quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Timinho

É um grande mistério como o Atlético se transformou de um grande clube, um dos melhores na história do campeonato brasileiro, no atual time de segunda. Até o final do século passado, o Galo carregou o peso de perder no final, mas sempre chegava lá. Foi um peso que começou com a derrota na final do campeonato de 1977, para o São Paulo, nos pênaltis, em pleno Mineirão lotado, depois de um empate em zero a zero no tempo normal, num jogo que teve de tudo, da exclusão no tapetão do Reinaldo, então na sua melhor forma, com média inalcançável de quase dois gols por partida, até pisão criminoso por chicões paulistanos no craque mineiro Ângelo, machucado, caído no chão. Tudo às vistas de um juizinho qualquer. A partir daquele título perdido, invicto, com dez pontos à frente do campeão, o Atlético carregou esse peso de perdedor injustiçado. O carrasco seguinte foi o Flamengo, com páginas que deviam ser apagadas da história do futebol, como aquele jogo em que um rato nos roubou a Libertadores, expulsando descaradamente os principais craques do time, a começar pelo Rei. Vieram outros carrascos em jogos também dramáticos, mas o Atlético estava sempre lá, chegando, disputando. E colecionava títulos mineiros, um atrás do outro. Em casa, era o maior. Depois foi a queda, contínua, namorando a série B, até cair, em 2005, e voltar, campeão, em 2006, numa campanha que marcou um novo patamar para o clube: time para ficar entre os primeiros da segundona e últimos da primeirona, timinho que ninguém mais respeita, nem mesmo quando joga em casa (casa? Que casa? O Atlético entregou o estádio de Lourdes para um shopping e agora concordou com a decisão política e incompetente de se reformar os dois estádios da cidade ao mesmo tempo!). Hoje, o que resta ao glorioso alvinegro é sua torcida apaixonada, mas cada vez menor, pois pouco se renova – crianças não gostam de times perdedores. Enquanto isso, o rival local cresceu e os rivais nacionais se impuseram como um seleto grupo de realmente grandes. Como explicar a decadência atleticana? Não pela torcida, que não é encrenqueira, como de outros clubes. Será isso um defeito? Aceitamos passivamente chegar ao ponto em que chegamos, sem exigir com violência e vandalismo, como outras, sem perseguir jogadores, sem promover quebra-quebras em estádios. Não acredito nisso, mas que a torcida atleticana se acostumou a se alegrar com qualquer vitoriazinha, qualquer titulozinho, é fato. Nos acostumamos a ser a torcida de um time de segunda. Mas torcida não ganha título nem jogo, há muitos exemplos de clube pequenos que fizeram campanhas admiráveis e se impuseram sobre grandes. Os clubes gaúchos nunca se intimidaram diante dos cariocas e paulistas, sempre ajudados por juízes e dirigentes, ainda hoje. E emissoras de tevê. O Atlético, no entanto, com exceção do grande título de 1971, foi sempre subjugado pelas pressões e violências adversárias. A explicação poderia estar no astronômico endividamento do clube, mas outros clubes mal administrados e endividados deram a volta por cima – com muitas ajudas, é certo, mas deram. Ademais, o atual presidente está sempre afirmando que paga em dia. Também não é por falta de condições de treinamento, pois outra afirmação sempre repetida é que o Galo tem uma das melhores estruturas do País. Seria então o treinador? Cuca, que a essa hora deve estar pensando onde foi que amarrei a minha égua, é aquele que nos tirou o título mineiro deste ano... E Dorival Júnior, o anterior, que acumulou derrotas com paciência até sair? Dirigiu o grande Santos de 2010 e já voltou a ser vitorioso, no Inter. Só treinador do Galo não estreia com vitória, uma das máximas mais repetidas do futebol. Tite, que nos humilhou ontem, era, no Galo, o eterno explicador de derrotas. Luxemburgo, que voltou a colecionar títulos no Flamengo, também não foi capaz de desvendar o enigma do fracasso atleticano. Celso Roth, quem diria, foi o treinador de maior sucesso no Galo nas últimas temporadas. Só Levir Culpi sobreviveu ao que a esta altura já parece uma maldição. Talvez por isso relute a voltar ao clube. Dos grandes, só falta Muricy Ramalho comprovar que nenhum treinador dá jeito no Galo. Basta mudar de time, porém, para confirmar sua competência. Marcelo Oliveira, desprezado como solução caseira, está brilhando no Coritiba. Talvez o mistério estivesse no elenco. O Atlético realmente contrata mal: enquanto o Cruzeiro descobre Montillos, o Galo promove Diegos Souzas a "número 1"! Mas não é que o mesmo Diego Souza, mudando para o Vasco, joga como nunca jogou no Atlético? E ainda marca gol contra a gente! Esta é outra triste realidade: jogador que no Galo não fez nada, volta a ser craque em outros times e sempre – sempre – faz gol na gente. O problema, portanto, não é com treinador nem com jogador, é outro. Qual? Qual é o mistério da decadência atleticana? Não sei responder. O fato é que se não desvendar rapidamente este mistério, o Atlético vai perder a última grandeza que lhe resta: a paixão da sua (cada vez menor e mais recolhida) torcida.