segunda-feira, 17 de outubro de 2011

2011 é também o ano dos motins


Do Esquerda.net.
O aumento dos motins: um fenómeno mundial
Alguns levam a reivindicações, até mesmo revoluções. A maior parte apaga-se tão depressa como se acendeu. Uma coisa é certa: de Londres a Sidi Bouzid, na Tunísia, de Santiago do Chile a Villiers-le-Bel, os motins tornaram-se um fenómeno global. Em 2011, registaram-se mais de três por dia. Entrevista com Alain Bertho, professor de antropologia da Universidade de Paris 8.

- Desde quando trabalha sobre os motins? E por que é que se interessou?
- Alain Bertho: Como muitas pessoas, fiquei impressionado com o que aconteceu na França em Novembro de 2005. Há 20 anos que trabalho sobre os subúrbios. Conhecendo um pouco o assunto, vivendo eu nos subúrbios e tendo então passado algumas noites fora, para assistir aos acontecimentos, fui tomado por uma certa perplexidade. Vimos apenas sombras. De cada vez que chegávamos, lá onde os carros ardiam, os actores dos motins já tinham partido. As famílias estavam no exterior, mais trocistas do que assustadas. Intuíamos uma certa empatia. Em seguida, aquilo parou, sem razão aparente, sem se concluir, como é habitual no caso de um movimento social com reivindicações, negociações e um fim do conflito. Em Março de 2006, segui o movimento contra o Contrato do Primeiro Emprego (CPE) diante do liceu de Saint-Denis, onde estuda o meu filho. Participava do bloqueio do liceu. Não havia assembleia geral, nem organização aparente. Tudo era feito através de SMS (o Twitter e o Facebook não estavam ainda activos na época). Os alunos de Saint-Denis iam pouco às manifestações a Paris. Ficavam ali, defrontando regularmente as forças da ordem, sabendo como queimar carros, desconfiando das manifestações parisienses demasiado sensatas. Tal convenceu-me a trabalhar sobre este assunto, sobre esta nova geração que surge e que, visivelmente, exprime contenciosos pesados contra a polícia, os pais, a sociedade. Olhei para outros países e apercebi-me que os cenários eram frequentemente os mesmos, como na Grécia, em Dezembro de 2008, quando o jovem Alexander Grigoropoylos foi baleado por um agente da polícia. A juventude grega, além disso, virou-se para os bancos, como uma espécie de premonição.

- Os motins são mais numerosos actualmente?
- Utilizando a mesma metodologia (os motins recenseados pelo motor de busca Google), contabilizam-se, em 2008, cerca de 270 motins, considerando todos os continentes. Passámos para 540 em 2009, depois para 1238 em 2010. Este número será ultrapassado em 2011, visto que em 31 de Agosto vamos já em mais de 1100. Vivemos uma sequência particular de uma frequência muito grande de confrontos, entre pessoas e autoridades, ou entre as próprias populações. Foi a mesma coisa no século XVIII, em 1848 ou em 1917. Com uma grande diferença, contudo: estes períodos conflituais precedentes eram visíveis e compreensíveis pelos próprios actores dos motins, graças aos discursos políticos que os acompanhavam. De momento, a actual intensificação dos tumultos não emerge para o espaço público. Permanece parte submersa da conflitualidade política. E, quando um motim é subitamente mediatizado, como neste Verão, em Londres, espantamo-nos. No entanto, alguns meses antes, no final de 2010, estudantes britânicos pilharam a sede do Partido Conservador ou atacaram o carro do príncipe de Gales. O Chile está a ser actualmente agitado por um movimento social muito duro no qual os estudantes estão na linha da frente. Mas isso não é visto como um fenómeno geral.