sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Gerson Murilo

Grande poeta (Soluço Paquidérmico, 1982; Que Quieto O Quê, 2005, entre outros), grande escritor (Eu fico é segurando o meu nariz, com desenhos de Helena Alexandrino, Ática, 1990; Ei, quem você pensa que é?!, com desenhos de Eva Furnari, Formato, 1998, entre outros), grande amigo. Artesão refinado das palavras. Exemplo. Vai fazer uma falta danada.
Os amigos são poucos e ainda partem cedo.
Sábado, 23/11/13, 11h, Cemitério do Bonfim.


JARDIM
a gente vai virar ramo
ou será que
vai florir?

PRA.GA.STAR
pra dinheiro só aquela:
se não gasta
prolifera

deixa as janelas abertas quando sai
disse que deixa
pro apartamento poder se debruçar
se quiser
e ficar olhando a rua

ALARDE
você enfeita
a minha bobagem

RUA
numa noite de embriaguez
a chave faz amor
com a fechadura da porta
do lado de fora
aguardo condescentemente

INTERIOR
de noite
todos os gatos são chatos

INTERIORES
de noite
todos os gestos são chamas

DEPRESSA
onde fica a saída
de incêndio do seu corpo?

errar 
é hum anus
:
já não está mais aqui
quem falou

aí é que a porca
tosse o rabo
:
pra bom entendedor
meia palavra
bos

PIXAIM
- quem disse que seu cabelo 
é rebelde, minha filha?
acho que ele é é obediente:
do jeito que a gente põe
ele fica

acho que a chuva não se acha
.
a chuva é uma charada

MORTE
seu corpo nunca mais
pra onde sua alma
nem sombra

VELÓRIO
- em que você está pensando?
- se morto solta pum

GRÃO
a alma do universo é deus?

SIRENE ESCOLAR
te espero lá fora, ele disse
ou será te espeto?
tremo
o topete estúpido da fúria
por um triz

você sai
e deixa sua falta imantada

ela vem
e quando estiver aproximada
direi que o desejo é um pavão
quase tonto
quase quase asa
assim de supetão e apenas isto
não direi do porre e do show
que ele dá de vez em quando
quando cisma de desvairar
de deslavar a pique o mar

queria te mostrar a joaninha
a asa fina
a minha vibração com a sua vinda

a estrela 
é luz 
que se arrepia

o dia rala
dia a dia adia
o dia raro

os caminhos esperam descalços
quando alguém passa
vão de carona

alma
não leva
mala