sábado, 25 de outubro de 2025
Música do dia: Desalento, Chico e Vinicius
sexta-feira, 24 de outubro de 2025
ONU: Brasil é responsável por 71% da destruição de florestas do mundo
Curiosa a forma da Revista Fórum dar essa notícia: o país do título é o Brasil. Talvez seja por que a revista é lulista, estamos às vésperas da COP30, em Belém, e a barra do governo brasileiro já está muito suja, com a licença para pesquisa de petróleo na foz do Amazonas, que tira qualquer moral do país para ser liderança mundial na defesa do ambiente, como pretende e proclama o presidente Lula. Obviamente, se o Brasil vai produzir mais petróleo, não vai reduzir o consumo e as emissões, assim como, se é líder em desmatamento, este não está sendo contido. Há uma terceira péssima notícia nesse quadro que mostra como Brasil se tornou um imenso latifúndio exportador de produtos primários às custas da devastação ambiental: Lula negocia a instalação de data centers americanos com incentivos fiscais e gigantescos consumos de água e energia. Com um governo assim, pra que o capital precisa do bozo?
Revista Fórum
Um único país é responsável por 70% da destruição de florestas no mundo, de acordo com a ONU
O país que concentra boa parte da maior floresta tropical do planeta também é responsável pela maior taxa de destruição líquida de florestas, diz relatório da FAO
Por Anne Silva
Meio ambiente e sustentabilidade 22/10/2025 · 10:21
Dados divulgados pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) nesta segunda-feira (20/10/25), combinados com plataformas de monitoramento terrestre, mostram que, entre 2015 e 2025, o Brasil foi responsável pela maior parte da perda líquida de florestas do planeta.
Foram cerca de 2,94 milhões de hectares de florestas perdidos por ano, enquanto o número global é de 4,12 milhões de hectares anuais. A parcela brasileira do desmatamento corresponde, portanto, a mais de 70% da perda total.
De acordo com o relatório Global Forest Resources Assessment (FRA 2025), a taxa anual da perda líquida de florestas caiu no mundo inteiro em relação às décadas anteriores — passou de cerca de 10,7 milhões de hectares/ano nos anos 1990 para 4,12 milhões de hectares/ano no período 2015 a 2025.
“As florestas plantadas representam cerca de 8% da área florestal total, cobrindo cerca de 312 milhões de hectares”, informa a FAO. “Sua área aumentou em todas as regiões desde 1990, mas globalmente a um ritmo mais lento na última década.”
quinta-feira, 23 de outubro de 2025
Olho para a China e penso no Brasil
Quanto mais me informo sobre a China, mais me convenço de que é um exemplo de racionalidade, planejamento e estabilidade para o mundo que caminha para seu fim. Ciro Gomes, ao contrário, é o retrato da falta de rumo do Brasil. De longe, ele é o melhor político brasileiro em meio século, isto é, desde que os civis assumiram o poder, com liberdades, eleições periódicas, Constituição etc., enfim a tal democracia pela qual lutamos contra a ditadura militar (1964-1985). Não vou entrar em detalhes sobre ele: acompanho-o desde que li seu primeiro livro, publicado em 1996, e já escrevi diversas vezes a respeito dele. No entanto, sua trajetória foi totalmente equivocada. Ele agora volta ao PSDB, partido do qual talvez nunca devesse ter saído. Saiu por quê? Porque divergiu da linha neoliberal adotada a partir do governo FHC. E ficou trocando de partidos, por fim se fixou no PDT, do qual saiu agora, para voltar ao PSDB e provavelmente se candidatar ao governo do Ceará, ou seja, ao ponto culminante da sua meteórica trajetória, cujo passo seguinte deveria ser a Presidência da República. Os partidos brasileiros não são democráticos, eles têm donos. Por que Ciro não foi presidente? Porque no meio do caminho tinha Lula, o eterno. Se a política brasileira fosse como era a americana antes do Trump, Lula iria embora em 2010 e o caminho do Ciro e dos demais políticos ficaria livre, não teríamos Dilma, incapaz de ser eleita por conta própria, haveria alternância no poder, mas o Brasil não é os EUA antes do Trump e agora se tornou até melhor, mas também está longe de ser uma democracia como desejávamos há meio século. Não só pelo modelo político corrupto e antipopular que se instalou, mas principalmente pelos indicadores sociais. A China mostra o que a democracia e os civis poderiam ter feito pelos brasileiros nesse período. Em vez dos sonhos, o que tivemos foi uma volta acelerada à condição de exportadores de matérias-primas à custa da devastação ambiental e agora prestes a destruir a Amazônia, com todas as consequências para o clima da Terra que isso significa. Agora mesmo estamos prestes a ceder terra, água e energia de graça para instalação de uma das maiores pragas modernas, os data centers. A desigualdade social se aprofundou, com violência, miséria, desregulamentação das relações de trabalho. Tudo patrocinado por quem? Pelo partido que nasceu para representar os trabalhadores, pelos governos do ex-operário que seria a redenção dos trabalhadores, mas infelizmente seguiu a cartilha neoliberal, governou e governa ainda para o sistema financeiro, para o agrotoxiconegócio, para os industriais, para os grandes comerciantes, para o capital e para as castas. Ciro poderia ter sido uma alternativa à política do FHC e do Lula, mas ficou pulando de galho em galho, em vez de fazer a única coisa certa que Lula fez: construir um partido para dar sustentação ao seu projeto de poder. Sou defensor da alternância no poder como característica de afirmação democrática, não gostaria que Ciro se tornasse outro Lula, mas certamente seria melhor experimentar seu projeto de desenvolvimento nacional e, no mínimo, que ele revezasse com o petista no poder. Teríamos alguma comparação. Cada vez tenho mais convicção, assim como tenho sobre a China, que o maior político brasileiro de todos os tempos, por sua incrível e única trajetória e por sua capacidade maquiavélica, no sentido exato do termo, de se manter no poder, foi a arma mais eficiente que o capital poderia usar para manter a dominação sobre o povo: um legítimo operário apoiado por um partido dos trabalhadores. Nenhuma força política de esquerda floresceu sob Lula, todas que tentaram foram liquidadas, Ciro inclusive. O poder do Lula só vai acabar quando ele morrer ou perder uma eleição -- a segunda alternativa é duvidosa no ano que vem, se isso acontecer, certamente será para um candidato à sua direita, e a primeira eu espero sinceramente que ainda demore, que ele viva tanto quanto FHC e Sarney. O fato é que, depois de todo o desgaste provocado pelos governos peseudoesquerdistas da Era Lula, a esquerda brasileira provavelmente vai levar muito tempo para se recuperar e voltar ao poder. Certamente não será com o Ciro, que está próximo dos setenta anos e já teve dias melhores.
quarta-feira, 22 de outubro de 2025
A China no topo
Mais um a enaltecer a ascensão da China, dessa vez baseando-se na teoria do economista e cientista político austríaco Joseph Schumpeter. Me parece que a China é daqueles casos de realidades que a gente não vê porque não quer, porque é evidente. O que significa? Uma alternativa de rumo para a humanidade, socialista, um socialismo muito diferente do que os idealistas imaginam e do que foi a URSS. Seu planejamento não é só econômico, a China preparou-se inclusive para a volta do Trump e enfrentar as sanções comerciais que estão em curso.
Xi Jinping e o fim do capitalismo liberal: o socialismo schumpeteriano da China.
terça-feira, 21 de outubro de 2025
Data center: a negociação secreta do Lula com Trump
O grande líder neoliberal brasileiro está entregando terras, água e energia e renúncia fiscal para big techs americanas se instalarem no Brasil, em troca da revogação do tarifaço. Já está no Congresso. Por isso Trump disse que "pintou um clima (com Lula)". Poderia dizer que pintou um agravamento das mudanças climáticas, que as populações locais vão sofrer ainda mais com falta de água, secas etc.
PS: o podcast toca no assunto sobre o qual publiquei esta manhã, sobre o vício do celular, e cita uma fala interessante do Lula sobre isso. Lula fala contra o celular e, secretamente, negocia a instalação de data center com incentivos fiscais, oferecendo terra, água e energia abundantes de graça.
Calma Urgente! O sonho do colonialismo digital
Neonazistas ameaçam de morte Jones Manoel, governo ignora
Autoridades vão esperar um novo caso Marielle?
Declaração pública sobre as ameaças de m0rt#
Roda Viva entrevista Carlos Nobre, 13/10/2025
Testemunha do fim do mundo
Sinto que tenho o privilégio de fazer parte das gerações humanas que vão presenciar o fim do mundo. Testemunhei em sete décadas tantos acontecimentos tão graves e tantas mudanças tão grandes que parecem inacreditáveis. As pessoas vivem como se não vissem o que está acontecendo. São incapazes de tomar atitudes para evitar o que está acontecendo. São incapazes de reagir e mudar as suas próprias vidas.
A mudança mais impressionante na contemporaneidade é o celular. Crianças e jovens não conseguem imaginar um mundo sem celular. No entanto, há pouco mais de três décadas nós vivíamos sem celular, sem internet, sem computador. Apareceu o computador, apareceu a internet, apareceu o celular, ficamos todos deslumbrados, mas nós, pessoas comuns, consumidores, gente pobre, simples e ignorante de um país da periferia do capitalismo terráqueo, não podíamos imaginar que as três invenções se juntariam numa só, que todos nós teríamos acesso a essa riqueza prodigiosa, muito menos imaginar o principal: que nos tornaríamos todos dependentes dela, adoradores dela, que nossa vida se tornaria impossível sem ela. (É claro que havia sim uma pequena elite com conhecimentos científicos e tecnológicos e capital abundante pensando e preparando o que estava por vir, uma elite que hoje domina o mundo.)
Olho à minha volta em todos os lugares e o que vejo são pessoas olhando para seu celular, segurando seu celular, digitando no seu celular, falando no seu celular, escutando seu celular. Raramente encontro, em qualquer lugar, alguém que não tenha um celular na mão ou no bolso, que não esteja lhe dando mais atenção do que dá ao que está à sua volta. As relações entre os indivíduos hoje são intermediadas pelo celular. Tudo que fazemos passa por ele, não ficamos uma hora sem olhar para ele, sem pegá-lo, sem usá-lo. Todas as nossas atividades e todas as nossas relações sociais agora passam pelo celular. Sem ele, o mundo para.
Nem todo mundo tem casa – o fenômeno dos moradores de rua é espantosamente crescente e não se limita às miseráveis cidades brasileiras, atinge as nações mais ricas. Nem todo mundo carro – embora existam muito mais do que é razoável e, aparentemente, pela quantidade no trânsito, todo mundo tem moto, embora transportes coletivos de qualidade sejam a solução lógica para o deslocamento moderno; nisso também a China é um exemplo para o mundo. Nem todo mundo tem esgoto, luz, água encanada, emprego, comida, família, mas todo mundo tem celular. Um bem que há algumas décadas apenas sequer existia tornou-se mais necessário do que uma boa roupa ou um bom sapato. Sim, porque às vezes o indivíduo veste-se e se calça mal, mas o celular é de última geração. Ao contrário de tudo mais que os seres humanos consomem e que os diferencia entre ricos, pobres e riquíssimos, entre miseráveis e milionários, o celular precisa ser novo, moderníssimo, para funcionar adequadamente e oferecer os benefícios que as pessoas buscam nele, de forma que, como num passe de mágica, todos conseguem ter um celular de último modelo ou, no máximo, de penúltimo, herdado de quem comprou um mais moderno. Além do que, eles logo se tornam obsoletos, são programados para durar pouco e nenhum vai durar tanto quanto, digamos, um antigo telefone fixo, que era o mesmo durante décadas…
Há apenas três décadas, num tempo que costumamos contar em três milênios ou até bem mais, sete, dez, considerando as civilizações antigas do Oriente, o celular inexistia e hoje ninguém vive sem ele, todos dependemos dele e cada vez mais, ele é a coisa mais importante da nossa vida. Mais importante que uma filha, um filho, uma mãe, um pai, um irmão, uma irmã, um avô, uma avó, um neto, uma neta, um primo, uma prima, um amigo, uma amiga um vizinho, uma vizinha, um empregado, uma empregada, um colega, uma colega, considerando o critério da atenção que dispensamos diariamente a qualquer um desses seres humanos e ao celular. O nosso celular é o ente mais querido das nossas vidas, pelo critério do tempo e da atenção que dedicamos.
