sexta-feira, 1 de agosto de 2014

O pouso do tucano

O título é do editorial da Folha de S. Paulo no domingo 27/7, do qual a Agência Carta Maior, abaixo, reproduz trecho. Infelizmente, a Folha pratica a política que impede reprodução de conteúdo, a essência da internet (por isso também veículos assim são anacrônicos e fadados ao insucesso, mas esta é outra questão).
É um editorial que nos leva de volta aos anos 80, quando Folha, JB e Estadão ainda faziam jornalismo. Os grandes jornais sempre tiveram os melhores profissionais e com isso os melhores editoriais e as melhores reportagens. A questão é que, hoje, pagam tão mal e fazem jornalismo tão ruim que espantam os melhores, ou nem os querem -- mas ainda há alguns. Esta também é outra questão.
O fato é que é um texto cristalino, objetivo, no qual não há o que se retocar, em se tratando de editorial, e que merece ser lido. Assim como este seu espelho, da Agência Carta Maior.

Da Agência Carta Maior.
Aeroportos e colisões tucanas
Há exatamente quatro anos, em 29 de julho de 2010, o jornal O Globo noticiava a evidência de um racha profundo nas fileiras tucanas, a minar a campanha do então candidato à presidência da República pelo PSDB, José Serra.
Aspas para o Globo de 29-7-2010:
"O candidato a presidente pelo PSDB, José Serra, terá uma estrutura independente em Minas Gerais para impulsionar sua campanha no Estado (...). A estratégia foi montada para fazer frente a algumas dificuldades. A decisão foi tomada após descontentamento com o ritmo da campanha no Estado, onde o ex-governador Aécio Neves, que recusou-se a ocupar a vaga de vice na chapa de Serra, é a principal liderança do PSDB..."
Corta para o coquetel de autógrafos de Serra, no Rio, na semana passada, dia 23 de julho de 2014, no lançamento de seu livro de memórias, "50 anos Esta Noite".
Aécio Neves não compareceu ao evento, onde Serra comentou laconicamente o episódio que há dez dias faz sangrar seu velho rival e agora o candidato do PSDB à presidência.
"Um programa de construção de aeroportos no interior de repente bate na família. Não quer dizer que houve favorecimento." disse olímpico sobre a obra de R$ 14 milhões feita por Aécio na fazenda de um tio, paga com dinheiro público. ‘Eu não tenho parentes no interior. Se tivesse, poderia ter acontecido...’, observou Serra com irônica ambiguidade.
Especulações sobre a origem da denúncia veiculada em 20/7, pela Folha de SP, de notórias afinidades com o serrismo, ganharam lastro extra a partir do editorial publicado pelo diário da família Frias , no último domingo, 27-7.
O texto com sugestivo título, "O pouso do tucano", desmonta as explicações de Aécio para o escândalo e lança uma comprida sombra sobre o futuro de sua candidatura:
"Mais econômico, na verdade, teria sido não fazer obra nenhuma. A demanda por voos em Cláudio é pequena, e o aeroporto de Divinópolis fica a 50 km de distância. Ainda que todo o processo tenha sido feito de maneira legal, como sustenta Aécio Neves, restará uma pista de pouso conveniente para o tucano e seus parentes, mas de questionável eficiência administrativa. Não é pouca contradição para um candidato que diz apostar na união da ética com a qualidade na gestão pública."
Mas o principal subtexto das suspeitas quanto à fonte da denúncia remete ao recheio mineiro da derrota sofrida por Serra nas eleições presidenciais de 2010, quando as urnas sepultaram de vez suas pretensões ao cargo máximo da política brasileira.
A íntegra.