quinta-feira, 24 de julho de 2025
O empreendedorismo como um modo de ser, por Vladimir Safatle
quarta-feira, 23 de julho de 2025
Quer saber o que precisa mudar no Brasil?
segunda-feira, 21 de julho de 2025
Câmara aprova devastação ambiental: 'Maior retrocesso dos últimos 50 anos'
sábado, 19 de julho de 2025
Bons lugares em BH
Belo Horizonte é uma cidade medíocre, pelo que poderia ter sido: cidade planejada, nascida do nada, toda inventada pelos homens. Eu que nasci e passei toda a minha vida aqui tenho direito de dizer isso. Cidade capitalista na sua essência: prevaleceram sempre no seu crescimento os interesses do capital, que tudo destrói em busca do lucro, sem pensar no futuro, a não ser no futuro com mais riqueza individual, não coletiva. Bastava que o planejamento inicial fosse mantido pelos governos seguintes, ao longo deste século e quase meio, com revisões periódicas, decisões pensando nos interesses da população e das gerações futuras, e poderia ter se tornado uma metrópole fantástica, mas não foi nada disso que aconteceu. O que BH tinha de bom na origem foi destruído, o que foi feito depois também. O que restou são ruínas de um futuro do passado: a Pampulha, o Mercado Central, o Parque Municipal, a Praça da Liberdade, este adorável Parque das Mangabeiras, no sopé da Serra do Curral, não muito mais. Tudo funcionando em condições precárias, sempre ameaçado pelo avanço dos interesses do dinheiro privado e abandonado pela falta de dinheiro público. Medíocre e triste.
Crédito da foto: Suziane Brugnara / PBH.
Música do dia: Clube da Esquina, Milton Nascimento
quarta-feira, 16 de julho de 2025
A cidade data center que vai destruir ainda mais o ambiente no RS
Música do dia: Volver a los 17, Violeta Parra
Esses versos da chilena estão entre os mais belos que eu já ouvi. Cada estrofe é bela e precisa, como são os poemas de Vinicius de Morais, e o conjunto transmite uma ideia verdadeira, como deve ser tudo que se escreve. O refrão é poderoso e outras estrofes me tocaram separadamente cada vez que ouvi, mas levou muito tempo para admirar o conjunto inteiro.
terça-feira, 15 de julho de 2025
Como os EUA articularam e financiaram o neoliberalismo no Brasil
Apocalipse nos Trópicos
Petra Costa fala ao Brasil de Fato sobre novo documentário. Este e o vídeo seguinte, uma reportagem do Bob Fernanedes, mostram como os EUA exportaram de forma planejada a religião evangélica e o neoliberalismo para dominar o Brasil após a ditadura militar. O governo do Bozo e o controle do Congresso são expressões disso. Vale a pena ver o documentário da Petra, que está no Belas Artes e no Netflix.
terça-feira, 8 de julho de 2025
Planeta em crise: a verdade sobre o caos climático
Aqui uma exposição científica sobre o que está acontecendo e vai acontecer nos próximos anos e décadas até a autoextinção da espécie humana.
Crise climática: até quando vamos aguentar?
domingo, 6 de julho de 2025
Música do dia: Triste, com Sant Andreu Jazz Band
sábado, 5 de julho de 2025
Música do dia: Meditação, com Andrea Motis & Joan Chamorro Quinteto
Quando a gente pensa que já ouviu tudo de lindo, vem o trompete da Andrea Motis. E depois mais e mais. Gravação maravilhosa. Até o sotaque dela é charmoso. A letra do Newton Mendonça é uma daquelas obras-primas da Bossa Nova que casam perfeitamente com a música.
sexta-feira, 4 de julho de 2025
Tico-tico no fubá, por Lucie Horsch
Descoberta inesperada. Aplausos.
quinta-feira, 3 de julho de 2025
Bastidores de (Um) Ensaio sobre a cegueira, Grupo Galpão
Quanto o Brasil arrecadaria com um novo imposto sobre os super-ricos
O Congresso que representa os ricos defende a desigualdade absurda do pagamento de impostos no Brasil.
Política internacional, participação do Brasil e atuação antinacional do Itamarati
Pepe Escobar, Elias Jabbour, Paulo Nogueira e Glenn Greenwald debatem o futuro do Brics.
O impacto das bets na população brasileira
Excelente exposição do economista Eduardo Moreira em audiência pública sobre o crime legalizado da jogatina virtual promovida no Brasil por empresas estrangeiras que corrompem personalidades, clubes de futebol, veículos de comunicação e políticos.
quarta-feira, 2 de julho de 2025
O necessário, o contingente e o possível
"O possível não é isso, não é o que dá pra fazer", diz Marilena Chauí. "O possível é aquilo que podemos fazer, o que temos o poder de fazer." Palmas. A esquerda está se mexendo. Eu diria que Lula está se mexendo porque percebeu que está perdendo até a esquerda, que foi quem lhe deu status para ser líder popular. Porque a esquerda brasileira pode não ser competente para tomar o poder, mas é muito competente para destruir reputações, Ciro Gomes que o diga. Não é só a esquerda que nunca deixou de ser esquerda, feito Vladimir Safatle, é também a esquerda que nunca deixou de apoiar Lula, feito Marilena Chauí, E se perder seu apoio, Lula vai perder o que a esta altura é o que provavelmente mais preza: sua reputação na história do Brasil.
"Imposto no Brasil volta sim para a população: para a população rica"
Mas a população rica não paga imposto. A população pobre paga muito imposto sobre consumo. O que o ex-banqueiro Eduardo Moreira fala nesse vídeo é o que o governo Lula deveria estar falando. E o Ciro Gomes fala desde o final do século passado. Procura vídeos antigos e confere.
Ex-banqueiro fala sobre o escândalo dos juros e defende estatização dos bancos
Desde o governo FHC os bancos mandam no Brasil, por isso os juros são absurdos. São apenas três bancos privados: Itaú, Bradesco e Santander. E os dois bancos públicos, BB e Caixa, os acompanham, quando deveria ser o contrário, ou pelo menos diferente, os bancos públicos influenciando os privados. A chamada "responsabilidade fiscal" significa que todos os gastos do governo podem ser cortados, exceto os juros absurdos. Desde a eleição de 1998 eu escuto o Ciro Gomes falar que isso tem que mudar para o Brasil melhorar, mas os lulopetistas o acusavam, no mínimo, de maluco. Agora, até um ex-banqueiro está concordando.
Jonas Manoel e Eduardo Moreira falam sobre a relação do governo com os bancos
Algumas coisa está acontecendo na esquerda brasileira, cada vez tem mais gente falando o que Ciro Gomes fala há décadas.
Mano Brown entrevista Lula
A tarefa da esquerda brasileira é muito difícil: tem que convencer, organizar, mobilizar, lutar, mas por enquanto não sabe nem em torno de que ideias e propostas. A tarefa da extrema direita é muito mais fácil, ela tem todo o sistema a seu favor: a imprensa tradicional, as redes sociais, as polícias, a justiça, as empresas, o poder econômico e político, enfim. A esquerda brasileira se agarrou no Lula há quase cinquenta anos, esperando que esse líder extraordinário a liderasse para o socialismo, mas Lula não é nem nunca foi socialista, é só um político habilidosíssimo sem ideias nem programa nem estratégia. Basta ouvir essa conversinha fiada que ele continua desfiando para confirmar isso. Ele ainda convence muita gente, não tanta mais, desconfio que não a maioria, o que significa que não será reeleito no ano que vem e, sem outro candidato forte, a esquerda perderá a eleição e a extrema direita voltará com seu programa de destruição do país que os trabalhadores agora acreditam atender seus interesses, pois acham que são empresários de si mesmos, embora trabalhem como escravos sem ter direitos trabalhistas que o Temer e o Bozo tiraram e o governo do Lula não devolveu. O povo não é de esquerda nem de direita, vota em que faz sua cabeça, mas a esquerda não tem um programa para o Brasil, seu programa foi sempre eleger Lula e confiar nele, mas quando ele chega no governo não faz o que prometeu, faz o que os banqueiros, agrotoxiconegociantes e mineradoras querem e não faz o que o povo quer. A direita, ao contrário, chega ao poder e faz o que prometeu: destruir os direitos dos trabalhadores e o meio ambiente e dar tudo aos banqueiros, agrotoxiconegociantes e mineradoras.
terça-feira, 1 de julho de 2025
Calma urgente! Bezos e a luta da falta de classe
Os acontecimentos internacionais mais importantes da semana foram outros, aos milhares, a começar pelo genocídio interminável em Gaza e ao ataque ao Irã por Israel e EUA, mas sem dúvida esse é o que mostra melhor as contradições da nossa época, o fim do mundo. Alessandra Orofino, Bruno Torturra e Gregório Duvivier têm informações e inteligência para enriquecer o entendimento do significado do casamento que faz lembrar as vésperas das revoluções francesa e russa, por isso tocam em inúmeros pontos relevantes da nossa época, inclusive sobre o Brasil e o discurso velho do Lula, embora, como toda a esquerda, não apontem a relação da coerência histórica do Lula com o caos brasileiro.
segunda-feira, 30 de junho de 2025
Israel's Secret Weapons, documentário da BBC
Israel começou a produzir sua bomba atômica ao mesmo tempo em que começou a exterminar os palestinos, logo depois da sua criação, em 1948, com ajuda da França e cumplicidade dos EUA. Em 1985 sequestrou no exterior e condenou a 18 anos de prisão o cientista do programa nuclear israelense que fotografou e denunciou o programa. Até hoje ele é proibido de sair de Israel. Esse documentário da BBC é de uma época em que Israel não controlava a imprensa mundial como controla hoje.
