Do jornal GGN.
Pequeno roteiro para Aécio entender São Paulo
Luis Nassif
Há uma ampla esquizofrenia da oposição.
Até
agora a única plataforma dos dois candidatos - Aécio Neves e Eduardo
Campos - é ser a anti-Dilma, mas propondo-se a melhorar as políticas
públicas criadas ou mantidas por Dilma, "fazendo melhor".
Na
sabatina a que foi submetida na UOL, o maior momento de Aécio Neves foi
quando bradou que manteria o "Mais Médicos" com os médicos cubanos mas
sem se submeter a Cuba. Foi ovacionado pela malta e deixou os
especialistas enrubescidos de vergonha .
O
"Mais Médicos" é uma política pública negociada entre o governo
brasileiro e o governo cubano. Como continuar trazendo médicos cubanos
em massa sem negociar com o governo cubano? Ou sem negociar com a OPA
(Organização Panamericana de Saúde), que é a intermediária do programa?
Por acaso pretende ir até a praça principal de Havana, montar uma
banquinha e recolher inscrições? E o objetivo principal do programa é
atender a população brasileira ou ensinar Cuba como tratar de seus
médicos?
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Tem
o atenuante do fato da entrevista ser do tipo “pegadinha”, com os
entrevistadores mais interessados em identificar inconsistências em
declarações soltas do que ouvir programas de governo.
Mesmo
assim, em um momento em que todas as pesquisas mostram o brasileiro
sedento por mudanças, não tem cabimento embarcar nesse primarismo dos
slogans ideológicos ou nessa submissão incompreensível ao pior do
pensamento paulistano, em vez de buscar propostas criativas, inovadoras e
conceitos que arejem a discussão política.
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Na
política, Minas Gerais sempre foi maior que isso. Sempre foi um centro
criador da melhor política nacional, com habilidade para compor
interesses regionais, setoriais. Tem tradição política e intelectual,
uma das melhores universidades do país - a UFMG (Universidade Federal de
Minas Gerais) -, algumas das melhores consultorias.
É inconcebível essa submissão intelectual de Aécio ao que de pior o pensamento paulistano produziu.
Quer beber nas águas de São Paulo?
Aqui
vai um pequeno roteiro para não se imaginar que São Paulo seja apenas
essa truculência anacrônica exibida pela mídia e pelo público que
acompanhou a sabatina:
Junto
às grandes universidades paulistas – USP, Unicamp, as federais – poderá
beber nas pesquisas de ponta, tanto nas humanas quanto nas exatas
Se
quiser entender o atual momento político e social, a importância das
políticas de participação social, procure até o Instituto Fernando
Henrique Cardoso, mas sem imprensa por perto. Basta ligar um gravador
para FHC jogar para a plateia.
Fuja
dos intelectuais que limitam-se a atender à demanda da mídia por
catarses políticas. Eles deixaram de ser intelectuais há tempos. Seja
menos Bolívar Lamounier e mais Luiz Carlos Bresser-Pereira.
Junto
aos grandes centros médicos – Incor, Sírio, Einstein – poderá juntar
dados não apenas sobre a inovação na área médica mas também sobre
políticas de saúde, treinamento à distância e outros temas de ponta na
saúde pública.
Há
a experiência exemplar de algumas ONG, que poderia dar um mínimo de
lustro social a sua candidatura. Sugiro o Instituto Alana, o Idec e o
Proteste, as ONG ligadas a direitos humanos
Se
quiser tomar o pulso da indústria, procure a Abimaq (Associação
Brasileira de Máquinas e Equipamentos), o Iedi (Instituto de Estudos e
Desenvolvimento Industrial), o Sindipeças, a Abit.
Se
quiser conversar com grandes empresários com visão nacional, fuja dos
oba-oba, dos regabofes. Quem gosta de coluna social é madame e CEO
emergente.