Grande poeta (Soluço Paquidérmico, 1982; Que Quieto O Quê, 2005, entre outros), grande escritor (Eu fico é segurando o meu nariz, com desenhos de Helena Alexandrino, Ática, 1990; Ei, quem você pensa que é?!, com desenhos de Eva Furnari, Formato, 1998, entre outros), grande amigo. Artesão refinado das palavras. Exemplo. Vai fazer uma falta danada.
Os amigos são poucos e ainda partem cedo.
Sábado, 23/11/13, 11h, Cemitério do Bonfim.
JARDIM
a gente vai virar ramo
ou será que
vai florir?
PRA.GA.STAR
pra dinheiro só aquela:
se não gasta
prolifera
deixa as janelas abertas quando sai
disse que deixa
pro apartamento poder se debruçar
se quiser
e ficar olhando a rua
ALARDE
você enfeita
a minha bobagem
RUA
numa noite de embriaguez
a chave faz amor
com a fechadura da porta
do lado de fora
aguardo condescentemente
INTERIOR
de noite
todos os gatos são chatos
INTERIORES
de noite
todos os gestos são chamas
DEPRESSA
onde fica a saída
de incêndio do seu corpo?
errar
é hum anus
:
já não está mais aqui
quem falou
aí é que a porca
tosse o rabo
:
pra bom entendedor
meia palavra
bos
PIXAIM
- quem disse que seu cabelo
é rebelde, minha filha?
acho que ele é é obediente:
do jeito que a gente põe
ele fica
acho que a chuva não se acha
.
a chuva é uma charada
MORTE
seu corpo nunca mais
pra onde sua alma
nem sombra
VELÓRIO
- em que você está pensando?
- se morto solta pum
GRÃO
a alma do universo é deus?
SIRENE ESCOLAR
te espero lá fora, ele disse
ou será te espeto?
tremo
o topete estúpido da fúria
por um triz
você sai
e deixa sua falta imantada
ela vem
e quando estiver aproximada
direi que o desejo é um pavão
quase tonto
quase quase asa
assim de supetão e apenas isto
não direi do porre e do show
que ele dá de vez em quando
quando cisma de desvairar
de deslavar a pique o mar
queria te mostrar a joaninha
a asa fina
a minha vibração com a sua vinda
a estrela
é luz
que se arrepia
o dia rala
dia a dia adia
o dia raro
os caminhos esperam descalços
quando alguém passa
vão de carona
alma
não leva
mala