiro

Porque ele deixa o patrão, isto é, o entrevistado, falar, e Eduardo Moreira tem muito o que contar. O melhor é quando ele fala do MST, mas sua experiência de vida é admirável. Ele está fazendo história, sem precedente, que eu saiba, e sem similar, com o seu ICL. Estamos passando, finalmente, por um período interessante de renascimento da inteligência, um prenúncio do fim do neoliberalismo e do lulismo, duas faces da mesma moeda. 

Chico Pinheiro entrevista, 13/10/25, Eduardo Moreira

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Imagens deslumbrantes: recantos maravilhosos no planeta paraíso

Todos os dias, em fotos deslumbrantes de lugares maravilhosos, ao ser ligado, meu computador me mostra que vivo numa civilização eurocêntrica. É só uma questão de ver. A empresa de tecnologia me vende turismo, essa “indústria” horrorosa, símbolo glamouroso da nossa época. Como se o mundo fosse um parque de diversões, exibe recantos cheios de prazeres que precisamos conhecer e desfrutar, mas não diz que isso só pode ser feito por quem tem dinheiro, muito menos mostra que a mesma civilização que vende o turismo está destruindo esses recantos e todos os ambientes do planeta paraíso. A civilização que destrói a Terra crescentemente há mais de cinco séculos, desde que portugueses e espanhóis começaram a atravessar o Atlântico, revela ser eurocêntrica exatamente porque seu olhar para lugares exóticos é o olhar de quem não está lá, o olhar estrangeiro, o olhar do predador, o olhar do consumidor de lugares encantadores, o olhar do turista, exatamente aquele que, ao visitar, destrói o lugar, ao transformá-lo de um lugar onde as pessoas vivem, em um lugar que é visitado, um lugar maquiado para o visitante, cujos moradores transformam suas vidas em função dos visitantes, se transformam em seus serviçais e transformam o próprio lugar em outro, que não é mais o lugar original, não é um lugar para as pessoas viverem, é um lugar adaptado para o turismo, a realização do capital. De diferentes formas, o capital transforma e destrói tudo onde chega.

terça-feira, 14 de outubro de 2025

O neoliberalismo progressista dos governos do lulopetismo

A filósofa feminista americana não cita, mas poderia estar falando do Brasil dos governos FHC, Lula, Dilma e Lula outra vez. A entrevista não fala do Brasil e segue outros rumos, mas me parece pertinente a comparação. 

Feminismo atual é voltado a uma minoria privilegiada, diz filósofa feminista 

Vinicius Pereira, de São Paulo para a BBC News Brasil, 26 junho 2023

BBC News Brasil - Para começar, queria entender melhor a sua definição do "neoliberalismo progressista" e como a senhora vê a atual crise pela qual a democracia passa em países como EUA e Brasil? 

Nancy Fraser - O neoliberalismo progressista é um termo que cunhei para tentar descrever uma aliança entre uma fração da elite capitalista, centrada em Wall Street, no Vale do Silício e Hollywood, lugares simbólicos do capital hi-tech, e de parte dos liberais mainstream de movimentos feministas, antirracistas, ambientalistas e LGBTQIA+.

Em muitos países, o neoliberalismo se consolidou com esse tipo de aliança com os progressistas. Você poderia citar Ronald Reagan [ex-presidente dos EUA] e Margaret Thatcher [ex-primeira ministra do Reino Unido], tipos originais de conservadores e que introduziram o neoliberalismo nesses países, mas em outros locais, o neoliberalismo foi realmente consolidado por um tipo de política quase que de centro-esquerda. 

Falamos, por exemplo, de Bill Clinton, que construiu o que chamamos de “Novos Democratas” - uma força política utilizada para marginalizar a ala esquerda do partido Democrata. Podemos citar também o novo Partido Trabalhista de Tony Blair, no Reino Unido, que são os exemplos mais célebres.

Clinton e Blair colocaram, em um mesmo movimento político, feministas, antirracistas, ambientalistas e ativistas LBGTQIA+ de um lado e uma parte muito cosmopolita e supertecnológica dos empresários do outro.

A ideia era realmente promover uma liberalização, mercantilização e financeirização da economia, mas que teve efeitos muito negativos na segurança econômica e no bem-estar social das classes trabalhadoras em todo o mundo.

As forças que desejavam esse tipo de projeto econômico precisavam de algum carisma, algum tipo de toque especial, que faria esse projeto se tornar atrativo e vinculado a algo que poderia obter amplo apoio. Isso, de certa forma, forneceria cobertura perante a sociedade, dado que essa política econômica é feita para os ricos, mas que, com isso, poderia ser vista como algo amigável pelo restante.

