quinta-feira, 1 de março de 2012

Esquerda aprendeu a navegar, mas perdeu a bússola

A imagem, do artigo abaixo, é boa. Ele faz um breve histórico das ideias desenvolvimentistas no Brasil. Imediatamente pensamos nos governos Lula e Dilma: o PT aprendeu a governar e sai-se melhor do que qualquer governo anterior, mas não tem a menor ideia de onde quer chegar. O importante é não deixar o barco afundar e manter os passageiros -- da primeira classe e da classe econômica -- satisfeitos e confiantes na tripulação...

Da Agência Carta Maior.
O 'desenvolvimentismo de esquerda'
José Luís Fiori
No Brasil, a relação entre a esquerda e o desenvolvimentismo nunca foi simples nem linear. Sobretudo, depois do golpe militar de 1937, e do Estado Novo de Getúlio Vargas, que foi autoritário e anti-comunista, mas foi também responsável pelos primeiros passos do "desenvolvimentismo militar e conservador", que se manteve dominante, dentro do Estado brasileiro, até 1985. [...] Do ponto de vista político prático, no início da década de 60, a "esquerda desenvolvimentista" ocupou um lugar importante na luta pelas "reformas de base", mas, ao mesmo tempo, se dividiu inteiramente, na discussão pública do Plano Trienal proposto pelo ministro Celso Furtado, em 1963. Logo depois do golpe militar de 1964, a esquerda e o desenvolvimentismo voltaram a se divorciar, e sua distância aumentou depois que o regime militar retomou e aprofundou a estratégia desenvolvimentista do Estado Novo. Apesar destas condições políticas e intelectuais adversas, formou-se na Universidade de Campinas, no final dos anos 60, um centro de estudos econômicos que foi capaz de renovar as idéias e as interpretações clássicas – marxistas e nacionalistas – do desenvolvimento capitalista brasileiro. A "escola campineira" partiu da crítica da economia política da Cepal, e de uma releitura da teoria marxista da revolução burguesa, para postular a existência de várias trajetórias possíveis de desenvolvimento para um mesmo capitalismo nacional. E se posicionou favoravelmente a uma política desenvolvimentista capaz de levar a cabo os processos inacabados de centralização financeira e industrialização pesada, da economia brasileira. Hoje, parece claro que a "época de ouro" da Escola de Campinas foi da década de 70, até a sua participação decisiva na formulação do Plano Cruzado, que fracassou em 1987. É verdade que logo depois do Cruzado, e durante a década de 90, a crise socialista e a avalanche neoliberal arquivaram todo e qualquer tipo de debate desenvolvimentista, mas parece claro que a própria escola recuou neste período. E dedicou-se cada vez mais ao estudo de políticas setoriais e específicas e à formação cada vez mais rigorosa de economistas heterodoxos e de quadros de governo. Por isso não é de estranhar que neste início do século XXI, quando o desenvolvimentismo e a escola campineira voltaram a ocupar um lugar de destaque no debate nacional, a sensação que fica da sua leitura, é que o "desenvolvimentismo de esquerda" estreitou tanto o seu "horizonte utópico", que acabou se transformando numa ideologia tecnocrática, sem mais nenhuma capacidade de mobilização social. Como se a esquerda tivesse aprendido a navegar, mas ao mesmo tempo tivesse perdido a sua própria bússola.
A íntegra.