terça-feira, 16 de agosto de 2011

A revolta e os dicursos da ordem

Duas postagens interessantes no Diário do Centro do Mundo sobre os conflitos em Londres. Eles mostram como a compreensão da realidade e a ação individual são obscurecidas pela ideologia. O policial é incapaz de ver o que em quinze anos de profissão, na Inglaterra e no Iraque, esteve sempre diante do seu nariz: a origem social dos conflitos. Apesar de todos os sofrimentos que presenciou reafirma sua disposição de "ir atrás dos desordeiros". E dos bandidos que estão no governo e no comando das empresas, origem das desigualdades e das injustiças que provocam as revoltas, destes ele não vai atrás? Não, ele é um agente da ordem, um animal obediente, bem adestrado, fiel aos seus chefes, capaz de dar a vida por eles. Os governantes e capitalistas não vão à frente de batalha contra os revoltados, eles mandam seus funcionários bem treinados e bem armados. Da mesma forma, os pais que deduram os filhos. Como assim? Não têm responsabilidade sobre eles? Não foram eles que os educaram? Se tivessem alguma dignidade deviam se entregar no lugar dos filhos. Livram sua má consciência em conflito ficando do lado da ordem. Como na música de sir Paul McCartney, She's leaving home, esses pais continuam sem entender nada. O exemplo bem lembrado dos filhos que entregavam os pais sob o stalinismo foi muito explorado pela direita, que se cala quando pais deduram filhos a favor da ordem capitalista. "Desordeiros", "saqueadores". Aqueles que se revoltaram contra o capital sempre foram chamados assim, isso não é novidade. O que a imprensa da direita não vê é que a "desordem" é um atestado de falência desta civilização, incapaz de fazer com que os jovens acreditem no sistema e obedeçam a lei e seus agentes. Por quê? É o que deveriam perguntar, mas não perguntam. Não são capazes de enfrentar as respostas. A desordem não é boa para os revoltados, que, desorganizados e incapazes de propor uma nova ordem, agora que os partidos de esquerda se desmilinguiram, agora que o Estado é forte e militarizado como jamais foi antes, sofrem as consequências cruéis dos seus atos.

O relato de um policial de Londres
Um blogue brilhou especialmente em Londres esta semana. O autor é um policial que escondeu sua identidade sob o codinome de Inspetor Winter. Ele fez parte das forças policiais que enfrentaram os tumultos de Londres nos últimos dias. Traduzi e condensei um texto dele que compartilho aqui. O relato ajuda a entender melhor o caos londrino. Com vocês, o Inspetor Winter: "Tenho trabalhado cada noite e cada dia desta semana. Desde o último sábado, quando eu estava nas ruas de Tottenham, no norte de Londres, ao irromper a madrugada de tumultos e saques, até as primeiras horas da manhã de ontem. Acumulei nesse período em torno de 125 horas trabalhadas, muitas delas sendo bombardeado por pedras, bombas de gasolina e, em um caso, em meio ao caos de tudo, por uma palmeira ornamental."
A íntegra.

Você denunciaria seu filho à polícia?
Acalmadas as coisas em Londres, emergem debates sobre tumultos. Dois deles me chamaram a atenção, um mais e outro menos. Começo pelo segundo em retumbância. Num programa da BBC, um historiador, David Starkey, disse que os "brancos se tornaram negros". Segundo ele, os brancos dos tumultos mostraram ter assimilado os costumes das gangues negras, "niilistas e predadoras". Racismo ou realismo? (...) Mas o que me fez pensar mesmo foi a atitude de pais e mães que, ao verem na televisão imagens de filhos nos tumultos, os denunciaram à polícia. Foram, até aqui, dois casos – aplaudidos publicamente pela polícia.
A íntegra.