Acho que isso é horrível para o que de melhor ainda existe em nós, humanos, Homo sapiens, nesses tempos terríveis em que vivemos, nesse fim do mundo, como disse no começo, mas, também como disse no começo, penso que não vai mudar, porque as pessoas não reagem diante dos acontecimentos que parecem estar muito além das suas forças, acham que é assim mesmo, que está certo, que aqueles que detêm o poder vão agir, se for preciso, que existem pessoas que detêm o poder, que existe Deus e que ele é onipotente, governa tudo, se for para mudar, ele vai dar um jeito, e se for o fim do mundo, é porque tem que ser.
A adesão das pessoas à ideologia dominante é uma coisa que me impressiona muito. Não tanto pela nossa incapacidade de agir coletivamente, coisa que se tornou comum nesse tempo de “empreendedores”, de destruição dos sindicatos, de aparelhamento dos partidos políticos por grupos religiosos, associações criminosas e espertalhões, de indivíduos conectados a celulares, mas pela incapacidade dos indivíduos de mudarem a sua própria vida particular.
Nesse nosso mundo em que todos buscam o sucesso individual, poucos são aqueles que conseguem distinguir seus próprios interesses pessoais dos interesses da manada, dos interesses que a ideologia dominante dissemina via celulares, redes sociais, aplicativos etc., pouquíssimos são aqueles que estão pensando com sua própria cabeça e conduzindo sua vida para um futuro possível melhor.
Não um futuro imediato, de bens, luxos e prazeres perecíveis, que precisam ser sempre superados e trocados por outros melhores, não esse futuro imediatíssimo de realizações ilusórias, que desmorona diante de uma crise econômica, de uma pandemia, de uma catástrofe climática, mas um futuro sólido, baseado em relações humanas amorosas e na vida na Natureza da qual temos de cuidar.
segunda-feira, 20 de outubro de 2025
A cruzada de Haddad contra a saúde e a educação
Militares fora do teto de gastos, povo dentro, é claro.
A cruzada de Haddad contra a Saúde e Educação
Dispositivos do Arcabouço Fiscal do ministro estão produzindo caos no Orçamento público. Ele teima em mantê-los – e quer alterar a Constituição, removendo conquistas históricas da sociedade. Pode estar em jogo a sorte do governo Lula
OutrasPalavras, Crise Brasileira
Por Antonio Martins
Publicado em 10/4/2024 às 19:21 - Atualizado 11/6/2024 às 18:31
I.
O investimento público do Brasil em Saúde precisa crescer muito, mostrou na semana passada um vasto estudo coordenado pelo IBGE com base no Sistema de Contas Nacionais. Esta necessidade salta aos olhos em dois gráficos. Embora o país conte com um sistema público de saúde de acesso universal – o SUS –, o percentual do PIB investido pelo Estado na atividade é raquítico: 4%, contra 11,1% na Alemanha, 10,4% na França, 10,3% no Reino Unido, 7,1% na Colômbia e 5,9% no Chile. Em consequência, abre-se espaço para uma medicina de negócios desmesurada e custosíssima. Os gastos das famílias com Saúde equivalem a 5,7% do PIB – o triplo do percentual na França, por exemplo. Esta fatia não pára de crescer, como se vê abaixo. Agora, de cada R$ 1.000 em despesas com Saúde no Brasil, o poder público participa com apenas R$ 410; a população é obrigada a arcar com os R$ 590 restantes. Na Alemanha, ela limita-se a pagar R$ 150. Cálculos do economista Francisco Funcia vão além, e mostram que o Estado gasta com o SUS apenas R$ 4 por dia, por habitante.
Os benefícios sociais e políticos que podem advir de um investimento público mais amplo em Saúde são evidentes e múltiplos. A grande maioria dos brasileiros, que recorre exclusivamente ao SUS, teria acesso rápido a consultas especializadas e exames – um dos gargalos do sistema. As Equipes de Saúde da Família, hoje sobrecarregadas, seriam estendidas a 100% da população. Crises sanitárias graves, como a que atinge os Yanomami, poderiam ser evitadas. Os hospitais públicos superariam dramas como os do Rio de Janeiro. E ao menos parte dos que se utilizam dos planos de saúde privados (51 milhões de pessoas, ou 25% da população), poderia deixá-los para trás, recuperando a fatia considerável do orçamento familiar que eles abocanham. Sucessivas pesquisas de opinião têm demonstrado que a Saúde é uma das preocupações centrais da opinião pública. Se o Estado oferecer serviços excelentes e gratuitos, neste aspecto crucial da vida, poderá começar a dissipar o (justo) ressentimento que leva parte da população a desejar o colapso da democracia.
Governo prepara prêmio para militares golpistas: vão ficar fora do teto de gastos
Não é o Congresso nem é o governo do bozo, é o governo Lula, muito mais eficiente em implantar o neoliberalismo, porque contra ele a esquerda não protesta e os sindicatos e movimentos sociais não vão às ruas. Teto de gastos só vale para gastos sociais, dinheiro para ricos e castas não tem limite. Todos sabemos, mas é preciso repetir, porque o discurso do governo e a "grande" imprensa escondem isso o tempo todo. A "responsabilidade fiscal" é só para despesas com o povo: saúde, educação, moradia, transporte, segurança, estradas etc. e, claro, meio ambiente. Dinheiro para banqueiros, industriais, agrotoxiconegociantes, castas do funcionalismo público e militares, isso sempre tem, fica de fora do teto, pode gastar quanto precisar. Tirando de onde? Do dinheiro do SUS, das escolas, do meio ambiente etc. É assim o Brasil há mais de vinte anos, em todo o século XXI. Entra governo e sai governo, FHC, Lula, Dilma, temer, bozo, Lula de novo. Todos seguem a mesma cartilha neoliberal, todos têm horror ao "déficit fiscal". Como também não se cansa de repetir o Kobori: as nações que mais crescem têm déficit fiscal.
Militares ganham 30 bilhões por fora do novo teto de gastos. Jones Manoel.
domingo, 19 de outubro de 2025
Como o Estado brasileiro pratica o genocídio do povo Guarani Kaiowá
O Brasil tem sua própria Faixa de Gaza: o Estado fazendeiro latifundiário de exportação, o agrotoxiconegócio, extermina o povo Guarani Kaioiwá há décadas, sistematicamente, usando seu exército, amplo e bem armado, com apoio da polícia, da justiça e dos governos e cumplicidade da sociedade brasileira. É um genocídio contra o qual a esquerda que protesta -- justamente -- contra o genocídio do povo palestino pode agir também, mas não age, e o presidente Lula tem poder e obrigação legal de interromper, mas não interrompe. A imprensa pouco fala do assunto. Quem procura se informar, fica estarrecido com a miséria em que vivem os guaranis kaiowás e a violência praticada diariamente contra os ocupantes originários da terra grilada pelos latifundiários que recebem todos os incentivos do Estado brasileiro.
Reportagem da Agência Pública, 19/8/24 https://apublica.org/

Guarani-Kaiowá: Políticos desinformam e incitam a população contra indígenas em MS
Por Leandro Barbosa
Falsas acusações de crimes tentam descredibilizar Guarani-Kaiowá em processo de retomada marcado por tensão e violência
Um indígena assistia indignado a um vídeo, enquanto dizia algumas palavras em guarani. Ao me ver, disse, em português: “Como pode falar tanto absurdo?”. Ele ouvia o deputado federal Marcos Pollon (PL-MS) mentir ao afirmar que Mato Grosso do Sul vive “uma onda de invasão de propriedade privada, especialmente propriedades rurais, onde supostos indígenas estão atacando proprietários rurais, invadindo fazendas e destruindo, pondo fogo, atirando, ameaçando, estuprando mulheres, matando crianças e cometendo uma série de crimes”, enquanto comentava sobre a recente retomada protagonizada desde 13 de julho pelos Guarani-Kaiowá, em Douradina, a 192 km de Campo Grande.
Acusações falsas como essas contra os indígenas da Terra Indígena (TI) Panambi-Lagoa Rica têm sido recorrentes e os colocam em risco. Os vídeos incitam a população a reagir contra as comunidades, mesmo sem apresentar provas dos supostos crimes. A desinformação alimenta movimentos ideológicos que têm atuado para promover despejos ilegais, como o movimento Invasão Zero, citado com recorrência por produtores rurais e políticos do estado. Fundado por produtores rurais da Bahia, o Invasão Zero é acusado por indígenas de atuar como uma organização criminosa e incitar crimes, e já está sendo investigado pela Polícia Federal.
Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), os ataques ocorridos nos dias 3 e 4 de agosto na TI Panambi-Lagoa Rica, que deixaram 11 Guarani-Kaiowá feridos, foram motivados por desinformação. Na ocasião, corria a informação de que os indígenas haviam retomado mais áreas, além das sete que já existem dentro do limite dos 12.196 hectares delimitados pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Apesar de uma representante do órgão federal afirmar, após ir ao local, que a informação era falsa, de nada adiantou. A mentira já tinha se espalhado.
“Autorreintegrações” forçadas não são episódios isolados ou aleatórios no estado, mas constituem um quadro mais amplo no qual milícias armadas rurais têm sido organizadas pelos proprietários rurais e efetivamente empregadas para promover ataques a grupos indígenas. É o que indica o documento “Crimes contra a humanidade no Mato Grosso do Sul: ataques armados, assassinatos e atos desumanos contra os Guarani e Kaiowá”, do Ministério Público Federal (MPF), ao qual a Agência Pública teve acesso.
O documento, elaborado em 2021, se baseia em evidências de ataques armados contra as comunidades Guarani e Kaiowá ocorridos entre 2000 e 2016. Ele conclui que os crimes não são isolados, mas interligados, configurando um ataque generalizado e sistemático conduzido por grupos que seguem uma política organizacional discriminatória.
As investigações revelam que, em muitos casos, os mandantes dos ataques são os donos de fazendas locais que se associam. Esses fazendeiros frequentemente contam com o apoio do poder político e contratam terceiros para formar milícias rurais com o objetivo de expulsar os indígenas. Na maioria dos casos, verifica-se a existência de uma rede de proteção que opera localmente por meio de federações e sindicatos rurais de fazendeiros. Esses espaços são utilizados para discutir e planejar ataques.
sábado, 18 de outubro de 2025
A Faixa de Gaza brasileira: o genocídio dos guaranis kaiowás
A melhor entrevistra do Chico Pinheiro
Porque ele deixa o patrão, isto é, o entrevistado, falar, e Eduardo Moreira tem muito o que contar. O melhor é quando ele fala do MST, mas sua experiência de vida é admirável. Ele está fazendo história, sem precedente, que eu saiba, e sem similar, com o seu ICL. Estamos passando, finalmente, por um período interessante de renascimento da inteligência, um prenúncio do fim do neoliberalismo e do lulismo, duas faces da mesma moeda.