"A Arma Secreta de Israel foi transmitida pela BBC Two na segunda-feira, 17 de março de 2003, às 23h20 GMT. As capacidades nucleares, biológicas e químicas de Israel permanecem sem inspeção. Enquanto isso, Mordechai Vanunu está preso há 16 anos por expor ao mundo a fábrica secreta de bombas nucleares de Israel. Vanunu é visto como um traidor em seu próprio país. Ele foi abandonado pela maior parte de sua família e passou 11 anos em confinamento solitário. Hoje, apenas um casal americano, que o adotou legalmente, está entre os poucos visitantes a quem ele tem permissão. Este filme conta a história da bomba, de Vanunu e do muro de silêncio de Israel."
José Paulo Netto, Leda Paulani, Virgínia Fontes discutem o essencial de Marx
Debate no aniversário de 30 anos da Editora Boitempo.
Não vou comentar o que os intelectuais marxistas do debate dizem do pensamento do Marx e Engels, nada tenho a acrescentar e acho que já seu tornou senso comum quase duzentos anos depois. Vou comentar o que eles não dizem.
A esquerda brasileira está atrasada cinquenta anos porque se atrelou ao PT, que por sua vez se atrelou ao Lula. Simples assim.
O PT foi o primeiro e único partido brasileiros construído de baixo para cima, a partir do povo, de comunidades de base organizadas, sindicatos de trabalhadores e movimentos sociais diversos. Foi uma coisa extraordinária e tinha um potencial transformador imenso, caso a esquerda – os marxistas, leninistas e trotskistas à frente, com teorias e experiências revolucionárias – não tivesse se curvado à liderança de um político populista. Lula é uma personagem histórica única, um político habilíssimo, um líder carismático, um indivíduo com uma trajetória admirável, mas não foi, em meio século, o que se pode chamar de um líder dos trabalhadores, embora seja esse o nome do partido que construiu. Lula foi um líder da burguesia.
Lula tem uma oratória impressionante, é um encantador de serpentes, como disse alguém, mas a gente deve avaliar as pessoas pelo que fazem, não pelo que dizem. O que Lula fez nesse meio século foi controlar as massas, desorganizar os trabalhadores e administrar o capitalismo para a burguesia. Foi, portanto um excelente político da burguesia, não dos trabalhadores.
Fico pensando quanto tempo vai levar ainda até que os intelectuais marxistas digam isso. A impressão que eu tenho é que eles viveram em outro planeta no último meio século. Saúdam a luta contra a escala 6x1 (que não partiu do PT, assim como as jornadas de 2013, as últimas manifestações de massa de esquerda do país, foram hostilizadas pelo governo lulista) e não mencionam que Lula está no seu terceiro mandato presidencial, o quinto do PT, e nesse período a redução da jornada de trabalho dos brasileiros não foi sequer cogitada. Ao contrário, Temer, o vice da Dilma, ambos escolhidos por Lula, acabou com direitos trabalhistas que vinham dos governos de Getúlio e Jango.
O que os trabalhadores deveriam ter feito durante os governos lulistas era justamente isso que fazem agora, se organizarem e lutarem de forma independente, aproveitando o ambiente de um governo pretensamente de esquerda, para conquistar direitos e avançar para uma revolução socialista. Ao invés disso, o que o PT fez, sob a liderança do Lula, foi controlar as massas para não reivindicarem nada, enquanto o governo lulopetista dava tudo aos banqueiros, ao agrotoxiconegócio, à indústria e aos demais setores capitalistas.
Os trabalhadores brasileiros estão mais desorganizados, menos mobilizados e menos educados politicamente do que estavam há cinquenta anos, apesar de quatro décadas de democracia e quase vinte anos de governos lulopetistas. Pior: foram conquistados pela extrema direita. Santa contradição marxista! Como isso é possível? As peças não encaixam, mas se a gente considera que, em vez de governar para os trabalhadores, o lulopetismo governou para os capitalistas, fazendo o papel de desorganizar os trabalhadores e desmobilizar as massas, aí sim o quebra-cabeça está montado.
Governo lança campanha por taxação de super-ricos
Walter Moreira Salles Júnior, o cineasta banqueiro bilionário progressista, poderia se manifestar a favor da taxação dos super-ricos. Seria mais útil para o país do que o seu admirável Oscar. Seria bom também se o Infomoney cumprisse a lei ortográfica e escrevesse a palavra super-rico corretamente, e que o Poder360 corrigisse uma informação incorreta: não é o PT que opõe pobres a ricos, é o capitalismo.
sábado, 28 de junho de 2025
A revolução virá pela ação das mulheres ou não virá
quinta-feira, 26 de junho de 2025
Manifesto pela revolução ecossocialista: romper com o crescimento capitalista
Com mais de um século de atraso, os marxistas-leninistas-trotskistas compreendem que "progresso" e capitalismo são sinônimos, que uma mudança revolucionária na vida humana passa pelo decrescimento econômico e pela convivência harmônica entre a espécie humana e a Natureza. Salvar a humanidade da autodestruição e recuperar a biodiversidade e os ambientes naturais da Terra passam pelo fim do capitalismo. Capitalismo significa crescimento econômico permanente, destruição permanente, catástrofes cada vez mais frequentes e graves, e guerras com uso de armas e tecnologias com capacidade de destruição como nunca houve antes, como se vê hoje em Gaza e no Irã. O manifesto, cujos primeiros parágrafos reproduzo abaixo, foi aprovado no 18º Congresso Mundial da IV Internacional em fevereiro passado e publicado na Revista Movimento.
Manifesto por uma revolução ecossocialista – Romper com o crescimento capitalista
Manifesto ecossocialista da IV Internacional aprovado no 18º Congresso Mundial realizado em fevereiro de 2025
Introdução
Este manifesto é um documento da IV Internacional, aprovado em seu 18º Congresso Mundial, em fevereiro de 2025. A IV foi fundada em 1938 por Leon Trotsky e seus companheiros com o objetivo de salvar o legado da Revolução russa de outubro (1917) do desastre stalinista. Rejeitando o dogmatismo estéril, a IV Internacional integrou os desafios dos movimentos sociais e a crise ecológica em seu pensamento e em sua prática. Suas forças são limitadas, mas estão presentes em todos os continentes e contribuíram ativamente para a resistência ao nazismo, para o maio de 68 na França, para a solidariedade com as lutas anticoloniais (como as da Argélia, Vietnã e Cuba), para o crescimento do movimento antiglobalização e o para o desenvolvimento do ecossocialismo.
A IV Internacional não se vê como a única vanguarda. Suas organizações e militantes participam, na medida de suas forças, de formações anticapitalistas amplas. Seu objetivo é contribuir para a formação de uma nova Internacional, de caráter de massa, da qual ela seria um dos componentes.
Nossa época é de uma dupla crise histórica: a crise da alternativa socialista em face da crise multifacetada da “civilização” capitalista. A IV Internacional está publicando este manifesto agora, porque estamos convencidos de que o processo de revolução ecossocialista, em diferentes níveis territoriais, mas com uma dimensão planetária, é mais necessário do que nunca. Trata–se não apenas de pôr fim às regressões sociais e democráticas que acompanham a expansão capitalista global, mas também de salvar a humanidade de uma catástrofe ecológica sem precedentes. Esses dois objetivos estão intrinsecamente ligados.
No entanto, o projeto socialista que baseia nossas propostas exige uma ampla recomposição de forças. Uma refundação a ser alimentada por uma avaliação pluralista das experiências e pelas contribuições dos principais movimentos que lutam contra todas as formas de dominação e opressão (classe, gênero, comunidades nacionais oprimidas etc.). O socialismo pelo qual lutamos é radicalmente diferente dos modelos que dominaram o século passado e de qualquer regime estatista ou ditatorial: é um projeto revolucionário, radicalmente democrático, para o qual contribuem as lutas feministas, ecológicas, antirracistas, anticolonialistas, antimilitaristas e LGBTQI+.
Temos usado o termo ecossocialismo há algumas décadas porque estamos convencidos de que as ameaças e os desafios globais impostos pela crise ecológica devem permear todas as lutas dentro/contra a ordem globalizada existente. O relacionamento com nosso planeta, a superação da “ruptura metabólica”1 (Marx) entre as sociedades humanas e seu ambiente de vida, e o respeito pelo equilíbrio ecológico do planeta não são apenas capítulos de nosso programa e estratégia, mas seu fio condutor.
A necessidade de atualizar as análises do marxismo revolucionário sempre inspirou a ação e o pensamento da IV Internacional. Ao escrever este Manifesto Ecossocialista, continuamos naquela abordagem: queremos ajudar a formular uma perspectiva revolucionária capaz de enfrentar os desafios do século XXI. Uma perspectiva que se inspire nas lutas sociais e ecológicas e nas reflexões críticas genuinamente anticapitalistas que estão se desenvolvendo em todo o mundo.
'Estou questionando o progresso em qualquer termo', afirma Aílton Krenak
Me representa. Basicamente, é isso. O que o Hs precisa fazer para impedir sua autodestruição é superar a ideia de progresso.
STF discute a manipulação de informações pelas 'big techs'
Voto pertinente da ministra Cármen Lúcia, assim como a intervenção do ministro Alexandre de Moraes, que se tornou uma referência no assunto. "A neutralidade das redes não existe", afirma Moraes.
