quinta-feira, 17 de julho de 2014

Receita de Nassif para Aécio

Ou outro candidato. 

Do jornal GGN.
Pequeno roteiro para Aécio entender São Paulo
Luis Nassif

Há uma ampla esquizofrenia da oposição. 
Até agora a única plataforma dos dois candidatos - Aécio Neves e Eduardo Campos - é ser a anti-Dilma, mas propondo-se a melhorar as políticas públicas criadas ou mantidas por Dilma, "fazendo melhor". 
Na sabatina a que foi submetida na UOL, o maior momento de Aécio Neves foi quando bradou que manteria o "Mais Médicos" com os médicos cubanos mas sem se submeter a Cuba. Foi ovacionado pela malta e deixou os especialistas enrubescidos de vergonha . 
O "Mais Médicos" é uma política pública negociada entre o governo brasileiro e o governo cubano. Como continuar trazendo médicos cubanos em massa sem negociar com o governo cubano? Ou sem negociar com a OPA (Organização Panamericana de Saúde), que é a intermediária do programa? Por acaso pretende ir até a praça principal de Havana, montar uma banquinha e recolher inscrições? E o objetivo principal do programa é atender a população brasileira ou ensinar Cuba como tratar de seus médicos? 
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Tem o atenuante do fato da entrevista ser do tipo “pegadinha”, com os entrevistadores mais interessados em identificar inconsistências em declarações soltas do que ouvir programas de governo.
Mesmo assim, em um momento em que todas as pesquisas mostram o brasileiro sedento por mudanças, não tem cabimento embarcar nesse primarismo dos slogans ideológicos ou nessa submissão incompreensível ao pior do pensamento paulistano, em vez de buscar propostas criativas, inovadoras e conceitos que arejem a discussão política. 
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Na política, Minas Gerais sempre foi maior que isso. Sempre foi um centro criador da melhor política nacional, com  habilidade para compor interesses regionais, setoriais. Tem tradição política e intelectual, uma das melhores universidades do país - a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) -, algumas das melhores consultorias. 
É inconcebível essa submissão intelectual de Aécio ao que de pior o pensamento paulistano produziu. 
Quer beber nas águas de São Paulo? 
Aqui vai um pequeno roteiro para não se imaginar que São Paulo seja apenas essa truculência anacrônica exibida pela mídia e pelo público que acompanhou a sabatina:  

Junto às grandes universidades paulistas – USP, Unicamp, as federais – poderá beber nas pesquisas de ponta, tanto nas humanas quanto nas exatas

Se quiser entender o atual momento político e social, a importância das políticas de participação social, procure até o Instituto Fernando Henrique Cardoso, mas sem imprensa por perto. Basta ligar um gravador para FHC jogar para a plateia. 

Fuja dos intelectuais que limitam-se a atender à demanda da mídia por catarses políticas. Eles deixaram de ser intelectuais há tempos. Seja menos Bolívar Lamounier e mais Luiz Carlos Bresser-Pereira. 

Junto aos grandes centros médicos – Incor, Sírio, Einstein – poderá juntar dados não apenas sobre a inovação na área médica mas também sobre políticas de saúde, treinamento à distância e outros temas de ponta na saúde pública. 

Há a experiência exemplar de algumas ONG, que poderia dar um mínimo de lustro social a sua candidatura. Sugiro o Instituto Alana, o Idec e o Proteste, as ONG ligadas a direitos humanos

Se quiser tomar o pulso da indústria, procure a Abimaq (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos), o Iedi (Instituto de Estudos e Desenvolvimento Industrial), o Sindipeças, a Abit. 

Se quiser conversar com grandes empresários com visão nacional, fuja dos oba-oba, dos regabofes. Quem gosta de coluna social é madame e CEO emergente.