Da Folha de S. Paulo.
Presidente do STF defende mudar critérios para promover juiz
Felipe Seligman
Para evitar o que chamou de "politicagem" para que um juiz de primeira instância seja promovido a desembargador, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, defendeu na tarde desta quinta-feira o fim da promoção por méritos.
"A politicagem que os juízes de primeiro grau são forçados a exercer para conseguir uma promoção é uma coisa excruciante. Juiz tem que ser livre e independente. Juízes que tem que sair de pires na mão, sobretudo a políticos que deem o apoio a sua promoção, não me parece coisa boa", argumentou.
Para Joaquim Barbosa, o sistema dos méritos privilegia "os mais espertos e os que fazem mais política". "É o desejo de passar a frente dos colegas. Em geral são promovidos os mais espertos, os que fazem mais políticas, que se socorrem às associações. Esse problema deixa de existir, critério passa a ser objetivo."
Questionado sobre a recente entrevista do colega Luiz Fux à Folha, na qual revelou os bastidores de sua nomeação, Barbosa afirmou que o caso do STF é diferente. "Supremo é outra coisa. Não é tribunal regular. É um órgão de cúpula de poder. Um órgão de controle dos excessos dos abusos daqueles que detêm o voto popular, daqueles que controlam a bolsa e aqueles que controlam as armas", disse.
A íntegra.
O mérito. Ou não
Jânio de Freitas
Joaquim Barbosa fez uma revelação perturbadora -- é contrário à promoção de juízes por mérito
O chamado julgamento do mensalão remexeu com mais mentes e corações do
que apenas os dos réus. Encerradas as sessões julgadoras, as ideias e
posições continuam dando cambalhotas que fazem as surpresas do governo
com o ministro Luiz Fux parecerem insignificâncias.Em entrevista sem razão de ser -- entrevista-vitrine, digamos -- entre o pedido de prisão dos condenados e sua decisão a respeito, o ministro Joaquim Barbosa encaixou uma revelação perturbadora: é contrário ao sistema de promoção de juízes por mérito. O fundamento dessa originalidade: "A politicagem que os juízes de primeiro grau são forçados a exercer para conseguir uma promoção é excruciante".
E o mérito é o culpado? Ou é ele o vitimado? O que o ministro diz ser o usual para a promoção dos juízes já é a exclusão do mérito. Logo, sua proposta é excluir o que está excluído. Mas, sendo "a politicagem" um método que "denota violação ao princípio da moralidade", esse método é que deveria acabar. Para restabelecer-se, e não para excluir, o valor do mérito. E ver-se o ministro Joaquim Barbosa satisfeito com as promoções por merecimento, e não por picaretagem social e política.
Mas reconheço a originalidade da insurgência contra o mérito exposta pelo presidente do Supremo Tribunal Federal. Pode até servir para me dar uma sobrevida aqui, considerada a influência que outras atitudes originais do ministro lhe conferiram. Mas é verdade que nunca li, ouvi ou imaginei uma condenação do mérito. Ainda mais em nome da Justiça.
A íntegra.