Portanto, tal política econômica foi fundida com uma forma de feminismo meritocrático, antirracista e ambientalista. Com isso, essa forma de política socioeconômica conseguiu a imagem de ser algo emancipatória, excitante, que olhava para frente.

Em alguns países, como na Alemanha liderada pelo ex-primeiro-ministro Gerhard Schröder, do SPD (Partido Social-Democrata alemão), essa política teve muito sucesso, mas acho que nunca houve um nome para isso. Por isso, comecei a definir esse conjunto de políticas como “neoliberalismo progressista”, pois eu queria realmente sinalizar o neoliberalismo como um projeto econômico muito inconstante e oportunista.

BBC News Brasil - O "neoliberalismo progressista" fez com que as discussões se tornassem mais identitárias, ao invés de econômicas, tanto nos EUA como no Brasil?

Fraser - Eu distinguiria a discussão entre políticas de distribuição e políticas de reconhecimento. Distribuição é exatamente sobre economia. É sobre trabalho, seguros, salários, sobre também quem paga impostos, quanto as empresas deveriam pagar ou quanto a classe média deveria pagar. Tudo isso é o que eu penso sobre as políticas de distribuição.

Do outro lado, há as políticas de reconhecimento, que tem a ver realmente como nós reconhecemos todos os membros da nossa sociedade. Pessoas que pertencem a grupos que são historicamente marginalizados, como, por exemplo, gays e lésbicas, trans, mulheres negras, imigrantes, minorias religiosas, entre outros.

Essas pessoas serão reconhecidas como membros plenos da nossa sociedade? Eles terão os mesmos direitos? Para mim, você precisa das duas discussões. Para ter uma sociedade genuinamente justa, precisamos de uma política de inclusão e reconhecimento e de políticas de distribuição igualitárias. E, caso haja um desbalanceamento, se focar em um e ignorar o outro, as coisas irão dar errado.

Eu diria que na era do New Deal e da social-democracia nos EUA, havia um grande estresse sobre políticas mais igualitárias de distribuição, sem uma atenção igual para políticas de reconhecimento. Nas décadas seguintes, em especial nas décadas de 1980, 1990 e 2000, a ênfase mudou apenas para o reconhecimento ou diversidade.

Acredito que, por muito tempo, isso sugou o oxigênio de outras discussões. O foco principal dos movimentos sociais progressistas não estava na parte da distribuição, o que foi um desastre porque foi nessas décadas que o neoliberalismo estava se desenrolando e que era o momento real em que você precisava redobrar a atenção sobre a distribuição de renda.

Ao invés de trabalharmos para que ambas políticas fossem o foco e houvesse uma conexões entre eles, nós tivemos o foco apenas no reconhecimento ou, como você diz, nas pautas identitárias.

Mas, tenho que dizer que recentemente as coisas estão mudando novamente. Eu acho que nós estamos tendo, desde a eleição de Trump nos EUA em 2016, uma mudança das massas, que começam a se virar contra o sistema.

Com essas circunstâncias, há mais atenção sobre distribuição e há versões disso na direita e na esquerda, como Trump e Sanders, nos EUA, por exemplo. Agora, a diferença entre os dois está no reconhecimento. Trump é um branco, nacionalista, anti-imigração, antigay e antitrans, enquanto que do outro lado há inclusão.

Estamos começando a retornar nessa questão de distribuição e reconhecimento e, nos EUA, neste momento, a direita está fomentando uma guerra cultural focada naquilo que podemos falar nas escolas, o que devemos ensinar sobre o racismo nas escolas, dentre outras coisas.

Isso é uma estratégia deliberada para distrair a atenção para longe das políticas econômicas porque os Republicanos, incluindo Trump e seus concorrentes, ainda têm um programa econômico pró-ricos. Eles não querem falar muito sobre isso. Isso é distração.


Então, o desafio para o outro lado é resistir a ser tragado pela guerra cultural e deixar o debate econômico de lado ou, ao menos, entender como conectar essas duas visões novamente.

A diversidade está se tornando uma palavra utilizada apenas pelas empresas. Todas as companhias, toda universidade, tem um departamento de diversidade e essas pessoas são completamente desconectadas de qualquer ideia de como um conteúdo crítico deveria ser. Isso é uma política muito rasa. Não é algo igualitário.

As vezes, aqui nos EUA, nós dizemos "black faces in high places". Então, sem qualquer atenção para a situação da massa das pessoas negras, essa diversidade não possui um conteúdo real e é uma nova distração basicamente.

BBC News Brasil - Mas isso ocorreu por causa da própria esquerda ou a extrema-direita pautou o debate?

