Ontem (16/8/11) a presidente Dilma apresentou em solenidade no Salão Nobre do Palácio do Planalto os novos oficiais generais. Nem sei se é razão pra tanto ou se a pompa não expressa um medo recolhido que ainda temos dos militares, o governo inclusive, Dilma em especial, mas é uma excelente oportunidade para se fazer uma reportagem sobre o que pensam os militares brasileiros 26 anos depois do fim da ditadura, 47 depois do golpe. Não me lembro de reportagem semelhante. A gente ouve falar dos militares quando são mandados em missões no exterior ou em favelas, chamados a construir o canal do São Francisco ou quando, como no caso abaixo, se diz que querem esconder eternamente os crimes da ditadura. É curioso, porque os oficiais de hoje não viveram aquele período. Como é que as ideias reacionárias se perpetuam, se é que se perpetuam, nas Forças Armadas?
Araguaia: o massacre que as Forças Armadas querem apagar
Por Marina Amaral e Tatiana Merlino
Por Marina Amaral e Tatiana Merlino
Pública – Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
Em meio ao debate sobre a emenda que propõe o sigilo eterno de documentos do governo, a Pública revisita uma das histórias mais obscuras do período militar: a repressão à guerrilha do Araguaia (1972-1975). Em três dias de pesquisa nos 149 volumes do processo judicial que investiga o desaparecimento dos guerrilheiros do Araguaia, a Pública coletou relatos de dezenas de moradores que foram obrigados a prender, enterrar, matar e decapitar guerrilheiros – e sofrem até hoje as consequências do que viveram nesse tempo. Em entrevista exclusiva, a juíza titular da 1ª Vara da Justiça Federal, Solange Salgado, diz que, passados quase 40 anos, reina o medo de se falar sobre o assunto entre os que participaram do conflito. Mateiros e ex-militares que colaboraram com o Grupo de Trabalho Araguaia – que investiga o caso desde 2009 em cumprimento à sentença judicial promulgada por Solange Salgado em 2003, que obriga a União a entregar os corpos dos desaparecidos às famílias – estão recebendo ameaças. Por isso, quando esteve na região no ano passado, para recolher e checar informações sobre o paradeiro dos corpos, a juíza optou por preservar o sigilo dos autores dos depoimentos. "Foi uma garantia que o Poder Judiciário deu a essas pessoas. Elas ainda estão muito apavoradas, se sentindo muito acuadas", disse ela à Pública. Nossa reportagem esteve em Marabá, no Pará, e conversou com ex-mateiros e ex-soldados que confirmaram a realização das chamadas "Operações Limpeza", por meio das quais os restos mortais dos guerrilheiros foram desenterrados e transportados a outros locais. Além disso, cinco entrevistados afirmaram ter visto atuando na repressão o ex-diretor do Dops de São Paulo Romeu Tuma, falecido em outubro do ano passado.