A complexidade do assunto, a tal liberdade de expressão nas redes sociais, na verdade é muito simples. Quando a internet apareceu, ela quebrou o monopólio das grandes empresas de comunicação que intermediavam e continuam intermediando a produção e difusão de informações. Na internet, todos os cidadãos, todos os trabalhadores, todas as pessoas simples, todos os "do povo" podiam se expressar livremente e era excelente que fosse assim, a internet foi a democratização radical da informação. Acontece que logo algumas empresas se apoderaram da internet e, usando tecnologias avançadas, controlaram as informações produzidas por todos gratuitamente. Elas fazem isso para ganhar dinheiro e poder, com o comércio de publicidade (em tempo recorde, se tornaram as empresas mais ricas do planeta) e de controle do poder (elas interferem em eleições e tentam decidir os votos dos eleitores nas democracias; nos EUA chegaram ao poder apoiando o atual presidente). A internet tornou-se assim um negócio capitalista como todos os outros e o mais poderoso de todos. Para exercer seus poder ilimitado, as "big techs" não aceitam se submeter a leis e governos nacionais, pretendem de fato ser o novo poder internacional, acima de todos os outros, apoiando a eleição, os governos e as guerras dos políticos aos quais se aliam. Simples assim.
quarta-feira, 25 de junho de 2025
Palestino faz três gols e protesta em jogo da Copa de Clubes da Fifa
Consta que o gesto do palestino Wessam Abou Ali comemorando o segundo dos três gols que marcou no jogo do seu time, o egípcio Al Ahly, contra o português Porto foi um protesto pelo genocídio do seu povo em Gaza. O UOL Esporte publicou um perfil do jogador, que pode ser lido clicando aqui, no qual ficamos sabendo que a Palestina, essa nação que Israel está exterminando, também foi boicotada no futebol: ia se classificar para a Copa do Mundo do ano que vem, mas um pênalti "polêmico" marcado no último minuto eliminou sua seleção. Na situação em que se encontra, seria um feito fantástico com repercussão política mundial. Abou Ali é um jogador importante e tem uma história de superação impressionante.
segunda-feira, 23 de junho de 2025
Paredes de Vidro, vídeo narrado por Paul McCartney
Ecossocialismo ou extinção
Enfim, uma discussão política pertinente. Debate com João Pedro Stédile, Luciana Genro, Thiago Torres e José Eduardo Bernardes. A gente devia estar discutindo só isso. O jovem Torres expõe praticamente um programa político para a esquerda, essa posição que deixou de existir no Brasil quando Lula se apropriou do PT e o dirigiu para ser o partido do capital, em vez de ser o partido dos trabalhadores. O mediador puxa para a discussão acadêmica, como o jornalismo em geral, mas os debatedores o encaminham para a realidade atual. Luciana expõe um começo de organização política de base: mobilizar os atingidos pelas catástrofes climáticas para ações de prevenção, que atingem em cheio o capital. E informa que a IV Internacional, que pensava ter sido extinta antes do Hs, assumiu um programa ecossocialista. Aplausos. Torres diz uma coisa básica: "Não é a população que tem que vir para as lutas da esquerda, é a esquerda que tem que ir para as lutas que a população está travando". Aplausos mais uma vez. Em resumo: o PT, que foi criado pela minha geração para ser o partido de esquerda brasileiro, tornou-se o partido da ordem, ou seja, do centro e da direita.
quinta-feira, 19 de junho de 2025
Como a leitura molda o cérebro humano
quarta-feira, 18 de junho de 2025
Música do dia (3): Adagio de Albinoni
Non so come cercarti
Ma sento una voce che
Nel vento parla di te
Quest'anima senza cuore
Aspetta te
Adagio
Le notti senza pelle
I sogni senza stelle
Immagini del tuo viso
Che passano all'improvviso
Mi fanno sperare ancora
Che ti troverò
Adagio
Chiudo gli occhi e vedo te
Trovo il cammino che
Mi porta via
Dall'agonia
Sento battere in me
Questa musica che
Ho inventato per te
Se sai come trovarmi
Se sai dove certami
Abbracciami con la mente
Il sole mi sembra spento
Accendi il tuo nome in cielo
Dimmi che ci sei
Quello che vorrei
Vivere in te
Il sole come sembra spento
Abbracciami con la mente
Smarrita senza di te
Dimmi chi sei e ci crederò
Musica sei
Adagio
Natália Pasternak: psicanálise é pseudociência
"Freud fraudou resultados."
terça-feira, 17 de junho de 2025
História do Brasil de 1500 a 2025, resumida
Os europeus chegaram neste continente, trouxeram com eles os primórdios do capitalismo, começaram a destruir a Natureza e dizimar os indígenas, cujos sobreviventes fugiram para a Amazônia, os descendentes dos europeus foram atrás, destruindo tudo que encontraram pelo caminho, para produzir minério, madeira, criar gado, plantar cana-de-açúcar, café e soja para exportação, o que chamam de agronegócio, que é um negócio criminoso financiado com dinheiro público e apoiado pelas polícias e justiça, que ganha ou toma à força as terras dos seus habitantes originais e terras públicas, derruba a vegetação, contamina e seca os rios, envenena a terra e as plantações, massacra populações, escraviza trabalhadores e ganha bilhões, se apropria junto com os banqueiros de toda a riqueza produzida no país pelo trabalho dos brasileiros que vivem na miséria e destrói a biodiversidade extraordinária destas terras.
Como isso foi e é possível?
Primeiro, a partir de 1500, pela força das armas, da tecnologia e da religião cujos missionários acompanharam a ocupação portuguesa; lá pelas tantas, em 1808, o rei português colonizador e sua corte vieram para o Brasil, fugindo da invasão da sua nação por Napoleão, ficaram treze anos e quando voltaram deixaram aqui o herdeiro do trono, Pedro, que se tornou imperador do Brasil, sucedido depois por seu filho Pedro II; lá pelas tantas também, em 1889, quando o Império aboliu a escravidão dos africanos e seus descendentes, os militares do Exército recém-criado para lutar contra o Paraguai (uma guerra cruel e a mais longa do continente, mais longa que a Guerra de Secessão americana, e que fez 400 mil mortos, 70% deles paraguaios, toda a população masculina adulta e juvenil), em associação com os fazendeiros, dos quais os atuais agrotoxiconegociantes são descendentes, derrubaram e exilaram o imperador, sua família e seu séquito e começaram a República; lá pelas tantas, em 1930, quando o capitalismo mundial entrou na sua maior crise, em meio a revoluções socialistas e fascistas, e as exportações brasileiras entraram em colapso, setores dos fazendeiros e do Exército derrubaram o governo republicano, implantaram uma ditadura e começaram a construção do “Estado Novo”, baseado no nacionalismo, na modernização, na industrialização, na urbanização; lá pelas tantas, quando a II Guerra Mundial acabou com a derrota da Alemanha, da Itália e do Japão e a divisão do mundo em dois blocos de influência, um capitalista, liderado pelos EUA, e outro socialista, liderado pela URSS, um novo golpe derrubou a ditadura que tinha durado 15 anos e começou a “república populista”, com eleições diretas do presidente, governadores, prefeitos, senadores, deputados federais e estaduais e vereadores, organização de novos partidos e organizações de trabalhadores, além da disputa da continuação do projeto nacionalista entre o modelo original e um modelo sob influência dos EUA; lá pelas tantas, os militares do projeto sob influência dos EUA, que perdia todas as eleições presidenciais para o projeto nacionalista, deram um novo golpe e implantaram uma ditadura que durou 21 anos; lá pelas tantas, desgastados por crises econômicas, impopulares e perdendo apoio dos ricos, setores militares resolveram devolver o poder para os civis, foram diminuindo a ditadura aos poucos e finalmente, em 1985, perderam a eleição no colégio eleitoral que referendava os presidentes militares (foram cinco, além de uma junta militar provisória) e um presidente civil foi eleito, mas morreu antes de tomar posse, de forma que assumiu o seu vice, que tinha sido um civil colaborador da ditadura, o qual governou durante cinco anos e depois aconteceu a primeira eleição direta para presidente desde o golpe militar de 1964, inaugurando uma nova Constituição cheia de direitos e liberdades que representavam os anseios do movimento de redemocratização que ajudou a derrubar a ditadura e promoveu as maiores manifestações populares da história do Brasil, na chamada campanha da Diretas já!; começa então, em 1989, uma nova fase política que já dura 35 anos, caracterizada pela vigência da nova Constituição, da eleição direta do presidente, primeiro com mandato de cinco anos, depois com mandato de quatro anos com reeleição, copiando o modelo americano, e adoção da cartilha do capitalismo neoliberal na qual o Brasil abandona o nacionalismo e a industrialização e se torna exportador de minérios, carnes, soja, café e outros produtos agrícolas, comandado por banqueiros e latifundiários associados ao capital internacional, ao qual se submetem os partidos e líderes políticos emergentes após a ditadura, a saber: PRN, PSDB, PT, PL, Collor, FHC, Lula, Dilma, Bolsonaro, período no qual não faltam golpes, agora dados pelo Congresso e legitimados pelo STF, com maior ou menor participação dos militares e aos quais aderem os principais partidos e políticos no momento que lhes convém, nas formas de impeachment, processos judiciais, prisões, mudança no mandato presidencial, em 1992, 1997, 2016, 2018, 2025; a fase atual do Brasil é de deterioração política, econômica, ambiental, social e institucional, que caracteriza o fim do modelo citado acima, no qual políticos corruptos e corrompidos pelo sistema ajustam permanentemente as leis e as instituições para permanecerem no poder e servirem ao capital hegemônico, isto é, banqueiros e agrotoxiconegociantes, equilibrando-se entre os poderes do capital (“mercado”, “bolsas”, “investidores” etc.), do Congresso, da justiça, especialmente do STF, pesquisas de opinião, redes sociais, veículos de comunicação, interesses das suas bases eleitores, além dos seus interesses particulares, do interesse nacional e do voto popular expresso de quatro em quatro anos, sendo que dois últimos, os mais importantes, são os menos considerados, na verdade são incômodos que, se fosse possível, eles aboliriam e sempre que podem abandonam – o interesse nacional submetendo-o aos interesses dos lobbies e o voto popular logo depois da eleição (agora mesmo o Congresso está em vias de aprovar uma nova mudança nas regras eleitorais que aumenta os mandatos para cinco anos, proíbe a reeleição nos cargos do Executivo e faz coincidir as eleições, ou seja, o incômodo da manifestação popular só acontecerá de cinco em cinco anos; os deputados, senadores e vereadores continuarão com o direito à reeleição eterna. É curioso observar que, quando o interesse da reeleição era manter FHC no cargo, a mudança valeu para o presidente em exercício, mas agora o fim da reeleição não vai valer para os atuais prefeitos, governadores e presidente; além disso, os mandatos dos futuros prefeitos serão aumentados para seis anos, para possibilitar a coincidência das eleições, ou seja, teremos prefeitos com mandatos de dez anos! – os políticos só legislam em causa própria, o que é uma característica do corporativismo dominante no país, que longe de ser uma nação é formado por castas, que nunca pensam no interesse nacional ou do povo).
segunda-feira, 16 de junho de 2025
Cenas do fim do mundo: vida individual e ação política
Há alguns dias notei que o ator Lázaro Ramos anda sumido, mas eu não tenho televisão e não acompanho noticiário de celebridades, podia estar enganado. Hoje vi essa notícia abaixo, que não pode ser compartilhada, mas pode ser lida no link. Reproduzo aqui porque é uma questão importante do mundo globalizado: a relação entre a vida individual e a situação geral da espécie humana e da Terra. O que aconteceu com o ator é o que acontece silenciosamente com todos nós que acompanhamos as notícias do mundo e do Brasil e olhamos a nossa cidade quando andamos nas ruas.
