O democracia brasileira tem coisas do arco da velha. Como o suplente de senador. Um dos senadores mineiros, cujo mandato expira agora, é Wellington Salgado (PMDB), eleito sem um voto sequer. É suplente de Hélio Costa e financiou sua campanha. É a norma, o suplente costuma ser gente sem voto, mas com dinheiro. Faz uma espécie de investimento, basta olhar outros suplentes dos candidatos mais fortes. Como se sabe, Hélio virou ministro e cedeu ao cabeludo Wellington a doce vaga.
O primeiro suplente que me impressionou foi Alfredo Campos, na década de 1980. Absolutamente desconhecido, ganhou o longo mandato de presente do Tancredo, que, como se sabe, virou governador e presidente que não tomou posse.
Quem sabe quem é o suplente do octagenário Eliseu Resende (Demo), o terceiro senador mineiro, sujo mandato não está em disputa este ano? É o presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), empresário Clésio Andrade, também presidente do PR-MG, que já foi vice do governador Aécio no seu primeiro mandato. Curiosamente, nesta eleição Clésio apoia Hélio Costa, lançou inclusive o movimento Helécio. No final de agosto, ele denunciou que estava sendo espionado.
E o suplente de Itamar Franco, outro octagenário? É Zezé Perrela. Votar em Itamar pode significar eleger o presidente do Cruzeiro.
Aécio Neves cumprirá oito anos de mandato? Se não cumprir, quem assumirá no seu lugar? O atual deputado estadual Elmiro Nascimento (Demo), representante das oligarquias rurais mineiras, que ostenta no seu currículo a condição de "sobrinho-bisneto" de Olegário Maciel, ex-governador, hoje avenida.
Nem é preciso discutir se a relação entre candidato a senador e seu suplente é corrupta. O fato é que, como tantas coisas velhas que a democracia brasileira herdou da ditadura, essa suplência de senador, que confere o mais longo mandato da República a sujeitos que não ganharam um voto sequer e nem aparecem na campanha, já passou da hora de acabar.