Chico Pinheiro entrevista, 13/10/25, Eduardo Moreira
sexta-feira, 17 de outubro de 2025
Imagens deslumbrantes: recantos maravilhosos no planeta paraíso
Todos os dias, em fotos deslumbrantes de lugares maravilhosos, ao ser ligado, meu computador me mostra que vivo numa civilização eurocêntrica. É só uma questão de ver. A empresa de tecnologia me vende turismo, essa “indústria” horrorosa, símbolo glamouroso da nossa época. Como se o mundo fosse um parque de diversões, exibe recantos cheios de prazeres que precisamos conhecer e desfrutar, mas não diz que isso só pode ser feito por quem tem dinheiro, muito menos mostra que a mesma civilização que vende o turismo está destruindo esses recantos e todos os ambientes do planeta paraíso. A civilização que destrói a Terra crescentemente há mais de cinco séculos, desde que portugueses e espanhóis começaram a atravessar o Atlântico, revela ser eurocêntrica exatamente porque seu olhar para lugares exóticos é o olhar de quem não está lá, o olhar estrangeiro, o olhar do predador, o olhar do consumidor de lugares encantadores, o olhar do turista, exatamente aquele que, ao visitar, destrói o lugar, ao transformá-lo de um lugar onde as pessoas vivem, em um lugar que é visitado, um lugar maquiado para o visitante, cujos moradores transformam suas vidas em função dos visitantes, se transformam em seus serviçais e transformam o próprio lugar em outro, que não é mais o lugar original, não é um lugar para as pessoas viverem, é um lugar adaptado para o turismo, a realização do capital. De diferentes formas, o capital transforma e destrói tudo onde chega.
terça-feira, 14 de outubro de 2025
O neoliberalismo progressista dos governos do lulopetismo
A filósofa feminista americana não cita, mas poderia estar falando do Brasil dos governos FHC, Lula, Dilma e Lula outra vez. A entrevista não fala do Brasil e segue outros rumos, mas me parece pertinente a comparação.
Feminismo atual é voltado a uma minoria privilegiada, diz filósofa feminista
Vinicius Pereira, de São Paulo para a BBC News Brasil, 26 junho 2023
BBC News Brasil - Para começar, queria entender melhor a sua definição do "neoliberalismo progressista" e como a senhora vê a atual crise pela qual a democracia passa em países como EUA e Brasil?
Nancy Fraser - O neoliberalismo progressista é um termo que cunhei para tentar descrever uma aliança entre uma fração da elite capitalista, centrada em Wall Street, no Vale do Silício e Hollywood, lugares simbólicos do capital hi-tech, e de parte dos liberais mainstream de movimentos feministas, antirracistas, ambientalistas e LGBTQIA+.
Em muitos países, o neoliberalismo se consolidou com esse tipo de aliança com os progressistas. Você poderia citar Ronald Reagan [ex-presidente dos EUA] e Margaret Thatcher [ex-primeira ministra do Reino Unido], tipos originais de conservadores e que introduziram o neoliberalismo nesses países, mas em outros locais, o neoliberalismo foi realmente consolidado por um tipo de política quase que de centro-esquerda.
Falamos, por exemplo, de Bill Clinton, que construiu o que chamamos de “Novos Democratas” - uma força política utilizada para marginalizar a ala esquerda do partido Democrata. Podemos citar também o novo Partido Trabalhista de Tony Blair, no Reino Unido, que são os exemplos mais célebres.
Clinton e Blair colocaram, em um mesmo movimento político, feministas, antirracistas, ambientalistas e ativistas LBGTQIA+ de um lado e uma parte muito cosmopolita e supertecnológica dos empresários do outro.
A ideia era realmente promover uma liberalização, mercantilização e financeirização da economia, mas que teve efeitos muito negativos na segurança econômica e no bem-estar social das classes trabalhadoras em todo o mundo.
As forças que desejavam esse tipo de projeto econômico precisavam de algum carisma, algum tipo de toque especial, que faria esse projeto se tornar atrativo e vinculado a algo que poderia obter amplo apoio. Isso, de certa forma, forneceria cobertura perante a sociedade, dado que essa política econômica é feita para os ricos, mas que, com isso, poderia ser vista como algo amigável pelo restante.
Portanto, tal política econômica foi fundida com uma forma de feminismo meritocrático, antirracista e ambientalista. Com isso, essa forma de política socioeconômica conseguiu a imagem de ser algo emancipatória, excitante, que olhava para frente.
Em alguns países, como na Alemanha liderada pelo ex-primeiro-ministro Gerhard Schröder, do SPD (Partido Social-Democrata alemão), essa política teve muito sucesso, mas acho que nunca houve um nome para isso. Por isso, comecei a definir esse conjunto de políticas como “neoliberalismo progressista”, pois eu queria realmente sinalizar o neoliberalismo como um projeto econômico muito inconstante e oportunista.
BBC News Brasil - O "neoliberalismo progressista" fez com que as discussões se tornassem mais identitárias, ao invés de econômicas, tanto nos EUA como no Brasil?
Fraser - Eu distinguiria a discussão entre políticas de distribuição e políticas de reconhecimento. Distribuição é exatamente sobre economia. É sobre trabalho, seguros, salários, sobre também quem paga impostos, quanto as empresas deveriam pagar ou quanto a classe média deveria pagar. Tudo isso é o que eu penso sobre as políticas de distribuição.
Do outro lado, há as políticas de reconhecimento, que tem a ver realmente como nós reconhecemos todos os membros da nossa sociedade. Pessoas que pertencem a grupos que são historicamente marginalizados, como, por exemplo, gays e lésbicas, trans, mulheres negras, imigrantes, minorias religiosas, entre outros.
Essas pessoas serão reconhecidas como membros plenos da nossa sociedade? Eles terão os mesmos direitos? Para mim, você precisa das duas discussões. Para ter uma sociedade genuinamente justa, precisamos de uma política de inclusão e reconhecimento e de políticas de distribuição igualitárias. E, caso haja um desbalanceamento, se focar em um e ignorar o outro, as coisas irão dar errado.
Eu diria que na era do New Deal e da social-democracia nos EUA, havia um grande estresse sobre políticas mais igualitárias de distribuição, sem uma atenção igual para políticas de reconhecimento. Nas décadas seguintes, em especial nas décadas de 1980, 1990 e 2000, a ênfase mudou apenas para o reconhecimento ou diversidade.
Acredito que, por muito tempo, isso sugou o oxigênio de outras discussões. O foco principal dos movimentos sociais progressistas não estava na parte da distribuição, o que foi um desastre porque foi nessas décadas que o neoliberalismo estava se desenrolando e que era o momento real em que você precisava redobrar a atenção sobre a distribuição de renda.
Ao invés de trabalharmos para que ambas políticas fossem o foco e houvesse uma conexões entre eles, nós tivemos o foco apenas no reconhecimento ou, como você diz, nas pautas identitárias.
Mas, tenho que dizer que recentemente as coisas estão mudando novamente. Eu acho que nós estamos tendo, desde a eleição de Trump nos EUA em 2016, uma mudança das massas, que começam a se virar contra o sistema.
Com essas circunstâncias, há mais atenção sobre distribuição e há versões disso na direita e na esquerda, como Trump e Sanders, nos EUA, por exemplo. Agora, a diferença entre os dois está no reconhecimento. Trump é um branco, nacionalista, anti-imigração, antigay e antitrans, enquanto que do outro lado há inclusão.
Estamos começando a retornar nessa questão de distribuição e reconhecimento e, nos EUA, neste momento, a direita está fomentando uma guerra cultural focada naquilo que podemos falar nas escolas, o que devemos ensinar sobre o racismo nas escolas, dentre outras coisas.
Isso é uma estratégia deliberada para distrair a atenção para longe das políticas econômicas porque os Republicanos, incluindo Trump e seus concorrentes, ainda têm um programa econômico pró-ricos. Eles não querem falar muito sobre isso. Isso é distração.
Então, o desafio para o outro lado é resistir a ser tragado pela guerra cultural e deixar o debate econômico de lado ou, ao menos, entender como conectar essas duas visões novamente.
A diversidade está se tornando uma palavra utilizada apenas pelas empresas. Todas as companhias, toda universidade, tem um departamento de diversidade e essas pessoas são completamente desconectadas de qualquer ideia de como um conteúdo crítico deveria ser. Isso é uma política muito rasa. Não é algo igualitário.
As vezes, aqui nos EUA, nós dizemos "black faces in high places". Então, sem qualquer atenção para a situação da massa das pessoas negras, essa diversidade não possui um conteúdo real e é uma nova distração basicamente.
BBC News Brasil - Mas isso ocorreu por causa da própria esquerda ou a extrema-direita pautou o debate?
Fraser - Eu acho que é uma ótima questão, mas muito complicada. Eu venho pensando muito nisso. De um lado, nós não devemos fazer parte dessa política de distração, não podemos deixar com que todos os debates institucionais sejam sobre esses problemas. Nós não podemos jogar o jogo deles.
Ao mesmo tempo, o que eles estão fazendo é tornar alvo e usando de bode expiatório pessoas reais. Então, nós não podemos lidar com um projeto que nega serviços sociais para uma juventude trans, por exemplo, que está em uma situação frágil e vulnerável.
Nós temos que, de alguma forma, estarmos preparados para defender indivíduos que estão sendo usados, ao mesmo tempo que defendemos os direitos de reprodução, que é um outro foco de ataque.
Por isso, deveríamos falar sobre tais pontos, mas a parte difícil é perceber como conectar esses dois problemas. Isso não é fácil.
BBC News Brasil - A senhora acha que esse "neoliberalismo progressista" ajudou na eleição de presidentes da direita radical, como Trump nos EUA e Bolsonaro, no Brasil?
Fraser - Sim, com certeza. Nos EUA não há dúvidas que o bloco do neoliberalismo progressista, que consolidou o neoliberalismo e marginalizou a parte pró-trabalhista do partido Democrata, realmente tem uma grande parte de responsabilidade na deterioração das condições e dos padrões de vida no país.
No chamado Cinturão da Ferrugem, que é historicamente o coração da indústria americana e hoje é um terreno baldio com muitos problemas de vício em opioides e violência armada, o neoliberalismo progressista tem muito o que responder. Eles, basicamente, supervisionaram a transição de uma classe trabalhadora altamente sindicalizada para uma massa de trabalho mal paga e precarizada.
Não há dúvidas que isso ajudou Trump, mas também ajudou Bernie Sanders. Em outras palavras, as pessoas entenderam, em um certo momento, que eles não poderiam seguir essas políticas neoliberais, que eles precisavam de uma alternativa para uma situação que Antonio Gramsci chama de “crise da hegemonia”.
Elas perceberam que o establishment não é mais confiável, o senso comum já não era mais persuasivo, então as pessoas estavam olhando para uma alternativa radical. Algumas olharam para Trump, outras para Sanders, e o que é muito interessante é que às vezes elas optavam por Sanders, mas com ele fora da disputa, votaram em Trump, em um fenômeno semelhante ao que ocorreu no Brasil, com o voto “Bolsolula”.
Qualquer forma de neoliberalismo se tornou tóxica, politicamente falando. As pessoas começaram a procurar alternativas para esse sistema. Em um país como os EUA, onde o neoliberalismo se aliou aos progressistas, é compreensível que Trump fosse o beneficiário maior dessa busca. Isso porque o neoliberalismo se associou muito ao tema da diversidade e, ao rejeitar esse sistema econômico, acabam por rejeitar também a pauta identitária.
