Esta imagem (Roberto Stuckert Filho/PR) me passa o que eu escrevi sobre o cargo de presidente e a representação da nação. Dilma parece primeira ministra de países parlamentaristas, a chefe de governo, presente aos acontecimentos importantes como responsável pelas decisões. Não carrega aquela força simbólica que Lula carregava com sua presença e suas palavras. Com o tempo isso deve mudar, à medida que o novo governo ganhar personalidade.
Sobre a "tragédia" no Rio, o que dizer? Que não é o que parece. Para as vítimas, é um acontecimento que marca suas vidas para sempre, centenas delas com a morte, outras centenas com perdas irreparáveis. É só – ou pouco mais: pessoas boas têm despertadas sua solidariedade, sua generosidade, sua indignação. Para o grande público, é mais um espetáculo que a televisão proporciona. Para a "grande" imprensa, é matéria prima de excelente qualidade: é desses sensacionalismos que ela vive. Para o capital, "oportunidades de investimento": o que foi destruído, terá de ser reconstruído, com obras, negócios, lucros. É por isso que os desastres se repetem, é por isso que o governo não vai às causas dos problemas, porque o capital e seu partido vivem deles. Para ir à causa é preciso enfrentar o capital e quando isso acontece a "grande" imprensa reage, como reagiu contra o governo Lula. Amanhã, quando as chuvas passarem, quando o cotidiano engolir os sofrimentos e perplexidades, quando novos sensacionalismos ocuparem páginas e telas, a oposição de direita e os barões da mídia vão chamar os investimentos sociais do governo de "gigantismo do Estado", "escola de vagabundos", "gastos que elevam a inflação", "clientelismo eleitoral", "endividamento irresponsável" etc. Como disse uma urbanista, em entrevista à TV Brasil, que há 20 anos analisa desastres assim: não há nada mais insensato do que as nossas cidades, as condições em que passamos a viver. Essa insensatez, no entanto, é lucrativa. A mesma indústria da construção que construiu as moradias criminosas, que derrubou proteções naturais e impermeabilizou o solo, que canalizou cursos d'água, que assoreou rios despejando caçambas de entulhos, essa mesma gente vai ser premiada com novas obras para reconstrução de infraestrutura e moradias. No capitalismo, catástrofe é lucro certo.