quinta-feira, 8 de março de 2012

Por que São Paulo se tornou o bastião da direita?

Artigo de Emir Sader tenta responder essa pergunta.

Da Agência Carta Maior.
A natureza da disputa em São Paulo
O aspecto mais importante que pode ter a campanha eleitoral em São Paulo não é sua nacionalização ou não. Ela será sobredeterminada pelas condições nacionais. É verdade que são duas concepções políticas do que se quer para o Brasil que estarão em jogo. Mas há outro aspecto, mais concreto e específico, que assume maior importância. Por um conjunto de fatores Sao Paulo tornou-se o bastião do conservadorismo nacional, expressado nos governos tucanos no estado e na prefeitura da capital. A esquerda nunca decifrou as razões dessa hegemonia, que permitiu a eleição e reeleição sucessiva de tantos governadores tucanos e os dois mandatos Serra-Kassab. Todo os argumentos evocados têm elementos de realidade mas nenhum deles por si só dá conta da dimensão do fenômeno, nem sequer a soma deles. Se trata de um elemento de dimensões muito grandes que o estado de maior desenvolvimento econômico, com a classe trabalhadora mais numerosa, com a maior população imigrante do Nordeste, o estado com os maiores contrastes sociais entre riqueza e pobreza, por tanto o de maior desigualdade, o estado onde nasceram o PT e a CUT, onde está situado o ABC – que esse estado, em plenos governos vitoriosos nacionais do PT, tenha se consolidado como bastião da direita no Brasil. Estávamos acostumados a situar os setores mais conservadores do País nas regiões mais atrasadas, de menor desenvolvimento econômico, de controle político dos coronéis – de que o Nordeste era o exemplo clássico. Quando a oposição democrática se fortaleceu, o núcleo de maior resistência a esses avanços e de maior apoio à ditadura estavam basicamente no Nordeste. Dois fenômenos foram alterando esse quadro. Por um lado, a "modernização" da direita, promovida pelos tucanos em aliança com o então PFL, tendo as bandeiras neoliberais como programa fundamental. Se deslocavam as questões sociais e as do desenvolvimento econômico para a centralidade do mercado: consumo e disputa pela ascensão social através da competição no mercado. [...] O que está em jogo não é o futuro do Brasil. O que está em jogo é o futuro de São Paulo como cidade. Se continuará a ser uma cidade da exclusão social, da discriminação, do racismo, da crueldade social, da exclusão, ou se se tornará uma cidade para todos, da integração, da solidariedade, da prioridade das políticas sociais. Como consequência também determinará se continuará a ser o feudo do conservadorismo ou se se integrará ao amplo movimento de democratização social que vive o Brasil.
A íntegra.