terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Rios nas ruas
Cheguei em casa ensopado. Tomei a chuva das cinco. Estava de guarda-chuva, mas não foi suficiente. Tênis encharcado, calça molhada até a coxa; na camisa, as mangas úmidas e todo o resto respingado. A mochila também ficou encharcada e tudo que estava dentro molhou. Dá para proteger a cabeça, mas não os pés e as pernas, as costas. Os carros passam espirrando água no passeio, enxurradas correm nos cantos das ruas, em toda parte a água fica empoçada. Não há como não enfiar o pé na chuva. Cobrimos todo o chão com asfalto, cimento e construções. Transformamos a cidade inteira num grande rio, quando chove. A cidade não suporta a chuva, nenhuma chuva, muito menos chuvas fortes. A cidade não suporta o verão. O capitalismo é uma estupidez colossal. Não há salvação nas grandes cidades, cada vez mais insuportáveis. A rã morre frita na panela por não perceber que a temperatura está subindo, por ser incapaz de reagir. Somos todos rãs. É simples reagir: transporte coletivo em vez de carros, casas em vez de edifícios, cursos d'água abertos em vez de canalizações, terra e áreas verdes em vez de asfaltos – para começar. Tudo isso vai contra os lucros fáceis da indústria, contra a estupidez capitalista. Alguém acredita que vai acontecer?