domingo, 8 de abril de 2012

Confins, dinheiro público jogado fora e a "grande" imprensa

O aeroporto de Confins é matéria de capa da revista Viver Brasil, distribuída gratuitamente em residências de Belo Horizonte.* A revista cronometrou três percursos do centro até o aeroporto e o mais rápido -- pela Avenida Cristiano Machado -- levou 51 minutos; pela Avenida Antônio Carlos foram gastos 57 minutos e pelo Anel Rodoviário, 63. Há três anos, "dois meses depois da inauguração da Linha Verde", destaca a revista, o mesmo trajeto pela Cristiano Machado levava 34 minutos. Essa demora crescente leva VB a concluir que viajar por Confins é fazer duas viagens -- e muitas vezes a mais longa é até o aeroporto. As causas do problema, segundo a revista, são o aumento vertiginoso do número de veículos nas ruas, as obras intermináveis na Cristiano Machado e na Antônio Carlos, a construção do Centro Administrativo, a falta de transporte coletivo eficiente para Confins, além do número crescente de passageiros usando o aeroporto.
A reportagem é mais que pertinente -- é óbvia, e seria também boa, se não ficasse na superfície do problema e desse a mão à palmatória por passar anos fazendo propaganda de obras e governos que levaram à situação que agora denuncia. VB omite que o incentivo ao uso de Confins foi uma bandeira do governo Aécio, que a construção do bilionário Centro Administrativo foi a menina dos olhos do atual senador e que a Linha Verde foi vendida como solução para o problema do trânsito naquela direção, que as obras caríssimas na Antônio Carlos também eram "definitivas".
Foi graças à realização dessas obras, propagandeadas pela publicidade astronômica dos governos Aécio e Anastasia e reverberadas pela "grande" imprensa mineira, inclusive VB, que Aécio posou de candidato "moderno" e competente a presidente, elegeu-se senador e reelegeu seu sucessor. Agora, quando todas as "grandes realizações" de Aécio mostram suas falhas, quando o estado está falido, apesar do tão elogiado "choque de gestão", incapaz de pagar o piso salarial constitucional dos professores; agora, quando o rei está nu e até VB tem de falar dos problemas, esquece os elogios de outrora e não nomeia os responsáveis.
VB cita mas não critica as obras milionárias e nem o desperdício de dinheiro público que elas representaram. Ao contrário: indica que são necessárias novas obras. As empreiteiras se regozijam e os candidatos preparam novas propagandas. O metrô, que todos as mentes sensatas diziam ser prioritário antes de se ampliar Confins e construir o Shopping Administrativo, agora aparece como obra importante. Não é difícil imaginar qual seria o teor da reportagem se o governo fosse do PT e não do tucano Aécio.
VB não esconde sua simpatia por Aécio e Anastasia, cujos "feitos" e fotos frequentam assiduamente suas páginas. A mesma edição diz que "Aécio Neves entra no jogo sucessório". "O mineiro foi firme ao dizer que Dilma instituiu o regime do improviso, ao contrário do que muita gente pensava." Também não mede palavras para exaltar as qualidades do prefeito Márcio Lacerda e atacar os defeitos do vice-prefeito Roberto Carvalho, além de outros políticos do PT.** Diferentemente do que fazia e faz com Lula, a revista tolera a presidente Dilma, embora esqueça de mencionar que ela, assim como Aécio, também é mineira e belo-horizontina.
O governo Aécio foi um governo de obras escandalosas e propaganda intensiva. Fomentar o "vetor norte" foi uma decisão de seria investigada num país mais democrático: o governo valorizou os imóveis antes de desapropriá-los! Construir o desastroso Shopping Administrativo foi um crime contra as finanças públicas que arquitetos e urbanistas condenaram. Cobrir o Ribeirão Arrudas, um crime contra o meio ambiente. Sob propaganda enganosa, da qual a "grande" imprensa foi cúmplice, o governo Aécio repetiu práticas velhas travestidas de "modernas".
Ainda assim, a reportagem surpreende, pois uma pergunta é inevitável, ao final da leitura: estes incompetentes governantes podem ser eleitos novamente?

* Embora distribuída gratuitamente, Viver Brasil traz impresso preço de R$ 5. Há um ano, quando trouxe na capa uma das fontes da matéria desta última, "custava" o dobro. VB, como sua concorrente Encontro, costuma repetir fontes em matérias variadas, em geral membros da elite empresarial e governamental mineira e anunciantes frequentes. Nascida como uma cisão da Encontro, há menos de quatro anos, VB é industrial e graficamente mais bem feita, mas, aparentemente, está perdendo a competição, a julgar pelo número de páginas: tem 130, enquanto a mais antiga costuma passar de 200, fora encartes, e grande parte delas são anúncios.

** Em agosto de 2011, VB foi "recolhida das bancas" em Nova Lima por decisão judicial que acatou pedido do prefeito da cidade, Carlos Rodrigues (PT). O petista estava na capa da revista em reportagem que o acusava de "desvio de dinheiro público, nepotismo, superfaturamento de obras, e por aí vai", apoiando-se em denúncias de adversários, sem apresentar provas. Em outubro do ano passado abriu suas páginas para Lacerda fazer propaganda da sua gestão e atacar seu vice; em dezembro chamou Carvalho de "obsessivo" por pleitear a candidatura a prefeito pelo PT na eleição deste ano, em vez de apoiar a reeleição de Lacerda.