Gosto da Agência Brasil, porque ela é, juntamente com toda a EBC, a melhor prova de que, ao contrário do que os governos tucanos em Minas e São Paulo fazem com as emissoras de televisão e rádio públicas, o governo do PT não controla o noticiário federal. Notícias negativas para o governo saem a todo momento na EBC; nas emissoras públicas mineiras isso nunca acontece. Aliás, nem na imprensa privada mineira.
A Agência Brasil é hoje o que décadas atrás era a grande imprensa, que agora se tornou uma coisa partidária e sensacionalista. Mas a própria Agência Brasil acompanha muitas vezes a tendência da "grande" imprensa, como na notícia abaixo.
Fico pensando se é vontade de mostrar independência ou se é obra de tucano infiltrado na comunicação federal. Quem é do ramo sabe como se produz uma notícia, como se edita; as mesmas informações podem ser negativas ou positivas, conforme a redação e a edição. Neste caso, há duas fontes principais e duas abordagens, uma positiva, outra negativa, se puxar por uma, a notícia é positiva, se puxar por outra, é negativa. O repórter ou o editor puxou pela negativa.
Mas o que me faz pensar mesmo é essa obsessão de encontrar benefícios e malefícios para as exportações na Copa. É de um provincianismo a todo prova, seja para o lado positivo, seja para o lado negativo.
É compreensível em house organ, que é como se chamava antigamente a publicação de uma empresa ou instituição, mas na imprensa para o grande público?
Vamos lá: a pauta é investigar as repercussões da Copa nas exportações brasileiras. Vale. E as fontes dizem que não há, que são poucas, que é difícil saber, que pode acontecer isso, que pode aquilo, e partem para os achismos. A exportação pode diminuir, mas não é possível medir. No ano passado, no entanto, com a Copa das Confederações, a exportação aumentou! Pouco, 1%, mas aumentou... Ou seja: não tem notícia, ou tem notícia positiva...
Mas é preciso publicar. Se pegar o lado bom, vira notícia chapa branca, então vamos puxar pelo lado ruim... E o fato de que no ano passado a exportação aumentou pouco vira notícia ruim, porque a ênfase está no pouco. E as fontes oficiais vão para o pé da matéria, enquanto o professor (neoliberal?) vai para o lide.
A questão é: o que a Copa tem a ver com exportações brasileiras? Se ela tem consequências que não percebemos, é interessante, merece matéria, mas pra isso é preciso ir pra rua, ir a empresas, pesquisar casos, entrevistar empresários, enfim, dá trabalho. É mais fácil pegar um professor "especialista" e uma "autoridade", fazer o contraponto e ficar com o achismo de um e o achismo de outro. E disso se tira uma matéria, um título, uma conclusão, se for contra a Copa, porque está todo mundo falando mal da Copa.
Qualquer jornalista experiente sabe que os achismos são furados, porque ninguém tem realmente números, em geral são chutes.
Como eu disse, sempre é possível escolher a informação a que se vai dar ênfase, e neste caso o jornalista infiltrado ou ingênuo ou simplesmente influenciado pelo ambiente sensacionalista escolheu o lado negativo. Poderia, de forma igualmente equivocada, ter escolhido o lado positivo, e seria chamado de jornalismo chapa branca.
Como o que se produz, por exemplo, na "grande" imprensa mineira.
É isso, em grande parte, a imprensa, hoje, essa indústria de notícias inúteis e deformadas. Por isso perde leitores. Por isso também uma nova comunicação prospera na internet.
Da Agência Brasil.
Copa do Mundo deve ajudar pouco exportações brasileiras
Wellton Máximo – Repórter; Edição: Lílian Beraldo
Apesar de atrair a atenção internacional sobre o país, a Copa do Mundo deve ajudar pouco as exportações brasileiras. Com menos dias úteis, que comprometem a produção, o torneio provocará atrasos em embarques e reduzirá as vendas externas em junho e julho.
Segundo o professor Paulo Pacheco, especialista em Comércio Exterior da faculdade Ibmec, o impacto da Copa sobre as vendas externas é temporário. A tendência é que, depois da competição, ocorra um movimento de compensação, com embarques acima do normal no início do segundo semestre.
"Como os exportadores estão amarrados por contratos, são obrigados a vender a mercadoria de qualquer maneira. Depois da Copa, as empresas vão correr atrás do prejuízo para suprir os clientes", diz o professor.
De acordo com Pacheco, apenas se os portos brasileiros parassem durante a Copa, haveria prejuízo imediato. "Não tenho informações de que nenhum porto vá parar em dias de jogos do Brasil. Talvez operem com escala reduzida, mas não podem parar porque uma paralisação significaria prejuízos para os navios e para os armazenadores, que pagariam mais taxas", explica.
Embora o impacto nos embarques seja momentâneo, o professor adverte que existe outro efeito negativo da Copa do Mundo sobre as vendas para o exterior. Por causa do número menor de dias úteis, o torneio fará a produção industrial cair neste e no próximo mês, reduzindo o excedente a ser exportado.
A íntegra.