Clique aqui para ler a íntegra.
segunda-feira, 13 de outubro de 2025
O brasileiro citado no Nobel de Física
Na aparência, essa notícia é sobre o maior prêmio internacional, sobre o brasileiro cujas pesquisas contribuíram para o trabalho premiado, sobre essa área fantástica da ciência que é física quântica, sobre, enfim, coisas importantes, bacanas, do progresso, mas não é o que eu vejo. O que eu vejo nela é só ideologia. O que é o Nobel? Uma distribuição de dinheiro para personalidades dos países ricos, dinheiro deixado por um sueco que tinha a consciência pesada porque inventou a dinamite e outras mercadorias para destruição (sua história familiar de sucesso é trágica). Dois agraciados só, que eu saiba, tiveram a dignidade de recusar a premiação (que já foi dada até a Henry Kissinger e Menachem Begin), e foram eles: Jean-Paul Sartre e Le Duc Tho. A espécie humana investe muito e ainda dá mais dinheiro para os premiados na fantástica física quântica, mas não tem dinheiro para resolver os problemas realmente urgentes e importantes do mundo, é incapaz de salvar as crianças e os jovens palestinos assassinados em Gaza ou as crianças e jovens pobres brasileiros assassinados todos os dias. É assim. Para que serve a ciência? Para que serve o dinheiro? Para que serve o jornalismo? Para movimentar o circo do capital. O brasileiro da matéria é integrante de uma casta de acadêmicos que têm seu mérito, mas são pouco ou nada úteis para seu país, pois o Brasil não se interessa por ciência e tecnologia, uma vez que, há cinquenta anos, seus governantes escolheram importar tudo e exportar produtos agropecuários e minerais, de forma que as carreiras científicas servem só ao benefício pessoal. Por fim, de que progresso se fala, quando o que ele proporciona é só desigualdades, violências e destruição ambiental? Jornalismo é entretenimento, nos distrai da realidade com notícias assim, produzindo ideologia. Quando cumpre seu papel, é capaz de conter até os bandidos que tomaram conta do país, mas só faz isso quando os bandidos não são os próprios donos das empresas jornalísticas.
PS: Nenhum brasileiro jamais ganhou um Nobel, que já foi dado a personalidades de nações menos destacadas, inclusive argentinos, chilenos, venezuelanos e colombianos.
'Achava meio chato': brasileiro citado no Nobel de Física trabalhou por acaso na teoria que o transformou em referência internacional
Camila Veras Mora, BBC News Brasil
No último dia 28 de agosto, o físico Amir Caldeira se aposentou formalmente da Unicamp, onde dá aulas desde 1980. Sua rotina, entretanto, em nada lembra a de um aposentado, especialmente nos últimos dias.
Desde que sua pesquisa de doutorado foi citada no último prêmio Nobel de Física, divulgado no dia 7 de outubro, ele não parou de dar entrevistas e de receber convites para eventos.
"Se pra mim está sendo assim, imagina para os agraciados", ele diz, referindo-se ao britânico John Clarke, ao francês Michel Devoret e ao americano John Martinis.
O trio recebeu o prêmio pela pesquisa de fenômenos quânticos em escala macroscópica — em linguagem bastante simplificada, eles verificaram que propriedades até então observadas apenas no mundo subatômico, de partículas muito pequenas, também podem ser replicadas em objetos maiores, como circuitos elétricos.
Os experimentos, que abriram caminho para a computação quântica, usaram a base teórica desenvolvida por Caldeira junto a seu orientador, o britânico Anthony Leggett (que ganhou o Nobel de Física em 2003), na Universidade de Sussex, no Reino Unido, no fim dos anos 1970.
Curiosamente, a dissipação quântica (entenda melhor abaixo), tema do doutorado de Caldeira, que acabou transformando o físico brasileiro em referência internacional na área, não era o que ele tinha em mente quando saiu do Rio de Janeiro para a Inglaterra para fazer o PhD naquela época. Ele achava o tema "meio chato".
"Não era o que eu queria pesquisar", diz, dando risada e emendando que o acaso acabou colocando o tema no centro da sua vida acadêmica mais de uma vez.
O bizarro mundo da mecânica quântica
Caldeira, Leggett e o trio do Nobel se dedicam ao estudo da mecânica quântica, teoria que completa seu centenário em 2025 e busca descrever o comportamento de objetos muito pequenos, menores que o átomo.
Isso porque as leis da física clássica não conseguem explicar o mundo subatômico, que está recheado de fenômenos "estranhos", "bizarros" e "chocantes", adjetivos usados com frequência por Caldeira e por seus colegas.
Por exemplo: é impossível saber ao mesmo tempo a posição e a velocidade de uma partícula subatômica, como um fóton ou um elétron.
quinta-feira, 9 de outubro de 2025
Imagine que não há países nem religiões nem posses
Agência Pública investiga participação dos EUA na origem da larva jato
Oportuna avaliação do trabalho da imprensa na larva jato, da prisão do Lula e da condenação do bozo. A certa altura, a entrevistada diz que a Agência Pública também embarcou na larva jato. Bem, eu nunca embarquei, como mostram publicações da época cujos links reproduzo abaixo. Passado tanto tempo, ainda não há, nem mesmo em veículos de ponta, consciência da tragédia nacional que foram as últimas três décadas de governos ditos de esquerda, com a interrupção dos seis anos de governos de direita e extrema direita, que são parte integrante delas. A questão principal é que a esquerda brasileira não tem um projeto nacional, nunca teve, desde que o projeto revolucionário urdido na clandestinidade sob a ditadura militar (1964-1985) foi derrotado pelo projeto da democracia burguesa.
https://jornalaico.blogspot.com/2014/10/a-maior-ameaca-eleicao.html
https://jornalaico.blogspot.com/2014/11/delegado-da-operacao-lava-jato-fizeram.html
https://jornalaico.blogspot.com/2014/11/o-golpe-esta-caminho.html
https://jornalaico.blogspot.com/2018/05/o-judiciario-brasileiro-e-ocupado-por.html
https://jornalaico.blogspot.com/2019/06/a-destruicao-do-brasil-pela-larva-jato.html
terça-feira, 7 de outubro de 2025
Kid games and nursery rhymes
Você conhece Gaza?
Clique no link abaixo e veja o que o Google nos oferece sobre Gaza. Imagens antigas de uma cidade de 600 mil habitantes belíssima, que foi destruída pelas bombas de Israel.
O genocídio dos palestinos em Gaza por Israel é o maior crime da história
Gostaria que todos os indivíduos da espécie humana se levantassem espontaneamente no mundo inteiro contra isso, porque é essa a resposta que o genocídio dos palestinos em Gaza pelos judeus sionistas de Israel deve ter. Se ainda houver história, porque os acontecimentos contemporâneos superam qualquer barbárie histórica anterior e indicam um futuro próximo catastrófico, esse genocídio será lembrado como o maior crime da história. Pior do que o extermínio dos judeus pela Alemanha nazista.
Nenhum genocídio foi tão violento quanto o que vemos acontecer hoje de forma descarada e desavergonhada, aos olhares da população mundial, transmitido pela televisão há dois anos, do conhecimento de todos os governos, inclusive a ONU e as nações mais poderosas, que nada fazem contra isso. Por muito menos, ou sob pretextos muito mais fracos, os EUA, o império britânico e outras nações imperialistas invadiram inúmeros países e fizeram guerra contra outros povos.
A flotilha internacional não governamental tentava levar alimentos e remédios para os palestinos, que estão sob cerco e extermínio de Israel em Gaza, mas o exército israelense a interceptou, prendeu os pacifistas humanitaristas e confiscou a ajuda. Milhares de crianças, mulheres e homens morrem de fome diariamente. O exército de Israel cercou a cidade, despeja bombas nela, cortou água e energia, impede que seus moradores recebam alimentos. São esses os crimes dos judeus sionistas de Israel há dois anos, a que governos de todo o mundo assistem passivamente. Foi a maior flotilha interceptada até agora, mas não foi a única, isso vem acontecendo sistematicamente, em dois anos de genocídio. Os judeus sionistas que vivem em Israel, como o grande intelectual Yuval Harari, autor do livro Sapiens, acham normal eliminarem crianças. Se a espécie humana, o Homo sapiens, não se levanta em todo o mundo contra o genocídio dos palestinos pelos judeus sionistas de Israel, vai se levantar pelo quê?
segunda-feira, 6 de outubro de 2025
Meu trauma profissional
Do alto do palanque improvisado na estância hidromineral, o presidente da República discursava para a pequena multidão que se aglomerou em torno, na tarde daquela sexta-feira. Em certo momento, vociferou contra seus opositores políticos, ameaçando-os com palavras duras. Eu prestei atenção nelas e anotei-as com minha caneta bic no maço de laudas do jornal que carregava. Após cinco anos trabalhando na sucursal belo-horizontina do melhor jornal do Brasil, batizado na cobertura do Plano Cruzado, já experiente em todo tipo de matéria e aprovado com louvor na intensa e trepidante campanha para a eleição presidencial de 1989, a primeira depois de mais de duas décadas de ditadura militar, eu tinha ouvidos bem treinados para notícias e sabia muito bem distinguir o que era importante do que não era. Olhei meus colegas dos três jornais concorrentes, os quais cumprimentara gentilmente, mas sem intimidade nem cumplicidade, e me mantive à distância, pois eles eram de Brasília, repórteres acostumados a cobrir o presidente diariamente, amigos entre si, e eu só os conhecia pelos nomes impressos nas matérias assinadas. Na minha soberba característica, não me sentia inferior a eles, ao contrário, pois tinha uma trajetória bem-sucedida e relações de respeito mútuo com colegas e chefes, de forma que me sentia seguro no meu trabalho. Exatamente um ano antes, tinha publicado minha única manchete no jornal, cobrindo uma inspeção do ministro da Saúde em hospitais públicos da capital mineira; atento, anotei o diálogo do ministro com o diretor da unidade e o transmiti por telefone diretamente ao editor no Rio, que o reproduziu literalmente com destaque. A matéria, mostrando como os pontos dos médicos ausentes tinham sido cortados pessoalmente pela maior autoridade em Saúde do país, repercutiu, meus colegas não tinham sido tão detalhistas nos seus relatos, e recebi elogios. Fiquei satisfeito, mas não me gabei, eu sabia que jornalismo é uma empreitada diária, a manchete de hoje já está velha, o repórter tem que matar um leão todos os dias, como se diz.
De forma diferente, isso se repetiu naquele fim de semana fatídico em que cobri o presidente da República em Araxá. No momento em que, à parte, olhava meus três colegas de Brasília, percebi que eles “trocavam figurinhas”, expressão que a gente usava para se referir às impressões de cada um sobre o que todos tinham presenciado, o que considerava importante, o que era novo e o que não era e como pretendia escrever seu lide. Para nós, do JB, essa prática não era importante. Não que não fizéssemos isso, mas estávamos acostumados a confiar no nosso taco e não temer levar furo, pois éramos quase sempre nós que dávamos o furo, uma vez que nos sentíamos seguros para fazer avaliações próprias, cavar fontes, buscar informações exclusivas. Não havia na sucursal aquela paranoia que tinham os colegas do principal jornal concorrente, instruídos a colar em nós, os do JB, para não serem furados. O sentimento que me tomava era muito diferente: um profundo desprezo por aquele presidente ególatra, falaz, sequestrador da poupança dos brasileiros e superficial como um pires. E bravateiro. Seu discurso agressivo não passava de bazófia, ele procurava animar seus admiradores, bastante desanimados e reduzidos, depois do plano econômico aterrador que implantara um ano antes e já fracassara. Ele dissera que só tinha uma bala para matar a fera da inflação – e errara o tiro. Continuava, porém insistindo no seu estilo de se apresentar como uma espécie de estrela de Hollywood, criando fatos, dando declarações bombásticas, produzindo imagens que os jornais e revistas estampavam e as televisões exibiam, explorando seu dinamismo, jovialidade e coragem, como, por exemplo, ao pilotar um avião supersônico. Ali mesmo, tinha se exibido numa corrida matinal por um parque, em trajes esportes, seguido por uma multidão de repórteres e abordado por eleitores fanáticos. Seu governo, a primeira experiência de um presidente eleito pelo voto direto, era assim, uma espécie de espetáculo diário estrelado pelo presidente, e os jornalistas estavam sempre correndo atrás dele, fotógrafos e cinegrafistas, para registrar a melhor imagem, repórteres para produzir manchetes. Nesse show, a imprensa se transformava numa espécie de máquina de propaganda do governo cujo funcionamento eu tinha oportunidade de acompanhar de perto naquele fim de semana. A docilidade dos meus coleguinhas chamara minha atenção, em especial a intimidade da repórter do principal concorrente com o presidente: ele a chamava pelo nome, lhe sorria, confidenciava palavras no ouvido. No dia seguinte, essa camaradagem ficaria descarada, quando um emissário do presidente a procurou entre nós, disse que ele queria falar com ela e ela o acompanhou à suíte presidencial; eu nunca soube o que conversaram, mas achei aquilo também desprezível.
