sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Um ato contra o autoritarismo, como nos velhos tempos

"Hoje, quem cala, consente!" Começava assim uma célebre carta aberta à população lida no primeiro ato público estudantil contra a ditadura militar realizado em São Paulo em 1977 e relido em atos públicos país afora, inclusive em Belo Horizonte. Ontem foi a vez do presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e secretário-geral da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), José Augusto Camargo, o Guto, ler outra carta aberta emblemática, durante ato "contra o golpismo midiático, em defesa da democracia", também realizado em São Paulo. Oxalá seja o primeiro ato de um grande movimento pela democratização dos meios de comunicação, como foi aquele ato nos anos 70 pelas liberdades de expressão e manifestação.

"É legítimo - e desejável – que as direções das empresas jornalísticas explicitem suas opções políticas, partidárias e eleitorais. O que é inaceitável é que o façam também fora dos espaços editoriais.
"Distorcer, selecionar, divulgar opiniões como se fossem fatos não é exercer o jornalismo. Se esses recursos são usados para influenciar ou determinar o resultado de uma eleição configura-se golpe com o objetivo de interferir na vontade popular.
"Cada vez menos jornalistas detêm o poder da informação que será fornecida à opinião pública. Ela passa por uma triagem prévia já no seu processo de edição e aqueles que descumprem a dita orientação editorial são penalizados. Também nunca conseguem atingir cargos de direção que, agora, são ocupados por executivos que atendem aos interesses de comitês, bancos associados, acionistas etc.
"Esse estado de coisas não apenas abre espaço para que a mídia atenda a interesses outros que não o do cidadão, como também avilta a profissão de jornalista, precariza condições de trabalho e achata salários. A consequência mais trágica disso é a necessidade de se adaptar ao 'esquema da empresa' para garantir o emprego, mesmo em detrimento dos valores mais caros.
"O que está em discussão são duas concepções opostas, uma que considera a informação um bem privado, passível de uso conforme interesses pessoais, e outro que entende a informação como direito social, portanto, regulado por um 'contrato social', exatamente como acontece com a saúde ou a educação.
"Direito de resposta, espaço para o contraditório, impedir o monopólio da mídia, tornar transparente os mecanismos de outorga das empresas de rádio e TV, destinar parte da verba oficial para pequenos veículos, criar a rede pública de comunicação, regulamentar as profissões envolvidas com a mídia, não são atos de censura, são movimentos em defesa da liberdade de expressão e cidadania!
"A liberdade de imprensa é o principal instrumento do jornalista profissional. Não é propriedade dos proprietários dos meios de comunicação.
"O conceito de liberdade de imprensa foi virado pelo avesso e, uma vez apropriado pela empresa de comunicação, passou a diminuir o papel do jornalista, obrigando-o a se submeter às engrenagens do poder empresarial."

A íntegra, no Blog do Miro.