Boa matéria do Asia Times traduzida e publicada pelo blog Vi o mundo sobre as revoluções que varrem o mundo árabe. "A maioria dos manifestantes são solteiros, não têm mulheres ou filhos pelos quais temer, e estão fartos de viver cercados por corrupção, miséria, nepotismo e total descaso com suas repetidas demandas. Chama a atenção também que nem na Tunísia nem no Egito, há líderes para orientar as manifestações, como aconteceu quase sempre nas grandes revoluções. Não há Vladimir Lênin como houve na luta contra o absolutsimo russo, nem há aiatolá Ruhollah Khomeini como houve no Irã, nem há Gamal Abdel Nasser para liderar os jovens árabes, agora."
Os sinais árabes que o Ocidente não vê
por Sami Moubayed*, Asia Times Online
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Damasco – Em menos de um mês, quatro governantes árabes apareceram nas televisões para dizer que não se candidatarão à reeleição quando expirarem seus mandatos constitucionais. Começou com Zine el-Abidine Ben Ali da Tunísia, que tentou entrar numa batalha perdida com jovens tunisianos irados e foi derrubado do poder dia 14 de janeiro, apenas 24 horas depois de pronunciar o hoje famoso discurso “Eu vos entendo”. O velho Bem Ali, 74 anos, estava no poder desde 1987 e planeja continuar, reeleito em 2014. Depois foi o decadente, Hosni Mubarak, 83 anos, senil, presidente do Egito. Enfrentando revolta semelhante – que prossegue e chega hoje ao 16º dia, nas ruas do Cairo – Mubarak anunciou que não se candidataria a um sexto mandato presidencial ao final do atual mandato que expira em setembro. Mubarak demitiu o governo de Ahmad Nazzif, prometeu reformas e anunciou que não passaria o poder ao filho, Gamal, 50 anos, empresário influente. Depois de governar com mão de ferro desde 1981, as reformas de Mubarak são fracas demais e vêm tarde demais, face às aspirações do indignado povo egípcio. Depois, dia 2 de fevereiro, foi a vez de Ali Abdullah Saleh, 69 anos, presidente do Iêmen, que também anunciou que deixará o poder em 2013 e não passará a presidência ao filho, Ahmad Saleh. Ali Abdullah Saleh governa o Iêmen há 33 anos, desde 1978. E por fim (até agora), o primeiro-ministro do Iraque Nuri al-Maliki, 61 anos, declarou que não se candidatará à reeleição, quando os iraquianos voltarem às urnas, em 2014. Ao mesmo tempo em que tudo isso acontecia, e em menos de um mês, o poder das ruas no mundo árabe derrubou o governo do primeiro-ministro da Jordânia Samir al-Rifaii; e, no Líbano, caiu constitucionalmente o governo de Saad al-Hariri. Alguma coisa está mudando, muito depressa, no mundo árabe; mais depressa, talvez, do que o ocidente e seus déspotas senis conseguem digerir. As multidões que ocupam as ruas e derrubam regimes – ou os forçam a fazer reformas sérias – são jovens, homens e mulheres, a maioria com menos de 25 anos de idade.
A íntegra.