O fato é que, enquanto observava meus coleguinhas de Brasília – a repórter predileta do presidente e os repórteres dos outros dois jornais de circulação nacional – conversarem naquele fim de tarde, depois do discurso presidencial, eu tomei uma decisão: não mandaria uma nova matéria. Aquele ataque não passava de retórica, seu objetivo, além de animar a plateia, era produzir manchetes na imprensa e criar um fato político. Nós, jornalistas, estávamos sendo usados pelo presidente, que queria se promover e enviar um recado à oposição. Eu não me prestaria a esse papel.
Se eu fosse um sujeito importante, se o episódio tivesse tido relevância, o título do alto seria: “A verdade sobre a cobertura do presidente em Araxá”, mas o episódio não teve importância na política brasileira, muito menos eu fui um repórter de destaque. A única importância que o fato teve foi para a minha vida profissional e a minha vida pessoal, porque, percebo agora, as duas sempre andaram juntas, nos momentos decisivos. Eu nunca soube distingui-las, sempre tomei decisões subjetivas em relação à minha profissão.
Naquela tarde em Araxá, eu tomei minha equivocada decisão com soberba tranquilidade. Como disse, nós, repórteres da sucursal do JB em BH, sempre gozamos de uma exemplar segurança, proporcionada pela excelência do nosso trabalho, e eu, pessoalmente, nunca tinha sofrido sequer uma admoestação por levar um furo. Eu sabia – e não me enganei – que aquelas palavras bombásticas pronunciadas pelo presidente no palanque estariam esquecidas no dia seguinte, sequer teriam consequência, caso a imprensa não as reproduzisse, atuando como máquina de propaganda do governo. Se o editor me questionasse, eu as tinha anotado para o jornal publicar, mas não o faria por minha conta. Obviamente, essa decisão era equivocada, porque, fosse como fosse, eu não tinha direito de privar os leitores do JB daquela demagogia presidencial. Pelo menos não deveria fazer isso sozinho, no mínimo tinha obrigação de telefonar para meu subchefe e lhe narrar o que tinha ouvido, transferir para ele a responsabilidade de publicar ou não aquele destempero. Se eu estivesse preocupado com meu emprego, era o que deveria, prudentemente, fazer. Mas não fiz. Já tinha mandado uma matéria com bastidores da viagem presidencial, cheia de fontes, exclusiva, saborosa, como se dizia, tão boa que no dia seguinte mereceu elogios eloquentes do editor regional, e decidi não enviar outra; sequer liguei para a redação, assumi a responsabilidade sozinho.
Ajuda a explicar minha atitude temerária o fato de que, naqueles dias, a sucursal andava tumultuada, nossa equipe estava insatisfeita e eu mesmo queria sair do jornal, embora não tivesse coragem para pedir demissão. O ambiente no JB mudara radicalmente depois da eleição do presidente. A cobertura da eleição presidencial de 1989 foi o canto do cisne de um jornal que era então o melhor do país e deu um banho nos concorrentes naquela campanha histórica. A equipe foi reforçada, especialmente a sucursal de Belo Horizonte, pois os candidatos privilegiavam Minas Gerais, considerado estado decisivo, como realmente foi naquela e em todas as eleições presidenciais desde então. Minas é uma espécie de síntese do Brasil e o candidato que vence no estado vence também no país, geralmente com percentuais de votos bem próximos. Aquela eleição teve mais de duas dezenas de candidatos e frequentemente vários percorriam o estado ao mesmo tempo em busca de votos. Por ser uma novidade para a maioria dos brasileiros, eleitores e jornalistas, além dos candidatos, havia muito tempo aguardada, a eleição de 1989 foi uma verdadeira festa cívica, repleta de imprevistos. Com empenho dedicado do editor regional, nós, da sucursal do JB em BH, acompanhávamos tudo e nos esmerávamos em produzir notícias exclusivas, abordando os mais diversos aspectos do pleito, presentes nos locais mais improváveis, interferindo, com nossas matérias, até mesmo no rumo da campanha. Foi, por exemplo, a matéria exclusiva de uma colega atenta que derrubou definitivamente as pretensões de um candidato famoso e metido a engraçado, que, num debate noturno numa faculdade, soltou o famoso comentário: “Tá com vontade sexual, estupra, mas não mata”. Ele não imaginou que tinha jornalista na plateia, mas tinha, porque, na eleição presidencial de 1989, em Minas, onde tinha um candidato, tinha um repórter do JB. Foi uma cobertura inesquecível e eu me lembro bem como terminou. No segundo turno, fui escalado para cobrir um lugarejo onde Lula tinha eleitores tão pobres quanto fiéis. Quando liguei para a sucursal para passar a matéria, o editor regional, o mesmo, me disse: “Esquece, não precisa mandar a matéria, pode voltar, Lula perdeu”.
O editor era petista. A equipe, no todo, estava dividida; embora o número de petistas fosse maior, havia também eleitores do Covas, do Brizola e do Freire, mas, no segundo turno, que eu me lembre, Collor recebeu só um voto. Nossas simpatias, porém não prejudicavam nosso trabalho, ao contrário, possibilitavam que não fôssemos cegos para a estrutura crescente do candidato eleito e ajudavam a equilibrar a cobertura. No começo, a preferência do eleitorado brasileiro foi se alternando e a cada semana aparecia um azarão para fazer frente aos consistentemente preferidos: Collor, Brizola e Lula. A eleição seria em dois turnos, o que alimentava duas dúvidas: algum candidato conseguiria maioria no primeiro turno? Se não, quais seriam os dois adversários no segundo turno? Desde o começo, ficou evidente que Collor era o preferido, mas obter a maioria dos votos era outra coisa. Seus concorrentes se alternavam, de repente algum disparava e ameaçava superá-lo. Além disso, pesquisas indicavam chances de candidatos mais fracos o derrotarem no segundo turno. Eu não tinha candidato, escolhi o meu na cobertura, observando-o, ouvindo-o, entrevistando-o, ponderando, comparando. Votei no Covas, mas reconheço hoje que Brizola teria sido o melhor presidente, pois era o mais experiente e tinha um bom programa de governo. O empresariado que apoiara a ditadura militar não o aceitava, porém.
Reconheço também que, além de contar com a simpatia de muitos jornalistas, Lula, então um ex-operário metalúrgico, exercia fascínio sobre os eleitores, especialmente os mais simples. Ele era o candidato mais parecido com as pessoas comuns, dava atenção a todos, conversava com muitos, ia coletando informações sobre a vida do povo da localidade que visitava e, quando subia no palanque, juntava tudo num discurso coloquial que encantava a plateia. Foi a ele que eu pedi o primeiro autógrafo da minha vida, para minhas filhas pequenas – e ele escreveu, numa lauda do JB: “Para Flora e Marina, um abraço do Lula”. Naquela eleição, participei indiretamente de outro episódio importante. Foi quando Collor apresentou na sua propaganda eleitoral uma ex-namorada do Lula que o acusava de ter lhe pedido para fazer um aborto. O candidato petista estava num comício em BH no mesmo horário e o editor regional me mandou lá para ouvi-lo a respeito. Como ninguém no palanque tivesse visto o programa, precisei narrá-lo. Nas suas memórias, ao lembrar a história, o assessor de imprensa Ricardo Kotscho afirma que aquele foi o ponto de inflexão da campanha do Lula, “que até então só pegava sinal verde”.
Embora quase todos os candidatos fizessem questão de ser simpáticos com os jornalistas, entre os quais os do JB não recebiam as menores atenções, alguns transpareciam integridade, honestidade, sinceridade, enquanto outros eram evidentemente espertalhões e inconfiáveis. O líder nas pesquisas tornou-se o pior candidato para se cobrir, não só pelas multidões que arrastava, mas também pelo aparato de segurança mobilizado ao seu redor, responsável por violências contra opositores, maus tratos a eleitores e até desrespeito ao trabalho dos jornalistas. Salvo exceções, oportunistas ou sinceras, a animosidade mútua entre repórteres e o futuro presidente, incluindo sua entourage, ficou logo escancarada. Todos os seus defeitos de ordem pessoal já eram então conhecidos e comentados e apareciam em matérias. As graves acusações que mais tarde seriam abordadas pela imprensa e levariam ao seu impeachment também já eram conhecidas. Enfim, na imprensa, todo mundo sabia, já na campanha eleitoral, quem era aquele que viria a ser o futuro presidente, mas, diante do risco da eleição dos esquerdistas Brizola ou Lula, os empresários da imprensa escolheram ignorar seus defeitos.
A cobertura do JB destoava dessa escolha e por isso era tachada de “petista”. Quando a eleição se consumou, o jornal viu-se em situação difícil, mudou sua chefia de redação e sua linha editorial, cada vez mais governista, o que afetou o ambiente de trabalho. Somava-se a isso o comportamento pessoal do editor regional, infrequente no trabalho, às vezes ausente durante dias. Foi numa situação assim e por força de uma série de coincidências que eu, que não era repórter de política, cobri a visita presidencial em Araxá: enquanto o presidente passava um fim de semana em Minas Gerais, o editor regional tinha sumido, a primeira repórter de política se demitira, o segundo teve um súbito problema pessoal e o subchefe me escalou de última hora para viajar. Nenhum de nós poderia supor, porém, muito menos eu, considerando nosso brilhante currículo coletivo e meu confiável currículo individual, o que estava para acontecer: que eu faria o que fiz e que me tornaria um bode expiatório. Depois de ouvir os elogios do chefe, no sábado de manhã, eu baixei sua bola, perguntando-lhe se tinha visto os outros jornais, ele respondeu que não, e eu lhe disse para ver. Ele não disse mais nada. Fiz e enviei a minha matéria do dia; apesar da discrepância entre a manchete do JB e as dos outros jornais, o assunto não repercutiu, porque havia rumor forte de uma bomba, que monopolizou as atenções dos jornalistas no fim de semana: a possível demissão da ministra da Economia, que eu tratei de apurar e, dessa vez, não destoei dos meus colegas.
Quando, na segunda-feira, o presidente voltou para Brasília e eu cheguei em Belo Horizonte, o editor regional me chamou à sua sala e foi curto e grosso: “Você está demitido. Sinto muito, mas não posso fazer nada. É a sua cabeça ou a minha”, me disse. Eu me resignei, como me resignava sempre, e na verdade senti alívio por me ver livre daquele suplício em que vivia desde 1990, querendo sair do jornal e sem poder pedir demissão. Apesar do trauma que me amargurou, pela situação em que a demissão se dava, eu tinha a desculpa de ela ter sido drástica e injusta. Mais difícil foi, nos dias seguintes, recusar as propostas de emprego que me foram feitas: eu não queria mais ser jornalista e considerava incogitável trabalhar em outros jornais depois de trabalhar no JB: todos me pareciam menores, quase insignificantes.
