"O acordo Sarkozy-Merkel de domingo passado, garantindo a recapitalização dos bancos europeus afectados pela crise da dívida, ratifica que para eles a prioridade não são as pessoas, mas sim os bancos. Os governantes europeus estão prestes a decidir que o projecto social europeu morra para que os bancos vivam."
Da Esquerda.net.
Os grandes bancos e a crise
Orlando Delgado Selley
Após a falência do Dexia, um importante banco franco-belga-luxemburguês, os governantes europeus estão prestes a decidir que o projecto social europeu morra para que os bancos vivam. Há 50 meses a bolha imobiliária rebentou. Os grandes bancos centrais primeiro pensaram que era como os rebentamentos de outras bolhas e que podia resolver-se injectando liquidez nos mercados financeiros. Após as generosas injecções foi ficando claro que desta vez tratava-se de um problema maior, associado ao funcionamento do sector financeiro. Na realidade, o que rebentou foi a forma de funcionamento dos bancos, tanto comerciais como de investimento, juntamente com um novo sistema financeiro, a banca na sombra, que surgiu para operar à margem de uma regulação já por si lassa. Em poucos meses a recessão generalizou-se nas grandes economias, com impacto nas emergentes. Praticamente, todos os governos do mundo entenderam que era indispensável tomar medidas para deter a recessão. Além disso, entenderam que as intervenções fiscais tinham que ser coordenadas mundialmente. O G-20 concordou com substanciais planos fiscais destinados a reverter o momento recessivo da crise. Houve programas de resgate das empresas bancárias, nos quais se utilizaram recursos públicos para salvar interesses privados. A imperante onda privatizadora neoliberal, vigente apesar da crise, impediu que os governos exigissem que os bancos resgatados passassem para o controlo governamental. Assim, os grandes bancos conseguiram subsistir como negócios privados. Dois anos depois do Agosto negro de 2007, as economias desenvolvidas superaram a recessão graças aos programas fiscais e monetários aplicados. Pouco a pouco, o resto das economias do mundo foram tendo resultados positivos na produção, sem que se apresentassem problemas significativos nos preços. O FMI advertiu que era preciso manter os estímulos fiscais, enquanto não se consolidasse a recuperação. Apesar destes apelos, os bancos europeus exigiram que os países sobre-endividados garantissem o cumprimento das suas obrigações de crédito. A Grécia, primeiro, e depois a Irlanda e Portugal, tiveram que ser resgatados pela União Europeia para assegurar que garantiam os seus pagamentos aos bancos credores. Em troca, tiveram que reduzir drasticamente as despesas sociais.
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