É o que todos queremos saber.
Minas Gerais é chamado de "caixa d'água do Brasil", porque nestas montanhas nascem o Rio São Francisco e muitos outros essenciais para a vida no país.
São minas de águas e também minas de minérios, de ouro, de diamantes, de ferro e outros, cuja exploração povoou o estado.
A exploração de minérios vem, há séculos, poluindo, assoreando e secando rios, riachos, nascentes.
As regiões mais ricas em minérios são as que se tornam mais miseráveis.
No mesmo dia em que o diretor do Parque Nacional da Serra da Canastra anunciava a secagem da principal nascente do Velho Chico, o Ibama anunciava autorização de funcionamento do mineroduto que vai levar minério do pobre Jequitinhonha até o porto, para embarque e exportação.
Que nação estrangeira rica acreditaria nisso? Vamos usar água limpa para transportar minério para os ricos consumirem.
Muita água. Suficiente para abastecer uma cidade de 400 mil habitantes.
Quem se beneficia disso? A grande empresa mineradora, as nações estrangeiras compradoras e a "balança de pagamentos", que é o nome que se dá ainda, mais de cinco séculos depois, à troca que o Brasil faz de produtos primários (alimentos e minérios) por artigos industrializados.
A agonia do Rio São Francisco mal foi falada pela imprensa, preocupada com o "desenvolvimento", a inflação, os baixos índices de crescimento econômico.
A falta d'água em São Paulo é notícia diária -- quando a tragédia ambiental se torna drama humano, aí sim é intensamente explorado.
Mas a tragédia ambiental é silenciosa.
Vamos destruindo as condições naturais que possibilitam a vida humana na Terra. Cada vez de forma mais rápida e extensa.
Os danos do garimpo eram artesanais, os danos de um mineroduto têm escala industrial.
A transposição do São Francisco foi notícia porque a polêmica prejudicava o governo do PT, ao qual a "grande" imprensa faz oposição. Quem no entanto, entre os que têm poder, a começar pela imprensa, levou a sério a necessidade de recuperação da bacia do rio?
Só o Projeto Manuelzão age, de forma tão persistente quanto solitária.
Há quatro anos, às vésperas das eleições de 2010, Aécio e Anastasia nadaram no Rio das Velhas para demonstrar que tinham limpado o rio, mas era mentira e o rio continuou morrendo.
Há mais de trezentos anos a mineração destrói o ambiente e mata os rios das Minas Gerais.
E vai continuar assim até que falte água de beber, água para as criações, água para as plantações, água para a indústria funcionar e para mineração destruir as montanhas.
A imprevidência, o imediatismo, o descaso com o futuro e com as novas gerações fazem parte da "natureza" do capitalismo, que só persegue o lucro imediato.
É o que se chama de "crescimento econômico", de "desenvolvimento", de "progresso".
O que acontece diferente disso é feito por nós que
não vivemos dos rendimentos do capital nem dos lucros das empresas, que
dependemos do nosso trabalho para sobreviver.
É a vida.
Um mundo sem água -- a maior de todas as riquezas minerais -- é o que vamos legar aos nossos filhos e netos.
A seca já começou.