O sistema sempre tacha os protestos de badernas, para justificar a repressão. Obviamente, há motivações sociais profundas. Quando a violência emerge assim, as massas costumam nem saber a razão que as leva a agir, mas a violência da vida cotidiana no capitalismo gera insatisfações pessoais que transbordam aqui e ali, às vezes coletivamente, basta acender o pavio. No mundo contemporâneo há uma novidade: essa referida falta de limites dos jovens, que crescem fora do controle da autoridade, numa sociedade permissiva, que infla os egos para aumentar o consumo, e na qual instituições como família e escola degeneram. A decadência de partidos políticos e ideologias torna os protestos desorganizados e mais violentos.
Cris Rodrigues - Especial para a Carta Maior
Ken Smith é dono de uma loja em Brixton, bairro no sul de Londres em que houve um dos protestos considerados mais violentos da onda de ataques que tomou conta da capital inglesa entre os dias 6 e 9 de agosto. Ele estava lá, apesar de ser tarde da noite de segunda para terça-feira, e viu quando os jovens quebraram vitrines de lojas e colocaram fogo em carros. Sabe que eram muitos, mas não chuta quantos. Todos muito jovens, filhos de uma geração sem limites e sem perspectivas, na visão do lojista. Smith tem a sua explicação para os protestos que fizeram o mundo todo virar os olhos para Londres, embora ela não seja simples. Para ele, há diversas causas escondidas no que muitos vêem apenas vandalismo e que começou sábado (6) como um protesto legítimo contra o suposto assassinato de um homem por agentes da Scotland Yard, a polícia britânica, na quinta-feira passada (4), no bairro de Tottenham, que registra altos índices de desemprego. Enquanto a maioria acredita que os manifestantes sejam apenas criminosos se aproveitando da situação para roubar, ele sustenta que a violência dos últimos dias é uma questão social.