Em 1992, a urgência de mudança do modelo econômico mundial para impedir a destruição cada vez maior do planeta e a sobrevivência da humanidade já era uma questão velha. Desde os anos 60 se discutia o assunto, mas quase nada era feito. Continuou do mesmo jeito, com o agravante da aceleração do processo de deterioração ambiental, do qual as catástrofes provocadas pela mudanças climáticas são as que chamam mais atenção, mas que tem outras igualmente graves: a qualidade de vida nas cidades cada vez pior, o desmatamento, a contaminação do solo, a destruição dos recursos hídricos, a poluição do mar, a extinção de inúmeras espécies... Há décadas os governos e empresas empurram a questão ambiental com a barriga, falando muito mais do que fazendo, gastando muito mais com propaganda do que com ações. A razão é óbvia: cuidar do futuro, das próximas gerações, das outras espécies, do planeta e do bem-estar coletivo não combina com o capitalismo, um sistema cujas características intrínsecas são o lucro, a produção cada vez maior, o imediatismo e o egoísmo. A Rio 92 e a Rio +10 não adiantaram nada? A Rio +20 também será tempo perdido? Na minha visão, a única mudança substancial nesse quadro é a consciência das novas gerações. Sustentabilidade é hoje matéria escolar, discutida pelos alunos nas melhores escolas. Graças a bons professores, essas crianças crescem com outra visão do mundo. Será suficiente e a tempo de salvá-lo? Não sabemos. No Brasil, a revista Ciência Hoje e sua versão escolar, Ciência Hoje das Crianças, ambas publicações da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), são instrumentos admiráveis desse esforço.
Da revista Ciência Hoje.
Cúpula para repensar o planeta
Por Margareth Marmori, em 1/3/2012
A cidade do Rio de Janeiro se prepara para ser sede, de 20 a 22 de junho, da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio+20. Dois grandes temas estão na pauta de discussões: a transição para uma economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e o quadro institucional – instrumentos de governança – para se chegar a tal meta. Apesar da importância dos temas, há temores de que uma baixa presença de autoridades internacionais enfraqueça o encontro. O governo brasileiro espera que a reunião traga à capital fluminense de 120 a 150 representantes dos 193 países membros das Nações Unidas (ONU), o que a tornaria a maior reunião de cúpula da história. No entanto, a pouco mais de quatro meses da reunião, apenas 30 chefes de Estado confirmaram presença na conferência. Além disso, o conteúdo do Esboço Zero, versão preliminar do documento base da reunião, é alvo de críticas por apenas encorajar os países a "desenvolver suas próprias estratégias de economia verde" sem estabelecer compromissos vinculantes nem apresentar meios concretos para se chegar ao desenvolvimento sustentável. Membros da comunidade científica brasileira que têm participado do debate preparatório para o evento mostram preocupação quanto a um possível fracasso da conferência. "Nossas intervenções são em parte contempladas no Esboço Zero, mas ainda falta muito para que o documento represente, de fato, uma mudança no sentido de promover igualdade social inserida em uma real política de sustentabilidade", diz a secretária-geral da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SPBC), a bióloga Rute Gonçalves de Andrade, que representa a entidade na comissão nacional criada pelo governo brasileiro para a Rio+20.
A íntegra.