Leis de incentivo não podem ser a base da política cultural. Isso é baboseira neoliberal, que exime o Estado de despesas com o setor, garante incentivos e boa propaganda para empresas e só beneficia uma elite de artistas ricos. Celebridades e produtoras globais levantam milhões enquanto artistas populares não conseguem nada. Acontece nesse modelo o mesmo que acontece na educação superior: os ricos ganham as vagas nas melhores universidades públicas enquanto os pobres ficam de fora. Todos os países desenvolvidos protegem e bancam sua cultura.
Da revista Fórum.
Pontos para uma gestão cultural transformadora (parte 4): O financiamento da cultura
Por Célio Turino
Os princípios brevemente explicitados neste capítulo são essenciais para uma gestão pública de cultura que se pretenda transformadora. A política cultural deve ser sempre pluralista, sem interferências de gosto, de conteúdo ou de estética. Tal diversidade, no entanto, não pode deixar de perceber que o produto cultural encontra níveis variados de produção, circulação e fruição. E esta diferença de níveis leva a diferentes formas de financiamento e fomento. Parte da produção artística terá sempre espaço no mercado, muitas vezes com pouca inovação, é fato. Porém, é preciso quebrar preconceitos e reconhecer que o mercado também abre espaço para produtos de excelente qualidade, tanto em relação à forma quanto ao conteúdo. Como determinados produtos culturais já desenvolveram seus mecanismos de financiamento, devem ficar a cargo da iniciativa privada. Mas existem produtos culturais que a iniciativa privada se revela incapaz de promover, cabendo ao poder público suprir essa insuficiência, assegurando uma múltipla oferta de bens culturais.
A íntegra.