Fiz uma busca para achar notícias da época. Achei, mas poucas, só no dia do acidente e sem referência ao modelo e marca do carro.
Fiz outra busca, incluindo nomes de jornais e portais, e achei mais erros de português do que notícias.
Vídeos e conversas entre internautas há muitos.
É curioso que uma imprensa sensacionalista como a que temos hoje tenha deixado de lado assunto tão dramático.
A indústria automobilística é o xodó da publicidade e dos grandes veículos de comunicação.
Pode haver má vontade em noticiar.
Assim como são deixados de lado os números de acidentes, mortes e feridos no trânsito brasileiro, que mata mais do que guerras.
O fabricante poderoso pode pressionar para que nada seja publicado.
Geralmente isso acontece não de forma ostensiva, mas de forma sedutora, feita por alguma empresa de comunicação terceirizada.
Jornalistas são chamados para uma visita à fábrica, conversam com gente muito alinhada e gabaritada, bonita, bem vestida, com títulos no currículo, que fala termos técnicos e estrangeirismos, e demonstra por a mais b que o que aconteceu é impossível de acontecer, se aconteceu deve ser posto na conta do acaso, do imponderável; insinua-se até a culpa da vítima.
E a notícia desaparece.
Não interessa a ninguém -- exceto, é claro, às vítimas e aos leitores, mas quem disse que jornal é feito para os leitores? -- que se vá fundo no assunto.
Bem diferente do que acontece, por exemplo, com um "bandido" morto no morro, sem assessoria de imprensa e que tem seu nome com foto e tudo mais exposto durante dias.
Reportagem mesmo sobre o incêndio no Vectra que matou o bebê Raíssa só encontrei uma, num blog, por sinal escrita pelo mesmo repórter, e que reproduz matéria da revista Fórum, mas nesta, estranhamente, a matéria é menor e mais recente.
E esta outra, também num blog.
E assim também a gente vê mais uma vez onde é que se faz jornalismo, hoje. Aqui, na internet. Cada vez mais.
A "paralisia da justiça" serve aos mesmos senhores que a "grande" imprensa serve.
Nem é um caso tipicamente particular, porque poderia acontecer com qualquer proprietário de veículo. Por isso merece uma ação pública, do Estado contra a montadora. Mas quem tem coragem de se levantar contra a poderosa indústria automobilística, que desde JK "constrói" o Brasil moderno?
Nunca é demais repetir: o ex-presidente morreu num acidente rodoviário.
Da RBA.
Defeitos de fábrica: as explosões da GM no Brasil
Incêndios provocados por defeitos elétricos no Vectra deixaram ao menos cinco mortos e cinco gravemente feridos. Associação denuncia 30 casos de explosões sem motivo aparente
por Moriti Neto
Os olhos de Lucineia Rodrigues dos Santos Silva ainda se enchem de lágrimas quando ela se lembra da explosão do Vectra GLS, cor prata, ano 1997, da General Motors do Brasil, que matou sua filha, a pequena Raíssa, com pouco mais de sete meses de vida.
Foi no dia 24 de julho de 2008 no município de Três Lagoas, a 338 quilômetros de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Lucineia, então proprietária de uma pequena confecção, voltava para casa com Raíssa e o filho mais velho, Edson, à época com 6 anos de idade. Eram 9h45 da manhã quando estacionou o carro na garagem. Desceu para abrir a porta da sala, seguida pelo filho, enquanto Raíssa dormia na cadeirinha instalada no banco traseiro do Vectra.
Não houve tempo nem de atravessar o primeiro cômodo; o estrondo, seguido dos gritos da bebê, anunciaram a tragédia. "Foi coisa de segundos. A fumaça e o fogo se espalharam muito rápido", explica Lucineia.
O trauma a paralisou por dias, mas a revolta foi mais forte do que a
depressão, principalmente depois de ver a perícia do Núcleo de
Criminalística Regional da Polícia Civil, que apontava como causa da
explosão um incêndio na parte traseira do Vectra, provocado por defeito
elétrico do carro.
De posse do laudo de número 10.985, concluído em 22 de agosto de
2008, a família de Raíssa entrou com uma ação judicial na 4a Vara Cível
de Três Lagoas, responsabilizando a General Motors do Brasil pela morte
da bebê. A conclusão da perícia, realizada logo após o incêndio, é o
principal fundamento do processo, que também se baseia em outros casos
de Vectras que pegaram fogo ou explodiram no país.
O que Lucineia e Edson dos Santos, pai de Raíssa, não imaginavam é
que a paralisia da justiça fosse maior do que aquela causada pelo horror
que viveram. Quase cinco anos depois de entrar com a ação, a família
ainda não conseguiu nem mesmo uma audiência entre as partes.
A íntegra.