(Capítulo do livro inédito Nada é o que parece ser.)
domingo, 5 de outubro de 2025
Uma carta aberta antidemocrática e ridícula
Uma carta aberta encabeçada pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) com mais de uma centena de signatários dignos de respeito e com passado relevante em defesa da liberdade de informação e da democracia é um dos documentos desse tipo mais equivocados que eu já li. Divulgada no final de setembro passado (9/25), a carta, que pode ser lida na íntegra na página do Fórum, clicando aqui, faz afirmações corretas e considerações pertinentes antes de assumir uma posição descaradamente antidemocrática e atacar um dos podcasts mais interessantes dos últimos tempos, o Três Irmãos. Pelo espaço que o ataque ocupa na carta, parece que a intenção era mesmo essa. Em resumo, o texto afirma que o podcast faz muito sucesso e é de extrema direita, que pessoas progressistas e de esquerda não devem participar dele, só devem participar dos veículos de comunicação progressistas. Discordo radicalmente dessa ideia. Em primeiro lugar, não considero que o podcast é de extrema direita. Seus apresentadores expressam nítidas divergências entre si e, mesmo que um deles demonstre simpatias com ideias de direita e até, talvez, de extrema direita, ambos são respeitosos com as opiniões alheias. Esse respeito não é de extrema direita. Correntes stalinistas da esquerda sempre tiveram dificuldade de aceitar a liberdade de expressão dos que discordam delas. Discordo muitas vezes do que os dois apresentadores dizem, mas discordo também do que dizem muitas vezes os entrevistados e debatedores. Desse e de outros podcasts. Aliás, no Três Irmãos, entrevistados e debatedores são muito mais importantes e têm muito mais tempo para falar do que os apresentadores. O podcast tem promovido debates e entrevistas esclarecedores com presenças dos intelectuais mais lúcidos na atual conjuntura, entre eles Vladimir Safatle, Breno Altman, Jones Manoel, Elias Jabbour, José Kobori, Frederico Keper e outros. A propósito, Altman, Manoel e Jabbour manifestam explícita admiração por Stalin e Jabbour é um entusiasmado defensor da China dita comunista, Kobori também. Os debates do Altman com um deputado, este sim, de extrema direita e com um rabino podem ser considerados históricos e prestaram excelentes serviços à informação e às bandeiras da esquerda. O podcast deveria servir de modelo para programas insossos ditos de esquerda e progressistas, mas frequentemente chapas-brancas, e por isso pouco interessantes. Fico imaginando se os inúmeros signatários da carta a leram, compreenderam e concordam de fato com seu conteúdo. Se a resposta é sim, sugiro que a releiam, repensem e divulguem uma nova carta à altura desses tempos que exigem muito mais da esquerda do que a repetição de chavões. Um tema relevante para discussão é por que os que lutam pela democratização da comunicação pouco avançaram nas duas últimas décadas, a despeito dos governos pretensamente de esquerda e progressistas.
sábado, 4 de outubro de 2025
A primeira publicação do jornalaico
Foi esta abaixo, no dia 17 de setembro de 2009. Uau! Há mais de 16 anos! Quanta coisa mudou desde então, inclusive na internet, que se anunciava como o reino da liberdade de informação.
Jornalismo agora é uma atitude
Cenas finais
sexta-feira, 3 de outubro de 2025
Como emendas parlamentares viraram canal de irregularidades
O Brasil apodreceu e esse modelo de emendas parlamentares é o mais fiel retrato disso.
Três instituições funcionam e impedem que este projeto de nação nunca executado desmorone completamente: o STF, a Polícia Federal e a imprensa. Nenhuma delas é impecável, mas elas cumprem seu papel, pelo menos parcialmente, enquanto outras, como o Congresso, são o oposto do que deveriam ser. O Congresso deveria representar o povo que o elegeu, mas atua em benefício próprio, se apoderando do dinheiro público para fins pessoais, transformou-se num covil de bandidos, os quais, recentemente, tentaram incluir na Constituição sua impunidade, o que legalizaria o poder do crime organizado, que já domina amplamente o Estado brasileiro, dentro do qual as instituições ainda funcionam parcial e porcamente graças à dedicação de valorosos trabalhadores, não por empenho dos seus superiores.
É preciso acrescentar que esse quadro medonho acontece e é resultado de quase 37 anos de governos civis, quatro de um governo civil-militar, quase 36 de governos eleitos pelo voto direto, dos quais 16 do PT, três de um vice aliado do PT, 11 deles do Lula. Não se pode dizer, portanto que Lula e o PT, a dita esquerda, não tenham nada a ver com isso. De fato, pode-se incluir nos já 27 anos de governos de esquerda, os oito anos do presidente FHC, pois este foi um destacado opositor da ditadura militar e inaugurou o modelo econômico e político ao qual Lula depois deu seguimento. Ficam na conta da direita os cinco anos do governo Collor (mas nem todos, uma vez que Itamar Franco governou dois anos, assim como temer, o minúsculo, governou dois dos quatro anos do segundo mandato da Dilma) e na conta da extrema direita os quatro anos do governo do bozo.
Penso que basta listar os fatos para compreender o Brasil contemporâneo. Não foi a extrema direita nem a direita quem transformou o Brasil no que é hoje, foi a esquerda submissa ao projeto neoliberal. A direita começou a obra, com o Collor, mas FHC e Lula continuaram a executar o modelo, e a extrema direita tornou o modelo pavorosamente pior, mas o terceiro governo Lula não reverteu o quadro da desproteção do trabalho, destruição ambiental e desmonte do Estado. O Brasil, nesses 40 anos após o fim da ditadura militar, tornou-se a nação dos banqueiros, do agrotoxiconegócio e do crime organizado. A nação apodreceu, o Estado desmanchou, a sociedade degenerou. A esquerda não tem e nunca teve um projeto nacional, a não ser a volta da democracia burguesa. Tampouco a extrema direita tem, como tinham os militares sanguinários, seu projeto se limita a liberar o crime, e o projeto do centro é a pilhagem simplesmente. Além das instituições que funcionam ainda, como as citadas, mas que também são castas privilegiadas do serviço público, algumas vozes se fazem ouvir na esquerda, clamando pela revolução que o país nunca teve, que começou em 1930, mas não completou, pela revolução socialista. O povo, porém ouve as vozes dos pastores evangélicos e parece muito mais perto da extrema direita do que da extrema esquerda ou dos nacionalistas. Penso que só a substituição dessa geração que derrubou a ditadura e governa desde então por outra, dos seus netos, poderá trazer boas mudanças para o Brasil. Que nação, porém a nova geração herdará?
quarta-feira, 1 de outubro de 2025
Historiador israelense Ilan Pappe desmente Israel em entrevista a Breno Altiman
Uma entrevista brilhante. Em poucas palavras e admirável clareza, o historiador israelense explica as origens do Estado de Israel e como ele se tornou o que é. Israel se autodenomina -- e seus defensores repetem isso -- "a única democracia do Oriente Médio", mas de fato nunca foi uma democracia, como revela Ilan Pappe. Ele próprio foi expulso da universidade em que trabalhava e proibido de lecionar em Israel depois de publicar livro em que desmentia a versão oficial do Estado sionista sobre o começo do conflito dos israelenses com os palestinos, em 1948. Israel é uma invenção do Império Britâncio, um enclave ocidental no mundo árabe, os israelenses se consideram superiores aos árabes, por isso são racistas, assim como os alemães, sob o nazismo, se consideravam superiores a outros povos, assim como os africânderes de origem holandesa se consideravam superiores aos africanos da África do Sul, assim como os portugueses colonizadores deste continente se consideravam superiores aos indígenas e aos africanos escravizados, assim como os magas se consideram superiores aos afrodescendentes e latinos. O racismo contemporâneo é uma ideologia europeia. Ilan Pappe é considerado traidor em Israel, posição típica dos governantes racistas contra os integrantes do seu grupo social que desmascaram o racismo.
Sendo como é um Estado inaugurado pela limpeza étnica e que prosseguiu pelo apartheid, condição tolerada, acobertada e apoiada há quase oitenta anos pelos governos norte-americanos e europeus, com a submissão da ONU, fico pensando se o que acontece nos EUA e muitos outros países hoje, isto é, a ascensão de autocracias, o aumento sem limites do poder de governos eleitos e os desmandos despudorados dos bilionários, não é uma "israelização" do mundo. Israel é caso único de um Estado que se estabeleceu nas terras de outro povo, como uma colônia em permanente expansão, que se impõe pela força das armas e do dinheiro com apoio do chamado "mundo ocidental". O regime da África do Sul não durou tanto (começou em 1948, como Israel, e terminou há 31 anos) nem contou com tanta simpatia e cumplicidade para seus crimes de genocídio.
Salém Nasser - Mossad Controla Trump com o Caso Epstein?
Que Israel controla a política norte-americana eu leio desde os anos 70 na imprensa que merece esse nome. Que influencia a imprensa mundial decisivamente e desequilibra o noticiário, também. Que o serviço secreto israelense é poderosíssimo e está por trás de fatos políticos que a gente nem imagina, todo mundo sabe. O genocídio em Gaza é uma comprovação diária há dois anos do poder israelense na economia, na política e na imprensa mundiais. Ainda assim é impressionante a história desse americano, Jeffrey Epstein, que mesmo depois de morto continua sob censura, por suas ligações com todo o (sub)mundo do poder estadunidense.
terça-feira, 30 de setembro de 2025
Sionismo x antissionismo, um excelente debate
Vale por mais do que uma aula sobre as causas do genocídio dos palestinos por Israel em Gaza, que completa dois anos: é um curso inteiro de história do sionismo, do judaísmo e do mundo contemporâneo. Tenho críticas ao Breno Altman por sua simpatia ao stalinismo, mas suas falas e seu comportamento nesse debate são admiráveis. Sobre o rabino, o melhor que se pode dizer foi dito no final: ele foi o único sionista que aceitou debater o assunto. E demonstrou diversas vezes as características morais e intelectuais dos extremistas. Seja como for, é útil entender como funciona a cabeça dessas pessoas. A cegueira dos fanáticos aos fatos (como não condenar o genocídio em Gaza e manter a dignidade? Como dormir em paz? Como continuar sendo um religioso?) é tão grande que fica evidente a impossibilidade de entendimento racional. O que vale para Israel vale também para os negacionistas norte-americanos, para não dizer dos bozoístas, que estão em baixa.
Fiquei pensando também o quanto esses debates e podcasts na internet não só contribuem para a politização de quem se interessa, mas também são avanços na democracia liberal burguesa, cuja decadência é assustadora. E olha que o Brasil hoje anda sendo exemplo para o mundo. O mérito, porém é do Judiciário, que conduziu corretamente o julgamento dos golpistas e não se intimidou com as pressões externas (exceto um ministro do STF), e da sociedade, que saiu às ruas para dizer não à impunidade e à anistia. Foram reações importantes, que mantêm a democracia e impedem que o Brasil se transforme também numa autocracia, como tantas nações já se tornaram, mas foram reações, o que significa que a iniciativa continua com a extrema direita golpista e com os políticos corruptos, corrupção que hoje já se encontra misturada com o crime organizado. É preciso muito mais, é preciso um projeto de nação alternativo e melhor do que o Estado atual para derrotar a ascensão da extrema direita.
