Da RBA.
'Temos de aumentar a nossa influência. O capital se unifica muito mais'
Primeiro sindicalista das Américas a comandar a maior central internacional, o brasileiro João Felício diz que ações definidas no comando precisam ser implementadas na base. E vê ataques contra a OIT
por Vitor Nuzzi
São Paulo – Professor de História da Arte na rede
pública estadual paulista, ex-presidente da Apeoesp (sindicato dos
docentes do estado) e da CUT, João Felício foi confirmado hoje (23) como
presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), maior entidade
global, com 325 filiados em 161 países e 176 milhões de trabalhadores
na base, no encerramento do terceiro congresso da central, em Berlim.
Para ele, uma das prioridades da próxima gestão é
intensificar as ações globais, garantindo que as bases implementem as
resoluções. Se a gente quiser concretizar aquilo que a esquerda sempre
falou, que a classe operária internacional, é preciso ter mais lutas
internacionais", afirma.
Felício também defende o papel da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), que no seu papel de humanizadora das
relações trabalhistas, por meio de convenções, estaria sofrendo ataque
"brutal" de vários países, inclusive dos Estados Unidos. "A eles não
interessa uma OIT forte."
Na fundação da CSI, em 2006, o slogan era "humanizar a globalização". Logo depois, em 2008, veio a crise
financeira. A globalização é humanizável?
Considero difícil. A globalização atende muito mais
ao interesse do capital. Não que defendamos que cada país fique isolado,
é importante ter relações comerciais, culturais, mas também relações
sociais, quando você procurar garantir direitos de forma global. A luta
central que tem de ocorrer é por direitos. Não concordamos e nunca
tivemos simpatia por tratados de comércio que não levem em consideração
garantia de direitos, desenvolvimento, a soberania de cada país. Tal
como tem se dado, a globalização não respeita nada disso. Com a crise
recente, os ricos ficaram mais ricos. Talvez tenha sido o período nos
últimos 20 anos que se acentuaram relações comerciais, as transnacionais
se expandiram, e houve o período de maior concentração de riqueza da
história. A crise de 2008 não levou a uma distribuição de renda, ao
contrário. Esse talvez seja um dos grandes desafios do movimento
sindical internacional.