Os idiotas não sofrem com o que está acontecendo e até justificam e promovem as atrocidades, os conscientes sofrem. É comum que aqueles que protestam por causas gerais ajam na vida pessoal de forma contrária ao que dizem defender. O genocídio dos palestinos por um povo que sofreu genocídio é um terror que mobiliza ativistas, o genocídio dos pretos no Brasil pelas polícias não mobiliza. O que indivíduos podem fazer para melhorar o mundo? Eis a questão. Quando a ação se dá em torno de instituições, como partidos e outras, torna-se política e política é negociação, é falsidade, aparência, dinheiro, corrupção, interesses e coisas assim. O controle dos judeus sionistas sobre a comunicação mundial é impressionante, o controle dos banqueiros sobre a comunicação brasileira, também. O filme de um banqueiro que denuncia a ditadura militar ganhou Oscar, mas o cineasta não fala do Brasil contemporâneo, dos 99,99% dos brasileiros que os juros bancários mantêm na pobreza e na miséria. Sofrer pelo mundo e fazer o quê? E as vidas dos pobres e miseráveis que já são tão sofridas? E as vidas individuais de luxos dos ricos e célebres hipócritas que protestam? Coerência entre vida individual e vida social, ação política consequente e radical: acho difícil salvar o Homo sapiens (por sinal, o grande escritor e judeu sionista israelense Yuval Harari se cala criminosamente sobre o genocídios dos palestinos) e a Terra de outra forma que não esta. Tudo nesse cenário do fim do mundo é muito contraditório.
'Meu corpo parou e eu me vi adoecido': o desabafo de Lázaro Ramos na Bienal
Filipe Pavão De Splash, no Rio 15/6/2025 22h52
Lázaro Ramos, 46, relembrou o episódio de burnout que teve em 2024 e fez um desabafo hoje, durante a Bienal do Livro, no Rio. Compartilhou uma confissão particular sobre adoecimento emocional recente, causado por um período intenso de trabalho, como revelou anteriormente, e por absorver as "dores do mundo" – em especial, as que atingem as pessoas negras. "Uma das coisas que me fez adoecer no ano passado foi porque estava ouvindo os problemas das pessoas, do mundo e eu processava como se fosse comigo. Eu tinha sensações físicas, mentais, pensamento… Não conseguia distinguir um pensamento do outro. Eram quatro coisas ao mesmo tempo."
Cenas do fim do mundo: troca de CPF em mandado de prisão atinge jornalista
Sakamoto é parado pela PM, CPF e placa de carro em mandado de prisão foram adulterados.
Cientista judeu especialista em genocídio afirma que Israel pratica genocídio dos palestinos
É óbvio. O fato de a imprensa não tratar o assunto dessa forma e o mundo não se revoltar mostra como Israel e Estados Unidos controlam a informação mundial. Timidamente, a BBC toca no assunto. É significativo que a entrevista não esteja assinada: é para proteger o autor ou a autora da perseguição de Israel. Nessa cena do fim do mundo, o mundo acompanha um genocídio como nunca aconteceu antes e não nos revoltamos, as autoridades nacionais e mundiais não o impedem. Escolas, hospitais, igrejas, áreas residenciais são bombardeados, crianças, mulheres, médicos, enfermeiros, jornalistas, funcionários de instituições de ajuda internacional são mortos. Tudo acontece há dois anos diariamente e assistimos pela televisão e pela internet. O mundo vai acabar assim, sem reação da espécie humana para defender a vida, a vida individual e a vida de todos.
'O que Israel faz em Gaza não tem precedentes no século 21', diz historiador israelense especialista em holocausto
BBC News Mundo
"O que está acontecendo em Gaza se encaixa na definição de genocídio, uma tentativa de destruir um grupo como tal", afirmou Omer Bartov à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.
Bartov é professor de estudos sobre Holocausto e genocídio na Universidade Brown, nos Estados Unidos. Ele é um dos maiores especialistas em genocídio mundialmente, de acordo com o site do Museu Memorial do Holocausto dos EUA.
O historiador é cidadão israelense e americano e, na década de 1970, foi soldado do Exército israelense.
Inicialmente, Bartov não classificou como genocídio as ações militares de Israel em Gaza após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023. Agora, ele não hesita em fazer isso, e afirma que há um consenso neste sentido entre especialistas em genocídio.
Bartov explicou à BBC News Mundo por que mudou de posição e por que a ação israelense em Gaza "não tem equivalente" na história recente. Ele também refletiu sobre algo que descreve como "perturbador": a indiferença de muitos israelenses ao sofrimento dos palestinos.
Israel enfrenta uma acusação de genocídio na Corte Internacional de Justiça (CIJ), e o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, tem um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional por supostos crimes de guerra.
O parlamentar israelense Boaz Bismuth, leal a Netanyahu e suas políticas, argumenta: "Como podem nos acusar de genocídio quando a população palestina cresceu não sei quantas vezes? Como podem nos acusar de limpeza étnica quando estou deslocando a população dentro de Gaza para protegê-la? Como podem nos acusar quando estamos perdendo soldados para proteger nossos inimigos?"
Israel lançou uma campanha militar em Gaza em resposta ao ataque pela fronteira do Hamas em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e outras 251 foram feitas reféns.
Desde então, os ataques israelenses mataram pelo menos 54.470 pessoas em Gaza, incluindo mais de 17 mil crianças, de acordo com o Ministério da Saúde do território, administrado pelo Hamas.
A seguir, está a entrevista que a BBC News Mundo fez com Omer Bartov.
BBC News Mundo - Nos primeiros meses após o ataque do Hamas, você não usou a palavra genocídio para se referir às ações de Israel em Gaza. Quando e por que você mudou de posição?
Omer Bartov - Mudei de opinião e passei a acreditar que Gaza é inegavelmente um caso de genocídio no início de maio de 2024.
Em novembro de 2023, escrevi que havia evidências de crimes de guerra, possivelmente crimes contra a humanidade.
Eu ainda não tinha certeza de que havia provas suficientes de genocídio. Mas havia indícios de que poderia chegar a isso, porque havia declarações com conteúdo genocida.
Em maio de 2024, quando as Forças de Defesa de Israel (FDI) entraram em Rafah e desalojaram cerca de um milhão de pessoas para a região de Al-Mawasi, uma área sem infraestrutura à beira-mar, isso parecia indicar que se tratava de uma operação com intenções genocidas, intenções que já haviam sido manifestadas em outubro de 2023.
Cenas do fim do mundo: o genocídio dos palestinos pelos judeus
Cenas do fim do mundo: a comida envenenada
quarta-feira, 11 de junho de 2025
Celebridades, jornalistas e as duas questões fundamentais do nosso tempo
Nos últimos dias vi três entrevistas muito boas no canal Rivo Talks no Youtube com Alexandre Frota, Ciro Gomes e Lobão. São entrevistas longas e não são recentes, o YT tem essa vantagem, a gente pode ver quando quiser. Cada vez mais a exibição é interrompida por anúncios e eu tenho de clicar no “pular”; alguns anunciantes põem uma opção de aparência idêntica mas escrito “comprar”, uma armadilha. É um saco ficar “pulando” toda hora; depois de algumas vezes, o YT oferece a opção de assinatura, sem anúncios, que é o que ele quer, que a gente assine, mas eu me nego a pagar assinaturas de serviços na internet, não pelos produtores de conteúdo, mas porque as “big techs” pegam a maior fatia; prefiro continuar “pulando”, e está cada vez mais chato. Esse é um problema que pouco se discute, todo mundo foi se adaptando ao modelo que tomou conta da internet e que é controlado por meia dúzia de empresas americanas de alcance mundial que se tornaram bilionárias e superpoderosas. Pouco se discute os assuntos mais importantes do mundo contemporâneo e era sobre isso que eu queria escrever ao falar das entrevistas citadas no começo, mas o tema volta também aqui.
O controle da inteligência pelas empresas de tecnologia é um dos dois fenômenos mais importantes da nossa época e pouco falamos dele. Como disse, todo mundo se adaptou à condição de “produtor de conteúdo”, que de fato foi um avanço impressionante, porque a divulgação de informações (conhecimentos) multiplicou-se infinitamente ao mesmo tempo que saiu do controle de meia dúzia de empresas como acontecia antes, na era da televisão, do rádio e da imprensa impressa. Eu sou um consumidor ávido do YT, como disse, a única “rede social” que me parece interessante, além do zap, que, para mim, funciona para telefonemas e mensagens individuais; não uso outras redes. O YT, porém é um veículo fantástico de informação, especialmente de informações não imediatas; para noticiários ainda é insuficiente, mas para conteúdos diversos, ele cumpre o que se esperava da internet: que todo mundo pudesse transmitir seus conhecimentos diretamente para todo mundo, sem depender das grandes empresas “de mídia” tradicional, como se dizia.
