E do inferno do barulho em Belo Horizonte.
Os "nobres" do Mangabeiras não toleram os "pobres" que "invadem" o bairro e seu porta-voz, o "grande" jornal dos mineiros, corre para exigir que as autoridades façam valer a ordem. Para serem ouvidos pela imprensa, os pobres do Aglomerado da Serra tiveram de se unir e fazer barulho; para uma reportagem de capa na edição de domingo sobre assunto de interesse dos ricos, basta um telefonema entre empresários.
"Terra sem lei" é Belo Horizonte inteira: "baderneiros" ricos nos seus carros possantes buzinam, cantam pneu e tocam música (?) no mais alto volume, quando saem "bêbados e drogados" dos bares e restaurantes ou fazem festas em coberturas e salões elegantes. As autoridades intervêm? Não. A PM atende a chamados? Não. A "lei seca" acabou. O "grande" jornal protesta? De jeito nenhum. Construtoras "invadem" as ruas, impedem a passagem nos passeios, tumultuam o trânsito, fazem barulho até de madrugada – diariamente, na cidade inteira. E o "grande jornal" protesta? As autoridades agem? Nem pensar. O transporte coletivo de Belo Horizonte é um escândalo de ineficiência que só serve aos empresários dos ônibus e incentiva o transporte individual. O grande jornal protesta? As autoridades agem?
A matéria usa termos significativos: "endereço nobre", "ponto turístico privilegiado", "cartão postal". Para a administração Lacerda, a cidade é um local para turistas, os pobres não devem ter acesso aos espaços públicos, exceto em eventos patrocinados, depois de entrarem em fila para obter ingresso. Estão aí como exemplos os episódios da Praça da Estação e do Parque Municipal.
Há dois anos Belo Horizonte é uma cidade "sem lei", onde prevalece o mais forte, onde construtoras e motoristas fazem o que querem. Nunca tivemos tanta polícia – militar, civil, guarda municipal, BHTrans, fiscalização ostensiva, monitoramento eletrônico – e nunca estivemos tão desassistidos. Mas o que incomoda o "grande" jornal é a "galera da zona norte que tira o sono da zona sul", os jovens da periferia que "invadem" a Praça do Papa, local reservado para "nobres" e "turistas". A matéria finge ignorar que a praça sempre foi ponto de namoro de jovens e de "maconheiros" ricos, sem provocar incômodo nos moradores "nobres" nem reação do seu porta-voz.
Deve ser mesmo um inferno o "bordel" funk ao ar livre nas noites e madrugadas da Praça do Papa, mas isso não acontece só no Mangabeiras: a Belo Horizonte de Lacerda e Anastasia é toda um inferno de "barulho" (existe barulho mais perturbador do que o de um helicóptero sobrevoando seu prédio no meio da madrugada? Pois a PM mineira faz isso) e de "baderneiros", uma "terra sem lei". O "grande jornal" vai protestar? As autoridades vão agir?
Do em.com.br.
Jovens transformam Praça do Papa em baile funk durante a madrugada
Ernesto Braga
27/2/2011
Localizada aos pés da Serra do Curral, a Praça Governador Israel Pinheiro, conhecida como Praça do Papa, no Bairro Mangabeiras, um dos endereços mais nobres da capital, na Região Centro-Sul, deixa de ser ponto turístico privilegiado para contemplação de Belo Horizonte e se transforma, principalmente nas madrugadas de quinta-feira a domingo, em terra sem lei. Um dos principais cartões-postais da cidade é invadido por um mar de pessoas, muitas menores de 18 anos, em busca de diversão regada a álcool, drogas e barulho. Veículos com potentes equipamentos de som disputam qual é o mais barulhento. Na trilha sonora prevalece o funk, mas também há quem prefira ouvir música sertaneja e outros ritmos. O cheiro de maconha vindo das áreas verdes e escuras da praça paira sobre o ambiente, e a impressão que se tem é de que os usuários da erva fumam um baseado infinito. No asfalto, motoqueiros fazem acrobacias e carros andam em alta velocidade, na contramão, colocando em risco a vida de quem frequenta o espaço.
A íntegra.