Quando a revista inglesa The Economist, porta-voz do pensamento neoliberal, pede a cabeça do ministro da Fazenda Guido Mantega; quando o FMI, aquele, diz que o Brasil está pior do que a África do Sul e a oposição comemora o baixo crescimento do PIB, como um insucesso do governo Dilma, é interessante ler o artigo abaixo. Neste começo de século, o confronto político mais importante é de informação e a imprensa é o mais forte partido político da direita.
Delfim Netto escreve na única revista semanal na qual se pode confiar. Delfim Netto apoia o governo Dilma e apoiou o governo Lula. Delfim Netto critica os críticos do governo, a direita demotucana e seu partido político, o PIG -- Partido da Imprensa Golpista. Delfim Netto, 84 anos, está merecendo uma boa biografia. O político que dizia que era preciso primeiro fazer o bolo crescer para depois distribuir, agora diz que o que importa é o crescimento com inclusão social.
Como um economista que apoiou a ditadura militar e foi seu ministro mais poderoso tornou-se um crítico lúcido de um governo de esquerda é uma trajetória quase tão intrigante quanto a de um grupo de esquerdistas que construiu um partido dos trabalhadores, chegou ao poder pelo voto e fez o melhor governo da história do Brasil. É importante notar este fato histórico: a atual direita brasileira está à direita da ditadura militar.
Da Carta Capital.
Honestidade nas comparações
Delfim Netto
Os críticos da política econômica do governo (que não conseguem esconder o ressentimento diante do terrível sucesso do processo de redução dos juros) voltaram a se animar diante da divulgação dos números do PIB neste fim de ano. Realmente, em 2012, o Brasil não deverá crescer mais que 1,7% ou 1,8%. São taxas medíocres para os nossos padrões históricos, o que é mais do que suficiente para a oposição comemorar a divulgação de um relatório do FMI, destacando o fato que o Brasil crescerá menos que a África do Sul (!) neste ano…
Trata-se de um expediente malandro. Não se faz uma comparação honesta, porque não é apenas o crescimento do PIB que dá toda a informação sobre o comportamento da economia de um país. Basta ver que, apesar do baixo crescimento deste ano, o Brasil não tem praticamente desemprego (algo menos que 5% da força de trabalho), enquanto 25% dos trabalhadores da África do Sul estão desempregados.
Isso nos remete a uma questão interessante: o Brasil está crescendo menos, mas todos os levantamentos internacionais mostram que o Brasil é um país onde a satisfação da sociedade com o governo é das maiores. O que importa é o crescimento econômico com inclusão social. Temos crescido menos, mas a inclusão continuou.
Por isso é preciso relativizar a comparação do FMI, que, aliás, não costuma enxergar além do umbigo e ultimamente passou a pisar muito no tomateiro. Somos dos poucos países do mundo com déficit fiscal igual a 2,2% do PIB, uma relação dívida/PIB em torno de 35%, uma taxa de inflação de 5,5% ao ano, elevada em relação à meta, mas que deve convergir para os 4,5% no centro da meta.Então é uma política que está funcionando e mais importante do que isso é um país já em outro ritmo de crescimento: neste fim de ano é visível o crescimento no terceiro trimestre sobre o segundo, em torno de 1%, o que concretizará aquilo que vínhamos intuindo há muito tempo: o Brasil vai virar 2012 tendo crescido pouco, mas terminando o ano com a economia "rodando" a 3,5% e 4%.
A íntegra.