É a favor da desmilitarização e diz que a PM bate mais em pobres: "sempre foi assim".
Do Diário do Centro do Mundo.
"Era a brecha que o sistema queria": um policial conta ao DCM se haverá retaliação ao Black Bloc
Kiko Nogueira
O soldado MJP falou com o DCM sobre a ação da corporação durante as manifestações. Em sua opinião, a polícia não sabe lidar com a explosão dos protestos quase diários no Brasil. "Não tem plano, não tem padrão, não tem protocolo. Ficou complicado. Se a gente reprime, é violento; se não faz nada, é conivente", diz ele. MJP, que trabalha em São Paulo, acredita que a morte do adolescente Douglas Martins Rodrigues na Vila Medeiros foi acidental – uma "fatalidade" –, mas admite que a polícia age com mais rigor na periferia. "Sempre foi assim", afirma.
Ele conversou também sobre uma possível retaliação aos black blocs após o ataque ao coronel Reynaldo Simões Rossi, destacado para supervisionar o ato que o Movimento Passe Livre convocou no dia 26 de outubro.
A seguir, alguns trechos da entrevista:
- Existe alguma orientação para retaliar os manifestantes depois do ataque ao coronel Reynaldo?
- Oficialmente, nenhuma. Mas a polícia vai agir com rigor logo de início, sem esperar muito. O contingente será maior, a força também. Você conhece aquela música do Racionais MCs? Tem uma que diz: "Essa era a brecha que o sistema queria". O que aconteceu com o coronel era a brecha que o sistema queria... Isso serviu também para justificar a invasão do Carandiru, por exemplo. A rebelião dos presos era a brecha.
- Você acredita que tenha havido armação?
- Não acho que tenha sido armação, como alguns black blocs estão dizendo. O vídeo mostra isso bem. Tanto que ele perdeu uma arma de fogo.
- A polícia tem um plano de ação para lidar com os protestos?
- Não. Essa situação das manifestações é nova e ninguém sabe o que fazer direito. Não tem plano, não tem padrão, não tem protocolo... Politicamente, ficou muito complicado: quando a gente reprime, é violento; quanto não faz nada, é conivente. A PM está perdida. O secretário de segurança de São Paulo mandou "observar" para depois agir. Mas isso nem sempre dá certo. No protesto na Rodovia Fernão Dias, o pessoal tacou fogo, fez aquela bagunça... Só quando um caminhão virou é que os soldados partiram para a ação, mas aí já era tarde demais.
- O que você e seus colegas pensam sobre a desmilitarização?
- Eu sou a favor. Eu e muita gente. Mas ninguém questiona nada dentro da polícia. O caso Amarildo teve muita repercussão. Só não sei se a desmilitarização vai diminuir o rigor. Para ela acontecer, vai ter de se discutir como ficam os planos de carreira e mais várias coisas. Por enquanto, fica tudo só na especulação.
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