7 de setembro: para que tantas armas?

Minha filha de oito anos, ao ver, pela tevê, a parada de 7 de setembro pela primeira vez, pergunta: "Por que eles estão com tantas armas?". Pergunta difícil de responder. Poderia seguir o caminho convencional: explicar para que servem as forças armadas, que aquele aparato é para o caso de guerra etc., mas não faria isso com convicção, ainda mais quando todos aqueles guerreiros desfilam para um presidente operário, o primeiro representante das classes pobres eleito neste país. Difícil não pensar em quanto material escolar não poderia ser comprado com um tanque moderno daqueles exibidos no desfile, quantos vagões de metrô, quantos medicamentos, quantas cestas básicas. Difícil também não pensar que os militares passam o ano inteiro à toa, se preparando para a apresentação de 7 de setembro, uma vez que não temos guerras, não queremos guerras, não vamos nos meter em guerras. (A única vez em que o exército brasileiro se meteu numa guerra pra valer foi há 150 anos, contra o Paraguai; na segunda guerra mundial mandamos alguns contingentes e sacrificamos quatro centenas de vidas preciosas, menos, no entanto, do que os mil mortos em navios civis brasileiros atacados pelos alemães. No mais, as forças armadas brasileiras sempre foram usadas para matar brasileiros – em Canudos, no Contestado e inúmeras rebeliões populares regionais, além dos 21 anos de regime militar.) Não somos os EUA, que saem pelo mundo afora impondo a ordem do seu império. Nos anos da ditadura, a parada militar fazia mais sentido, era uma exibição de força daqueles que prendiam, torturavam e matavam, enquanto mandavam no país. Agora, no entanto, somos um país pacífico, governado por civis eleitos. No entanto, nosso exército é mais moderno do que nossas escolas. Gostaria de ver um desfile de jovens exibindo os recursos das suas escolas. Gostaria também de ver um desfile de médicos e enfermeiros exibindo os recuros dos hospitais públicos. Faz mais sentido o desfile da Polícia Federal, mas só para nos mostrar que na principal "guerra" na qual se empenha, contra o tráfico de droga, o inimigo nunca é vencido e a todo dia dá demonstrações de força. Que sentido tem então o desfile dos militares? "Para que tantas armas?" A parada de 7 de setembro é um desfile da face velha e atrasada do país, fantasiada de pompa e modernidade.