"Mergulhada em denúncias de irregularidades, que incluem desvio de dinheiro público, dispensa indevida de licitação, nepotismo, superfaturamento de obras e até recebimento de propinas, a gestão do prefeito de Nova Lima, Carlos Rodrigues (PT), o professor Carlinhos, não deixará saudade." Assim começa a matéria de capa da última edição da revista Viver. De uma só tacada garante que a administração não deixará saudade (em quem? Evidentemente na revista), queima o PT (se o prefeito fosse demotucano, seu partido provavelmente seria omitido, mas se o prefeito fosse demotucano não haveria matéria...) e também queima os professores, que, como se sabe, estão em greve em Minas há mais de dois meses, reivindicando um direito que o Supremo Tribunal Federal reconhece e manda pagar, mas o governo Anastasia não paga.
A imprensa mineira sempre foi comprometida com os ricos e os poderosos, mas era preciso fazer média produzindo noticiário de interesse geral. Isso começou a mudar com os jornais do empresário Medioli, um político tucano influente; as posições políticas de direita ficaram menos veladas. A criação das publicações do colunista PCO escancarou de vez a imprensa dos ricos. Encontro e depois Viver nunca esconderam seu comprometimento com o neoliberalismo e com as grandes empresas anunciantes; são produzidas para os novos ricos, moradores de condomínios e dos bairros "nobres" da capital, onde são distribuídas gratuitamente. O modelo de revista foi copiado das antigas Vejinhas. Era uma imprensa de má vontade com a administração petista de Belo Horizonte – dizer "de oposição" seria exagero, porque a imprensa que depende de verba oficial nunca faz oposição – até a eleição do prefeito Márcio Lacerda. Com Aécio-Anastasia e Lacerda essa imprensa nada de braçada. E ataca o que resta da esquerda em Minas.
A eleição de 2012 se aproxima e, é evidente, os novos ricos querem o poder na cidade vizinha, que se tornou uma extensão da capital e tem grande arrecadação. É, inclusive, onde mora o prefeito de Belo Horizonte. Prefeitos petistas já meteram os pés pelas mãos e eu não pretendo defender o Carlinhos, cuja administração desconheço, mas, com algumas mudanças, o lide da Viver poderia contemplar o prefeito da capital, que anda de jatinho e pôs o filho para coordenar as obras da copa do mundo. No entanto, Lacerda, que está em campanha pela reeleição, só merece elogios da revista. Viver marca posição como porta-voz da direita belo-horizontina, uma disputa cada vez mais acirrada.