segunda-feira, 29 de setembro de 2025
Certeza de boa leitura
Uma das reportagens mais interessantes que eu fiz no período em que trabalhei no Jornal do Brasil foi sobre cassinos clandestinos. Não me lembro a data exata, provavelmente em 1988. Foi uma pauta encomendada, isto é, veio diretamente da sede, no Rio, e eu fui escalado, provavelmente porque andava cobrindo o jogo do bicho, que, apesar de ilegal, agia escancaradamente em BH. Eu e o repórter fotográfico Mazico viajamos para o Sul de Minas e passamos quase uma semana à procura de cassinos clandestinos. Tínhamos boas indicações de fontes e cidades, principalmente estâncias hidrominerais, mas não foi fácil encontrar um. Obviamente, sendo clandestinos, não estavam à mostra, mas existiam, todo mundo sabia, e conseguimos boas entrevistas, uma delas, me lembro bem, com um "ex-bicheiro" carioca que estava vivendo em Minas. Outra entrevista curiosa foi com um crupiê veterano, dos tempos em que cassinos funcionavam livremente, inclusive em BH, onde hoje está instalado o Museu de Arte da Pampulha, antes que o então presidente Dutra decretasse sua ilegalidade, em 1946. Essas e outras fontes defenderam a legalização dos cassinos como atividade turística importante, mas negaram a existência de cassinos clandestinos na região. O velho crupiê, homem elegante e de boa conversa, falou com nostalgia daqueles tempos glamourosos e lamentou que tivessem passado. Na noite do mesmo dia em que o entrevistamos conseguimos chegar a um cassino clandestino: precisamos sair de Minas, entrar em São Paulo e voltar para território mineiro por outra estrada; o cassino ficava na zona rural, mas o acesso era bom. Funcionava num galpão, que, externamente, parecia um celeiro, a não ser pela iluminação e pelos carros luxuosos estacionados no seu entorno. Do lado de dentro, porém era um salão suntuoso, repleto de gente bem vestida, em volta de mesas de jogos, servida por garçons alinhados. Cena de cinema. Quando entramos, Mazico e eu, demos de cara com o velho crupiê, trabalhando na primeira roleta... Com essa pérola, voltamos para BH no dia seguinte, eu redigi a extensa reportagem, enviada pelo telex ponta a ponta, e Mazico despachou as fotos, não me lembro se pelo malote ou transmitidas pela telefoto. Ficamos muito satisfeitos com o trabalho, que foi elogiado, e aguardamos ansiosos a edição de domingo, na qual a reportagem deveria sair, revelando aos leitores do JB que, embora proibidos há mais de quarenta anos, os cassinos continuavam funcionando no Brasil, pelo menos em Minas Gerais, provavelmente operados por bicheiros do Rio. A reportagem não saiu naquele domingo, nem na segunda-feira, quando às vezes saíam dominicais que tinham sobrado por falta de espaço, nem no domingo seguinte nem dia nenhum.
Lembrei dessa história lendo Sucursal das Incertezas (foto acima), livro do José de Souza Castro, um dos melhores jornalistas com quem convivi, um dos grandes de todos os tempos no jornalismo mineiro. José de Souza Castro, o Zé de Castro, como o chamam os colegas, ou JC, como ele rubricava suas pautas, foi o editor regional do JB que me enviou para o Sul de Minas e copidescou minha reportagem. Nas últimas páginas do seu livro, ele narra reportagem semelhante que escreveu para O Globo, no começo da década de 1990. Sua matéria, provavelmente melhor, também não foi publicada, embora tivesse até chamada na TV Globo no sábado à noite, naquele tradicional "Leia amanhã em O Globo", e, por descuido, chamada na primeira página do jornal de domingo. No lugar, entrou um calhau, um anúncio de página inteira, por ordem, presume-se, do mais alto escalão do jornal. Por que será?
Sucursal das Incertezas é um livro primoroso. Nele, JC narra inúmeras reportagens relevantes das décadas de 1970, 1980 e 1990. Embora possa ser lido como memórias pessoais, o trabalho incluiu pesquisas e se tornou um compêndio do jornalismo "nos tempos do telex ponta a ponta". É um retrato do trabalho da sucursal belo-horizontina do melhor jornal brasileiro da época, quando as sucursais eram importantes e o jornalismo era muito diferente do que é hoje. Nele, estão citados inúmeros jornalistas que trabalharam nos veículos mineiros e brasileiros no período e as reportagens que escreveram, devidamente circunstanciadas. Além disso, o autor situa as histórias no contexto nacional e faz observações sagazes sobre o jornalismo, a política e a sociedade da nossa época. Tudo isso num texto ágil, limpo e atraente, que prende do começo ao final. É, enfim, um livro surpreendente, mesmo para aqueles que conviveram com o jornalista e conhecem bem sua competência profissional.
Escrito em 2007 e, inicialmente, disponibilizado pela internet, Sucursal das Incertezas, a história vista por um jornalista dos tempos do telex ponta a ponta está agora publicado em papel, felizmente, e merece ser lido por todos os jornalistas, mas não só. Tem 316 páginas, incluindo um apêndice de fotografias. A nova edição foi revisada pela jornalista Cristina Moreno de Castro, filha do JC e com quem ele divide o Blg da Kika Castro, por meio do qual o livro pode ser adquirido. A apresentação é do Acílio Lara Resende, diretor da sucursal do JB em Belo Horizonte durante mais de duas décadas.
domingo, 28 de setembro de 2025
terça-feira, 23 de setembro de 2025
Calma urgente e a reação popular ao projeto da impunidade e à anistia
segunda-feira, 22 de setembro de 2025
A democracia não liberal da China, segundo Elias Jabbour
domingo, 21 de setembro de 2025
Uma aula sobre a China contemporânea
E uma introdução histórica de uma civilização de 3.500 anos.
A ascensão da China e seu impacto sobre o mundo - Cláudia Trevisan e Yili Wang.
sexta-feira, 19 de setembro de 2025
Esquerda no século XXI
Uma história exemplar do Brasil contemporâneo
Eu diria que o Brasil contemporâneo está dividido entre três forças políticas (a política é expressão da sociedade): a primeira, pujante, é a do crime organizado, que expressa o neoliberalismo desenfreado, assumiu o poder com o golpe do temer em 2016, continuou no governo do bozo, ocupou diversos governos estaduais, conta com o apoio eleitoral crescente do povão liderado pelas igrejas evangélicas (que prometem progresso aos pobres como o desta história, e sabemos com provas agora como esse progresso se dá) e manipulado pelas redes sociais, apesar da derrota eleitoral em 2022 e do processo exemplar que condenou os golpistas de extrema direita, tenho dúvida se não voltará ao poder federal no ano que vem; a segunda é a força rendida ao neoliberalismo que tenta desesperadamente manter o Estado sob rédeas civilizadas, inclusive na corrupção e no crime, que se traduz em instituições como o STF, a PF, o Lula (sim, Lula se transformou numa instituição brasileira), parte da imprensa e outras instituições republicanas; a terceira é uma força emergente, que diz que não é possível controlar a ordem burguesa neoliberal corrupta, criminosa e destruidora e que o sistema capitalista precisa ser substituído por outra ordem que coloque a conservação do ambiente, a igualdade e a democracia em primeiro lugar.
O destruidor da Serra do Curral
Quem é Alan Cavalcante do Nascimento, empresário que a PF aponta como líder de um esquema que corrompia funcionários públicos e fraudava licenças ambientais em Minas Gerais
Por Allan de Abreu, revista Piauí, 17 set 2025, 11h31
Na manhã desta quarta-feira (17), a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram uma operação que investiga a corrupção de servidores públicos na área ambiental e de mineração em Minas Gerais. A suspeita é de que empresários pagavam propina para liberar projetos e fraudar licenças ambientais. Segundo a PF, o líder desse grupo criminoso é Alan Cavalcante do Nascimento, um alagoano que fez fortuna na mineração e deixou um rastro de devastação no estado. A piauí publica, abaixo, o trecho de uma reportagem de outubro de 2023 que conta a história de Nascimento e seus rolos na Justiça.
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A festa de Réveillon do empresário Alan Cavalcante do Nascimento talvez seja a coisa mais parecida com as luxuosas farras de O grande Gatsby que Alagoas já viu. Na sua mansão de três andares, no Laguna Heliport, o condomínio com o metro quadrado mais caro do estado, o empresário promove três semanas de festa, com direito a pool party e passeios de catamarã. O ponto alto é o dia da virada para o Ano-Novo, quando cerca de quinhentos convidados costumam assistir a shows ao vivo – o último foi o da banda Saia Rodada, cujo cachê pode chegar a 400 mil reais por apresentação. O notável é que, há apenas dez anos, a diversão de Alan Cavalcante – ele prefere ser chamado pelo primeiro sobrenome – limitava-se a corridas de motocross e comemorações no modesto quintal da casa em que vivia, uma edícula em Arapiraca, no agreste alagoano.
“Eu não era pobre, eu era muito pobre”, disse ele, em conversa com a piauí. “Eu enriqueci com muito trabalho, de segunda a segunda, mais de doze horas por dia.” Em abril do ano passado, numa festa de aniversário, o empresário se emocionou, abraçado à sua mulher, Monica, e à sua irmã Alany, a aniversariante do dia, quando a dupla sertaneja César Menotti & Fabiano, em um show na mansão do Laguna, cantou Tá chorando por quê?. A letra fala de como a prosperidade chega com a bênção divina: Lembra de onde você veio e aonde que você chegou/Lembra de todos os livramentos que você já passou/Nem era para você estar aqui/Mas Deus falou assim:/“Esse aí vou levantar”/“E onde colocar a mão ele vai prosperar.”
E Cavalcante prosperou. Seu patrimônio formal inclui um conglomerado de 38 empresas, entre mineradoras, construtoras e imobiliárias, a maioria em Minas Gerais, e uma multiplicidade de sócios. O capital social de suas empresas, somado, passa de 100 milhões de reais. Em junho passado, seu rosto tornou-se mais conhecido nas redes sociais quando deu o maior lance no leilão beneficente do atacante Neymar, em São Paulo: 1,2 milhão de reais pelo blazer e pelo cordão de ouro e diamantes que o jogador usava no evento. O valor incluiu ainda o Rolex de um empresário amigo do jogador.
Clique aqui para continuar lendo na piauí. Não identifiquei, na revista, o crédito da foto.
Como mineradoras e governos corrompidos destroem Minas Gerais
Acima da lei e dos partidos:
"Operação Rejeito mostrou que, quando o assunto é mineração em Minas Gerais, a pilhagem não tem cor partidária. Os nomes citados nas decisões e inquéritos se conectam, de uma forma ou de outra, a quase todo o espectro político mineiro, incluindo os cotados a disputar o governo: de Rodrigo Pacheco (PSD), Alexandre Kalil (PDT) e Mateus Simões (Novo), passando por Nikolas Ferreira (PL) e Cleitinho Azevedo (Republicanos)."
Tudo que nós precisamos saber sobre a operação da PF que desbaratou a corrupção intrínseca entre mineradoras e autoridades que destroem Minas Gerais impunemente. Basta querer e funcionar, que o Estado tem instituições para, senão impedir, pelo menos intimidar o crime e punir os criminosos. Essa operação, assim como aquela há algumas semanas atingiu o coração do capital financeiro em SP, mostra como o crime organizado tomou conta do próprio Estado. Como isso aconteceu? Que candidato e partido se dispõem a enfrentar a podridão da democracia que abre as portas para a autocracia?
Por Daniel Carmgos / Capivara de Paletó
Minas de corrupção
Deflagrada pela Polícia Federal na última quarta-feira (17/9/25), a Operação Rejeito revelou um esquema bilionário de corrupção no setor de mineração em Minas Gerais. A investigação aponta a existência de uma organização criminosa que fraudava processos de licenciamento ambiental e minerário, cooptando servidores públicos, pagando propina e abrindo empresas de fachada para lavar dinheiro.
Foram 22 prisões preventivas e 79 mandados de busca e apreensão. A Justiça determinou o bloqueio de R$ 1,5 bilhão em bens e a suspensão das atividades de mais de 40 empresas ligadas ao grupo. A PF bateu em portas poderosas: escritórios de advocacia, residências de luxo e até a Cidade Administrativa, sede do governo de Romeu Zema (Novo).
Quem era o líder?
O empresário Alan Cavalcante do Nascimento é apontado pela PF como o chefe de uma rede de mais de 40 empresas usada para movimentar dinheiro e ocultar patrimônio. Documentos judiciais mostram que, depois de se tornar réu na Operação Poeira Vermelha, em 2020, Alan acelerou a criação de sociedades em nome de laranjas para frustrar investigações e manter o esquema ativo.
