Otto Lara Resende (com s) foi demitido porque imitava o patrão, Walter Clark porque bebia no serviço. Curiosidades do livro que Paulo Nogueira está escrevendo sobre suas experiências profissionais. "Minha tribo – o jornalismo e os jornalistas" merece ser lido não apenas por estudantes de jornalismo, mas por todos que se interessam pela imprensa. Relevem-se erros de redação comuns em textos que não foram revistos e um ranço de jornalista executivo. A seguir trechos de mais um capítulo, disponível no blog do autor, Diário do Centro do Mundo.
Frias e Roberto Marinho
A última vez em que analisei um livro foi quando chegou a mim, na Editora Globo, o panegírico dedicado ao falecido dono da Folha, Octavio Frias de Oliveira. Fiquei incomodado não apenas com a bajulação deslavada, mas com a miopia do conteúdo ao ignorar o trabalho duro e brilhante dos jornalistas da Folha antes e depois que Frias a comprasse, no início da década de 1960. (...) Frias, no livro póstumo, era tratado como um editor. Um momento. Henry Luce era editor da Time. Mas Frias? Luce concebera, nos anos de 1920, uma revista semanal de informações que organizasse a semana para seus leitores. Luce era um aluno notável de Yale, como seu parceiro na fundação da Time, Britton Haden, morto ainda nos primeiros tempos da revista. Ambos escreviam, faziam títulos e legendas, eram capazes de dar vida a um texto de capa maçante. E Frias? No próprio livro em sua homenagem, está dito que Frias comprou a Folha em busca do status que a granja lhe negava. No livro uma série de fotos de Frias com personalidades do poder militar e civil das últimas décadas mostra que o status lhe foi dado pelo jornal. Aquelas pessoas não sorririam tanto para um granjeiro. A resenha que fiz do livro de Frias foi uma das raras ocasiões em que um texto meu na Editora Globo foi lido, antecipadamente, pela família Marinho. Textos sobre os proprietários de empresas de mídia, no Brasil, costumam ser lidos – e escritos – com cuidado redobrado.
A íntegra.