É um partido político, mas aparece para a sociedade na forma de revista.
E abandonou o barco de Marina, no qual pôs um pé.
A quatro semanas da eleição disparou uma campanha para tentar salvar Aécio e levá-lo ao segundo turno. Globo, Folha, Estadão, Estadinho etc. a acompanham, como uma coligação partidária.
Não é um modelo original; como programas de televisão e modelos de revistas, também foi copiado do exterior.
Está nos seus estertores, porém: a Abril fecha revistas e demite jornalistas, porque caem suas vendas e assinaturas (parte das que ainda tem é comprada por governos tucanos para órgãos públicos).
Do Jornal GGN.
Sobre a posição atual dos grupos de mídia
Por Luís Nassif
A atuação da mídia como partido foi liderada pelo falecido Roberto
Civita, do grupo Abril, inspirado no modelo de atuação de Rupert Murdock
nos Estados Unidos.
Sentindo o fim do monopólio virtual do mercado de opinião, com o
avanço da internet, Murdock montou uma frente política com os demais
grupos de mídia para eleger o seu presidente. Buscou na ultra-direita a
retórica mais virulenta, inaugurou os ataques pessoais a políticos e
jornalistas "inimigos", inundou o país de boatos e injúrias da pior
espécie, disseminando-as pelas redes sociais. E valeu-se de todos os
recursos dos grupos de mídia -- dramatização da notícia, demonização do
inimigo, aceno com o fim dos tempos -- para emplacar seu candidato.
Perdeu e a primeira atitude de Barack Obama, eleito, foi convidar os
presidentes da Apple, Google e Facebook para visitá-lo na Casa Branca.
Foi a marca das eleições brasileiras de 2006 e, especialmente, de 2010.
O padrão é cansativo, de tão previsível.
Veja saía na frente com seus factoides e o grupo
repercutia em seguida. O fórum de orquestração se dava no Instituto
Millenium. A um mês das eleições, aumentava-se a dose e tentava-se a
bala de prata.
A morte de Civita acelerou o processo de perda de rumo dos grupos de
mídia Pagou-se um preço caro com a orquestração contra a Copa do Mundo,
que marcou o fundo do poço da credibilidade da mídia.
Sem a antiga orquestração, os jornalões passaram a agir com o fígado, sem obedecer a uma estratégia concatenada.
De um lado, perceberam que precisariam recuperar credibilidade para dar eficácia às rodadas de ataque que antecederiam as eleições. Aí um jornal levanta o caso do aeroporto de Aécio, os outros vão atrás, na crença de um escândalo menor legitimando os escândalos maiores contra o PT. De repente, o tema sai do controle, e Aécio se queima.
Depois, veem Marina subindo, e ajudam na ascensão.
No meio do caminho dão-se conta de uma realidade:
1. Aécio lhes garante a volta ao controle do Estado.
2. Com Dilma, nada perdem, mas nada ganham. Dilma mantém a cartelização da publicidade mas não faz negócios.
3. Marina é uma incógnita. Seu programa aprofunda o conceito de democracia participativa ao mesmo tempo em que ela se curva às pressões de pastores evangélicos -- o grupo que mais cresceu na mídia tradicional, enfrentando inclusive o poder da Globo. A política econômica é mercadista mas seus princípios ambientais são contra a economia real. Ora ela diz sim, ora ela diz não.
A íntegra.