Só em imóveis. Em valores de 2013.
Os preços absurdos dos imóveis me impressionam faz tempo. Ficava me perguntando: se um apartamentinho vale R$ 1 milhão, quanto de dinheiro é preciso para comprar um prédio? Um sujeito derruba uma casa ou duas, constrói um arranha-céu no lugar, com 20 apartamentos e vende cada um por R$ 1 milhão! De repente, em um ano ou dois, ele faz R$ 20 milhões!
E um quarteirão, então, quanto vale? Um bairro? Quanto vale uma cidade? Os valores seriam tão astronômicos que não existe dinheiro suficiente no país para isso.
E de fato são.
Aproveitei as notícias sobre o IPTU para fazer as contas.
Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte, em 2013, ela arrecadou R$ 1 bilhão com o IPTU (este ano deve ser R$ 1,2 bi, mas deixemos de lado agora esse outro absurdo que é o IPTU).
Essa soma foi paga por proprietários de 724.000 imóveis.
Isto significa que o valor médio do IPTU foi de R$ 1.381.
As alíquotas do IPTU variam de 0,65% a 0,75% do valor do imóvel.
Fiquemos com a média, 0,7%; ela nos dá um valor médio dos imóveis de R$ 197.000.
Multiplicando pelos 724.000 imóveis, chegamos a nada menos do que R$ 142 bilhões 628 milhões.
É ou não é um número absurdo? Faz algum sentido que existam, só em imóveis, R$ 143 bilhões em dinheiro em Belo Horizonte?
E o "valor venal do imóvel" que consta da guia do IPTU é muito abaixo daquele que corretores pedem por ele. Se a prefeitura está dizendo que vale R$ 100.000, nenhum corretor pede menos de R$ 200.000.
Isto significa que, se considerarmos as avaliações das construtoras e imobiliárias, a cidade "vale" pelo menos o dobro: R$ 286 bilhões!
Se o Brasil tiver 10 cidades do tamanho de Belo Horizonte, elas valerão ao todo a soma astronômica de quase R$ 3 trilhões! R$ 3.000.000.000.000.
O PIB brasileiro de 2013 -- ou seja, toda a riqueza produzida no País no ano passado -- foi de R$ 4,5 trilhões, mas só os imóveis se aproximam desse valor.
Dessa forma compreendemos o que é a especulação imobiliária, parte do crescimento espantoso e acelerado das cidades no século XX, que levou aos problemas insolúveis do século XXI.
É também o centro das crises econômicas, que envolvem a ciranda dos financiamentos para compra de imóveis, os créditos a perder de vista, elevando tudo a somas tão altas que não podem ser cobradas, simplesmente porque não existe dinheiro para pagá-las; quando são, os bancos quebram.
O dinheiro não corresponde mais à riqueza existente, é tudo uma grande obra de ficção. Afinal, nem há mais dinheiro, é tudo feito em transação virtual, simples troca de mensagens pela internet...
E quando a crise chega, o capital especulativo cai como um castelo de cartas.
PS: Os números deste texto foram corrigidos para baixo e perderam três zeros, escrevi inicialmente R$ 143 trilhões. Fui alertado pelo J. Castro, que continua corrigindo meus erros, felizmente. Perdem evidentemente o aspecto de números absurdos. Mantenho, porém, o raciocínio e as interrogações, inclusive porque, como disse, os valores atribuídos aos imóveis pelo "mercado" ficam muito acima daqueles usados pela prefeitura para estipular o IPTU. E o cálculo se limita aos imóveis particulares, uma vez que imóveis públicos e outros não pagam IPTU (em 2011 o STF analisou ação sobre imóvel público cedido a empresa privada que era isento do imposto, o que indica que deve ser prática comum).