Qual é o problema? O problema é o controle dessa “nova mídia” por meia dúzia de empresas gigantes multinacionais de origem americana. Não é um controle com o da velha mídia, mas na essência é o mesmo: dominação econômica e manipulação da informação. Do ponto de vista da informação, as empresas direcionam os conteúdos que o público vê, por meio dos famosos algoritmos. Do ponto de vista econômico, o controle é muito maior do que antes, porque meia dúzia de empresas americanas detêm a comunicação mundial, o que as levou a se tornarem as empresas mais ricas do mundo neste século. E o que elas produzem? Nada. Elas desenvolvem tecnologias para a população em geral consumir conteúdos que alguns profissionais produzem.
O que significa isso?
Em primeiro lugar, os profissionais que desenvolvem tecnologias, isto é, os trabalhadores dessas empresas, são poucos e estão sendo substituídos por uma tecnologia que eles mesmos desenvolveram, a chamada “inteligência artificial”. Em segundo lugar, os produtores de conteúdos não são empregados das “bich tchs”, produzem gratuitamente para elas e ainda repassam a elas a maior parte dos seus ganhos gerados pelo consumo de toda a população. Ou seja, o modelo de negócio desenvolvimento pelas “big tchs” que dominam a internet transformou um enorme contingente de trabalhadores em produtores não remunerados de conteúdos que elas vendem; quem paga é o público que consome e a maior fatia fica com as empresas, não com os produtores. E quase ninguém discute isso, ninguém se revolta, ninguém se insurge, ninguém se organiza contras as empresas. As “big techs” inventaram o modelo de negócios capitalista perfeito. E está tudo bem, não há “conflitos de classe” como há no capitalismo industrial, não há sindicatos, não há regulamentação do trabalho, não há direitos trabalhistas, não há greves, nada. Não é à toa que nesse ambiente a ideologia da “teologia da prosperidade” das igrejas protestantes prospera.
O segundo fenômeno fundamental da nossa época é a origem deste texto: a destruição das condições de vida na Terra pela espécie humana. Vendo as três entrevistas citadas pensei nisso: são três indivíduos muito importantes no Brasil contemporâneo, inteligentes, famosos, ricos, cultos, integrantes das elites nacionais nas últimas cinco décadas e principalmente brasileiros que tiveram vidas admiráveis, o que não significa concordar com eles e com suas ações, mas reconhecer que são indivíduos que experimentaram vidas muito mais, digamos, ricas do que as pessoas comuns. E as entrevistas refletem isso, são muito interessantes. No entanto em nenhum momento se falou do assunto mais importante do nosso tempo. Isso expressa como a consciência das catástrofes que já acontecem e nos aguardam nos próximos anos inexoravelmente e que nos levarão para o “fim do mundo”, não no sentido religioso, mas no sentido ambiental, essa consciência não faz parte do nosso dia a dia, todo mundo continua vivendo suas vidas individuais que, em síntese, significam fazer o capitalismo funcionar (e destruir cada vez mais), produzindo, ganhando dinheiro, trabalhando, se divertindo, consumindo etc. O mundo contemporâneo é um mundo de entretenimento – a internet tornou-se parte da indústria de entretenimento, a parte mais dinâmica dela, e falar da catástrofe ambiental não diverte, não entretém. Talvez as pessoas mais conscientes e verdadeiramente comprometidas com “a pauta ambiental”, como se diz hoje, ainda não saibam como fazer isso: constatam, se preocupam, mas não sabem o que fazer.
O fato é que a questão mais importante da nossa época não entrou nas três excelentes entrevistas. Os três entrevistados célebres e os dois entrevistadores muito bons falaram de feitos e ideias notáveis, mas a catástrofe ambiental não faz parte das suas vidas aparentemente.
PS: O Rivo News, só descobri hoje, 16/6, é um canal que se cala diante do genocídio dos palestinos pelos judeus e faz comentários simpáticos a Israel, o que é decepcionante.
sexta-feira, 6 de junho de 2025
Que foto!
Música do dia: Samba de Maria Luiza, Tom Jobim
-De novo.
-Não fala que grava.
Uma joia que provoca sorriso no final.
quarta-feira, 4 de junho de 2025
O trabalho jornalístico exemplar da Sumaúma para salavar a Amazônia
terça-feira, 27 de maio de 2025
Calma urgente: realidade é fricção. I.A. e o fim do arbítrio
Os grandões da tecnologia americanos anunciaram que vão inventar Deus em 2027. É essa a ideia, o Deus do século XXI, Deus redivivo. A inteligência artificial vaia estar em toda parte, interagindo com a nossa vida, presencialmente, sem que precisamos operar um celular. Isso nãoa é Deus? Há milhares de anos, o homem inventou um Deus, vários deuses, agora estão inventando outro, com a tecnologia.
sábado, 24 de maio de 2025
Sebastião Salgado, 1944-2025
terça-feira, 20 de maio de 2025
CALMA URGENTE! Deus abençoe minha audiência
Um quadro do absurdo da nossa época, expresso num Congresso alienado. Coisas desse tipo me parecem formar um ambiente de véspera de revolução.
Franklin Martins conversa com Hildegard Angel
Ouvir Franklin Martins sempre é bom. Ele tem pedigree, tem uma história admirável, faz parte da geração de 68, tem experiências no jornalismo e no governo e uma obra extraordinária de pesquisa da MBP; não é qualquer um. Sua limitação, na minha opinião, é ver a realidade de um ponto de vista político tradicional, numa época em que o absurdo se impõe no mundo. Sua aula de história é importante, embora quase tudo eu já soubesse e pense igual. Ele disse duas coisas novas para mim. A primeira é que abandonar a oposição legal entre 1964 e 1974 foi um erro, o que me parece correto, e até óbvio, hoje, diante das consequências da luta armada. A segunda é que a política está presente na MPB desde o Império, o que é uma característica que nenhuma outra nação tem, e isso aconteceu em decorrência da oralidade da nossa cultura, numa sociedade de analfabetos.
quarta-feira, 14 de maio de 2025
Música do dia: Lero e Leros e Boleros, Sérgio Sampaio
Sempre que escuto as obras-primas da música popular brasileira, penso para que publicar poesia em livro.
segunda-feira, 12 de maio de 2025
Dois óscares para Fernanda
Um pela a ponta em Ainda estou aqui e outro pela magnífica atuação em Vitória. Eu nunca tinha visto nada igual. Pensei que era uma ponta também e vi um filme inteiro sustentado por uma atriz de 95 anos. Nem Ruth Gordon (75 anos), em Harold and Maude, nem Jessica Tandy, em Driving Miss Daisy (80 anos). Vitória tem um defeito imperdoável: o filme se baseia na história de uma mulher negra e isso fica evidente, quando a gente fica sabendo, e então as peças se encaixam, mas o defeito imperdoável é perdoado porque a protagonista é vivida pela Fernanda Montenegro, a maior atriz de todos os tempos. Só ela era capaz de fazer isso. A plateia aplaudiu ao final da sessão.
quarta-feira, 7 de maio de 2025
Provoca com Tadeu Jungle, 6/5/2025
terça-feira, 6 de maio de 2025
Calma urgente! - O inferno é a nuvem
Ótima discussão pertinente, cheia de informações e opiniões inteligentes.
Uma radiografia da CBF, um retrato do Brasil
Que país é este? Que democracia é esta?
O poder mais democrático é também o mais corrupto. O menos democrático é o que tem salvado a democracia. Aquele no qual os brasileiros depositam nas urnas de quatro em quatro anos as suas esperanças é um fantoche dos banqueiros e agrotoxicoexportadores. Talvez o que os chineses estão dizendo para os americanos sirva também para os brasileiros: vocês precisam de uma revolução. Não sou favorável a revolução, que é uma violência terrível, mas me pergunto se ela mataria mais do que os 700 mil mortos de covid que um governo de criminosos matou, se mataria mais do que 30 mil mortos nas rodovias e os 50 mil pobres mortos por violência por ano. Essa matança de brasileiros acontece porque a vida do pobre aqui não vale nada, porque o Brasil é uma nação que não tem identidade, não tem um projeto nacional, é profundamente injusta e desigual, governada por interesses particulares, nos quais predominam castas, lobbies, facções criminosas. Há dez anos o país estava em ebulição com uma pretensa campanha anticorrupção, que derrubou uma presidenta reeleita, e o que tivemos depois, o que temos hoje? Muito mais corrupção do que antes, corrupção desavergonhada, em todas as instituições, no Congresso, nos poderes executivos e até no STF. Juízes de primeira instância ganham mais de 100 mil reais por mês e os presidentes das federações estaduais de futebol também. E o salário mínimo, quanto é? 1.500 reais! E o trabalhador, quantas horas trabalha? Dezesseis horas por dia, sem descanso remunerado, porque agora todo mundo é PJ, é MEI, é "empreendedor". O Brasil está se desintegrando sob o comando do neoliberalismo desde o governo Collor, passando pelos de FHC, Lula, Dilma, bozo, temer e Lula outra vez. Os integrantes do STF fazem política, pelo menos um usa o cargo para benefício pessoal, como mostra a reportagem da Piauí e outras antes já tinham mostrando, mas não foram eleitos, foram escolhidos pelo presidente da República da vez, um processo absolutamente elitista. O Congresso escolhido pelo voto popular, que reúne os políticos espalhados pelo país e mais próximos do povo e do seu pensamento, que dependem do que entregam aos eleitores para serem reeleitos, não têm a menor responsabilidade com o governo, cada um pensa em si, e nele a corrupção é generalizada, quem manda são os donos dos partidos. O Brasil só existiu como nação na Revolução de 1930 (1930-1945) e nos efeitos desta que duraram até o desmonte feito pelo neoliberalismo a partir da redemocratização de 1985, não porque a democracia seja ruim, mas porque seu projeto nacional, materializado na Constituição de 1988, não foi implantado, porque a Constituição democrática foi usurpada pelos banqueiros, pelas castas, pelos lobbies e pelo crime organizado cada vez mais poderosos. Para o povo, sobraram os desmontes da regulação do trabalho, o pagamento eterno da dívida dos banqueiros, os venenos na comida, as destruições ambientais provocadas pela mineração e pelo agrotoxiconegócio e as matanças diárias de pobres pelas polícias e pelos bandidos. Esse é o ambiente que gera revoluções.
sábado, 3 de maio de 2025
A técnica que aniquila qualquer sofrimento
Muito interessante. Certamente a transformação social passa pela transformação dos indivíduos, isto é, pela vontade de cada um transformar-se a si mesmo, em vez de esperar a revolução (ou o paraíso) ou se esconder nos males sociais que justificam seu comportamento.
