sexta-feira, 6 de abril de 2012

Os caminhos da revolução

Quem já leu sobre a Revolução Russa de 1917 sabe que a grande qualidade dos bolcheviques foi constituírem um pequeno partido organizado, disciplinado, coerente, reconhecido pela classe operária e que sabia exatamente o que fazer. Enquanto o czarismo caía e a burguesia débil se confundia no poder, o partido bolchevique conquistava a liderança dos sovietes, do proletariado, dos trabalhadores e da revolução. Sabiam o que fazer e eram disciplinados graças à sua dura e longa organização na clandestinidade, sob a batuta firme de Lênin, que se fiava na aplicação prática dos conhecimentos históricos do marxismo. Foi o que ficou conhecido depois como marxismo-leninismo, um, digamos, manual revolucionário de rara eficácia, que deu certo na Rússia e errado em (quase) todos os outros lugares. Manual revolucionário não é para ser copiado. Novas ondas revolucionárias aconteceram nesses quase cem anos e poucas deram certo -- as de 2011 são as mais recentes. São tão antigas quanto o capitalismo, que cria riquezas, mas também misérias; que maravilha os homens, mas também os revolta com suas desigualdades e injustiças. Vêm, aparentemente, de onde menos se espera, sempre em levantes populares que fogem ao controle de governos despóticos e corruptos e de oposições indigentes. As massas populares não querem muito, querem o mesmo, há mais de duzentos anos: liberdade, igualdade, fraternidade. A questão que se coloca para os revolucionários -- ou seja, as novas lideranças da imensa maioria da população que sofre e se revolta -- é o que pôr no lugar da civilização capitalista, que já atinge cinco séculos e está em toda parte do planeta, tão alicerçada na vida humana. Hoje em dia ninguém parece ter a lucidez e a confiança que tinham os bolcheviques em 1917.

Da CartaCapital.
Ocupamos. E agora?
Por Clara Roman.
Mal tinha começado o ano de 2011 e dois governos ditatoriais haviam sido derrubados por mobilizações populares, no Egito e Tunísia. A Primavera Árabe começava a dar sua cara quando, em maio, o movimento dos indignados tomou a Porta do Sol na Espanha. Assim se seguiu pelo resto do ano: Grécia, Síria, Líbia, Chile, Israel, Estados Unidos e até Brasil foram palco um movimento global de indignação contra o que o geógrafo americano David Harvey chama de "partido de Wall Street". Depois de decretado o fim da história no inicio da década de 1990 – com o fim da União Soviética e a vitória do neoliberalismo – a roda voltava a girar. Um ano depois, alguns governos derrubados – e outros ainda em pé – estudiosos tentam entender o que ocorreu. Na Espanha, as livrarias já têm estantes inteiras com publicações sobre o tema. O Brasil acaba de lançar a primeira. "Occupy – movimentos de protestos que tomaram as ruas", da Editora Boitempo, é uma coletânea de artigos de filósofos, historiadores, geógrafos e sociólogos sobre os movimentos populares que ocuparam as principais praças da periferia ao centro do capitalismo financeiro. A maior parte dos textos foi produzida no calor da hora – discursos proferidos em meio às mobilizações ou publicados em veículos de imprensa. O preço (10 reais) só foi possível por conta da cessão de direitos dos tradutores, autores e fotógrafos para a realização de uma obra cujo único objetivo é ser espalhada. Um denominador comum aparece em todos os textos: que tipo de estrutura política vai sustentar essa energia de mudança? Os partidos e organizações sindicais servirão como a plataforma necessária para estruturar essa nova esquerda no poder?
A íntegra.