Fraser - Eu acho que é uma ótima questão, mas muito complicada. Eu venho pensando muito nisso. De um lado, nós não devemos fazer parte dessa política de distração, não podemos deixar com que todos os debates institucionais sejam sobre esses problemas. Nós não podemos jogar o jogo deles.

Ao mesmo tempo, o que eles estão fazendo é tornar alvo e usando de bode expiatório pessoas reais. Então, nós não podemos lidar com um projeto que nega serviços sociais para uma juventude trans, por exemplo, que está em uma situação frágil e vulnerável.

Nós temos que, de alguma forma, estarmos preparados para defender indivíduos que estão sendo usados, ao mesmo tempo que defendemos os direitos de reprodução, que é um outro foco de ataque.

Por isso, deveríamos falar sobre tais pontos, mas a parte difícil é perceber como conectar esses dois problemas. Isso não é fácil.

BBC News Brasil - A senhora acha que esse "neoliberalismo progressista" ajudou na eleição de presidentes da direita radical, como Trump nos EUA e Bolsonaro, no Brasil?

Fraser - Sim, com certeza. Nos EUA não há dúvidas que o bloco do neoliberalismo progressista, que consolidou o neoliberalismo e marginalizou a parte pró-trabalhista do partido Democrata, realmente tem uma grande parte de responsabilidade na deterioração das condições e dos padrões de vida no país.

No chamado Cinturão da Ferrugem, que é historicamente o coração da indústria americana e hoje é um terreno baldio com muitos problemas de vício em opioides e violência armada, o neoliberalismo progressista tem muito o que responder. Eles, basicamente, supervisionaram a transição de uma classe trabalhadora altamente sindicalizada para uma massa de trabalho mal paga e precarizada.

Não há dúvidas que isso ajudou Trump, mas também ajudou Bernie Sanders. Em outras palavras, as pessoas entenderam, em um certo momento, que eles não poderiam seguir essas políticas neoliberais, que eles precisavam de uma alternativa para uma situação que Antonio Gramsci chama de “crise da hegemonia”.

Elas perceberam que o establishment não é mais confiável, o senso comum já não era mais persuasivo, então as pessoas estavam olhando para uma alternativa radical. Algumas olharam para Trump, outras para Sanders, e o que é muito interessante é que às vezes elas optavam por Sanders, mas com ele fora da disputa, votaram em Trump, em um fenômeno semelhante ao que ocorreu no Brasil, com o voto “Bolsolula”. 

Qualquer forma de neoliberalismo se tornou tóxica, politicamente falando. As pessoas começaram a procurar alternativas para esse sistema. Em um país como os EUA, onde o neoliberalismo se aliou aos progressistas, é compreensível que Trump fosse o beneficiário maior dessa busca. Isso porque o neoliberalismo se associou muito ao tema da diversidade e, ao rejeitar esse sistema econômico, acabam por rejeitar também a pauta identitária.  

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segunda-feira, 13 de outubro de 2025

O brasileiro citado no Nobel de Física

Na aparência, essa notícia é sobre o maior prêmio internacional, sobre o brasileiro cujas pesquisas contribuíram para o trabalho premiado, sobre essa área fantástica da ciência que é física quântica, sobre, enfim, coisas importantes, bacanas, do progresso, mas não é o que eu vejo. O que eu vejo nela é só ideologia. O que é o Nobel? Uma distribuição de dinheiro para personalidades dos países ricos, dinheiro deixado por um sueco que tinha a consciência pesada porque inventou a dinamite e outras mercadorias para destruição (sua história familiar de sucesso é trágica). Dois agraciados só, que eu saiba, tiveram a dignidade de recusar a premiação (que já foi dada até a Henry Kissinger e Menachem Begin), e foram eles: Jean-Paul Sartre e Le Duc Tho. A espécie humana investe muito e ainda dá mais dinheiro para os premiados na fantástica física quântica, mas não tem dinheiro para resolver os problemas realmente urgentes e importantes do mundo, é incapaz de salvar as crianças e os jovens palestinos assassinados em Gaza ou as crianças e jovens pobres brasileiros assassinados todos os dias. É assim. Para que serve a ciência? Para que serve o dinheiro? Para que serve o jornalismo? Para movimentar o circo do capital. O brasileiro da matéria é integrante de uma casta de acadêmicos que têm seu mérito, mas são pouco ou nada úteis para seu país, pois o Brasil não se interessa por ciência e tecnologia, uma vez que, há cinquenta anos, seus governantes escolheram importar tudo e exportar produtos agropecuários e minerais, de forma que as carreiras científicas servem só ao benefício pessoal. Por fim, de que progresso se fala, quando o que ele proporciona é só desigualdades, violências e destruição ambiental? Jornalismo é entretenimento, nos distrai da realidade com notícias assim, produzindo ideologia. Quando cumpre seu papel, é capaz de conter até os bandidos que tomaram conta do país, mas só faz isso quando os bandidos não são os próprios donos das empresas jornalísticas. 

