Ótima entrevista do sociólogo Florestan Fernandes. Talvez a última; ele estava doente e morreu no ano seguinte, depois de um transplante de fígado.
É preciso ter paciência para ouvi-lo, por isso, coisa que os entrevistados às vezes não têm (um xará é nitidamente boçal e intolerante; o engraçadinho Milton Coelho é outro que dá demonstrações da ignorância e da prepotência tão comuns nos jornalistas), mas mesmo assim são ainda muito mais educados do que hoje, sem contar que o nível do programa é outro. Vale a pena, porém, ainda mais hoje, em retrospecto. Em resumo, se pode dizer que o programa é um conjunto de respostas de um entrevistado brilhante cercado de entrevistadores medíocres, com duas ou três exceções.
Florestan foi o guru do ex-presidente FHC, que na época tinha sido eleito e ainda não tinha sido empossado. Era deputado pelo PT, eleito para o segundo mandato ("fiz de tudo para não ser eleito", ele diz).
Numa das primeiras perguntas ele comenta doações de empreiteiras para o PT. "Se dependesse de mim, o partido sequer daria prioridade a eleição de parlamentares", ele diz.
Em outra pergunta ele diz que o deputado José Genoino estaria tão bem no PSDB como estava no PT, coisa que hoje soa estranha e irônica, depois de tudo que ele sofreu por perseguição da imprensa e de Joaquim Barbosa.
Não foi ontem que o PT fez sua opção pela política tradicional. Também não se pode negar que obteve melhorias para os trabalhadores ao fazer essa opção. Não se pode negar que fazer política é sujar as mãos, mas também não se pode negar que para melhorar a política é preciso manter as mãos cada vez mais limpas.
O Brasil é melhor com o PT no poder, mas o PT era melhor fora do governo.
Será melhor no governo quando houver na oposição um partido como era o PT.
A política e a vida são assim contraditórias e precisam ser compreendidas dialeticamente.