Lições e estratégias da Cidade do México para os centros das cidades
Excelente fonte de reflexões.
A revolução bolchevique segundo Paulo Leminski
quinta-feira, 1 de maio de 2025
Música do dia: Gota d'água, Chico Buarque
quarta-feira, 30 de abril de 2025
Calma Urgente! - Sinofolia. China e a Nova Guerra Cultural
segunda-feira, 28 de abril de 2025
O melhor programa do YouTube
Sobre urbanismo e arquitetura -- há outros que discutem política e nos informam sobre questões humanas fundamentais, como Calma! Urgente, A Hora, Foro de Teresina e outros. São Paulo nas Alturas, porém, que apesar do nome, viaja pelo Brasil e já veio a BH, é mais amplo, é sobre a vida contemporânea, abrange o principal, como vivemos nas cidades no mundo contemporâneo, e interferir nisso é mudar a nossa própria vida. São escolhas políticas e passam pelo povo, que pode decidir, nas eleições, e pode escolher sabiamente, pois são escolhas que lhe dizem respeito e qualquer um percebe o que é melhor. Há muito tempo não via uma iniciativa como essa, um projeto patrocinado por uma entidade com um objetivo público. Mostra que boas iniciativas são possíveis -- e existem, muitas. Fico pensando que o que falta para a espécie humana se salvar -- e vai ser assim, com iniciativas locais, a partir das escolhas dos indivíduos, coletivamente, que podem ser copiadas mundo afora -- é as pessoas boas se unirem, juntando o que cada um e cada uma sabem e fazem para tornar a vida boa. Esse primeiro programa da série pergunta se Curitiba é a melhor capital do Brasil. Me parece evidente que sim, por um motivo muito simples, citado logo no começo: teve um prefeito sensato, nos anos 70, que planejou o crescimento da cidade com propostas razoáveis, que qualquer prefeito pode seguir, se pensar na coletividade, não nos interesses particulares dos capitalistas que dominam os governos brasileiros em geral. Belo Horizonte mesmo tem todas as condições para ter um transporte coletivo de qualidade como Curitiba, mas em vez disso fez o monstrengo do Move, falso metrô (Curitiba não tem metrô) horroroso e ainda os carros e motos lotando as ruas, ou seja, retrocedeu terrivelmente nas últimas décadas.
Não atenda ligações no celular, é robô e vai prejudicá-lo
Ninguém deve atender ligações de números não identificados no celular. São ligações feitas por robô e o objetivo é enganar e cometer um crime. A mesma tecnologia que cria o crime é capaz de impedi-lo, mas não o faz, as autoridades tentam resolver o problema mas ainda são incapazes, e os prejuízos são permanentes. Isso tudo é óbvio, mas tem gente que atende.
sexta-feira, 25 de abril de 2025
quarta-feira, 23 de abril de 2025
Papa Francisco cortou luxos e abriu Vaticano para sem-tetos
Mais informações e análises, outros pontos de vista.
Até o papa foi mais reformador do que o Lula. Francisco nomeou 108 dos 135 eleitores no próximo conclave, de 71 nacionalidades, a maioria deles conservadores, mas os conservadores são mais unidos.
'O novo papa será italiano e progressista', prevê Frei Betto
A morte do papa Francisco e o futuro
terça-feira, 22 de abril de 2025
Comemos alimentos envenenados e fingimos não saber
Assim como a destruição ambiental, que conhecemos desde os anos 70 pelo menos, mas fingimos que não é com a gente. É. Todos destruímos o ambiente, como nossos hábitos de consumo, e contribuímos para que o capitalismo continue sua obra de destruição. Achamos que o problema é tão grande que não podemos fazer nada. Ou fazemos algumas coisas que não mudam o quadro, porque a mudança precisa ser radical. Achamos que isso é responsabilidade dos governos e das empresas, mas empresas querem ganhar dinheiro, não vão mudar suas práticas para conter e reparar a destruição ambiental, e governos são eleitos com dinheiro das empresas, não vão contrariá-las. Para impedir a catástrofe ambiental, para que continue a existir mundo para nossos filhos e netos, somos nós, as pessoas comuns, que temos de agir. Cada um tem que tomar a decisão determinada de mudar seu estilo de vida e abolir práticas que destroem o ambiente. Simples assim. Quando fizermos isso, estaremos influenciando políticos e empresas. Outra coisa é ilusão. Gostamos muito de nos iludirmos.
sábado, 19 de abril de 2025
O que você precisa saber sobre a China, segundo Toledo e Haddad
O que eu cobrei há alguns dias, está sendo motivo de atenção não só do jornalista José Roberto de Toledo, mas também do ministro Fernando Haddad, o que mostra que estou pensando bem, sobre o óbvio: precisamos conhecer a China, o que está acontecendo lá e o que aconteceu para que esse país comunista e capitalista (!) não repetisse o fracasso da União Soviética. Uma das coisas que a China fez diferente da Rússia foi não aderir às soluções neoliberais do FMI. Este programa dá algumas dicas e ainda uma bibliografia para quem quiser saber mais.
sexta-feira, 18 de abril de 2025
Agrotoxiconegócio destrói o ambiente e não produz alimentos suficientes
Da excelente Repórter Brasil.
‘Comida mais cara tem a ver com a falta de reforma agrária’, diz pesquisadora
“Há um déficit de oferta de alimentos que seria suprido pela reforma agrária, com mais famílias tendo acesso à terra e, portanto, podendo produzir alimento”, explica, em entrevista à Repórter Brasil.
Segundo Yamila, a oferta de alimentos deve ser uma das medidas de combate à fome. Mas, ao contrário do que propaga, o agronegócio não supre o mercado interno, além de ser responsável por danos ambientais e conflitos no campo.

“O agronegócio implementou uma estratégia política e midiática de se fazer valer como sendo tudo e todos: ‘É o motor da economia brasileira, representa o campo brasileiro.’ E essas duas afirmações são mentiras”, afirma.
Doutora em ciências humanas pela USP (Universidade de São Paulo), Yamila argumenta que a modernização do campo a partir da década de 1990 abriu margem para o discurso de que a reforma agrária não é mais necessária, ideia que considera um equívoco. “Não somente a reforma agrária sempre se manteve atual, como ela ganha uma nova importância hoje frente à questão climática”, reflete.
A entrevista é publicada por ocasião do Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária, celebrado em 17 de abril. Instituída em 2002, a data marca o Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, quando, nesse mesmo dia de 1996, 21 trabalhadores rurais sem-terra foram assassinados pela polícia.
Na entrevista, a presidenta da Abra analisa também a relação do agronegócio com a extrema direita, as dificuldades encontradas pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva para implementar a reforma agrária e a importância dessa política como medida de reparação para a população negra.
Tom Jobim, a imprensa e a verdade
Esse trecho da entrevista é importante, porque o interrompem menos.
"O Brasil não é para principiantes" (Tom Jobim)
Hoje é sexta-feira 18 de abril, segunda-feira é feriado e por conta disso a feirinha aqui da esquina não funcionou. Eu não entendi por que e lembrei da frase do Tom Jobim: "O Brasil não é para principiantes". Ouvir o Tom falando sempre é ótimo, quando os entrevistadores deixam e não o interrompem, com sua ignorância, vontade de aparecer mais que o entrevistado e perguntas fúteis. Essa prática, generalizada, me incomodava, até entender que a função dos entrevistadores na televisão é realmente atrapalhar, para que nada importante seja dito, porque televisão não é para isso, televisão é show. Há exceções, e acho até que vem melhorando, talvez por influência da internet. A gente tem que pular, ouvir só o entrevistado, e aí consegue escutar o Tom explicar a história da sua frase famosa, a exata inclusive.
PS: Desligado do mundo e da religião, não me dei conta de que hoje é feriado cristão, Sexta-feira da Paixão. O comércio todo tá fechado. Feriadão daqueles, quatro dias.
quarta-feira, 16 de abril de 2025
Capitalismo sem-vergonha
Há muito tempo não via um programa com tantas verdades sobre o mundo contemporâneo e de uma forma amarrada, ligando áreas distintas, como a vida privada, a política, a economia, a arte, enfim, a ideologia da nossa época, como esse Calma urgente! Sem-vergonhismo. Aplausos prolongados para Gregório Duvivier, Alessandra Orofino e Bruno Torturra. Eles discutem sobre esses estranhos tempos em que os mais ricos e poderosos não têm vergonha de roubar, manipular e enganar, inclusive seus "seguidores", isto é, seus fãs, seus eleitores, seus consumidores. O que escrevo aqui não é exatamente o que diz o trio do programa, mas o que penso a partir do que eles dizem, inclusive comentários críticos.
