Artigo de Isabella Miranda e Fábio Merladet, membros do Comitê Popular dos Atingidos pela Copa em Belo Horizonte (MG).
Copa do Mundo para quem?
Em todas as cidades sede dos jogos os preparativos para o grande Mundial já revelam uma série de contradições entre a cidade existente e a cidade que se quer que o mundo veja. Lideradas por grandes empresários e por políticos aliados aos seus interesses, alinhada as exigências da Fifa e excludente nos termos de participação democrática da população, as operações urbanas em decorrência da Copa revelam a tentativa de se reproduzir um modelo hegemônico de cidade: limpa, moderna, desenvolvida, eficiente e sem pobreza, um modelo de cidade espetáculo. Mega-eventos e mega-projetos urbanísticos têm gerado mega-violações de direitos e mega-desigualdades em Pequim, em Nova Delhi e na África do Sul onde, por causa da Copa do Mundo, os negros mais pobres foram removidos do centro de Cape Town para "Blikkiesdorp", uma favela de conteiners de latão com nome de campo de concentração nazista a mais de 30 quilometros da cidade. A Copa do Mundo no Brasil parece ir pelo mesmo caminho ao criar uma cidade de exceção em que a cidadania e os direitos constitucionais são suspensos e são enormemente ampliadas as desigualdades sociais e espaciais em favor do capital financeiro, mercantil e imobiliário. O Comitê Olímpico, a ISL Marketing e a Fifa (Federação Internacional de Futebol Associado), que desde 1904 estipula o jeito "certo" de jogar, organizam e definem de acordo com os seus padrões de rentabilidade, os detalhes dos Mundiais, desde os estádios até as cidades. Sob seus critérios o futebol vai se transformando, cada dia mais, em uma indústria inimiga da alegria e do prazer de jogar. O Projeto de Lei Geral da Copa que se quer implementar no país por pressão da Fifa, além de outras condições absurdas impostas por esta organização, demonstram um caráter de intervenção autoritária na legislação brasileira em prejuízo dos direitos constitucionais e da soberania popular e em favor da volúpia lucrativa da Fifa e de suas empresas parceiras. O Projeto de Lei Geral da Copa, se aprovado, irá instituir disposições que dão à Fifa e aos investidores condições de exclusividade econômica, disponibilização de serviços públicos, e atenção especial à proteção de propriedades industriais como marcas e logos da Fifa e multinacionais parceiras e punição severa de falsificadores; a exclusividade nos direitos de imagem, sons, radiodifusão e acesso aos Locais Oficiais de Competição; proibição de manifestações em locais de visibilidade que possa prejudicar o evento, com a violação dos direitos a liberdade de expressão; monopólio de comercialização dos ingressos e desrespeito às legislações que definem meia entrada para idosos e estudantes, entre outros. Além desse projeto, já estão em curso nos níveis municipais medidas como a flexibilização da Lei de Licitações para grandes obras de infra-estrutura, a violação de legislações ambientais, o desrespeito aos mapas de planejamento urbano e de zoneamento do solo e a negação da participação da população no planejamento das cidades.
A íntegra.