quarta-feira, 15 de maio de 2019

Os fatos nas ruas e as mentiras nas redes

A notícia do El País (abaixo) cita uma questão estarrecedora e decisiva na política, mas não nova: a guerra de informações pelas redes sociais. Não é nova porque foi isso que elegeu o atual presidente. Basta dizer que o maior fato político da eleição de 2018 foram as manifestações #EleNão, e no entanto quem cresceu na preferência do eleitorado depois foi o candidato capitão, porque manipulou as redes sociais. O que grande parte da população leu, ouviu ou viu sobre as manifestações não foi o que aconteceu, mas as mentiras que a campanha do atual presidente espalhou (fake news),
Isso significa que estamos numa época -- graças à democrática internet -- em que o que vale para formar opinião não é mais o fato, mas a versão do fato disseminada na internet, quem ganha a guerra da versão ganha a opinião pública. O que também não é novidade: a ditadura militar controlou a opinião pública via Rede Globo, que criava uma versão cor de rosa do Brasil nos tempos de maior repressão, inclusive censura à imprensa, às artes, a tudo.
Agora não há censura mais, mas a Globo continua manipulando informações, como se viu na obscena campanha do impeachment. E há esse fato novo, a manipulação das redes sociais via robôs. Como mostra a matéria do El País, o atual governo mantém mobilizado seu exército que dissemina fake news, enquanto faz o desmanche do país. Ou seja, tenta manter apoio para o desmanche e para o governo, dizendo que faz uma coisa enquanto faz outra, e disseminando também mentiras sobre seus adversários políticos.
A matéria aponta para o confronto entre os fatos nas ruas e as mentiras nas redes, o que é fundamental e decisivo, mas é preciso atuar também sobre as fake news, tanto da parte de quem divulga a verdade, quanto da parte das autoridades que precisam ser severas e exemplares na punição de quem dissemina fake news.
Isso não acontece no Brasil porque a esquerda não está tendo capacidade de atuar nas redes sociais e porque as autoridades estão envolvidas no golpe, são cúmplices das fake news, como foram cúmplices do impeachment, como foram cúmplices da larva jato. O Estado brasileiro faliu no golpe, as instituições não cumprem suas obrigações legais.
Por isso o Brasil vive num estado de exceção, por isso é preciso uma nova ordem constitucional, para que o país volte a ser um Estado de Direito, uma democracia.
A questão fundamental é: o capitão presidente continua tendo a iniciativa de ação, a oposição apenas reage. Enquanto continuar assim, não haverá mudança no quadro político. A oposição precisa ter iniciativa, apresentar um programa à sociedade. Não faz isso porque, na minha opinião, não tem. A esquerda se perdeu contaminada pela conversa fiada do neoliberalismo e pelo fim da URSS. Apesar de ter conquistado o poder pelo voto em 2002 e se mantido nele em mais três eleições consecutivas, até ser deposto por um golpe, o PT não fez um governo de esquerda, fez um governo que misturou desenvolvimentismo com neoliberalismo, e criou renda mínima para os mais pobres, mas nada consistente.
Consistente, na minha opinião, seria investir prioritariamente em educação pública de qualidade em tempo integral para todos e comprometer a sociedade nesse projeto. O PT distribuiu renda e apostou na nova classe média, no aumento do consumo. Veio o golpe e toda a distribuição de renda inconsistente escorreu para o ralo, e voltamos à miséria, à desigualdade crescente, ao desemprego.
O programa da oposição deve ser a DEMOCRACIA, resumindo nessa palavra tudo que significa o oposto do que faz a extrema direita, do que faz o golpe. Significa distribuir poder, renda, conhecimento, riqueza, construir um novo Estado com participação do povo.
O que podemos desejar é que tenha ficado pelo menos a consciência de uma parte da população que entendeu o que aconteceu e é capaz de lutar pela recuperação e ampliação dos seus direitos. A greve nacional da educação, hoje, pode indicar isso.

Mobilização por educação confronta bolsonaristas nas redes e testa força nas ruas