O ponto fundamental é que o capitalismo não mudou, continua o mesmo na sua essência, o que mudou, o que muda sempre é só a ideologia. A ideologia pela qual o capital se expressa nas mentes de alguns, os ideólogos do capital, e escraviza a todos nós, humanos, como seus servidores, capitalistas e trabalhadores.
A nova direita, também chamada de extrema direita e de fascista, adotou o método que está sendo um sucesso, comercial e eleitoral, o que dá no mesmo. A esquerda brasileira, no poder, misturou o sucesso político e eleitoral com a corrupção; a corrupção fazia parte do sucesso político, do poder, o preço a pagar para, e deixou de ser uma alternativa ao sistema capitalista sem-vergonha. Isso continua e está mais desavergonhado nesse terceiro governo Lula.
No fim, tudo é capitalismo, de direita ou de esquerda. Não penso que a extrema direita seja pior do que a esquerda capitalista ou o centro capitalista, está aí o "Centrão" para provar, na política brasileira. São diferentes e a sem-vergonhice assusta alguns, os crimes assumidos nos aterrorizam, sejam as mais 700 mil mortes por covid-19, sejam os extermínios de indígenas e de palestinos, seja a matança diária de jovens pretos, seja a devastação de ambientes inteiros por rompimentos de barragens de minérios, seja a derrubada de vastas extensões de floresta etc.
Aliás, a política brasileira atual é um contraponto interessante à política americana atual e à política brasileira do governo anterior. Na prática, qual a diferença entre elas? São variações do mesmo, sendo as duas últimas versões desavergonhadas, enquanto o governo Lula 3 equilibrando-se entre o Congresso desavergonhado e o STF moralizador, finge oferecer uma alternativa a isso, mas, na prática, oferece? O que o ex-ministro Sílvio Almeida teria a dizer sobre isso?
A chamada nova extrema direita fascista é só o que o Homo sapiens, o Homo capitalista, a velha direita, o centro, a dita esquerda são mas têm vergonha de ser. Chegamos a esse ponto do capitalismo em que as catástrofes ambientais, também conhecidas por mudanças climáticas, não podem ser negadas, mas não são enfrentadas, porque enfrentá-las é mudar o sistema e isso ninguém tem coragem de fazer, nem esquerda nem centro nem direita. A diferença é que a extrema direita não tem vergonha de afirmar que está destruindo mesmo e que destruir é bom e vai continuar destruindo e quer destruir cada vez mais e que todo mundo deve destruir. O governo Lula, por exemplo, que ainda tem alguma vergonha, mantém a destruição, mas diz não tem força política para contê-la. A pergunta inevitável é: para um governo de esquerda, se vai praticar a mesma política da extrema direita?
A extrema direita é a expressão da barbárie em que vivemos e para a qual todos contribuímos, seja como capitalistas seja como trabalhadores, seja como proprietários das riquezas, seja como produtores assalariados das riquezas, porque somos todos consumidores: os capitalistas, consumidores das riquezas que nós produzimos e nós, todos os outros, consumidores das sobras e da ideologia que nos convence a consumi-las. O capitalismo continua porque queremos que continue, apesar dos discursos em contrário.
A esquerda no poder não é de fato esquerda. Finge ser. A esquerda no poder torna-se uma variante do poder burguês, um outro time de administradores dos negócios do capital, para repetir a expressão do Marx no Manifesto Comunista. A esquerda no poder não é esquerda, se a gente considera o que caracteriza a esquerda, ou seja, a intenção de superar o capitalismo e substituí-lo por outro sistema. Nos tempos atuais, tudo isso ficou esquecido, o capitalismo perdeu totalmente a vergonha de ser o que é, de mostrar o que é, de afirmar que é o que é, e a nova direita é a expressão política disso e tem muito sucesso, porque está no seu próprio ambiente, no qual a referida esquerda tenta entrar. A formulação da alternativa a tudo isso, seus porta-vozes e modelos existem, mas não aparecem tanto quanto o modelo hegemônico, sustentado, afinal, pelo capital, o senhor do mundo.
Me impressiona como pessoas brilhantes, cultas, inteligentes vejam tudo, conheçam tudo e cheguem só à conclusão de que tudo isso é "extremamente problemático". É um começo. O que fazer com isso, ou seja, o que queremos no lugar disso e como fazer para chegar ao que queremos não está mais no horizonte da esquerda. Não falo de utopia, falo de propostas concretas que a esquerda não ousa ter.
Qual é a alternativa ao capitalismo? Alternativa prática, com propostas concretas para "o público". Penso que essa alternativa não existe porque o marxismo, ou marx-leninismo e outras variantes esgotaram as perspectivas da esquerda, com a experiência russa e o desmoronamento do bloco soviético. Não existe um marxismo do século XXI -- e o stalinismo foi o marxismo do século XX. Todos os intelectuais que têm coragem hoje de se dizerem marxistas não dão um passo para atualizar o marxismo, tudo que fazem é louvar Marx, dizer como ele é genial, tentar aplicar o que ele disse há duzentos anos ao mundo contemporâneo que é completamente diferente.
Nenhuma das previsões do profeta Marx se realizou, embora seu retrato do capitalismo tenha sido o melhor e definitivo. O Capital, hoje, é só um livro base, um ponto de partida para a formulação de uma alternativa de esquerda ao capitalismo, seja qual for o seu nome, comunismo, socialismo, social-democracia, democracia dos trabalhadores, anarquia. A China comunista desenvolveu seu modelo capitalista de Estado, que não é comunista, apenas não é esse capitalismo sem-vergonha, mas provavelmente tem suas características, mas a gente pouco sabe dele, porque a esquerda não tem coragem de discuti-lo, talvez para não expor a fragilidade do seu marxismo. Me parece incrível que a esquerda que se diz marxista ignore uma nação que cresce de forma espetacular e está prestes a se tornar a maior potência capitalista mundial e se diz comunista.
É impossível não comentar, porque, ao fazer certas afirmações ("extremamente problemático", "a publicidade tem pessoas brilhantes"), os analistas não veem o óbvio. É claro que a publicidade suga mentes brilhantes, porque senão ela não faria comerciais eficientes. A publicidade, como expressão institucional do capital, faz o que tem de fazer: compra trabalhadores. E os indivíduos mostram o que são. O capital, uma coisa imaterial, que não existe de verdade ("é só dinheiro"), só pode exercer seu poder dominando os humanos; se os humanos disserem não a ele, se forem capazes de adotar uma ideologia anticapitalista, não capitalista, o capital desaparece como num passe de mágica. São os humanos, com suas ideologias, capazes até de transformar Jesus Cristo crucificado pelos poderosos dois mil anos atrás num avalista da prosperidade, que encarnam o capital e lhe possibilitam exercer seu poder.
Não vou dizer que publicitários são geniais nem criadores de verdadeiras obras de arte, embora pudesse dizer que são, porque de fato não são, mas parecem ser, e quase são, chegam a exercer a mesma função no público, mas não são simplesmente pelo fato de que mentem sempre para vender, enquanto a arte é o oposto disso, nos mostra a verdade. A publicidade captura a arte para fingir, enganar e vender. O indivíduo "brilhante" ou "genial" que troca a arte pela publicidade prefere ser um publicitário rico do que um artista pobre, justifica-se dizendo "eu tenho que sobreviver, entende?", para citar o melhor Pasquim, dos anos 70, pra gente ver como isso não é novo e já na ditadura tinha gente se vendendo. De fato, esse "modelo de negócio" baseado na publicidade é parte do capitalismo americano do pós-guerra, do consumismo, que é explicado de forma brilhante e genial no vídeo A história das coisas. Quem na minha geração não se lembra do seriado A feiticeira, cujo marido é um publicitário, seriado que, por sua vez, é exemplo do modelo televisão, negócio fingindo ser arte para vender sabão em pó?
"A nossa enorme economia produtiva exige que façamos do consumo nossa forma de vida, que transformemos a compra e uso de bens em rituais, que procuremos a nossa satisfação espiritual, a satisfação do nosso ego, no consumo. Precisamos que as coisas sejam consumidas, destruídas, substituídas e descartadas a um ritmo cada vez maior." (Victor Lebow, teórico do consumismo que passou a vigorar nos EUA e no mundo a partir do fim da 2ª Guerra Mundial, citado em A história das coisas.)
Uma coisa puxa outra e vai dar no que o mundo é hoje. No século XX, o capitalismo entrou em colapso, com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Revolução Russa de 1917, a ascensão do fasci-nazismo (1911-1945), a Grande Depressão de 1929 e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Hoje, as pessoas razoáveis ficam estarrecidas com o genocídio na Palestina e chocadas com o projeto do presidente americano de transformar a região, depois de exterminado o último palestino, num resort fantástico, e é possível que consiga, já que as resistências parecem fracas, mas não há nada de extraordinário nisso, a não ser a nossa -- das pessoas razoáveis, boas, de esquerda -- aparente infinita incapacidade de compreender a realidade, a história e o comportamento humano. Os acontecimentos do século XX citados acima produziram horrores que, se houvesse uma força superior para julgá-los, teriam condenado ao extermínio da espécie humana da face da Terra. A Segunda Guerra Mundial terminou com os EUA, "a pátria da liberdade", despejando duas bombas atômicas sobre a população civil japonesa. Foi talvez o maior crime da ideologia capitalista no século, mas não o primeiro nem o último -- não vou falar dos outros acontecimentos nem dos que vieram depois e continuam ainda hoje.
O projeto do presidente americano é a história do capitalismo, exterminar um povo para explorar a sua terra. Por que não me soa estranho? Por que não me parece novidade? O que foi que os europeus fizeram neste continente desde sua chegada no fim do século XV? O que é que o agrotoxiconegócio faz na Amazônia ainda hoje, senão exterminar os povos originários para explorá-la comercialmente e enriquecer, derrubando a floresta e transformando-a em pasto e solo de plantio de monoculturas? O que foi que os próprios colonizadores europeus fizeram naquelas terras para fundar os EUA, a nação sem nome, senão exterminar os povos indígenas?
