Alarmante. Não é só cafeína, tem até agrotóxico. Água de BH é a terceira mais contaminada. Matéria da respeitada e insuspeita revista Ciência Hoje, da SBPC.
Água com cafeína
Pesquisadores encontram cafeína em amostras de água potável de cidades brasileiras. A substância é indicadora da presença de esgoto no manancial e alerta para a possibilidade de que outros compostos indesejados também estejam chegando às torneiras.
Por Joyce Santos
A água que chega a nossas casas passa por um tratamento que obedece a requisitos legais. Mas será que isso impede que ela chegue às torneiras livre de substâncias potencialmente prejudiciais? É o que pesquisadores de diversas universidades brasileiras tentam descobrir em estudo coordenado pelo Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA).
"Estamos tentando identificar e quantificar alguns contaminantes emergentes – substâncias que, em geral, ainda não estão legisladas – na água tratada de capitais brasileiras", explica Wilson Jardim, químico da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do estudo.
Na primeira rodada de coletas, concluída no ano passado, foram recolhidas 49 amostras em 15 capitais e no Distrito Federal – a água era retirada dos canos de entrada das casas. “Coletamos uma amostra para cada 500 mil habitantes e, na medida do possível, procuramos mapear a rede de coleta e distribuição de forma que pudéssemos obter amostras provenientes de diferentes mananciais”, explica o químico Marco Grassi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Além do Distrito Federal, os pesquisadores recolheram água em Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Belo Horizonte, Goiânia, Cuiabá, Porto Velho, Palmas, Recife, João Pessoa, Natal e Fortaleza.
Entre 22 substâncias pesquisadas – escolhidas por representarem diferentes produtos utilizados em atividades domésticas, industriais e agrícolas –, a cafeína é de especial interesse para os pesquisadores. "Ela é considerada um indicador da qualidade dos mananciais e do tratamento de água", explica Jardim. "É a impressão digital da presença de esgoto", resume.
Ele e Grassi ressaltam que a substância em si não apresenta risco do ponto de vista da saúde púbica. "A grande questão é que ela é um traçador, ou seja, se a cafeína está presente na água tratada, é provável que outros compostos químicos também não tenham sido eliminados durante o tratamento da água", explica Grassi. A cafeína é considerada um indicador da qualidade dos mananciais e do tratamento de água. A sua presença alerta para a contaminação por esgoto e, portanto, para a presença de outros contaminantes químicos na água.
A cafeína foi quantificada em 92% das 49 amostras. A capital com a maior concentração média de cafeína foi Porto Alegre, com 166 nanogramas por litro de água (ng/L). Em segundo lugar está São Paulo, com 118 ng/L, e, em terceiro, Belo Horizonte, com 32 ng/L. Apenas em Fortaleza a cafeína não pôde ser quantificada segundo parâmetros estatísticos, pois as concentrações eram muito baixas.
"Nós também encontramos e conseguimos quantificar a atrazina, um herbicida amplamente utilizado no Brasil; o triclosan, um agente biocida presente em vários produtos de higiene pessoal; e a fenolftaleína, muito utilizada em titulações nos laboratórios de química", lista Grassi. De todas as capitais incluídas no estudo, a atrazina só não foi encontrada em Palmas e em Natal. As concentrações nas outras localidades foram baixas e variaram entre 0,6 ng/L e 6 ng/L – o valor máximo foi encontrado em Curitiba. Já o triclosan e a fenolftaleína foram encontrados apenas em Porto Alegre e em Palmas, respectivamente.
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