Alan chegou a comprar imóveis vizinhos a juízas que conduziam ações contra ele: um apartamento no mesmo prédio de uma juíza federal e uma casa em frente à residência de uma juíza estadual. Contei essa história em matéria publicada na Repórter Brasil, onde destaco também que ele arrematou um blazer, um colar e um relógio Rolex por R$ 1,2 milhão durante um leilão beneficente promovido por Neymar.
Alan foi perfilado pela revista piauí, em outubro de 2023, que descreveu festas em sua mansão de três andares em Maceió (AL), equipada com piscina, heliponto e lago artificial com carpas.
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Até um chefão da PF foi preso
O trem foi tão grande que peixes graúdos foram parar na cadeia. Entre eles, o delegado federal Rodrigo Teixeira, que já foi superintendente da PF em Minas Gerais. Na época, comandou as investigações do atentado a Jair Bolsonaro em Juiz de Fora e do desastre da Vale em Brumadinho.
Teixeira chegou a ser diretor de Polícia Administrativa da PF em Brasília, número 2 da corporação, até o fim de 2024, no governo Lula (PT). Antes, havia ocupado cargos de confiança em Minas, como secretário adjunto na Prefeitura de Belo Horizonte, na gestão de Alexandre Kalil (PDT), e até a presidência da Feam (Fundação Estadual de Meio Ambiente) no governo Fernando Pimentel (PT).
Segundo a investigação, Teixeira era o administrador de fato de empresas de fachada ligadas ao esquema, participando de decisões estratégicas, convocando reuniões e controlando negócios que lhe renderiam ganhos milionários sem precisar tirar um centavo do bolso.
Interceptações telefônicas mostraram que, ao assumir a diretoria em Brasília, Teixeira estaria “mandando e desmandando na PF”, como disseram em diálogo dois lobistas. Nessas conversas, discutiram inclusive a indicação de nomes para a Superintendência da PF em Minas, de forma a “não complicar a vida da mineração”.
Dobradinha com Pacheco
Outro preso foi o ex-deputado estadual e advogado João Alberto Paixão Lages (MDB), apresentado pela PF como o responsável pela articulação política do esquema. Nas planilhas internas, ele aparecia como “diretor de relações interinstitucionais” da organização criminosa.
Segundo os inquéritos, Lages era o elo com autoridades e órgãos públicos. Foi ele quem abriu portas na Assembleia, em secretarias estaduais e até em conselhos ambientais, garantindo votos e decisões que favoreceram empresas do grupo. Mensagens interceptadas mostram que ele tratava diretamente com dirigentes da Feam, da ANM e até do Iphan, discutindo pagamentos e ajustando pareceres técnicos.
Em 2014, Lages fez campanha para deputado estadual em dobradinha com o senador Rodrigo Pacheco (PSD), que foi eleito deputado federal. O próprio Pacheco aparece como principal doador da candidatura de Lages em 2018, com R$ 67 mil. Contudo, não há qualquer acusação contra Pacheco na Operação Rejeito.
Nas conversas captadas pela PF, Lages era tratado como “chefe” por servidores e até por diretores da ANM, além de ser o responsável por repassar a Alan Cavalcante informações vazadas de operações policiais.
O homem de Silveira na ANM
Também foi preso o diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM), Caio Mário Trivellato Seabra Filho, apontado pela PF como parte do núcleo institucional do esquema. Segundo a Folha de S.Paulo, ele é visto como homem de confiança do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), na agência.
De acordo com as investigações, Trivellato mantinha contato frequente com o ex-deputado estadual João Alberto Paixão Lages, um dos líderes da organização, a quem se referia como “chefe”.
Há registros de reuniões presenciais e de sua participação em votações que favoreceram uma mineradora, em desacordo com pareceres técnicos da própria ANM. A PF também atribui a ele a prática de retardar processos estratégicos, por meio de pedidos de vista, para alinhar decisões ao interesse da organização criminosa.
O Estadão acrescenta que Silveira indicou não só Trivellato para a ANM, mas também o delegado Rodrigo Teixeira para a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e para um comitê da Petrobras. Além disso, Silveira recebeu R$ 100 mil de doação eleitoral em 2022 de Lages. Não há menção, porém, de que tais doações ou nomeações estejam relacionadas diretamente aos fatos investigados na Operação Rejeito.
“Não vou cair sozinho”
Também caiu na rede o ex-presidente da Feam Rodrigo Gonçalves Franco. Ele tinha sido exonerado por Zema quatro dias antes da operação. O secretário de Comunicação do governo mineiro, Bernardo Santos (engenheiro de formação), disse que a saída de Franco foi para evitar riscos em meio a “burburinhos, vamos dizer, fofoca”.
Dias depois, a PF bateu à porta.
Interceptações indicam que Franco recebia propinas regulares e interferia pessoalmente em processos de licenciamento. O colunista Orion Teixeira, do Estado de Minas, revelou que, às vésperas da operação, Franco desabafava dizendo que não queria “cair sozinho”, que apenas “cumpria ordens” e que as decisões vinham “de cima”.
O candidato de Nikolas, Bolsonaro e Cleitinho
Outro preso foi Gilberto Henrique Horta de Carvalho. A PF o aponta como articulador do esquema, Horta ganhou projeção em 2023 ao disputar a presidência do Crea-MG com apoio de Jair Bolsonaro, Nikolas Ferreira, Cleitinho Azevedo e outros nomes da extrema-direita, que gravaram vídeos pedindo votos.
Ele perdeu a eleição, mas consolidou espaço nesse campo político. Relatei essa história em detalhes em reportagem publicada na Repórter Brasil.
O que dizem as defesas
As defesas dos principais presos tentam reverter as decisões judiciais decorrentes da Operação Rejeito. O ex-superintendente da PF Rodrigo Teixeira alega que as provas são “etéreas”. O ex-deputado João Alberto Lages pede prisão domiciliar por apresentar problemas de saúde. Já o diretor da ANM Caio Trivellato diz que agiu em decisão colegiada e defende que apenas o afastamento do cargo é suficiente. Os detalhes estão nos pedidos de habeas corpus publicados por O Fator.
Evitar a demonização
A Fiemg declarou apoio às prisões, mas emendou críticas ao que chamou de “demonização do setor mineral”. O Ibram, entidade que representa as grandes mineradoras, divulgou nota de “preocupação e repúdio” às práticas de corrupção reveladas pela PF.
Já o governador Romeu Zema só se manifestou mais de 24 horas depois. Em São Paulo, durante um leilão de rodovias, afirmou esperar “punição exemplar” dos envolvidos e disse que a Controladoria do Estado já acompanhava suspeitas sobre o caso. O vice-governador Mateus Simões, sempre eloquente e tido como o homem forte governo, só se manifestou depois do chefe.
Decreto sob medida
Um decreto de Zema publicado em 1º de novembro de 2024, mudou as regras de licenciamento ambiental em Minas. Até então, empresas multadas só conseguiam licença depois de quitar as sanções, detalha a repórter Alessandra Mello no jornal Estado de Minas. Com a alteração, passou a bastar apresentar uma justificativa dizendo não ser responsável pela infração. Segundo as investigações da Rejeito, a manobra foi articulada pelo então presidente da Feam, Rodrigo Franco, e pelo ex-deputado João Alberto Lages.
Mineração sem partido
A Operação Rejeito mostrou que, quando o assunto é mineração em Minas Gerais, a pilhagem não tem cor partidária. Os nomes citados nas decisões e inquéritos se conectam, de uma forma ou de outra, a quase todo o espectro político mineiro, incluindo os cotados a disputar o governo: de Rodrigo Pacheco (PSD), Alexandre Kalil (PDT) e Mateus Simões (Novo), passando por Nikolas Ferreira (PL) e Cleitinho Azevedo (Republicanos).
As ramificações também chegam ao governo petista em Brasília, tiveram apoio de Bolsonaro e muitos foram nomeados pela dupla Zema-Simões. A lama, no caso da mineração, não encontra barragens ideológicas e ajuda a entender por que o setor sempre escapou de controles mais rígidos.
Aliás, uma das matérias de que mais gostei de escrever foi publicada há seis anos, logo depois do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, com o título: O ‘baile da lama’: as relações entre políticos e mineradoras em uma festa de casamento – e fora dela
Faria Limer
Quem procurar Zema em Minas corre o risco de perder a viagem. Desde que lançou a pré-candidatura à Presidência, ele tem passado mais tempo em São Paulo, circulando pelos arredores da Faria Lima. Foi de lá, inclusive, que se manifestou sobre a Operação Rejeito. Escrevi sobre isso na minha coluna desta semana na CartaCapital, em que mostro como o governador quer privatizar a água dos mineiros.
Timing perfeito
Enquanto Minas encara o maior escândalo de corrupção da mineração em décadas, a Rádio Itatiaia lançou o Eloos, projeto vendido como “espaço de conexão e protagonismo”, mas que funciona como vitrine para bajular mineradoras. O primeiro evento será nesta segunda (22), com Zema e o ministro Alexandre Silveira como estrelas, ao lado da secretária de Meio Ambiente, Marília Melo, em meio à prisão de servidores indicados por ela na Operação Rejeito. Entre os patrocinadores estão Vale, CSN, Samarco, Gerdau, Cedro Participações e até o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG)
Estado fraco, lama forte
Pelas redes da Itatiaia, o público não deixou barato. Servidores em greve lembraram os casos de corrupção na área ambiental, denunciaram o sucateamento dos órgãos de fiscalização e ironizaram a ausência de Rodrigo Franco, ex-presidente da Feam, preso na Operação Rejeito.
A paralisação atinge o Sisema (Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos), responsável por licenciamento e fiscalização no estado, e é organizada pelo Sindsema, sindicato da categoria. Os grevistas denunciam salários congelados há mais de uma década, a redução de mil servidores desde 2016 e técnicos que chegam a receber menos de um terço do que ganham colegas contratados por mineradoras.
“É um projeto de desmonte para abrir caminho ao lucro de empresas que devastam o território”, resumiu Wallace Oliveira, presidente do Sindsema, em entrevista ao Brasil de Fato.
Cadê o MPMG?
Se teve algo que chamou atenção na Rejeito foi a ausência do Ministério Público estadual. Quem puxou a fila foram os órgãos federais (PF, MPF, CGU e Receita), mesmo com boa parte das denúncias passando por órgãos estaduais. Em grande parte do período investigado quem estava no comando do MPMG era o então procurador-geral de Justiça Jarbas Soares Júnior.
Jarbas pegou duas caronas em jatos do empresário da mineração Lucas Kallas, como revelou a piauí. Em julho de 2022, voltou de Miami; em abril de 2023, voou para o Caribe. Jarbas disse para a revista que eram “caronas entre amigos”.
Kallas aparece também nos documentos da Operação Rejeito. Ele tentou negociar US$ 70 milhões em direitos minerários com um braço da organização criminosa, mas o negócio naufragou em briga interna dos próprios investigados.
E tem ainda o registro de uma reunião de Kallas com o delegado Rodrigo Teixeira, que contou também com a presença de Alexandre Kalil e do advogado Gabriel Guimarães, ex-deputado federal pelo PT e filho de Virgílio Guimarães.
Para os investigadores, o encontro tratava de negócios ligados a uma mineradora. Já Teixeira disse que foi apenas uma “conversa informal sobre política”, em meio à pré-candidatura de Kalil ao governo de Minas.
Importante registrar: Lucas Kallas não é alvo da Operação Rejeito. Seu nome aparece nos autos apenas de forma incidental, em razão dessas negociações frustradas e encontros citados pela PF.
CPI na área
Segundo a oposição na Assembleia Legislativa, não faltaram alertas ao governo Zema sobre as irregularidades que culminaram na Operação Rejeito. Foram ações civis, audiências públicas, termos de ajustamento e denúncias formais que acabaram arquivadas ou ignoradas. Os deputados estaduais do bloco Democracia e Luta agora recolhem assinaturas para instalar uma CPI do Meio Ambiente.

