Uma das qualidades da web é que as notícias não ficam velhas, estão sempre disponíveis. Isso é bom, quando a informação é boa, e ruim, quando mal empregada. Uma prática típica é a ressurreição de notícias velhas, que voltam a ser distribuídas como se fossem novas. Pode ser por ingenuidade, porque a informação realmente é importante; em época eleitoral, costuma ser de má-fé. Às vezes é uma notícia verdadeira, às vezes é invenção pura. Quem tem experiência em jornalismo, no primeiro olhar costuma identificar esse tipo de notícia, mas gente sem o mesmo treino as compartilha, multiplicando sua repercussão. É o boato da internet, a notícia spam.
Digo isso a propósito da notícia spam abaixo que chegou para mim hoje, a respeito da água mineral de São Lourenço, envolvendo Nestlé, governo de Minas e governo federal num caso de saúde pública e corrupção. Pode conter verdade, é provável que sim, considerando tratar-se de uma multinacional, e todos sabemos o poder dessa gente, mas divulgada assim não serve a bom propósito, pois sua credibilidade é questionável.
Uma rápida visita à página da Câmara Municipal de São Lourenço nos mostra que não existe vereador na cidade com o nome citado. Se investigamos mais, descobrimos que existiu, na legislatura anterior, o que significa que a notícia é velha, tem mais de dois anos, pelo menos. Sua publicação, no entanto, não indica isso. Qual a novidade? Por que ela foi ressuscitada? Eis a questão.
Se a web está transformando o jornalismo num trabalho colaborativo, em que o leitor e todos os cidadãos se tornaram produtores de notícias, as notícias spam são um bom exemplo de que a profissão de jornalista não acabou. Cabe a ele investigar e tornar precisas informações duvidosas, as quais muitas vezes podem resultar em grandes reportagens. A web possibilita transformar o boato em notícia.
Nestlé mata água mineral São Lourenço
Carla Klein
Há alguns anos a Nestlé vem utilizando os poços de água mineral de São Lourenço para fabricar água marca PureLife. Diversas organizações da cidade vêm combatendo a prática, por muitas razões. (...) Médicos da região, por exemplo, curam a anemia das crianças de baixa renda apenas com água ferruginosa. Para fabricar a PureLife, a Nestlé, sem estudos sérios de riscos à saúde, desmineraliza a água e acrescenta sais minerais de sua patente. A desmineralização de água é proibida pela Constituição. Cientistas europeus afirmam que nesse processo a Nestlé desestabiliza a água e acrescenta sais minerais para fechar a reação.
A íntegra.