PS: Nenhum brasileiro jamais ganhou um Nobel, que já foi dado a personalidades de nações menos destacadas, inclusive argentinos, chilenos, venezuelanos e colombianos. 

Professor Amir Caldeira 

'Achava meio chato': brasileiro citado no Nobel de Física trabalhou por acaso na teoria que o transformou em referência internacional 

Camila Veras Mora, BBC News Brasil 

No último dia 28 de agosto, o físico Amir Caldeira se aposentou formalmente da Unicamp, onde dá aulas desde 1980. Sua rotina, entretanto, em nada lembra a de um aposentado, especialmente nos últimos dias. 

Desde que sua pesquisa de doutorado foi citada no último prêmio Nobel de Física, divulgado no dia 7 de outubro, ele não parou de dar entrevistas e de receber convites para eventos. 

"Se pra mim está sendo assim, imagina para os agraciados", ele diz, referindo-se ao britânico John Clarke, ao francês Michel Devoret e ao americano John Martinis. 

O trio recebeu o prêmio pela pesquisa de fenômenos quânticos em escala macroscópica — em linguagem bastante simplificada, eles verificaram que propriedades até então observadas apenas no mundo subatômico, de partículas muito pequenas, também podem ser replicadas em objetos maiores, como circuitos elétricos. 

Os experimentos, que abriram caminho para a computação quântica, usaram a base teórica desenvolvida por Caldeira junto a seu orientador, o britânico Anthony Leggett (que ganhou o Nobel de Física em 2003), na Universidade de Sussex, no Reino Unido, no fim dos anos 1970. 

Curiosamente, a dissipação quântica (entenda melhor abaixo), tema do doutorado de Caldeira, que acabou transformando o físico brasileiro em referência internacional na área, não era o que ele tinha em mente quando saiu do Rio de Janeiro para a Inglaterra para fazer o PhD naquela época. Ele achava o tema "meio chato". 

"Não era o que eu queria pesquisar", diz, dando risada e emendando que o acaso acabou colocando o tema no centro da sua vida acadêmica mais de uma vez. 

O bizarro mundo da mecânica quântica 

Caldeira, Leggett e o trio do Nobel se dedicam ao estudo da mecânica quântica, teoria que completa seu centenário em 2025 e busca descrever o comportamento de objetos muito pequenos, menores que o átomo. 

Isso porque as leis da física clássica não conseguem explicar o mundo subatômico, que está recheado de fenômenos "estranhos", "bizarros" e "chocantes", adjetivos usados com frequência por Caldeira e por seus colegas.

Por exemplo: é impossível saber ao mesmo tempo a posição e a velocidade de uma partícula subatômica, como um fóton ou um elétron. 

Clique aqui para ler a íntegra.

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Segunda música do dia: Mercy mercy me (The ecology), Marvin Gaye

Imagine que não há países nem religiões nem posses

Imagine todas as pessoas compartilhando o mundo e vivendo em paz.

Agência Pública investiga participação dos EUA na origem da larva jato

Oportuna avaliação do trabalho da imprensa na larva jato, da prisão do Lula e da condenação do bozo. A certa altura, a entrevistada diz que a Agência Pública também embarcou na larva jato. Bem, eu nunca embarquei, como mostram publicações da época cujos links reproduzo abaixo. Passado tanto tempo, ainda não há, nem mesmo em veículos de ponta, consciência da tragédia nacional que foram as últimas três décadas de governos ditos de esquerda, com a interrupção dos seis anos de governos de direita e extrema direita, que são parte integrante delas. A questão principal é que a esquerda brasileira não tem um projeto nacional, nunca teve, desde que o projeto revolucionário urdido na clandestinidade sob a ditadura militar (1964-1985) foi derrotado pelo projeto da democracia burguesa. 

https://jornalaico.blogspot.com/2014/10/a-maior-ameaca-eleicao.html  

https://jornalaico.blogspot.com/2014/11/delegado-da-operacao-lava-jato-fizeram.html 

https://jornalaico.blogspot.com/2014/11/o-golpe-esta-caminho.html  

https://jornalaico.blogspot.com/2018/05/o-judiciario-brasileiro-e-ocupado-por.html  

https://jornalaico.blogspot.com/2019/06/a-destruicao-do-brasil-pela-larva-jato.html