Quem não leu Retrato do Brasil não entende o "mensalão". Mais uma vez a revista dá um banho de jornalismo e desmonta a farsa do julgamento pelo STF. Reportagem assinada pelo veterano Raimundo Rodrigues Pereira -- um dos grandes jornalistas da história deste País -- e por Lia Imanishi na edição de dezembro mostra que o ministro Joaquim Barbosa não quis ler ou ignorou as provas de que os R$ 73 milhões do Visanet, peça central de acusação do processo, foram efetivamente gastos em serviços prestados à bandeira de cartão de crédito e débito.
A lista completa dos serviços está na revista, com valores, datas e notas. Dela faz parte, por exemplo, o patrocínio da dupla de vôlei de praia Shelda e Adriana em 2003 (R$ 900 mil), entre muitos outros, 99 ao todo. Não houve desvio de dinheiro, portanto -- aliás, o Visanet sequer é público, tem participação do Banco do Brasil, mas também de bancos privados. Por que Barbosa ignorou as provas?
O fato é que a conduta do agora presidente do STF levou à condenação de pelo menos um inocente, o ex-diretor do BB Henrique Pizzolato. Mas se não houve o desvio de dinheiro, muito menos José Dirceu pode ter sido o mandante, como presumiu Barbosa, acompanhado vergonhosamente por seus colegas do STF, mesmo sem qualquer prova.
O julgamento do "mensalão" se configura como o maior erro judiciário da história do País, não um erro por equívoco, mas intencional: um julgamento político, que o STF não tem poder constitucional para fazer. A condenação dos petistas para atingir o governo Lula já estava decidida desde o começo, ou qual seria outra explicação para o comportamento de Barbosa?
RB mostra também que Barbosa teve o cuidado de não acusar outros dirigentes do BB, não petistas, escolhidos no governo FHC e que deveriam ser responsabilizados pelo "crime" conjuntamente com Pizzolato. Por que fez isso? Também retirou da acusação o indício de que Pizzolato teria recebido propina (a compra de um apartamento no Rio de Janeiro) quando o acusado comprovou a origem do dinheiro. Mesmo assim, no entanto, o condenou.
A "grande" imprensa também poderia fazer o que Retrato do Brasil fez -- por que não fez? Porque não faz mais jornalismo, faz política. Uma vergonha, para a imprensa e para a justiça brasileira. Ainda está em tempo de ser corrigida; assim como RB fez jornalismo para contar ao leitor a verdade, os ministros enganados do STF podem reconhecer seus erros. Este é um caso que merece uma cruzada, como vemos naqueles filmes americanos em que, no fim, a verdade prevalece.