Isso é o capitalismo na sua essência, passando por todas as suas variantes, envergonhadas ou desavergonhadas. O único objetivo é o lucro, é a produção de riqueza para obtenção de lucro. O capital é como um câncer, que só existe crescendo sempre e destruindo. Faz isso encarnado nos humanos que o criaram e por meio de nós consome a Natureza. Qual é a alternativa a ele? Apresentá-la, conquistar as mentes e implantá-la é o papel da esquerda para tentar ainda salvar a espécie, a civilização, a vida na Terra.
Conclusão que eu tiro do brilhante programa, um dos melhores dos que já vi: a esquerda é igual a Marx, excelente em fazer diagnósticos, mas não tem uma proposta alternativa melhor (considerando que nem a URSS nem a China comunista, esta até prova em contrário, se mostraram melhores) ao capitalismo.
terça-feira, 15 de abril de 2025
Rotina para dormir bem
Muito bom. Ver o nascer do sol e o pôr do sol. Acho que é a primeira vez que tenho essa vontade. Os vídeos desse médico são muito interessantes, práticos e úteis. E ele parece confiável.
sábado, 12 de abril de 2025
Françoise Hardy, Le premier bonheur du jour (Official Lyrics Video)
Outra pérola que Françoise Hardy nos deixou.
A capital e o capital: o homem, Brasília, Tom, Vinicius, JK, história
Dentro de nove dias, Brasília completa 65 anos. Pela lei brasileira, pode se aposentar. 21 de abril de 1960, data da inauguração, celebrada numa sinfonia por Tom e Vinicius.
Foi quando tudo começou. Em clima de ufanismo, pelas mãos, ou melhor, pela cabeça e pela vontade determinada do mais querido presidente do Brasil, uma unanimidade nacional, cuja vida trágica exemplar é um retrato da trajetória dos brasileiros nos últimos cem anos. Presidente do melhor quinquênio da nossa história, ajudou a eleger no Congresso o primeiro presidente ditador militar, como líder do seu partido, o de maior bancada na época, confiando na promessa de eleições diretas no ano seguinte, quando voltaria pelo voto popular, para completar sua obra gloriosa, mas foi traído e cassado, passou o resto da vida no ostracismo e morreu num atentado tramado pelos terroristas de direita, versão que não se pode mais rejeitar.
(Leio na Wikipédia que Brasília tem um lema: "Aos ventos que hão de vir".
Nada mais adequado; os ventos vieram, soprando forte da Floresta
Amazônica, varrendo o Planalto Central, o Sertão e chegando ao litoral, de onde partiu o homem, não qualquer homem, o Homo sapiens
capitalista, que atravessou o Atlântico vindo da Europa e começou a
devastar o continente. Outro homem, habitando a floresta e convivendo
sabiamente com a Natureza, já vivia aqui. Foi e continua a ser dizimado,
extinto como as outras espécies que o Hs não reconhece como
tendo direito à vida e parte do planeta que ele considera seu,
propriedade e mercadoria, simples fonte da matéria-prima para produção
de riquezas. O Homo contemporâneo nunca foi sapiens, mas talvez possa
ser adequadamente chamado de Homo trumpis, sua mais perfeita tradução.)
Brasília: Sinfonia da Alvorada, o poema sinfônico de Tom e Vinicius, acabou se tornando um projeto não concretizado, mas cumpre o papel da arte de retratar ideologicamente um povo, uma época, um lugar. Idealizada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, cujos prédios monumentais estão lá testemunhando aquela época grandiosa, embora tenhamos nos acostumado de tal forma que nem damos mais valor e até pichamos esculturas, numa demonstração de que não reconhecemos a cidade como nossa (de fato, tornou-se a cidade das castas privilegiadas do país), a sinfonia deveria ser apresentada pela primeira vez nas solenidades de inauguração da nova capital, mas isso não aconteceu. Só veio a ser executada de fato depois que a ditadura militar acabou.
Parodiando JK, Brasília tornou-se a tragédia síntese do Brasil. Abriu o caminho para a devastação do Cerrado, do Pantanal e da Amazônia. Com o melhor dos propósitos, como atesta o poema sinfônico do Vinicius e do Tom. A música expressa a grandiosidade da Natureza que o Homem encarava -- e sempre é bom lembrar que uma árvore gigantesca matou, ao tombar, o engenheiro que liderava a construção da rodovia Balém-Brasília, outro símbolo inaugural da devastação que então de chamava de desbravamento. A questão é simples: o capitalismo "desbrava", para gerar lucro, para produzir riquezas e o rastro desse desbravamento, o outro lado da moeda, é a destruição, no caso, dos biomas milenares e suas populações, para os quais o capital não dá a menor bola. O capital não tem subjetividade, só objetividades. Enquanto o Homem for seu escravo, fazendo o que "o mercado" manda, será assim, riqueza criada com destruição e que só vai terminar no dia que as mudanças climáticas eliminarem as condições da existência humana (e de inúmeras outras espécies extintas antes) na Terra. Simples assim.
No glorioso quinquênio JK, quando o Brasil cresceu 50 anos em 5, tudo aquilo parecia maravilhoso. O desafio era o Homem conseguir "vencer a floresta" inexpugnável durante mais de quatro séculos. O Brasil ainda era uma nação imensa cuja população estava concentrada no litoral do Leste, deixando a Natureza em paz no restante do seu território. JK, um mineiro, diamantinense, conhecia a devastação que o "desenvolvimento" provoca enquanto cria riquezas, porque foi isso que ele fez nestas montanhas, em Diamantina, Ouro Preto e todas as "cidades históricas", e faz ainda, com os rompimentos de barragens. Com seu plano, JK invadiu o Sertão e começou a marcha para Oeste. Deu aquele salto na industrialização no país e tudo mais. Enquanto ele construía Brasília, os artistas criavam como nunca antes nem depois a Bossa Nova e o Cinema Novo, além do futebol arte, que conquistou enfim a primeira Copa do Mundo. Confirmava-se, naquele pós-guerra de recuperação mundial, que o Brasil era "o país do futuro" previsto pelo escritor austríaco exilado Stefan Zweig.
Depois da bonança do glorioso quinquênio JK, sobreveio porém uma sucessão de desgraças: a eleição de Jânio, sua renúncia, a tentativa de golpe contra a posse de Jango, o desastroso governo Jango, o golpe vitorioso do dia da mentira, uma ditadura militar de 21 anos.
Note-se: a história não se explica pela economia, simplesmente e principalmente. O plano de JK foi só a iniciativa mais eficiente de um projeto nacionalista elaborado a partir da Revolução de 1930, que previa modernização, industrialização, urbanização, atração de capitais estrangeiros, uso de capital estatal para apoiar a iniciativa privada com obras de infraestrutura (o que foi Brasília, senão uma imensa e complexa obra de infraestrutura?). Um projeto em que o capital até então agrário e concentrado no litoral se expandiria para as cidades e para o interior, rumo à Amazônia, para transformá-la e tudo no seu caminho num gigantesco pasto e terreiro de monoculturas. Getúlio começou a fazer isso, Dutra continuou e JK deu-lhe um impulso monumental, mas a ditadura não o interrompeu, ao contrário, prosseguiu o "desenvolvimentismo" nacionalista. Nunca se criaram tantas estatais, as "brás", quanto na ditadura militar. Esse projeto só acabou com a democratização, a partir de 1985, e foi substituído pela "modernização" do neoliberalismo inaugurada por Collor, que -- ironia -- evocou JK, e seguida por Itamar, FHC, Lula e Dilma. Os que vieram depois do golpe parlamentar de 2016 só fizeram administrar o desmoronamento da economia nacional iniciado décadas antes. A bem da verdade, é preciso dizer que, embora pelo método confuso, sem um plano como JK, Getúlio ou os governos militares, Lula tentou ressuscitar o desenvolvimentismo, como o seu Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A tragédia brasileira é que não continuamos de forma persistente o único projeto de desenvolvimento nacional que tivemos, como fizeram as nações que cresceram nos séculos XX e XXI, como China e outras nações asiáticas, e ao mesmo tempo procedemos a todas as ações nefastas contra a Natureza que o desenvolvimento capitalista realiza. Somos a nação que mais destrói a Natureza irresponsavelmente em troco de nada, só para benefício de uma casta capitalista riquíssima, egocêntrica, reacionária, estúpida e antidemocrática, sem qualquer benefício para 99,99% dos brasileiros, exceto as demais castas privilegiadas que sustentam essa ordem. Onde? Em Brasília, naquela cidade modernista, que foi o maior testemunho do gênio brasileiro durante cinco anos.
JK foi modesto: seus cinco anos já representam mais de cinquenta e pelo visto se tornarão cem, pois não há no belo horizonte planaltino sinal de que os ventos substituirão a destruição em curso por um ambiente melhor. A única voz lúcida entre os políticos brasileiros (reza a lenda que, no segundo mandato que não houve, 1965-1970, JK corrigiria os erros que já antevia no seu plano de desenvolvimento), Ciro Gomes, propõe um desenvolvimentismo reciclado, que tem méritos evidentes diante do caos vigente, por tentar reorganizar a nação, mas ignora que aquele tempo passou, exatamente pelos seus efeitos desastrosos para o ambiente, e que um plano atual, para o Brasil e para o mundo, precisa partir do decrescimento econômico, da distribuição das riquezas e da recuperação da Natureza, para que a espécie humana sobreviva, numa vida em harmonia com as demais especiais, como nos ensinam há séculos os habitantes primitivos destas terras e que nunca se consideraram seus proprietários.